CONFISSÃO – Imagem: Spring nude
(1962), do pintor, gravurista e escultor estadunidense Nathan
Oliveira (1928-2010). - Falar o que se tem pra dizer: um diapasão entre a cabeça
e o coração, num arco-íris emtre o que sou de Terra, água, ar e fogo, o que
mais tiver de ser. Ouvi das estrelas os mistérios dos céus e o que se fez mistério
dos mistérios, a se revelar do iniciático pra enxergar o que deve ser visto
além das aparências: o imo das coisas e seres, o Sal do chão das raízes e
mortos, o que encobre uma atitude entre o soez e o escrupuloso, o acerto
improvável e os múltiplos erros da ignorância. A mim me dei e persisto,
persevero com entusiasmo diante dos desafios para atender o chamado: nenhum
laivo de angústia ou apelo de socorro. No meio da escuridão a Rosa desabrochou da
alma e acendeu minha Cruz, recolhi a luz que veio da vela e me dispus à
Natureza: o trânsito na correlação dos contrários, a Lei de Amra entre a graça
e a gratidão. Das minhas mãos brotou o infinito, o alcance da essência de tudo
e todas as coisas, pra fazer o que deve ser feito: vou sair daqui, encontrar o
rumo da vida, a travessia do limiar e me entregar ao meu mito com serenidade
espiritual: voo ao abrigo da doação. Revi o passado e futuro, vivo o presente e
me retiro sem alarde, em paz e silêncio. © Luiz Alberto Machado.
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DITOS & DESDITOS
[...] Rever
minha infância? Já lá se vão mais de dez lustros, mas minha vista cansada
talvez pudesse ver a luz que dela ainda dimana, não fosse a interposição de
obstáculos de toda espécie, verdadeiras montanhas: todos esses anos e algumas
horas de minha vida. [...] Na minha
sonolência, recordo que o compêndio assegurava, por este sistema, ser possível
recordarmos a primeira infância, a dos cueiros. De repente, vejo uma criança de
fraldas, mas por que tem de ser eu? Não se parece nada comigo; na verdade, acho
que se trata do bebê de minha cunhada, nascido há poucas semanas e que ela
mostrava a todos como se fosse um milagre, porque tinha as mãos tão pequenas e
os olhos tão grandes. Pobre criança! [...] Quando chegarás a saber que seria bom se pudesses reter na memória a
tua vida, até mesmo as partes que te possam repugnar? E, no entanto,
inconsciente, vais investigando o teu pequeno organismo à
procura do prazer, e as tuas deliciosas descobertas te levarão à dor e à
doença, para as quais contribuirão até mesmo aqueles que mais te querem. [...] Cada minuto que passa, lança-lhe um
reagente. Há demasiadas possibilidades de doenças para ti, porque não é
possível que sejam puros esses minutos. E além disso – pequerrucho! – és
consanguíneo de pessoas que conheço. Os minutos que agora passam até que podiam
ser puros, mas tal não foram decerto os séculos que te prepararam. [...] Estou
analisando a sua saúde, mas não consigo fazê-lo, pois acode que, ao analisá-la,
converto-a em doença. E ao escrever sobre ela, começo a duvidar sobre se aquela
saúde não careceria de cura ou tratamento. Vivendo ao seu lado durante tantos
anos, jamais me ocorreu essa dúvida. [...] A dúvida: eu era bom ou mau? A recordação,
provocada repentinamente pela dúvida que não era nova: via-me em criança e
vestido (estou certo) ainda de calças curtas, erguendo o rosto para perguntar à
minha mãe sorridente: “Eu sou bom ou sou mal?” Essa dúvida devia ter sido
inspirada ao menino por todos que o achavam bom, e por tantos outros que, de
brincadeira, o qualificavam de mau. Não era, portanto, de admirar que a criança
se sentisse embaraçada por tal dilema. Oh! Incomparável originalidade da vida!
Era extraordinário que a dúvida já infligida por ela à criança, de forma tão
pueril, não fosse resolvida pelo adulto depois que transposta metade de sua
existência. [...] Nesta cidade,
depois que rebentou a guerra, a vida é mais enfadonha do que antes e, para me
recompensar da psicanálise, volto-me novamente aos meus caros escritos. Havia
um ano que não consignava nenhuma palavra aqui, nisto como em tudo o mais
seguindo obedientemente as recomendações do médico, que achava indispensável
durante o tratamento fossem as minhas reflexões feitas ao seu lado, pois sem a
sua vigilância eu estaria reforçando os freios que impediam a minha
sinceridade, a minha entrega. Empregarei o tempo que me resta livre para
escrever. Por isso escreverei
sinceramente a história de minha cura. Toda a sinceridade entre o
doutor e mim havia desaparecido e hoje respiro
aliviado. [...] Foi assim que, à força de correr atrás daquelas imagens,
eu as alcancei. Sei agora que foram inventadas. Inventar, porém, é uma criação, não uma simples mentira. As minhas eram
invenções como as nascidas da febre, que caminham pelo quarto para que possamos
vê-las de todos os ângulos, inclusive tocá-las. Tinham a solidez, as cores, a
petulância das coisas vivas. [...].
Trechos da obra
A consciência de Zeno (Nova Fronteira, 2006), do escritor e
dramaturgo italiano Italo Svevo - pseudônimo de Aron Hector Schmitz, depois italianizado para Ettore
Schmitz (1861-1928).
A ARTE DE NATHAN OLIVEIRA
A arte do pintor, gravurista e escultor estadunidense Nathan
Oliveira (1928-2010). Veja mais aqui.
AGENDA:
Escrita, som, imagem - II
Colóquio Internacional 21 a 25 de maio de 2019, na Universidade Federal de
Minas Gerais – UFMG - Belo Horizonte, Brasil & muito mais na
Agenda aqui.
&
Tanto
juntou & babau!, Friedrich Nietzsche,
Francesco Petrarca, Teilhard de Chardin, Antonio Callado, Euclides
da Cunha, Nathan Oliveira, Brian Booth Craig, Mapa Cultural de
Pernambuco, Al di Meola & Alisa Weilerstein aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da cantora Roberta Sá: Que belo estranho dia para se ter alegria, As melhores, Segunda Pele
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