
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de
especial com Frevo & Folia Caeté no Dia Mundial da Rádio & a duplamiga Tatiana
Cobbett & Marcoliva: Parceiros, Bendita
companhia, Corte & costura, Sawabona Shikoba, Na Vera & Taleban &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para
conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – Se eu chegasse a ser dum Outro / mas de mim não me
perdendo / e esse Outro todos os outros / que comigo estão vivendo / não só
homens mas também / os animais e as plantas / e os minerais ou os ares / e as
estrelas tais e tantas / terei decerto cumprido / meu destino e com que sorte /
para gozar de uma vida / já ressurecta da morte. Poema do filósofo, poeta e ensaísta português Agostinho
da Silva (1906-1994), extraído de Uns
poemas de Agostinho (Ulmeiro, 1990), que traz também: Crente é pouco sê-te Deus / e para o nada que é tudo / inventa caminhos
teus. Veja mais aqui e aqui.
GUETO
& PRISÃO - [...] Para perceber o parentesco profundo que liga
o gueto e a prisão, parentesco que contribui para explicar como o declínio
estrutural e a obsolescência funcional de um pôde conduzir à ascensão
inesperada e à extraordinária expansão da outra no último quarto de século, é necessário
antes caracterizar corretamente o gueto. Mas diante disso nos vemos
confrontados com um problema preocupante: as ciências sociais falharam em
desenvolver um conceito analítico sólido de gueto; elas se contentaram, a cada
época, em tomar emprestado o conceito indígena corrente no debate sociopolítico
e no discurso comum. Donde uma grande confusão, que fez com que o gueto fosse
assimilado incorretamente, segundo os casos, a uma zona segregada, um bairro étnico,
um território de grande pobreza ou habitat deteriorado ou, até mesmo, com a
emergência nestes últimos anos do mito político-universitário da “underclass”,
a uma simples acumulação de patologias urbanas e de comportamentos anti-sociais [...] A extensão e os meios destas leis variam de uma jurisdição e de uma
cidade para outra. Em certos estados, a notificação é “passiva”: deve ser
iniciada pelo público e frequentemente às suas custas; em outros, ela é
“ativa”: são as autoridades que tomam a iniciativa e assumem os custos de
difusão da informação junto à população. Aqui, ela diz respeito apenas a certas
categorias de “sex offenders” consideradas perigosas e tendentes à recidiva,
que a lei chama de “predadores sexuais”; lá, ela se aplica ao conjunto dos
condenados por costumes [...] Por seu questionamento crítico, baseado na
observação e na comparação, os pesquisadores têm um papel motor a desempenhar
para reformular em termos audaciosos e ao mesmo tempo realistas a questão do
castigo e para tentar, com todos aqueles que trabalham a seu redor e em seu
seio, advogados, interventores externos, militantes, presos e suas famílias,
fazer, enfim, que a prisão entre na cidade. Trechos extraídos da obra Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos
Estados Unidos (Revan, 2003), do sociólogo
e pesquisador francês Loïc Wacquant, tratando sobre a criminalização da
m iséria, a “reforma” da assistência social para vigiar e punir, a prosperidade
do Estado penal, o “Grande Confinamento” do fim de século, 0 “Big Government”
carcerário e seus custos, alvos privilegiados, a nova “instituição peculiar”
dos Estados Unidos: a prisão como substituto do gueto, as presas fáceis: a caça
aos delinqüentes sexuais, a prisão é uma instituição fora-da-lei, entre outros
assuntos, analisando o processo contemporâneo do desenvolvimento do
capitalismo, principalmente nos Estados Unidos, mas com extensão a todo o
mundo. Em condições nas quais o capitalismo gera mais desemprego do que
emprego, tendo lugar a criminalização da pobreza, a passagem do Estado de
Bem-Estar Social ao Estado Penal, quando os serviços sociais perdem a função
assistencial para transformar-se em instrumentos de vigilância e controle das
novas classes perigosas. Veja mais aqui.
NINGUÉM SE BANHA DUAS VEZES NO MESMO RIO - Estou deitado na margem. Dois barcos, presos
a um tronco de salgueiro cortado em remotos tempos, oscilam ao jeito do vento,
não da corrente, que é macia, vagarosa, quase invisível. A paisagem em frente,
conheço-a. Por uma aberta entre as árvores, vejo as terras lisas da lezíria, ao
fundo uma franja de vegetação verde-escura, e depois, inevitavelmente, o céu
onde boiam nuvens que só não são brancas porque a tarde chega ao fim e há o tom
de pérola que é o dia que se extingue. Entretanto, o rio corre. [...] Três metros acima da minha cabeça estão
presos nos ramos rolos de palha, canalhas de milho, aglomerados de lodo seco.
São os vestígios da cheia. À esquerda, na outra margem, alinham-se os freixos
que, a esta distância, por obra do vento que Ihes estremece as folhas numa
vibração interminável, me fazem lembrar o interior de uma colmeia. [...] Entretanto, enquanto vou pensando, o rio
continua a passar, em silêncio. Vem agora no vento, da aldeia que não está
longe, um lamentoso toque de sinos: alguém morreu, sei quem foi, mas de que
serve dizê-Io? Muito alto, duas garças brancas (ou talvez não sejam garças, não
importa) desenham um bailado sem princípio nem fim: vieram inscrever-se no meu
tempo, irão depois continuar o seu, sem mim. Olho agora o rio que conheço tão bem. A cor das águas, a maneira como
escorregam ao longo das margens, as espadanas3 verdes, as plataformas de limos
onde encontram chão as rãs, onde as libélulas (também chamadas tira-olhos)
pousam a extremidade das pequenas garras - este rio é qualquer coisa que me
corre no sangue, a que estou preso desde sempre e para sempre. Naveguei nele,
aprendi nele a nadar, conheço-lhe os fundões e as locas onde os barbos pairam
imóveis. É mais do que um rio, é talvez um segredo. E, contudo, estas águas já não são as minhas águas. O tempo flui nelas,
arrasta-as e vai arrastando na corrente líquida, devagar, à velocidade (aqui,
na terra) de sessenta segundos por minuto. Quantos minutos passaram já desde
que me deitei na margem, sobre o feno seco e doirado? Quantos metros andou
aquele tronco apodrecido que flutua? O sino ainda toca, a tarde teve agora um
arrepio, as garças onde estão? Devagar, levanto-me, sacudo as palhas agarradas
à roupa, calço-me. Apanho uma pedra, um seixo redondo e denso, lanço-o pelo ar,
num gesto do passado. Cai no meio do rio, mergulha (não vejo, mas sei),
atravessa as águas opacas, assenta no lodo do fundo, enterra-se um pouco. [...]
Desço até à água, mergulho nela as mãos,
e não as reconheço. Vêm-me da memória outras mãos mergulhadas noutro rio. As
minhas mãos de há trinta anos, o rio antigo de águas que já se perderam no mar.
Vejo passar o tempo. Tem a cor da água e vai carregado de detritos, de pétalas
arrancadas de flores, de um toque vagaroso de sinos. Então uma ave cor de fogo
passa como um relâmpago. O sino cala-se. E eu sacudo as mãos molhadas de tempo,
levando-as até aos olhos - as minhas mãos de hoje, com que prendo a vida e a
verdade desta hora. Trechos extraído da obra Deste mundo e do outro (Caminho,
1985), do escritor, teatrólogo, jornalista e dramaturgo
português José Saramago (1922-2010)
– Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Veja mais aqui.
TRÊS POEMAS – 1 - por vezes o
poema engasga / (tal como a fúria daqueles) / que espetam garfos quando pensam
/ não é que isso seja grave / (terrível é
olhar para ti e sentir) / que és matéria inexistente. 2 - nos pingos de chuva que caem
/ há violinos com saudades do mar / impera no céu enegrecido / o voo obliquo de
gaivotas / com fome e sede dos búzios / rendilhados
de espuma e naufrágios. / quem dera soubesses entender / (tal como eu, neste
instante...) / que nenhum sol se atreverá a mudar / esse tempo em que te lembro
a chorar. 3 - porque andam "azedas" / as pessoas? / o acto da
cordialidade vai se perdendo / (mais do que isso...) / parece que se disputa a
bestialidade humana. Poemas da poeta Suzana Sanches.
CLEÓPATRA DE NATALIE DESSAY
Curtindo o CD/DVD Árias do compositor George Frideric Händel, Giulio
Cesare (Virgin, 2011), no qual a soprano francesa Natalie
Dessay interpreta Cleópatra, com a orquestra Le Concert
d’Astrpée, Chorus of Opéra National de Paris e regência de Emmanuelle Haïm. Veja mais aqui.
Veja mais:
Tem hora pra tudo e a vida é outra coisa, a música do Quinteto Armorial, a arte de Emilia Kallock, os cordéis de Ciro Veras
& Alexandra Lacerda aqui.
A Uiara do Jaraguá aqui.
Quebra de Xangô, Yulia
Gorodinski, Relacionamentos Afetivos, Psicologia Jurídica & Criminologia aqui.
Deusa Vesta, Daniel
Goleman & Foco, Crimes Tributários, Psicologia & Pesquisa aqui.
Gilles Deleuze & Félix Guattari,
Peter Gabriel, Catarina Eufémia, Sam Mendes, Vicente Caruso, Mena Suvari, O
Rádio & Radiodifusão, Psicopatologia & Memória, Sandra Fayad &
Janne Eyre Melo Sarmento aqui.
Direito Ambiental
aqui.
Tolinho & Bestinha: quando a lei do
semideus é cachaça, tapa e gaia aqui.
Psicopatologia
& Orientação, Psicologia Jurídica & Agências Reguladoras aqui.
A Utopia de Thomas More aqui.
Dois
poemetos em prosa de amor pra ela aqui.
Psicopatologia
& Atenção, Psicodrama & Crimes contra a administração pública aqui.
A
contenda do amor aqui.
A ARTE DE BÁRBARA STIMOLE
A arte da dançarina e coreografa alemã Barbara Stimole, na premiada obra La teoria delle stringhe - La Badini, de Fabrizio Zamero.