AS PAIXÕES DE
ROSA – Imagem: Rosa de Luxemburg, da artista visual italiana Anna Gogoleva. - Três décimos e tudo poderia ser diferente para
Rozalia, a menina que crescia jogada sem concessões na embriaguez da vida. Três
segundos e nada nela bastaria para não reprimir a alegria nem o desejo de ser
feliz. Três horas e a migrante Róza de Zamosé com dores nos ossos do quadril,
vivia a coxear como se dançasse rebelde para que lhe fosse negada pela inveja e
discriminação a medalha de ouro do ginasial, escapando da prisão pela greve
geral e tomasse rumo à Suíça sob a coação de novo encarceramento e ali conhecer
Leo em Zurique e se ocupar do desenvolvimento industrial da Polônia. Três dias
e o que falta e enerva da desordem, o sonho da casa aprazível independente da
circulação da Bandeira Vermelha. Três semanas e o combate à rotina, o grande
erro do levante espartaquista de janeiro, pacifista e escarnecida sob as ameaças
truculentas e intoleráveis da obscuridade. Três anos e um grande amor nas
cartas entre ela e Leo, as intrigas, os ciúmes, os tremores, não haverá de
levar em conta o que circunda, mesmo que irrite, enlouqueça ou desnorteie,
somente que se mantivesse o amor numa frequente correspondência, embora tivesse
que se casar com Gustav em Berlim, por conveniência da cidadania alemã. Ao
divorciar-se, às grades por rebeldia recorrente até a iminência de pena de
morte. Apátrida, proscrita, condenada, sentia no peito o choro do búfalo
ensanguentado pela violência do soldado, a dor terrível na cara preta de uma
criança que sofria calada a fraqueza e a saudade. Três décadas e nada terá
importância para indicar os novos caminhos sem direito à vida privada, com o
condinome de sangrenta por sua agitação republicana apaixonada, incitando à
desobediência civil no punho antimilitarista, para ser julgada e condenada em outra
masmorra. Libertada, não havia mais para onde fugir, sentia apenas o coração de
Paul e enfrentar a vida com coragem até ser capturada insurreta e espancada pelas
milícias veteranas da Guerra, e ser fuzilada e jogada agonizante num curso de
água gelada de janeiro no Landwehrkanal. Mesmo que seu corpo boiasse com o
epitáfio de Brecht, nela a dedicação de forjar um futuro melhor para a
humanidade: o ser humano foi criado para ser feliz como um pássaro para voar. E
ela desde então ressuscita todos os dias para sempre. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Habitualmente nossa sociedade, como um todo,
parece bastante próspera; ela preza a honestidade, a ordem e os bons costumes.
Certamente existem lacunas e imperfeições no edifício e na vida do Estado. Mas
o sol não tem também as suas manchas? E será que existe alguma coisa perfeita
neste mundo? Os próprios trabalhadores, sobretudo os mais bem colocados, os
organizados, acreditam de bom grado que no final das contas a existência e a
luta do proletariado decorrem nos limites da honestidade e da prosperidade. A
“pauperização” não é uma triste teoria há muito refutada? Todos sabem que
existem albergues, mendigos, prostitutas, polícia secreta, criminosos e
“elementos desonestos”. Mas habitualmente tudo isso é sentido como algo
distante e estranho, situado em algum lugar fora da sociedade propriamente
dita. Entre os trabalhadores honrados e esses excluídos existe um muro, e
raramente se pensa na miséria que se arrasta na lama do outro lado do muro.
[...] De tempos em tempos, vem uma crise,
semanas e meses de desemprego, de luta desesperada contra a fome. E novamente o
trabalhador consegue subir um degrau da engrenagem, feliz por poder novamente
empregar seus músculos e nervos a serviço do capital. Mas, progressivamente, as forças começam a
faltar. Um período mais longo de desemprego, um acidente, a velhice que se
aproxima – este, depois aquele, precisam agarrar o primeiro emprego que
aparece, abandonam a profissão e deslizam irresistivelmente para baixo. Os
períodos de desemprego tornam-se cada vez maiores; os empregos, cada vez mais
irregulares. Em pouco tempo, o acaso domina a existência do proletário, a
infelicidade o persegue, a carestia toca-o mais duramente que os outros. A
energia perpetuamente tensa na luta por um pedaço de pão relaxa-se, por fim; a
autoestima diminui – e lá está ele à porta do albergue dos sem-teto, ou à porta
da prisão. Assim, a cada ano, milhares de existências proletárias afastam-se
das condições de classe normais da classe trabalhadora para cair na escuridão
da miséria. Eles caem silenciosamente como um sedimento que se deposita no
fundo da sociedade, elementos usados, inúteis, dos quais o capital não pode
retirar mais nenhuma seiva, lixo humano que é varrido com vassoura de ferro:
contra eles ergue-se o braço da lei, da fome e do frio. E por fim a sociedade
burguesa estende aos seus proscritos o copo de veneno. [...].
Trechos
de No albergue, da filósofa e
economista polaco-germana, Rosa Luxemburg (1871-1919), extraído da obra Rosa Luxemburgo ou o preço da liberdade (Fundação Rosa Luxemburgo, 2015), de Jörn
Schütrumpf. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE ANNA GOGOLEVA
A arte da artista visual italiana Anna Gogoleva.
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