
Imagem: Étude pour le portrait de la marquise Madeleine Thérèse Euphrasie de Marillac, marquise d’Ecquevilly et de ses trois enfants, do pintor francês Hyacinthe Rigaud (1659-1743)
Ouvindo: Concerto para piano nº 2, op. 18, de Rachmaninoff, com o pianista angolano Segueira Costa.
CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE, DE SIGMUND FREUD - [...] os histéricos sofrem de reminiscências. Seus sintomas são resíduos e símbolos
mnêmicos de experiências especiais (traumáticas). [...] os histéricos e neuróticos: não só recordam
acontecimentos dolorosos que se deram há muito tempo, corno ainda se prendem a
eles emocionalmente; não se desembaraçam do passado e alheiam-se por isso da
realidade e do presente. [...] Tinha-se
de admitir que a doença se instalava porque a emoção desenvolvida nas situações
patogênicas não podia ter exteriorização normal; e que a essência da moléstia
consistia na atual utilização anormal das emoções "enlatadas". Em
parte ficavam estas como carga contínua da vida psíquica e fonte permanente de
excitação para a mesma; em parte se desviavam para insólitas inervações e
inibições somáticas, que se apresentavam como os sintomas físicos do caso. Para
este último mecanismo propusemos o nome de "conversão histérica".
Demais, uma certa parte de nossas excitações psíquicas é conduzida normalmente
para a inervação somática, constituindo aquilo que conhecemos por
"expressão das emoções". A conversão histérica exagera então essa
parte da descarga de um processo mental catexizado emocionalmente; ela
representa uma expressão mais intensa das emoções, conduzida por nova via. [...]
a histeria é uma forma de alteração
degenerativa do sistema nervoso, que se manifesta pela fraqueza congênita do
poder de síntese psíquica. [...] Nesta
ideia de resistência alicercei então minha concepção acerca dos processos
psíquicos na histeria. Para o restabelecimento do doente mostrou-se
indispensável suprimir estas resistências. Partindo do mecanismo da cura,
podia-se formar idéia muito precisa da gênese da doença. As mesmas forças que
hoje, como resistência, se opõem a que o esquecido volte à consciência deveriam
ser as que antes tinham agido, expulsando da consciência os acidentes
patogênicos correspondentes. A esse processo, por mim formulado, dei o nome de repressão e julguei-o demonstrado
pela presença inegável da resistência. [...] A aceitação do impulso desejoso incompatível ou o prolongamento do
conflito teriam despertado intenso desprazer; a repressão evitava o desprazer,
revelando-se desse modo um meio de proteção da personalidade psíquica. [...]
Mas o impulso desejoso continua a existir no inconsciente à espreita
de oportunidade para se revelar, concebe a formação de um substituto do reprimido, disfarçado e
irreconhecível, para lançar à consciência, substituto ao qual logo se liga a
mesma sensação de desprazer que se julgava evitada pela repressão. Esta
substituição da ideia reprimida — o
sintoma — é protegida contra as forças defensivas do ego e em lugar do
breve conflito, começa então um sofrimento interminável. No sintoma, a par dos
sinais do disfarce, podem reconhecer-se traços de semelhança com a idéia
primitivamente reprimida. Pelo tratamento psicanalítico desvenda-se o trajeto
ao longo do qual se realizou a substituição, e para a recuperação é necessário
que o sintoma seja reconduzido pelo mesmo caminho até a ideia reprimida.
[...] Ou a personalidade do doente se
convence de que repelira sem razão o desejo e consente em aceitá-lo total ou
parcialmente, ou este mesmo desejo é dirigido para um alvo irrepreensível e
mais elevado (o que se chama "sublimação" do desejo), ou, finalmente,
reconhece como justa a repulsa. Nesta última hipótese o mecanismo da repressão,
automático por isso mesmo insuficiente, é substituído por um julgamento de
condenação com a ajuda das mais altas funções mentais do homem — o controle
consciente do desejo é atingido. [...] Duas
forças antagônicas atuavam no doente; de um lado, o esforço refletido para
trazer à consciência o que jazia deslembrado no inconsciente; de outro lado a
resistência, já nossa conhecida, impedindo a passagem para o consciente do
elemento reprimido ou dos derivados deste. [...] O pensamento devia comportar-se em relação ao elemento reprimido com
uma alusão, como uma
representação do mesmo por meio de palavras indiretas. Conhecemos, no domínio
da vida psíquica normal, exemplos em que situações análogas às que admitimos
produzem resultados semelhantes. É o caso do chiste. O problema da técnica
psicanalítica forçou-me a estudar o mecanismo da formação das pilhérias. Quero
expor-lhes apenas um desses exemplos, aliás uma anedota da língua inglesa. Diz
a anedota:16 Por uma série de empresas duvidosas, dois comerciantes
tinham conseguido reunir grandes cabedais e esforçavam-se para penetrar na boa
sociedade. Entre outros, pareceu-lhes um meio conveniente fazerem-se retratar
pelo pintor mais notável e mais careiro da cidade, cujo quadro fosse um
acontecimento. Numa grande reunião foram inaugurados os custosíssimos quadros,
um ao lado do outro, e os dois proprietários conduziram até a parede o mais
influente crítico de arte a fim de obterem o valioso julgamento. O crítico
examinou longamente o quadro, sacudiu a cabeça como se achasse falta de alguma
coisa e perguntou apenas, indicando o espaço entre os dois quadros: "But where’s the Saviour?"17
(Mas onde está o Redentor?) Vejo que todos se riem da boa pilhéria;
penetramo-lhes agora a significação. Os presentes compreendem que o crítico
queria dizer: vocês são dois patifes como aqueles que ladearam o Cristo
crucificado. Mas não o disse; em lugar disso exprimiu coisa que à primeira
vista parece extraordinariamente abstrusa e fora de propósito, mas que logo
depois reconhecemos como uma alusão à injúria que lhe estava no íntimo, e que
vale perfeitamente como substituto dela. Não podemos esperar que numa anedota
sejam encontradas todas as circunstâncias que pressupomos na gênese das idéias
associadas dos nossos doentes; queremos todavia realçar a identidade de motivação para a anedota e para a
ideia. Por que é que o nosso crítico não lhes falou claramente? Porque nele
outras razões contrárias também atuavam ao lado do ímpeto de dizê-lo
francamente, face a face. Não deixa de ser perigoso desfeitear pessoas de que
somos hóspedes e que dispõem de criadagem numerosa, de pulsos vigorosos. A
sorte poderia ser a mesma que na conferência anterior serviu de exemplo para a
repressão. Por tal razão o crítico atirou indiretamente a ofensa que estava
ruminando, transfigurando-a numa "alusão com desabafo". É, a nosso
ver, devido à mesma constelação que o paciente produz uma ideia de substituição,
mais ou menos distorcida, em lugar do elemento esquecido que procuramos. [...]
O modo de proceder dos doentes em nada
facilita o reconhecimento da justeza da tese a que estamos aludindo. Em vez de
nos fornecerem prontamente informações sobre a sua vida sexual, procuram por
todos os meios ocultá-la. Em matéria sexual os homens são em geral insinceros.
Não expõem a sua sexualidade francamente; saem recobertos de espesso manto,
tecido de mentiras, para se resguardarem, como se reinasse um temporal terrível
no mundo da sexualidade. E não deixam de ter razão; o sol e o ar em nosso mundo
civilizado não são realmente favoráveis à atividade sexual. Com efeito, nenhum
de nós pode manifestar o seu erotismo francamente à turba. [...] A propensão à neurose deve provir por outra maneira de uma perturbação do
desenvolvimento sexual. As neuroses são para as perversões o que o negativo é
para o positivo. Como nas perversões, evidenciam-se nelas os mesmos componentes
instintivos que mantêm os complexos e são os formadores de sintomas; mas aqui
eles agem do inconsciente, onde puderam firmar-se apesar da repressão sofrida.
A psicanálise nos mostra que a manifestação excessivamente intensa e prematura
desses impulsos conduz a uma espécie de fixação
parcial — ponto fraco na estrutura da função sexual. Se o exercício da
capacidade genética normal encontra no adulto um obstáculo, rompe-se a
repressão da fase do desenvolvimento justamente naquele ponto em que se deu a
fixação infantil. [...] A literatura
alemã conhece um vilarejo chamado Schilda, de cujos habitantes se contam todas
as espertezas possíveis. Dizem que possuíam eles um cavalo com cuja força e
trabalho estavam satisfeitíssimos. Uma só coisa lamentavam: consumia aveia
demais e esta era cara. Resolveram tirá-lo pouco a pouco desse mau costume,
diminuindo a ração de alguns grãos diariamente, até acostumá-lo à abstinência
completa. Durante certo tempo tudo correu magnificamente; o cavalo já estava
comendo apenas um grãozinho e no dia seguinte devia finalmente trabalhar sem
alimento algum. No outro dia amanheceu morto o pérfido animal; e os cidadãos de
Schilda não sabiam explicar por quê. Nós
nos inclinaremos a crer que o cavalo morreu de fome e que sem certa ração de
aveia não podemos esperar em geral trabalho de animal algum [...]. CINCO LIÇÕES DE PSICANÁLISE – A obra Cinco
lições de psicanálise, de Sigmund Freud, é o resultado de pronunciamentos
efetuados por ocasião
das comemorações do vigésimo aniversário da Fundação da Clark University,
Worcester, Massachusetts, em setembro de 1909, tratando de temas como a
histeria, trauma psíquico, método catártico, repressão, resistência,
sublimação, catexia, associação livre, conteúdo manifesto e latente,
condensação, deslocamento, ato falho, auto-erotismo, zona erógena, Complexo de
Édipo, libido, sadomasoquismo, sexualidade infantil e a história da construção
do pensamento psicanalítico. Veja mais aqui.
REFERÊNCIAS
FREUD, Sigmund. Cinco lições de psicanálise. São Paulo: Abril Cultural,
1978.
LEILAH ASSUMPÇÃO – A dramaturga e pedagoga Leilah
Assumpção surgiu no final dos 1960 com a sua premiada peça teatral Fala baixo senão eu grito, contando a
história de uma solteirona cheia de frustrações e recalques que realiza uma
viagem levada por um homem que invade seu quarto. A partir de então, torna-se
autora de uma série de peças teatrais que abordam sobre o tema da mulher e sua
situação na sociedade, explorando a questão feminina e criticando o dinheiro e
as aparências da sociedade moderna capitalista. Entre entras destacamos as
peças teatrais Kuka de Kamaiorá, Boca molhada de paixão calada, Lua Nua e
Intimidade indecente. A respeito
dela, a poeta e dramaturga Renata Pallotini diz: “Leilah Assumpção inventou uma nova forma de por em cena teatral suas
intuições, descobertas e experiências: inovou de tal maneira a Dramaturgia em
sua geração que se tornou a introdutora de um diálogo inusitado e de
personagens inéditos. Nada mais seria necessário para o reconhecimento de uma
autora absolutamente original e única".
AILSON CAMPOS – Natural da terra de Alceu Valença, o
cantor, compositor, poeta e graduado em Letras pela Fabeja, José Ailson Campos
de Souza, ou simplesmente Ailson Campos, é herdeiro de uma família de músicos.
Ele é um dos idealizadores do projeto Recordando São Bento, do qual resultou na
gravação de seis CDs e dois DVDs. É autor dos livros de poesias Horas Vivas
(1999), Eu comigo (2004), Das mais doces lembranças (2008) e Da vida do tempo
(2009). Hoje ele aniversaria em meio aos versos e tons de suas composições
poéticas e musicais, motivo pelo qual homenageamos com o nosso desejo de
felicidades e sucesso.
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