ASCENSO FERREIRA – Conheci Ascenso, "rei dos mestres,
que aprendeu sem se ensinar", ou melhor, a sua obra, com a publicação da
antologia "Poetas de Palmares", uma iniciativa do Juarez Correia e
Eloi Pedro, editado pela Editora Palmares, em 1973, ano do primeiro centenário
municipal. Eu, nesse tempo, contava com 13 anos de idade e saía recitando sua
"Filosofia": "Hora de comer, - comer! Hora de dormir, - dormir!
Hora de vadiar, - vadiar! Hora de trabalhar? - Pernas pro ar que ninguém é de
ferro!". E já me esgueirava fazendo jograis com a turma do colégio com
seus poemas engraçados e que representavam a realidade daquele lugar: as
feiras, as iguarias locais, a vida besta, a putaria, a risadagem, o
adiantamento, as invencionices peculiares ao local onde nasci.
Na antologia estavam Raimundo Alves de Souza
(alfaiate, Don Juan inveterado, noventa e tantos anos nas costelas, um poeta
que morreu criando a maior polêmica por ser o pai biológico de Vinicius de
Morais), o poeta e folclorista Jayme Griz, o artista plástico Teles Júnior, o
teatrólogo e poeta Fenelon Barreto, meu pai Rubem Machado, e toda uma plêiade
que consagravam à terra dos Palmares a verdadeira "Terra dos Poetas".
No volume ainda podia conhecer a obra dos
mais novos poetas que surgiam à época com belíssimos poemas, como Eniel Sabino
de Oliveira, Afonso Paulins e Juarez que, ao organizar a antologia, fechava o
volume.
Com o livro tive contato com poesias como
"Cinema", "A Sucessão de São Pedro",
"Predestinação", "Folha Verde", "Graff Zeppelin"
e "Black-out" que me levaram a buscar nos cafundós de Judas, qualquer
edição dos livros publicados de Ascenso. Foi incensante porque não o conheci
pessoalmente, vez que, como honra, apenas podia ser seu conterrâneo por ele
haver nascido na rua dos Tocos, no dia 9 de maio de 1895, em Palmares e de ter
morrido no dia 05 de maio de 1965, no Recife, quando eu contava apenas com
cinco anos de idade.
Pois bem, em 81, o incansável poeta Juareiz
Correya lançou pela Nordestal, o livro "Poemas de Ascenso Ferreira",
reunindo seus livros "Catimbó", "Cana Caiana" e
"Xenhenhém". Além dos poemas de Ascenso, estavam ali ensaios de, nada
mais nada menos, que Manuel Bandeira, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Luís da
Câmara Cascudo, Roger Bastide, um depoimento "Minha vida com
Ascenso", da companheira dele Maria de Lourdes Medeiros e ilustrações de
Gilvan Samico, Wellington Virgolino, Tereza Costa Rego, Abelardo da Hora,
Bajado, Sílvia Pontual, Gl Vicente e muitos outros artistas plásticos
pernambucanos de renome.
Ao folhear suas páginas, fiquei logo
embevecido com as palavras de Manuel Bandeira: "os poemas de Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste, nas quais
se espelha moravelmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica
das populações dos engenhos e do sertão". E o Sérgio Milliet declarando
que a contribuição de Ascenso para o modernismo brasileiro era "das mais
originais".
Não menor a satisfação ao ler as palavras de
Mário de Andrade: "[...] depois que
as personalidades dos iniciadores se fixaram, só mesmo Ascenso Ferreira trouxe
pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo. Esse é o
mérito principal dele a meu ver, um mérito inestimável".
Luís da Câmara Cascudo, por sua vez,
sentenciou: "[...] e não há quem o
ouça para não sentir o encanto irresistível duma poesia estranha e doce, bravia
e sincera, cheia de vitalidade e de força evocadora. [...] Ascenso Ferreira, Ascensão... guardem o nome
de um grande poeta!" E Roger Bastide arrematou: "[...] uma beleza que merecia ter seu poeta, e este
poeta é Ascenso Ferreira".
A companheira Lourdes, que conheci anos
depois, viu primeiro o poeta. E tomou com ele uma cerveja preta, depois duma
queda assustada com aquele volumão de gente. Ela adolescente, ele cinquentão.
Desse encontro veio Maria Luiza, iluminando o casal.
Em 1985, portanto, a Fundação Casa da Cultura
Hermilo Borba Filho, de Palmares, sua terra natal, em convênio com a Secretaria
de Educação do Estado de Pernambuco, publicou um outro livro com o título do
mais célebre de seus poemas parnasianos, na afirmação de Luíz da Câmara
Cascudo, "Eu voltarei ao sol da
primavera", uma pesquisa organizada pela professora Jessiva Sabino de
Oliveira, então diretora da Biblioteca Pública Municipal Fenelon Barreto,
também de Palmares, resultado de 10 anos de estudos nos arquivos do jornal
"A Notícia", onde Ascenso adolescente rimava parnasiano.
Nesse ínterim, Alceu Valença musica dois
poemas seus, "O trem das Alagoas" e "Oropa, França e
Bahia", duas belas páginas do cancioneiro nordestino. Agora outras
iniciativas, como a de Chico Anysio gravar um disco com seus poemas e meio
mundo de gente incluir seus poemas em shows, teatros, cinema e espetáculos.
Nunca que poderia esquecer desse grande
poeta, que um dia, segundo relato da própria Lourdes, chegando em casa em época
natalina, viu a ornamentação da sala e saiu destruindo tudo. Um espanto, porque
aquele homenzarrão era de uma ternura singular. Depois da revolta, trancou-se
no quarto. Horas mais tarde, saiu carinhosamente procurando por Maria Luiza com
um poema intitulado "A Festa": "Minha filhinha, Papai Noel! É uma figura tragicômica! Não se iluda com
os seus enredos! Pois que no meio dos seus brinquedos! Virá um dia a bomba
atômica!". Salve, Ascenso!
A OBRA DE ASCENSO FERREIRA - [...] Depois,
passados os recitais, tempos vivenciados no Sul e a voracidade e velocidade
modernista, a figura do homem suplantou a obra. Passou a ser mais conhecido por
sua figura diferente, por sua récita, por sua nordestinidade, por sua boemia.
Alvo de falas que às vezes beiravam a folclorização da personalidade artística.
Não que isso seja ruim, muito pelo contrário, feliz do poeta que é amado e
conhecido. Mas, como sempre há um mas... [...]. Trecho do texto Leituras
sobre Ascenso (SESC/LAL, 2016), da poeta e curadora do Laboratório de Autoria
Literária Ascenso Ferreira, Cida Pedrosa.
É com as palavras da poetamiga mencionada, que inicio aqui uma descrição da
trajetória parnaso-simbolista e a modernista de Ascenso Ferreira. Pra quem
nasceu na mesma cidade do poeta, muito se ouvia e dizia a respeito dele. Prefiro
destacar aqui a seu respeito, o que disse Cavalcanti (2001, p. 117) [...] Grande poeta do povo, catador das alegrias e
das tragédias sociais da zona do açúcar. Ascenso, o menestrel do movimento
antropofágico, tem sido subestimado pelos historiadores da literatura nacional,
pelos críticos de arte, além de, atualmente, pouco conhecido das novas gerações
de leitores. [...].
A VIDA
Ascenso Ferreira
O dia nasce, o sol desponta, a terra toda
Acorda para a luta infinita da vida.
E do sono da noite ainda enlanguescida
Sacia-se da luz na formidável boda.
A abelha faz o mel; a formiga incansável
Segue para o labor fecundo do trabalho,
Palpita na floresta a serva em cada galho
E cada flor canta um hino incomparável.
O mar soluça; o vento ruge; as nuvens correm
Azuis, tal como se no anil as mergulhassem,
E se cruzam no espaço os risos dos que nascem
Com a nênia profunda e triste dos que morrem!
É a vida no zênite; é a vida em todo o imenso
Triunfal esplendor de sua luta insana,
Na qual se digladia a grande prole humana
Um ao outro querendo ultrapassar o Ascenso.
E tudo luta. E tudo busca; e tudo sonda
Qual o modo melhor de poder triunfar:
A gota d’água aspira a glória de ser onda
Enquanto a onda aspira a glória de ser mar.
O PARNASO-SIMBOLISMO NA POESIA DE ASCENSO FERREIRA – A
reunião dos poemas parnasianos de Ascenso Ferreira foi realizado por Sabino
(1985), recolhido do acervo do jornal A Notícia, do qual o autor foi um dos
colaboradores por mais de meio século, iniciando em 1913. Quase diariamente eu
visitava a professora Jessiva na Biblioteca e via-lhe debruçada por inúmeras
edições do Jornal A Notícia. Ela conversava comigo da pesquisa de décadas
nessas publicações, ressaltando a carreira inicial do poeta Ascenso. A respeito
dessa fase do poeta, Benjamin (2001, p. 107) assinala que: [...] Antes de aderir ao Modernismo, Ascenso
Ferreira já se tornara conhecido no Recife. Primeiro pela repercussão do poema
Pro Face e, depois, pela divulgação do Soneto (Eu voltarei ao sol da primavera)
que teve uma calorosa acolhida, especialmente entre acadêmicos de direito
(segundo depoimento de Câmara Cascudo), entrando para o repertório dos
improvisados recitais boêmios da estudantada e dos saraus da burguesia
recifense. [...]. A razão da aceitação da poesia pré-modernista de Ascenso,
está na sua fidelidade aos modelos consagrados da época – um parnasianismo, às
vezes de gosto simbolista, que ele soube trabalhar com maestria de fatura e
inspiração, que nada ficava a dever aos seus contemporâneos. [...] de exaltação decadentista da forma levada às
últimas consequências na métrica e na rima, no vocabulário rebuscado – nobre,
requintado, erudito – de difícil compreensão, mesmo para os letrados da época. As
fontes de inspiração serão as mesmas dos outros poetas do tempo: amores
contrariados, descrições de paisagens de cromos e postais, pensamentos de
filosofia exóticas, personagens e enredos literários e cinematográficos
(Salambô, Salomé, a Vampira Indiana, Spartacus) e uns poucos de fervor político.
[...]. Alguns poemas são de ocasião –
perfis de pessoas conhecidas com a identidade oculta e versos a pedido, para
ilustração dos álbuns de recordação de senhoritas e senhoras. [...]. Este
período poético também foi registrado por Cascudo (1981): Quando fui estudar Direito na Faculdade do Recife conheci Ascenso
Ferreira, Ascensão, olhando a vida do alto de um metro e noventa e pisando com
cem quilos as ruas velhas. [...] Ascenso fazia sonetos e um deles ficou
célebre: - “Adeus! Eu voltarei ao sol da primavera”. Chovesse, ou encadeasse
sol, fatalmente, na despedida, vinha a chave de ouro: - - “Adeus! Eu voltarei
ao sol da primavera”. Ascenso, durante cinco anos, foi um companheiro dileto,
solidário, com as caminhadas sem rumo, namorando casario colonial, calcando as
pedras que viram Nassau e ceando peixe frito num frege ou devorando abacaxis no
cais que se chamava abacaxis. Essas horas era, delirantemente poéticas. Assisti
Ascenso largar o “Sol da Primavera” e escrever e dizer seus versos iniciais,
absolutamente copyright by Ascensão. [...].
Correya (2001, p. 11) registra um depoimento
de Ascenso para o livro “Testamento de
uma geração”, de Edhard Cavalheiro, acerca do início de sua carreira: [...]
As obras da literatura clássica
greco-romana traduzidas por Latino Coelho. Todas as obras da literatura
francesa. Obras completas de Nina Rodrigues, Aluisio de Azevedo, Machado de
Assis, José de Alencar e Eça de Queiroz. E tudo isso eu fui devorando numa
ânsia tremenda de beber instrução, fazendo confusões absurdas e saltando em 24
horas de simbolismo de Flaubert para o naturalismo de Balzac e caindo no
lirismo dos Simples de Guerra Junqueiro ou de Goethe, tradução de Feliciano de
Castilho, foi para mim floresta selvagem cujo intrincado nunca pude transpor.
[...] E danei-me logo a escrever sonetos,
baladas, madrigais... [...]. A respeito desse período, acrescenta Correya
(2001) que: “[...] As mulheres do poeta
foram muitas [...] É bem verdade que os arrebatamentos, os arroubos românticos
que constituíam o ideal do amor no jovem poeta, ainda parnasiano, determinaram,
verso por verso, a sua produção iniciante”.
Quando o livro “Eu voltarei ao sol da
primavera”, eu estava presente e não poderia ser diferente, duas conquistas
eram comemoradas: a publicação dos estudos de décadas da professora Jessiva
Sabino de Oliveira e a luta consistente e diuturna do poetamigo Juareiz
Correya.
Da minha parte, só posso concordar com o que
expressa Gomes (2016, p. 138): [...] Se
pudéssemos resumir a poesia de Ascenso em uma única palavra, não estaríamos
longe de errar se respondêssemos: polifônica. Essa é uma característica já
presente em sua fase parnaso-simbolista e que se acentua, formidavelmente, em
sua produção madura. Acrescente-se a observação apropriada de Vitor (2016,
p. 182): [...] Nessa fase mais parnasiana
do escritor, ainda preso aos modelos clássicos, é fácil notar a centralização
de sua poesia nas donzelas brancas, o que vem a mudar justamente com o contato
de Ascenso com o Modernismo e as novas teses freyrianas. [...] o qual inova na forma de um discurso mais
crítico da personagem feminina colocando-a como sujeito das próprias ações ao
contrário das personagens estáticas alvo de admirações ou exaltações da beleza.
[...].
Não menos valioso o depoimento de Bandeira
(1981, p. 10) [...] Por esse tempo
Ascenso não era ainda, como é hoje, grande em três dimensões. Até os vinte e
quatro anos foi tão magro que lhe puseram o apelido de “tabica de senhor de
engenho”. Depois é que principiou a botar corpo. Meteu-se na política e por
causa dela teve de deixar a cidade natal. No Recife, onde se fixou, entrou a
recitar nas ruas e em casa de amigos os seus primeiros versos.
MINHA TERRA
Ascenso Ferreira
Minha
terra não tem terremotos...
nem
ciclones... nem vulcões...
As suas
aragens são mansas e as suas chuvas esperadas:
chuvas
de janeiro... chuvas de caju... chuvas-de- santa-luzia..
Que viço
mulato na luz do seu dia!
Que amena
poesia, de noite, no céu!
– Lá vai
São Jorge esquipando em seu cavalo na lua!
– Olha o
Carreiro-de-São-Tiago!
– Eu vou
cortar a minha íngua na Papa-Ceia!
O homem
de minha terra, para viver, basta pescar!
e se
tiver enfarado de peixe, arma o mondé
e vai
dormir e sonhar...
que pela
manhã
tem paca
louçã,
tatu-verdadeiro
oujurupará...
pra
assá-lo no espeto
e depois
comê-lo
com
farinha de mandioca
ou com
fubá.
O homem
de minha terra arma o mondé
e vai
dormir e sonhar...
O homem
de minha terra tem um deus de carne e osso!
– Um
deus verdadeiro,
Que tudo
pode, tudo manda e tudo quer...
E pode
mesmo de verdade.
Sabe
disso o mundo inteiro:
– Meu
Padinho Pade Ciço do Joazero!
O homem
de minha terra tem um deus de carne e osso!
Um deus
verdadeiro..
Os
guerreiros de minha terra já nascem feitos.
Não
aprenderam esgrima e nem tiveram instrução...
Brigar é
do seu destino:
–
Cabeleira!
–
Conselheiro!
–
Tempestade!
–
Lampião!
Os
guerreiros de minha terra já nascem feitos:
–
Cabeleira!
–
Conselheiro!
–
Tempestade!
–
Lampião!
MODERNISMO - Com relação ao movimento modernista,
Coutinho (1978), Martins (1965), Lima (1951), Castelo (1961), Chiachio (1951), Franceschini
(2006), Barros (1977), Benjamin (1988), Correia (2016), Salazar (2016), Lamenha
(2016), e Pedrosa (2016), assinalam a inclusão de Ascenso Ferreira entre os
seus integrantes, depois da fundação do Centro Regionalista do Nordeste de 1924
e do I Congresso Regionalista do Recife, de 1926. Observa Milliet (1981) que: [...]
Na revolução poética do Brasil, já o
observou Manuel Bandeira, o grupo do Recife escapou à influência imediata e imperialista
dos modelos europeus. Da revolução que se iniciou em São Paulo só lhes
interessou a liberdade conquistada. Graças a ela pôde não apenas assenhorear-se
de novas técnicas mas ainda ir pesquisar as solução tradicionais e populares. Daí
o valor brasileiro – talvez intraduzível – de poetas como Joaquim Cardozo e
Ascenso Ferreira. [...]. Mas foi o depoimento de Andrade (1981, p. 17) que
esclareceu o verdadeiro nível de Ascenso no movimento: No Brasil, fazia tempo que a poética modernista andava sem novidade.
[...] Depois que as personalidades dos
iniciadores se fixaram, só mesmo Ascenso Ferreira com este Catimbó trouxe pro
modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo. Esse é o
mérito principal dele a meu ver, um mérito inestimável. [...]. É partir
dessas declarações que muito começa a ser dito e falado sobre Ascenso, a exemplo
do que se refere Bastide (1981): [...] A
poesia é a escada que vai da terra ao céu. Ascenso Ferreira finca seu pé na
gleba do Recife e no seu background fortemente, carnalmente [...]. É o que
assegura Litrento (1978), ao mencionar que se trata de um expressivo poeta de
acentuada vinculação folclórica, cantor das assombrações e dos engenhos,
figurando entre Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Joaquim Cardozo,
como grandes expressões poéticas do Brasil.
Os poemas de Ascenso Ferreira foram reunidos
em volumes organizados por inicialmente por Correya (FERREIRA, 1981), reunindo
as obras Catimbó, Cana Caiana e Xenhenhém, e, posteriormente, por Silva (2015).
Trata-se de uma poética que, segundo Gomes (2016, p. 138): [...] Há um certo antilirismo nessa polifonia, que
muitas vezes rebaixa a voz do eu-lírico, ou mesmo a oculta totalmente. A
multiplicidade de vozes, entrecortada, por narrações configuram um acento épico
aos seus versos. Mas o conteúdo das histórias narradas por Ascenso, as vezes em
versos heroicos, são opostos aos temas sérios, aos homens ditos superiores da
epopeias clássicas. [...]. É dessa
contradição entre o lírico, o dramático e o épico que surge a estranha poesia
de Ascenso. [...]. Conforme Lamenha (2016, p. 32), [...] colocava em versos o dia, um versificador de
crônicas, que via a vida do dia a dia [...], e que, no dizer de Barros
(1977, p. 93): [...] primeiro que outro
no Brasil, incluiu no recitativo um trecho musical popular, um refrão, um
trecho de embolada, com impressão sonora de cor e ambientes local [...] E não há quem o ouça para não sentir o
encanto irresistível duma poesia estranha e doce, bravia e sincera, cheia de
vitalidade e de força evocadora. [...]. Por conta disso, Guilhermino (2016,
p. 59) assevera que Ascenso [...] como um
autor que congrega em sua escrita elementos tipicamente nordestino, reflexos do
meio no qual esteve inserido. Seus poemas são verdadeiras rapsódias do
Nordeste, nas quais se espelha moravelmente a alma ora brincalhona, ora
pungentemente e nostálgica das populações do engenho e do sertão. [...]. Acrescenta
Coelho (2016, p. 73) que: [...] recorre
aos ditos populares, cantigas, canções e lendas para configurar a sua poética
com uma forte carga brasileira. Ao apropriar-se dos temas da cultura popular, o
autor revisitou memórias coletivas que se tornaram artifícios estéticos de
recriação do ethos pernambucano. [...] confirma-se um projeto identitário
brasileiro, que se realiza pelo diálogo de várias linguagens comuns à vivência
do nordestino e, mais precisamente, de Pernambuco.
Por conta disso, Vitrolira (2016, p. 93)
observa que: [...] a frente do seu tempo,
inovou em estética e temática, permanecendo atual para a contemporaneidade
[...] estabelecendo uma relação dialógica
entre os dois universos e avaliando suas divergências ideológicas por meio da
ironia de modo sutil que motivam, no leitor, o riso, embora discreto. [...].
Tal condução leva Martins (2016, p. 113) a expressar que: [...] prova que é possível produzir uma poesia
única, unindo a literatura nacional com a cultura popular, sobretudo com a
cultura regional. A poesia de Ascenso relaciona harmoniosamente as correntes
que supostamente não poderiam convergir. Sua poesia triunfa uma vez que quebra
com os paradigmas da época em que as duas correntes não poderiam dialogar.
[...]. Além do mais, observa Durán e Azevedo (2005) que [...] A obra de Ascenso é, dessa forma, documental
porque registra um espírito de um povo com suas lendas, mitos, tradições e
história. Consegue mapear os costumes e a espacialidade, mesclando os falares
numa linguagem contrastante do coloquial ao erudito e até do dialetal. Uma
poesia essencialmente universalizante, porém, como se percebe, enraizada no
solo da sua terra e na alma da sua gente. [...]. O que leva Gomes (2016, p.
146) a concluir que: [...] a maior
fecundidade de Ascenso Ferreira está, pois, em sua declamação. A força de seu
dizer, ecoa ainda hoje, na poesia falada nas ruas e becos do Recife. O dizer
cantando, acentuado e dramático resiste até hoje. [...].
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SESC/LAL, 2016.
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