O QUE SOU DE ONDE ESTOU...- Da janela a fresta do nublado, nem ventania no mormaço – o bafo quente
do que não tem o que fazer, o vício da solidão. O silêncio hipnotizara até os pássaros,
a mudez das possibilidades. Os telhados imóveis são a penúria das expectativas.
O que foi feito de ontem, imagens desbotadas no trânsito da memória. Pensamentos
convulsos dão o tom da confusão. Tudo desabou no crepúsculo: o peso dos dias e
anos, o charco das horas. Nem migalhas, nem escombros. As paredes ditam a
ocasião: o futuro é feito nuvens escuras do improvável. Encurralado pelo
autossacrifício não me resigno, a inquietação bole nas pernas, as mãos trêmulas
na distância do toque, não há passos além dos cantos da sala, o corredor pro
quarto e o abafado de não se ter nem pra onde ir. Uma vontade aprisionada nos olhos
divagantes pela penumbra. Ouso ruminar com a palavra cortada ao meio, como se
ousasse exprimir o que não se diz nem se indaga: é por si silenciar, a tocaia
de ver a virada da cambota, a espera de baixar a poeira e tudo se ajeitar, como
antes, para nada. Só que seguro o grito do que se tem por refém e nada é mais
que a inglória atitude do que se reprime, sem que adiantasse abrir os braços,
sorrir pelo menos. A despeito do que entrasse em colapso na comunhão dos desígnios
de nenhum augúrio, o cronòmetro, a ampulheta, sobrevida aos trancos e
barrancos, os trapos do que restava de mim sugando o leite da lama, a baba da
fome, os sopapos da vida, uma hsitória a meu modo: o que sou e onde estou. Veja
mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Creio que a descrição integral da vida de
um homem é mais veraz e reveladora que a da vida de uma família inteira. Como
saber o que sucede no cérebro dos outros, como conhecer os motivos encobertos
do ato de um outro, como saber o que este e aqueles disseram em um momento de
confidência? Sim, construindo hipóteses. Mas a ciência do homem foi até agora
pouco fomentada por aqueles autores que tentaram com seus parcos conhecimentos
de psicologia projetar a vida psíquica, que na realidade continua oculta. Só se
conhece uma vida, a sua própria... Pensamento do dramaturgo, escritor e
ensaísta sueco August Strindberg (1849-1912). Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Para mim o teatro é um grande mistério, um
mistério no qual se acham maravilhosamente unidos os dois fenômenos eternos, o
sonho da Perfeição e o sonho do Eterno... Pensamento do
ator polonês Richard Boleslávski (1887-1937). Veja mais aqui, aqui, aqui
& aqui.
PRESENTE, PASSADO,
FUTURO – [...] o presente passa e se torna passado,
mas enquanto passado não se faz mais presente [...] Ele passa na
medida em que traz consigo mudanças, na medida em que um novo presente surge
de sua antítese. [...] Por
isso, cada momento tem de conter em si o germe do futuro,
ser prenhe de futuro. [...]. Trecho
extraído da obra Teoria do drama
moderno: 1880-1950
(Cosac & Naify, 2001), do crítico literário e filólogo húngaro Péter
Szondi (1929-1971), tratando sobre a estética histórica e poética dos gêneros, o drama
e sua crise, Ibsen, Tchékhov, Strindberg, Maeterlinck, Hauptmann, a transição e
a teoria da mudança estilística, Tentativas de salvamento, O naturalismo, A
peça de conversação, A peça de um só ato, Confinamento e existencialismo, Tentativas
de solução, A dramaturgia do eu (expressionismo), A revista política (Piscator),
O teatro épico (Brecht), A montagem (Bruckner), O jogo da impossibilidade do
drama (Pirandello), O monologue intérieur (O'Neill), O eu-épico como diretor de
cena (Wilder), O jogo do tempo (Wilder), Reminiscência (Miller), entre outros
assuntos. Veja mais aqui.
INVERNO - [...] A maior parte das águas encharcadas
com estes olhos, e dos ralos lavados com estes lábios, já foram esquecidas. [...] A compaixão pelo amor não é preconceito nem ódio. A coisa mais próxima do amor é o medo
[...]. Trechos extraídos
da obra En vinter i Stockholm (Norstedt,
1997), da escritora, jornalista e dramaturga sueca Agneta Pleijel.
Veja mais aqui.
PURGATÓRIO - E suponha que os queridos cheguem a Mântua, \
suponha que eles trapaceiem a cripta, o que vem a seguir? Começar\ com ele, com
a barba por fazer. Embora não, eu garanto a você, um\ galo desagradável, tem
gema de ovo no queixo.\ Seu manto surrado está aberto, ele está com reumatismo.\
Coitada, a banha de cozinha fumou-lhe os olhos.\ Outro Montague está no útero\ embora
o traseiro do primeiro bebê ainda não esteja seco.\ Ela rola uma carta semanal
para sua enfermeira\ quem se atreve a mandar um avental através de Balthasar,\ e
uma vez por mês, seu pai publica uma bolsa.\ Notícias de Verona? Sempre
notícias de guerra.\ Foram necessários tantos anos amargos para corrigir esse
erro! \ O quinto ato é injustamente longo. Poema da premiada escritora estadunidense Maxine
Kumin (1925-2014). Veja mais aqui.
OUTRAS SACADAS SOLITÁRIAS
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.