Imagens
da série Vôo, fotos de Luiz Alberto Machado.
O SOL
NASCE PARA TODOS
É
janeiro e o sol contempla todas as manhãs no maior exemplo de justiça que se
possa imaginar. É assim como eu vejo, podendo não ser esta a mesma ótica de
outros, interpretando, então, cada qual a seu modo. Este é o meu olhar.
Mesmo
que leve oito minutos e meio para tocar a pele e brozeando nossas mentes, o
disco alado, indiscriminadamente, reluz para brancos, pretos, cafuzos,
mamelucos, crioulos, mulatos, arianos, caboclos, mongóis, germanos e cores
várias. Seja católico, batista, pentecostal, confucionista, judeu, quackers,
budistas, anti-semitas, ateus; seja que sexo for: homo, hetero, trans,
hermafrodita ou assexuado; seja flamenguista ou de que time for, ou ainda
iconoclasta; seja, enfim, rico, pobre, emergente, descamisado, bem-aventurado,
burguês, desafortunado, aristocrata, quem quer que seja, o seu fulgir nos dá o
privilégio de constatar a maior e mais verdadeira liberdade.
Seja
através do prisma de Newton ou nas citações da Cidade de Campanela, aprendemos
que "o
amor à coisa pública aumenta na medida em que se renuncia ao interesse
particular... ninguém deve apropriar-se das partes que cabe aos outros". E mesmo sob
as vicissitudes inopinadas, do etéreo brilhante devemos ter a mesma atitude de
Manco Capac, o inca primeiro, que abriu os olhos e inquiriu das criaturas da
ignomínia, o que esperavam de tal vileza quando o sol dava vida para serviço
dos homens e vegetais e tudo do mundo.
Ou
como os Maias e a bela lição de modéstia de vigoroso astro, fazendo do ser
humano um ser subalterno e acidental. Fábulas maias pregam que se se nasce de
noite, só se realiza ao alvorecer.
Irradiante,
pois, nos ensina que os deuses são matinais para honrar a alma, indo, com sua
majestade, do oriente ao ocidente a caminho da constelação de Lira. E eu,
curaca silente, tiro minhas sandálias para sentir o chão, voltado para o leste,
aplaudindo o espetáculo dos clarões da aurora dourando a vida de todos. Beijo,
na catarse do momento, os primeiros raios e os guardo no meu relicário para
entregá-los às mãos puras que "contemplam-no
como a imagem de Deus, chamam-no de excelso rosto do Onipotente, estátua viva,
fonte de toda luz, calor, vida e felicidade de todas as coisas".
Por
isso, sigo fiel contrito pelas supremas hierofanias solares, colhendo no Livro
dos Mortos: "o
ontem me criou. Eis hoje. Eu crio amanhãs".
PS: “NAVEGAR
É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO”
“Uma coisa é um pássaro que voa. Outra é um avião. [...] Em
minha mão.... não tinha o peito de amianto. Não voaria mais, como o avião nos
longos túneis de cristal do espaço”. (Vinicius de Moraes,
Soneto com Pássaro e Avião).
O meu sonho nasce na vigília. A minha lucidez já
é pura alucinação, isso no meio do meio dia. É o mesmo que a metafísica de
Fernando Pessoa: de nada, o sonho.
Desde menino que meus olhos são oníricos: como
Galileu, vivia a investigar os céus pra projetar minha odisséia de Archytas,
construindo meu próprio pombo mecânico e alçar vôo, gritando como Arquimedes a
descoberta da flutuação dos objetos. E chegava às conclusões de Roger Bacon
numa pipa chinesa ou na carruagem aérea do rei Supama, ou nos veículos aéreos
do Ramayana para chegar às alturas como Ramado do Sri Lanka até Ayodhaya,
pousando em Uttakosala, ou fazendo a viagem espacial de Arjuna e alcançar a
cidade de Kuvera. E ao contrário de João de Almeida Torto, voar como no vôo de Mirita. A minha cabeça é o vento no ninho das quimeras. Minhas orelhas são asa-delta,
então. Entre onde eu vivo e a galáxia, não há distância.
“[...] Sou
vinte na maquina que suavemente respira, entre placas estelares e remotos
sopros de terra, sinto-me natural a milhares de metro de altura, nem ave nem
mito, guardo consciência de meus poderes, e sem mistificação eu vôo, sou um
corpo voante e conservo bolsos, relógios, unhas, ligados à terra pela memória e
pelo costume dos músculo, carne em breve explodindo”. (Carlos Drummond de Andrade, Morte no avião).
Tal como Ícaro, anseio por alturas. Não esqueço
o conselho de Dédado. Vou-me Antoine de Saint-Exupéry: “Nós não pedimos para ser eternos, mas apenas para não ver os atos e as
coisas perderem subitamente seu sentido. O vazio que nos rodeia faz-se então
sentir”. E sonho como Leonardo da Vinci com seu ornithopter: “[...] depois que alguém voa, passa o resto dos
seus dias olhando pra cima querendo voltar pra lá”. Por isso mesmo, nada
satisfeito, me mando na passarola de Bartolomeu de Gusmão que já era a máquina
voadora de Emanuel Swedenborg para que eu repetissse dele: “[...] Temos provas suficientes e exemplos na
natureza que voar sem perigo é possível, embora quando as primeiras tentativas
sejam feitas, possivelmente teremos que pagar pela experiência com um braço ou
uma perna”. E me atrepo na vida feito a dupla Jean-François de Rozier e
François d´Arlandes no vôo com o balão de ar quente dos irmãos Etiene e Joseph Montgolfier.
E faço um verso como quem vai no aeróstato dirigível e no balão motorizado de
Henri Giffard. E entoando a canção vôo como quem sobrevoa no planador do Sir
George Cayley. E se cheguei ou me perdi de mim, sigo sem rumo no monoplano do
inventor neozelandês Richard Pearse que logo vira o biplano de Hiram Maxim e já
transmuda no aerodrome de Samuel Langley para que eu aterrisse no 14-Bis de Santos
Dumont para zoar do Flyer dos irmãos Wright. Não erro da terra e já me dou no hidro-aeroplano
de Henri Fabre e o meu mundo aos rodopios no girocóptero de Juan de La Cierva, aprumando
a conversa com o ekranoplano do russo Alexeev Rostislav Evgenievich. Estou sempre
na imensidão, pés no chão de Anteu, decolo no helicóptero de Paul Cornu, me dano
feito o supersônico concorde de Chuck Yager, dou carreira no foguete R.7 da
missão Sputnik e me vejo Yuri Gagarin na Vostok para sacar que a terra é azul.
E me refaço como Alan Shepard no foguete Radstone e eu já sou Neil Armstrong na
Apolo 11 seguindo incólume feito o Hubbel rumo à direção da venta.
“[...] Quem
ama vive a sonhar. Voar é do homem”.
(Djavan, Boa noite)
As asas da
imaginação – O
meu brevê sempre foi a imaginação. Tal como Julio Verne, maior viagem. Feito
curtir uma peça de rock progressivo, tipo Close
to the edge do Yes, êxtase catártico no epílogo. Ou o Concierto de Aranjuez nos teclados de Tomita: agora eu vou sair de
mim. Ou, melhor, Clair de Lune de
Debussy. Virei Fernão Capelo Gaivota. E também o piloto das Ilusões de Richard
Bach. Acho que esses sonhos o Freud explica: eu Blériot atravessando o canal da
mancha com meu aeroplano. Como nada é previsível no sonho, lá vou eu na maior doidice
com a musa mecânica (que é a Anne Moss nuínha da silva) no aerobanquete
futurista de Marinetti: “No avião,
sentado sobre o tanque de gasolina, com o ventre aquecido pela cabeça do
aviador, eu senti a inanidade da velha sintaxe herdada de Homero”. Com isso
vou até a ascensão da Zona de Apollinaire e pelos júbilos de Kafka com os aeroplanos
em Brescia e o vôo de D´Annunzio com o piloto Curtis (nessa hora, com certeza,
estarei ao lado da sedutora Anneliese van der Pol). E como dissera o general
romano Pompeu, o Grande, reiterado por Plutarco, Petrarca e Fernando Pessoa: “navegar é preciso, viver não é preciso”.
Veja
mais sobre:
Infância, imagem e
literatura, Hermilo
Borba Filho, Ixchel, Diego Rivera, Jean Sibelius, Epicuro de Samos,
Horácio, Anne-Sophie Mutter, Irene Ravache, Ziraldo
& Maria Luísa Mendonça aqui.
E mais:
Dia
Branco aqui.
A mulher
da Renascença ao Marxismo aqui.
A
mulher, o Movimento Sufragista, o Feminismo & Vida de Artista aqui.
A
trajetória da mulher por seus direitos no sec. XX aqui.
Precisando
de secretária, uma homenagem aqui.
A mulher
no Brasil Colônia aqui.
A mulher
no Brasil Império aqui.
Josiele
Castro, a musa Tataritaritatá aqui.
A mulher
na República e na campanha sufragista do Brasil aqui.
Fecamepa:
corrupção x cláusula da reserva do possível aqui.
Feminismo
no Brasil, Vera Indignada & Nitolino aqui.
O
pisoteio noturno & Anátema aqui.
Combate
à violência contra a mulher aqui.
Paroxismo
do desejo aqui.
A arte
de Mariana
Mascheroni aqui.
A mulher
Lutas & Conquistas & Festa Brincarte do Nitolino aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora Tataritaritatá!
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.