quarta-feira, fevereiro 21, 2018

JOSÉ PAULO PAES, ANAÏS NIN, VYGOTSKY, CAETANO VELOSO & MARIA BETHÂNIA, JORGE LARROSA, EDUARDO AFONSO VIANA & ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

E SE NADA ACONTECESSE... NADA VALERIA! – Imagem: Revolta das bonecas (1916), do pintor português Eduardo Afonso Viana (1881-1967). - UMA: O QUE FEZ OU DEIXOU DE FAZER – No princípio era a escuridão, quanto tempo, não sei, nove meses, ou oito, ou sete, sei lá, sei a porteira do mundo se abriu e à palmada eu chorei, nada sabia o que me reservava, apenas perdia a face de Deus ancorado na dispersão. Para quem merece, era eu um entre milhares ou milhões, outra vida dentro de outras que era a minha e outra e quase dela e quase minha, vencia as madrugadas, renovado a cada treva, cada sombra, de quase não salvar a graça nem a integridade. Eu mesmo me tinha por outro, não sabia, era eu e ela uma coisa só, aos olhos o que não era visto mas que existia e sempre existiu e existirá, não coisa de outro mundo, senão deste mesmo, nem isso sabia, sentia. Em nome da minha própria vida quantos verões invernaram nas primaveras estivaise eu sempre me vesti de mim mesmo, mesmo que me fizessem por outro, a roupa do corpo o que sempre tive por viagens sem volta, sem vestígios e eu seguia o meu e era um caminho contrário ao de todos, a minha própria biografia, minha história fora de todos os moldes, formas e fórmulas, a minha vida, nada mais. Monarca da minha miséria eu crescia a me rebelar da cegueira e da surdez por barulhentas travessias, a me perder no meio da paixão, povoado de sonhos e lendas, e a imaginação miúda sabia o que nunca foi lido, escondido por trás de toda obviedade. Procurei a tomada do êxito, não era, era mastigando caligens, exumando o passado entre alguns mansos e tantos zangados, poucos lembram, muitos esqueceram e eu falando em voz alta com a solidão, a insólita imagem do meu próprio rosto e eu na minha desolação mais via a face de Deus, quando o meu poema saiu do sótão e foi pro inferno: o preço da liberdade. Fui capaz de atiçar o ímpeto da carne e sem medir palavras o alarme geral me denunciou e me vi sujeito a choques enquanto simulava o anonimato, até ser flagrado pela disciplina da fôrma, a confusão da dor nas veias a me arrastar, até chegar ao morro alto, tão alto, do frio esquentar os dedos nas estrelas quando tudo era inútil. Até aí eu era tantos e os outros eram em mim invisíveis tomando a vez e o caos para aprender o amor a me aprimorar, rejuvenescer, revitalizar, mas isso era nada, eu também nada no mundo no qual só valia ter e não tinha nada pra vender nem pra trocar, apenas viver. DUAS: SALA DE AULA - Era eu e muitos sequiosos aboletados, olhos às nucas, enfileirados no espaço, quase centena onde só caberia não mais de algumas dezenas, sardinhas na lata, quantos interditos e nenhum pio pra sapiência absoluta deitar imbróglios com seus apodos à queima-roupa e gestos de ordem, sanções de lâmina fria e afiada na fala siderada com suas exegeses menores que suas próprias palavras e seu próprio tamanho diante do nariz e quase ofensa, quem era quem, quem disse o quê e transigir, era a psicologia da manada engolindo todos e qualquer passo em falso já me delatavam desertos, a queda de quem queria ocupar uma porção da vida sem saber ao certo onde ela pudesse estar porque tudo era a torre da derrota no apontamento da ideologia, pra depois se esvair na purgação voluntária e marcas indeléveis, dilacerantes hesitações povoando a mente com a sedutora serpente falante fabricando o desordenado, o desequilibrado, as angústias em não sei quantas páginas do caderno de zis matérias, e a cada sete anos as sombras de insanidade por epifanias até a perda do paraíso, quantas questões e efusões amorosas, hierofanias para tantas impossibilidades, não havia o que aprender, só repetir e decorar, tudo aos pedaços como se fosse a mais poderosa verdade e não era. Assim, desde que o mundo é mundo. Na primeira investida da dúvida: Sai pra lá, lambaio! Em bom português: Te vira, meu! E metia o sarrafo no pomba-lesa e saia arrolando os pormenores do atoleiro por catábases que davam pra morte tomada a prestação, numa raiz quadrada com a prova dos nove para um posto avançado no fim do mundo, cheio de charcos e descampados, mil conjeturas, pelos rodeios pro lamaçal de coisas insensatas, a meter medo de coisas que não fazia a menor ideia, o pavor dos mortos e dos fantasmas com seus horrores de segunda mão e isso era o certo como dois e dois são quaisquer coisas que quisessem os superiores donos da razão e do saber. Para ser franco, nos atalhos do raposário e aos maus conselhos do tinhoso, era dado como caso perdido, um sujeito malcriado e respondão à mercê de tantas esquisitices do tempo de ninguém, até se achava ao direito de mesuras, reprimendas fatais e zombarias pra tonto: Você é doido ou está se fazendo, hem? Ora, faça-me um favor! Davam o que falar, azo para mexericos, ah, cara ou coroa do tempo das cavernas, vigarices, esporros e bisturis morais, quejandos do contra, haja jogo de cintura, cada um com seu cada qual: dialetos, etiquetas, grunhidos, tacapes, manias de assepsia, recriminações, insanidade e amputações, cirurgias de não, suturas de deveres, curativos de enquadramento, quantos naufrágios. Ao soçobrar, um raio nas pálpebras e os sons incomuns das novidades, cenários insólitos, os olhos sabiam ver para desvendar, mas não deixavam, teve que dar um bico nas questões atinentes ao tempo e ao espaço, causa ou efeito, noções intuitivas, afinal tudo é uma teia de relações entre as diversas partes de um todo unificado. Como não era de decorar o ditado nem copiar o escrito alheio de próprio punho por obrigação, havia uma ponta de dignidade e amor próprio e, por opção, escolheu a liberdade e a vida, por conta disso tanto fazia estar no topo do monte ou morrendo afogado numa poça d’água qualquer. TRÊS: A SAIDEIRA DA DESARRUMAÇÃO - Ainda ontem eu vi coisas de hoje em dia: gente revanchista com arrazoado meter o pau no projeto futuro pelo que não amealhou no passado e agora, levar tudo nas coxas sem a menor articulação, falar por falar com carradas de razão, cuspir desavença dono da verdade, chamar na grande o que não sabia por não enxergar um palmo além do nariz, protestar sem vergonha pelo que desdizia, revogar o proposto por entender ao contrário, pleitear o diverso em detrimento do próprio anseio e, surpreendentemente, condenar o próprio interesse por não entender o que defendia, rebelde sem causa pra ser simplesmente do contra e quando o resultado final é o malogro constatado, aí não, ah, quer que todo processo legítimo seja anulado simplesmente porque contrariou tudo que defendia, ou melhor, acusava, ou sei lá o que realmente queria. Ora, ora. Qualquer semelhança não é só mera coincidência como coisa comum no dia a dia. Gente é coisa muito complicada, hem? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o cantor, compositor, músico, produtor, arranjador e escritor Caetano Veloso: Zii & Zie ao vivo, Multishow ao vivo & Circuladô de fulô; e a cantora e compositora Maria Bethânia: O canto do Pajé, Maricotinha ao vivo & Amor festa devoção; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] O que somos ou, melhor ainda, o sentido de quem somos,d epende das histórias que contamos e das que contamos a nós mesmos. Em particular, das construções narrativas nas quais cada um de nós é, ao mesmo tempo, o autor, o narrador e personagem principal. Por outro lado, essas histórias são construídas em relação às histórias que escutamos, que lemos e que, de alguma maneira, nos dizem respeito na medida em que estamos comelidos a produzir nossa história em relação a elas. [...]. Pensamento extraído de Tecnologias do eu e educação (Vozes, 1994), do professor e educador Jorge Larrosa. Veja mais aqui

PENSAMENTO & PALAVRA - [...] A relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa mas um processo, um movimento continuo de vaivém, engre a palavra e o pensamento; nesse processo a relação entre o pensamento e a palavra sofre alterações que, também elas, podem ser consideradas como um desenvolvimento no sentido funcional. As palavras não se limitam a exprimir o pensamento: é por elas que este acede à existência... O pensamento e a palavra não são talhados no mesmo modelo: em certo sentido há mais diferenças do que semelhanças entre eles. A estrutura da linguagem não se limita a refletir como num espelho a estrutura do pensamento; é por isso que não se pode vestir o pensamento com palavras, como se de um ornamento se tratasse. O pensamento sofre muitas alterações ao transformar-se em fala. Não se limita a encontrar expressão na fala; encontra nela a sua realidade e a sua forma. Trecho extraído da obra Pensamento e linguagem (Antídoto, 1979), do cientista e psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934). Veja mais aqui e aqui.

MARIANNE – [...] Essa jovem, Marianne, era pintora, e datilografava à noite para ganhar um dinheiro. Tinha uma aureola de cabelos dourados, olhos azuis, rosto redondo, seios fartos e firmes, mas tinha tendência a ocultar a opulência de seu corpo em vez de exibi-la, de disfarça-la sob trajes boêmios disformes, jaquetas folgadas, saias de colegial, capas de chuva. Ela vinha de uma cidade pequena. Tinha lido Proust, Krafft-Ebing, Marx, Freud. (…) Nada a havia tocado profundamente. Ainda era virgem. Eu podia sentir isso quando ela entrava na sala. Do mesmo modo que um soldado não deseja admitir que está amedrontado, Marianne não queria admitir que era fria, frigida. Mas estava fazendo psicanálise. Trecho extraído de Delta de Vênus (Artenova, 1978), da escritora francesa Anaïs Nin (1903-1977). Veja mais aqui e aqui.

CONVITE - Poesia / brincar com palavras / como se brinca / com bola, papagaio, pião. / Só que / bola, papagaio,pião / de tanto brincar / se gastam. / As palavras não: / quanto mais se brinca / com elas / mais novas ficam. / como a água do rio / que é água sempre nova. / como cada dia / que é sempre um novo dia. / Vamos brincar de poesia? Poema do poeta, ensaísta, jornalista e tradutor José Paulo Paes (1926-1988). Veja mais aqui.

ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Art.1 É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no plano interno. Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará: I – os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; II – os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; III – a limitação no desempenho de atividades; e IV – a restrição de participação. § 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.
Trechos da Lei nº 13.146/2015 - Estatuto da pessoa com deficiência (Senado Federal/CET, 2015). Veja mais aqui, aqui e aqui.
  
Veja mais:
Existe gente pra tudo!, Vanmegaprana, a escultura de Josefina de Vasconcelos, Todo dia é dia da mulher, a música de Anelis Assumpção, a arte de Harriet Hosmer & Banksy aqui.
Simulacros, Roberto Remiz & Nina Kozoriz aqui.
Bernardo Guimarães, Nina Simone & Darel Valença Lins aqui.
António Damásio, Pierre-Jean de Béranger & Marcia Lailin aqui.
Descartes & Margarethe Von Trotta aqui.
Coelho Neto & Logoterapia aqui.
A poesia de Wystan Hugh Auden, a literatura de Stanislaw Ponte Preta & Anaïs Nin, A música de Francisco Manuel da Silva, A pintura de Alberti Leon Battista, Maria de Medeiros & Luli Coutinho aqui.
Hypatia & Ágora, o filme aqui.
Inesquecível viagem ao prazer & Lucia Helena Galvão Maya aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando a corda arrebenta, a covardia fica de plantão aqui.
O pensamento de Baruch Espinoza aqui, aqui e aqui.
Conversa de pé de ouvido, As presepadas de Doro, Erasmo de Roterdam, O peido & a Educação, Fernando Fiorese, A primavera de Ginsberg, Graciliano Ramos & Alagoas aqui.
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Remexendo as catracas do quengo e queimando as pestanas com coisas, coisitas e coisões, Débora Massmann, Boaventura de Souza Santos, Terêncio, O Fausto de Goethe, Ética, Saúde no Brasil & Big Shit Bôbras aqui.
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Charles Baudelaire, Gianni Vattimo, Sören Kierkegaard, Tribo Ik, Adriano Nunes & Do individualismo possessivo ao umbigocentrismo da futilidade aqui.
Pobreza aqui.
Paulo Leminski, Mestre Eckhart, Moisés Maimônides, Píndaro, A oniomania & o Shopaholic, Gilton Della Cella & Programa Tataritaritatá aqui.
A explosão do prazer no Recife, Educação, Manoel de Barros, Gaston Bachelard, Luiz Ruffato, John Dewey, Marcelino Freire, Ottto Maria Carpeaux, Armando Freitas Filho & Programa Tataritaritatá aqui.

ARTE DE EDUARDO AFONSO VIANA
A arte do pintor português Eduardo Afonso Viana (1881-1967)


CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame,...