Imagem: a
arte da artista visual Amanda
Morais.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de
especial com o pianista Nelson Freire interpretando Villa-Lobos, Debussy & Recital; a
pianista japonesa Mitsuko Uchida interpretando Beethoven & Debussy; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para
conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Estar
com quem se ama e pensar em outra coisa: é assim que tenho os meus melhores
pensamentos, que invento o que é necessário ao meu trabalho. O mesmo sucede com
o texto: ele produz em mim o melhor prazer se consegue fazer-se ouvir
indiretamente; se lendo-o, sou arrastado a levantar muitas vezes a cabeça, a
ouvir outra coisa. Não sou necessariamente cativado pelo texto de prazer; pode
ser um ato ligeiro, complexo, tênue, quase aturdido; movimento bruco de cabeça,
como o deu um pássaro que não ouve nada daquilo que nós escutamos, que escuta
aquilo que nós não ouvimos. [...]. Trecho extraído da obra O prazer do texto (Perspectiva, 1996),
do escritor, sociólogo, filósofo, semiólogo e crítico literário francês, Roland
Barthes (1915-1980), analisando o prazer sensual do texto, tanto por parte
de quem escreve - sem medo de expor seu desejo, sob pena de cair na tagarelice
-, quanto de quem lê (normalmente situado como objeto, ser passivo e sem
defesas frente ao texto, e que aqui é revelado em sua plenitude criativa da
fruição), ao mesmo tempo que descarta a frigidez do texto empolado e político,
evocando ao fio dos argumentos tanto Proust, Flaubert, Stendhal como Sade e
Bataille, ou ainda Lacan e Freud, enfim, apresentando de forma profunda e lúdica um tema fundamental
em semiologia e literatura. Veja mais aqui.
TEORIAS CIENTÍFICAS – [...] todas
as teorias científicas são aproximações da verdadeira natureza da realidade.
[...] cada teoria é válida em relação a
uma certa gama de fenômenos. Para além dessa gama, ela deixa de fornecer uma
descrição satisfatória da natureza, e novas teorias têm que ser encontradas
para substituir a antiga ou, melhor dizendo, para ampliá-la, aperfeiçoando a
abordagem. [...]. Trecho extraído da obra O ponto de mutação: a ciência, a sociologia e a cultura emergente
(Cultrix, 1993), do físico e escritor austríaco Fritjof Capra. Veja mais
aqui e aqui.
PRAZER DOS OLHOS – Sou
o homem mais feliz do mundo, e eis por quê: caminho por uma rua e vejo uma
mulher, não alta, mas bem proporcionada, bem morena, bem nítida em sua roupa,
com uma saia escura plissada que se mexe ao ritmo de seu passo, rápido, por
sinal; suas meias, escuras, estão certamente presas, pois mostram-se
impecavelmente esticadas. Seu rosto não sorri, essa mulher anda na rua sem
buscar agradar, como se não tivesse consciência do que represeta: uma bela
imagem carnal da mulher, uma imagem física, melhor que uma imagem sexy, uma
imagem sexual. Ao cruzar com ela na calçada, um passante não se deixa enganar:
vejo-o voltar-se para trás, dar meia-volta e ir ao seu encalço. Contemplo a
cena. Agora, o homem chegou à altura da mulher, está andando a seu lado e lhe
murmura alguma coisa, certamente as baboseiras habituais: tomar uma cerveja,
etc. Porém, ela ela vira o rosto, aperta o passo, atravessa a rua e desaparece
na esquina seguinte, enquanto o homem vai tentar a sorte em outro lugar. Entro
então num táxi e sonho um pouco a propósito dessa cena tão cotidiana nas
grandes cidades, nãoapenas em Paris. Instintivamente solidarizo-me com a mulher
contra o homem e modifico a cena segundo meus pensamentos do momento; digo-me
que seria formidável se, por uma vez, no desfecho de uma cena desse gênero, a
humilhação trocasse de lado. Tomo algumas notas numa folha de agenda e, quatro
meses mais tarde, vejo-me na rua [...] com
uma câmera, uma equipe técnica de vinte e cinco pessoas e dois atores que
escolhi, um homem louro bem alto, na verdade bonito e forte, e uma mulher que
vocês adivinharam que é morena, bem proporcionada, de saia plissada. E eu
estou ali, no exercício de minha profissão, acerca da qual não permito que
ninguém diga que é inutil ou desinteressante, e dirijo a cena. Peço ao ator
louro que caminhe, passe pela mulher morena, volte-se para ela, faça
meia-volta, vá ao encontro dela e lhe fale ao ouvido. Não escrevi frases para o
homem pois elas não serão ouvidas na cena, seu sentido é subentendido. Agora os
dois atores se aproximam da câmera [...] e a atriz morena [...] investe contra o homem com fgrases que formei
na minha cabeça quatro meses antes de
redigi-las e entregá-las à atriz na noite anterior [...]. Trechos extraídos
da obra O prazer dos olhos – escritos
sobre cinema (Zahar, 2005), do cineasta francês François Truffaut (1932-1984). Veja mais aqui e aqui.
ASSOMBRAÇÃO – Uma noite, ao receber a visita de uma amiga,
lembrei-me de lhe emprestar um romance. Fora a minha leitura da véspera, e eu o
deixara na mesinha de cabeceira. Subi a escada, e entrei no quarto. Curioso.
Alguém acendera a luz... E no entanto, eu estava certa de que ninguém subira.
Caminhei intrigada, pressentindo qualquer acontecimento... Olhei minha cama e
vi nela uma mulher deitada. Uma mulher... morta – ela... estava morta! tinha um
horrível vestido de lantejoulas de todas as cores, a aparecia coberta de joias
baratas. Suando frio, procurando dominar o coração desordenado, cheguei mais
perto. Meu Deus! Aquela face nojentamente pintada era a minha própria face!
Como se alguém fizesse de mim um retrato de degradação... Meu próprio rosto...
mais velho – muito mais velho! – com maqulagem de atriz decadente! Queria
gritar... chamar todos... Não me foi possível. Fiquei fascinada, encarando
aquele meu próprio eu degradado e envelhecido, coberto de joias. De súbito, à
altura do coração, de sob as lantejoulas, principiou a correr um esguicho de
sangue, que ia engrossando, que se tornava maior. Nele, iam submergindo o colo,
os braços, o corpo, a longa saia rutilante de meu terrível “double”. A mulher
estava coberta de sangue, e seu rosto dele se destacava estranhamente branco,
como a face de um pierrô trágico. Então... ah, só então eu consegui gritar.
Voltei correndo... mas, junto da escada, perdi os sentidos. Extraído da obra As noites do morro do encanto (Civilização Brasileira, 1957), da
escritora Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982). Veja mais aqui.
AS REALIDADES - (fábula)
- Era uma vez uma realidade / com as suas
ovelhas de lã real / a filha do rei passou por ali / E as ovelhas baliam que
linda que está / a realidade. / Na noite era uma vez / uma realidade que sofria
de insônia / Então chegava a madrinha fada / e realmente levava-a pela mão / a
realidade. / No trono havia uma vez, / um velho rei que se aborrecia / e pela
noite perdia o seu manto / e por rainha puseram-lhe ao lado / a realidade. /
Cauda: a realidade, a realidade / A real a real / idade idade dá a reali / ali /
a re a realidade era uma vez a realidade. Poema do escritor francês Louis
Aragon (1897-1982).
BIBLIOTECA FENELON BARRETO
Oh, visitante ilustre, esta Casa vos saúda,
Numa apoteose cultural,
Espelhando a história e a grandeza deste
povo!
Embriagai-bos, senhores, da fonte da
sabedoria
Buscai a ciência nos seus livros
De cada estante, de cada prateleira
Desta encantadora Biblioteca,
E achareis, então, o conhecimento!
Palmares tem esta Biblioteca
Como um cartão de visita; cabedal científico
De homens e histórias!
Vinde todos desfrutar
Desta fonte do saber!
Poema
extraído da obra Asas do Tempo
(Telegráfica, 2013), do escritor Fernando
Nascimento Barreto. Veja mais poemas do autor aqui.
Veja mais:
No reino
do Fecamepa nada pode dar certo!, A mística feminina de Betty Friedan, a música de Célia Mara, a pintura de Peter Klashorst,
a arte de OsGemeos
& Geopoiesis ASM aqui.
A dança
tangará festeja a pletora do amor, a
Lenda do Itararé, a arte de Robert Gibson & Luciah Lopez aqui.
Alvorada
na Folia Tataritaritatá, Pablo
Neruda, João Ubaldo Ribeiro, Egberto Gismonti, Capiba, Ricardo
Palma, Tsai Ming-liang, Cristiane Campos, Fernanda
Torres, Chen Shiang-Chyi, Revista Germina, Digerson
Araújo, Asta Vonzodas & O cérebro autista aqui.
Amor
imortal na Folia Tataritaritatá, Manuel
Bandeira, Pedro Nava, Carlo Goldoni, Cacá Diégues, Carybé, SpokFrevo Orquestra, Luís Bandeira, Ana Paula Bouzas, Tatiana
Cañas, Carnaval & Claudia Maia aqui.
Jacques
Prévert, A Paz de Ralph M. Lewis, Milton Hatoum, Eric Fischl, Jonathan Larson,
Monica Bellucci, Madhu Maretiore & Sônia Mello aqui.
Fecamepa
& Óleo de Peroba, Educação & Hilton Japiassu, Bresser Pereira & A
psicanálise de Leopold Nosek aqui.
Erro médico & dano estético aqui.
O
ativismo de Rosa Parks aqui.
A
personologia de Henry Murray aqui.
Georg Trakl, Paul Auster, Sarah Kane, Gertrude
Stein, Felix Mendelssohn, Woody Allen, Gil Elvgren, Marion Cotillard & Big
Shit Bôbras aqui.
Ginofagia & as travessuras do desejo na
manhã aqui.
Rio São
Francisco: Velho Chico, Turíbio Santos,
Cláudio Manuel da Costa, Lampião de Isabel Lustosa, Ítala Nandi, Hugo Carvana, Paulette Goddard, Natalia
Goncharova, Música & Saúde aqui.
Simone Weil, Simone de
Beauvoir, Emma Goldman, Clara Lemlich, Clara
Zetkin & Tereza Costa Rego aqui.
O homem ao quadrado de Leon Eliachar aqui.
&
A ARTE DE AMANDA MORAIS
A arte da
artista visual Amanda Morais.