sexta-feira, julho 11, 2014

SVEVO, RANA AL-TONSI, AI YAZAWA, JAMES WOOD & MARILYN STRATHERN

 


CÉU CAETÉ DE TUPÃINTRODUÇÃO DE VOO: O SOL NASCE PARATODOS! - “Lá se foi tudo quanto a ave fiou”... - Amanhecia e todo dia um pássaro de mil cantos pousava à minha janela. Quando era janeiro os seus zis cantos ensinavam a mim o que são todas as manhãs e o maior exemplo de justiça que se podia imaginar. Foi assim que eu vi o alvorecer no seu gorjeio, a me ensinar os oito minutos e meio que levava o Sol para tocar minha pele. O toque solar aquecedor representava a reluzência indiscriminada para todos e tudo. É que o fulgir do Disco Alado sempre me deu o privilégio de constatar a maior e mais verdadeira liberdade, mesmo que eu tivesse o prisma de Newton ou as citações da Cidade de Campanela. Aí a primeira lição: "o amor à coisa pública aumenta na medida em que se renuncia ao interesse particular... ninguém deve apropriar-se das partes que cabe aos outros". O Etéreo Brilhante dissipava todas as mais esdrúxulas e tempestuosas vicissitudes inopinadas em mim, porque dava vida para serviço dos homens e tudo o mais que estivesse sobre a crosta terrestre. Sem saber aprendia dos maias o que pouco se apreende: que tudo que se nasce durante a noite, só se realiza ao amanhecer. A segunda lição, a modéstia que o Vigoroso Iluminador me dava: o ser humano, um ser subalterno e acidental. Pois, irradiante me ensinava que os deuses são matinais para honrar a alma, seguindo com sua majestade do oriente ao ocidente a caminho da constelação de Lira. Ali eu sentia o dever de ter a mesma atitude de Manco Capac, o inca primeiro: olhos abertos a me inquirir sobre as criaturas da ignomínia e sua vileza. Curaca silente tirava as sandálias e sentia o chão, voltado para o Leste. E aplaudia o espetáculo dos clarões da aurora dourando a vida de todos e de tudo. E beijava os primeiros raios na catarse do momento e os guardava no meu relicário para entregá-los às mãos puras, como aqueles que "contemplam-no como a imagem de Deus, chamam-no de excelso rosto do Onipotente, estátua viva, fonte de toda luz, calor, vida e felicidade de todas as coisas". Era a comunhão para seguir todos os dias e o dia todo fiel contrito pelas supremas hierofanias solares e aprendendo do Livro dos Mortos: "o ontem me criou. Eis hoje. Eu crio amanhãs". Veja mais aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - O passado sempre é novo. Ele se altera constantemente, assim como a vida segue em frente. Partes da vida que parecem ter afundado no esquecimento reaparecem, enquanto, por outro lado, outras afundam por serem menos importantes. O presente conduz o passado como se este fosse membro de uma orquestra. Ele precisa desses tons somente e de nenhum outro. Assim, o passado parece às vezes curto, às vezes longo; às vezes soa, às vezes cala. Só influenciam no presente aquelas partes do passado que tenham a capacidade de esclarecê-lo ou obscurecê-lo. Pensamento do escritor e dramaturgo italiano Italo Svevo - pseudônimo de Aron Hector Schmitz, depois italianizado para Ettore Schmitz (1861-1928). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Num mundo onde os conceitos são tantas vezes implementados de forma ad hoc, parcialmente explorados antes de serem substituídos por outros, é imensamente revigorante encontrar uma atenção tão séria e sustentada aos blocos de construção da investigação – e às responsabilidades assim incorridas. Designs on the Contemporary é uma obra de profunda importância para a filosofia da antropologia. Em conjunto com outras obras de Rabinow, cria uma configuração incomparável, uma configuração de pensamento sem igual. Pensamento da antropóloga e acadêmica britânica Marilyn Strathern. Veja mais aqui.

 

COMO FUNCIONA A FICÇÃO - […] A literatura difere da vida porque a vida é amorfa e cheia de detalhes e raramente nos direciona para eles, enquanto a literatura nos ensina a perceber. A literatura nos torna melhores observadores da vida; podemos praticar na própria vida; o que, por sua vez, nos torna melhores leitores dos detalhes da literatura e vida. [...] A vida, então, conterá sempre um excedente inevitável, uma margem do gratuito, um reino em que há sempre mais do que necessitamos: mais coisas, mais impressões, mais memórias, mais hábitos, mais palavras, mais felicidade, mais infelicidade. [...] A frase pulsa, entra e sai, em direção à personagem e afastando-se dela - quando chegamos a “amontoados”, somos lembrados de que um autor nos permitiu fundir-nos com sua personagem, que o estilo magniloquente do autor é o envelope dentro do qual este contrato generoso é carregado. [...] A casa da ficção tem muitas janelas, mas apenas duas ou três portas. [...] a ficção é ao mesmo tempo artifício e verossimilhança, e que não há nada difícil em manter unidas essas duas possibilidades [...]. Trechos extraídos da obra How Fiction Works (Vintage, 2009), do crítico literário, ensaísta e escritor inglês James Wood.

 

NANA - [...] mesmo quando a lua parece estar minguando... na verdade ela nunca muda de forma. Nunca se esqueça disso. [...] As pessoas dizem que o amor pode ser desenvolvido, mas no final a única pessoa que você ama são elas mesmas. é por isso que você escolhe amar alguém que pode lhe agradar mais. [...]. Trechos extraídos de Nana (Cokie – 21 vols, 2006), da escritora e ilustradora japonesa Ai Yazawa.

 

ESTERILIDADE FINAL - Às vezes \ O céu não fecha suas cortinas\ À medida que a primeira noite longa e desolada desce\ Somos pacientes de terceira classe\ Ou, os menos vulneráveis\ Somos vítimas da sabedoria\ No momento em que a janela se abre\ E o ar abre caminho\ Sem expiração apropriada\ Nós sabemos agora\ O que os anos fizeram conosco\ A cama que está vazia há anos\ De todos os cadáveres e mártires\ Deve finalmente ficar estéril\ Então pode ficar alto\ E observe sua alma cair infinitamente\ Sobre braços estranhos.\ Tudo que eu cheiro\ É o fedor de um ferro\ Abandonado em roupas gastas\ Até que pegaram fogo\ E um círculo molhado\ E dentes brancos\ Sem dúvida sem sorrir\ E sonhos que morrem\ Quando não há mais varandas para sair\ E eu tenho escrito poemas há algum tempo\ eu não sei exatamente\ Se esta é a minha dor, ou a deles. MAS EU SEMPRE PERCO - Através de uma das portas de fuga\ Foi onde eu me encontrei\ Uma fada está me arrastando de uma luz para outra\ E nada me acompanha\ Mas risos\ Somos fragmentos incompletos\ Gestos escondidos um atrás do outro\ Os fragmentos da incerteza\ Brilho\ Na ausência\ Eu trouxe os olhos para casa\ Os olhares para a privação\ Não avistei ninguém\ Estou cheio de fraturas\ O que me assusta é que estou tremendo\ Super-heróis sozinhos\ Realize tudo\ A maneira normal\ Todas as mulheres que cometem suicídio são parecidas\ Todas as mulheres que não cometeram suicídio são parecidas \ Alguém abriu uma janela\ Para trazer uma grande pilha de papel colorido para dentro de casa\ O circo está na minha carteira\ Os animais dançam à noite\ Ria sem fazer barulho\ Eles não têm ideia de como se esconder em um circo\ A luta na minha cabeça é interminável\Um telefone está tocando\ As novas descobertas do mundo\ Dor, solidão e desespero\ Você vai dormir em meus braços\ E você sairá do meu corpo como um pardal\ Existe uma maneira de entrar em contato com o céu?\ Eu travo guerras contra mim mesmo\ E eu sempre perco. SOLIDÃO - Há outros que habitam este coração assim como eu;\ Eu os amo eternamente.\ E há loucos em bicicletas que confundi com mágicas\ a quem esta viagem não capturou;\ minha sorte não conseguiu me colocar entre eles.\ E aí está você,\ empoleirado nos mapas do mundo\ acendendo um fogo\ falando comigo sobre a solidão\ em uma costa que parte e retorna\ como alguém sem vontade de sair de casa.\ Para meu único amigo:\ Queria que você estivesse aqui,\ para que pudéssemos dar uma longa caminhada\ junto. Poemas da escritora egípcia Rana al-Tonsi, autora das obras A Rose for the Last Days (Merit House, 2002), A Homeland Called Desire (Merit House, 2005), Short History (Arab Renaissance House, 2006), Kisses (Merit House, 2010), Happiness (Prut, 2012) e When I'm Not in the Air, Poetry (Jamal,  2014).

 

OUTRAS D’ARTES MAIS

 

 Ouvindo a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, com Quinteto Violado.


ANTONIO CARLOS GOMES – O compositor brasileiro Antonio Carlos Gomes (1836-1896), destacou-se como o grande nome da ópera brasileira por seu estilo surrealista. Quando criança Nhô Tonico perdeu a mãe assassinada, trabalhava numa alfaiataria na adolescência enquanto já iniciava a composição de valsas, quadrilhas e polcas, compondo sua primeira missa aos 18 anos de idade: Missa de São Sebastião. A partir daí lecionava piano e canto enquanto se apresentava nos concertos, chegando a ser agraciado com a Imperial Ordem da Rosa, concedida pelo imperador. Dele registra-se um episódio chistoso por causa dos seus longos cabelos, quando apareceu o anúncio: “Tônico para cabelos” e que foi transformado para “Tonico, apara os cabelos”. Veja mais aqui


SERGIO BUARQUE DE HOLANDA -  O historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) é autor da importante obra denominada Raízes do Brasil, dela destacamos esse trecho: "O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularizadas, de que a família é o melhor exemplo. Não existe, entre o circulo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma oposição". Veja mais aqui.


GIVALDO KLEBER – Hoje aniversaria o meu amigo discotecário, produtor e programador do Instituto Zumbi dos Palmares, Givaldo Kleber Albuquerque Lima. Ele é autor do texto Cazuza, o último dos românticos, publicado no livro Miradas literárias: leituras de textos brasileiros, organizado pela professora Enaura Quixabeira Rosa e Silva (Edufal, 2004) e também do poema Sede de nós, inserido no livro Poesia no Campus, organizado por Eraldo Souza Ferraz: “Vamos jogar nossos corpos na chuva! / Vamos jogar a mesmice pro ar! / Vamos deixar nossas roupas molhadas, / nossas vidas jogadas, / nossas almas lavadas! / Vamos correr, / nos lambuzar, / nos abraçar, / nos engalfinhar / feito crianças na lama... / Vamos, sim, / saciar nossa sede, / de chuva, / de aventura, / de nós...”. Aqui nossos votos de parabéns, feliz aniversário amigo Givaldo!!!!!


JOANA RAMOS –Tive acesso ao trabalho da cantora e compositora Joana Ramos através do Clube Caiuby de Compositores. Foi exatamente daí que soube que ela começou com a banda Samba das Moças, formado em 2008, voltada para a valorização da cultura da batucada do samba de roda do Recôncavo Baiano. Foi nessa banda que ela dividiu o palco com Alcione, Margareth Menezes, Maria Betânia, Caetano Veloso, entre outros nomes da música brasileira. A sua belíssima canção Lugar do amor, parceria dela com Priscila de Freitas, traz a sua encantadora voz meritória de aplausos de pé. Daqui nossos parabéns de feliz aniversário e sucesso!!!!


Veja mais sobre:
Boi de fogo aqui.

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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame,...