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segunda-feira, dezembro 17, 2018

ESTAÇÃO CATENDE, BENEDITO NUNES, ISAAR FRANÇA & ARTE DE TODO JEITO


FUI DANADO PRA CATENDE... - Fui danado pra Catende glosando o mote de Ascenso para saudar Pelópidas e seu caudal, Maurício e todos os Melos tataritaritatá, Davi e Ideais, Marcos agora em Maceió e a Mulher da Sombrinha, a Serra da Prata e os operários da usina e fogo morto, e de quem nem lembro mais do Leão XIII e Catende Clube, o cine Diamante e a Árvore da Vida. Fui danado pra Catende outra vez e cheguei perto da Estação a cantar Nunca chore por mim – a balada de quem vai embora, e encontrei os passageiros de ontens e os desabrigados moradores de rua de hoje inventando seu abrigo com os fantasmas da locomotiva primeva, as vítimas do preconceito, os malvistos de qualquer esquina, os anjos caídos, os doidos e fogueteiros, os que se escondiam para queimar suas fogueiras, os invisíveis das noites e dias entre guenzos e bichanos famintos. Fui danado pra Catende e vou de novo porque havia uma festa de todas as tribos, porque o imaginauta supercultor Gugha - Ghustavo Távora – urdia o bem pintando o sete com todas as cores criatinovadoras no espaço que era a secretaria de Jadson França para a biblioteca da cultura catendense, e Aprisco riscava o grafite que HenriqueTeixeira recitava no baque do DJ Passarinho e nas mandalas de Henrique Bem, porque de Caruaru Zé Galdino embolava as cores do Vale do Una de Profeta e Durán y Durán, os bonecos de Epifânio, as artes de Cicinho e o passeio teatral da Paula Menezes aplaudidas pelos de Fenelon, João Paulo e Mary que viam da Cyane os traços dos desenhos no meio das performances de todas as utopias subversivas dos que ali dançavam com frases do papo cabeça e de quantos passavam para vários encontros e vastos desencontros, tantos vivos e outros mortos no que foi estação de antanho e isso e aquilo, entre chiques e chocantes até a rebeldia bocomoca dos que se recusam a viver aquela ousadia de festa pra seguirem as regras sociais que são suas verdades e nem sabem de qual das mentiras virou sectária dum dogmatismo, porque tudo era apenas um pedaço da história que os olhos não compram por levarem pra depois o que foi e o que está lá e me fez chegar bem danado em Catende sem vontade até de voltar. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Com o animal, as relações são, sobretudo, transversais, ou seja, o animal é considerado o oposto do homem mas ao mesmo tempo uma espécie de simbolização do próprio homem. Na acepção comum, simboliza o que o homem teria de mais baixo, de mais instintivo, de mais rústico ou rude na sua existência. Por isso mesmo o animal para nós é o grande outro da nossa cultura, e essa relação é muito interessante como tópico de reflexão[...] dos mais nobres esforços da ala heterodoxa da filosofia moderna, de Schopenhauer até hoje, secundada pela poesia lato sensu, é aquela que tende a reconquistar a proximidade perdida desde a Antiguidade entre homem e animal. Ambos sofrem, ambos estão sujeitos à dor — este é o ponto principal. E embora um filósofo como Heidegger nos diga que o animal, ao contrário do homem, é pobre de mundo (Weltarm) por mais que seja rico de ambiente, continuamos ouvindo a réplica que lhe dá o grande pensamento poético de Rainer Maria Rilke. O animal vive no seio da natureza — como diz na sua “Oitava elegia”, em Elegias de Duíno — “enquanto nós os trepidantes sofremos do mundo que nos punge e empobrece”. Quer dizer, colhido no ventre da mãe natura, o animal vê os homens com aquele olhar não-humano que a ficção de uma das melhores autoras da nossa literatura, Clarice Lispector, insuperavelmente descreveu no conto “O touro”, de Laços de família: aí o olhar animal é um olhar que tem conexão com os sentimentos mais violentos do homem. O animal continua sendo o grande Outro, o maior alienado da nossa cultura, “exceto que essa cultura, aumentando o nosso conhecimento, talvez possa algum dia restabelecer os estreitos laços que a ele nos unia nos tempos mitológicos, mas quando isso acontecer — comenta Elias Canetti — já quase não mais haverá animais entre nós”. [...] Já promovemos uma guerra contra os animais, que chamamos de caça, embora, na verdade, guerra e caça sejam a mesma coisa [...] Em geral não se matam os prisioneiros de guerra, que são feitos escravos. Nossos rebanhos são populações escravas. O trabalho deles é se reproduzirem para nós. Até seu sexo transforma-se em uma forma de trabalho. [...] Melhor seria, então, admitir dois modos de ciência: aquele que está mais próximo do real, por intermédio da imaginação; e outro que está um pouco mais distante do real, pelo raciocínio, pelos conceitos abstratos. Os dois modos de ciência se complementam e não podemos deixar de admiti-los, um mais próximo da realidade imediata apreendida pelos sentidos e outro mais distante, conduzido pelo pensamento e pelos conceitos. [...].
Trechos do ensaio O animal e o primitivo: os Outros de nossa cultura
(História, Ciência, Saúde – Manguinhos, dez-2007), do filósofo, professor, escritor e crítico literário Benedito Nunes (1929-2011).

A ARTE DA ESTAÇÃO DO BEM – CATENDE - PE
Eu fui danado pra Catende... e quase não quis voltar
O artista visual e imaginauta Ghustavo Távora. Veja mais aqui e aqui.
Estação do Bem na Secretaria de Cultura de Catende.
Biblioteca Municipal de Catende – PE – Sandra Lobo, Rejane Maria & Jovelina Maria.
A arte do artista Aprisco (Rogério Bosco da Silva).
A arte do artista e graduando em Gestão da Informação na UFPE, Henrique Teixeira, integrante da Flor Rasteira e Seres da Mata.
DJ Passarinho (Alex) & Henrique Bem.
A arte do gravurista, artesão e artista Zé Galdino, de Caruaru – PE.
Instituto Vale do Una, o poeta e artista Paulo Profeta, o artista e poeta José Durán y Duran, a artista e escritora Cyane Pacheco & Nalva Pedrosa.
A arte do artesão, pirogravurista, designer e artista Cicinho (Advaldo Cerqueira).
O artesão e instrumentista Epifânio Bezerra.
Biblioteca Fenelon Barreto, João Paulo Araújo, Mary Filha & Éricka.
A atriz Paula Mendes.
&
As crianças na Estação do Bem.

AGENDA:
Instituto de Belas Artes Vale do Una & muito mais na Agenda aqui.
&
O que sei do que aprendi, Manuel Bandeira, Josué Montello, Viveiros de Castro, Henri-Frédric Amiel, Viveiros de Castro, Wassily Kandinsky, Minami Keizi, Caetés, Fabio de Carvalho & Zé Ripe, Gal Costa & Beto Guedes aqui.
&
Criatividade & inovação na prática educativa, Paulo Freire, Lewis Carroll, Silvio Romero, A crise da educação de Philip Hall Coomb, Victor Brecheret, Arantes Gomes do Nascimento & Fábio de Carvalho, Guiomar Novaes & Sebastião Tapajós aqui.
&
Agrestina, Djavan & Lauryn Hill aqui.
&
Livros pras Crianças & Cantarau Tataritaritatá aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da cantora e instrumentista Isaar França: Azul Claro, Copo de Espuma, Todo Calor & Ensaio & muito mais nos mais de 2 milhões & 980 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.
 

quinta-feira, dezembro 13, 2018

GEORGE SAND, DELACROIX, WAGNERT TISO & ESTAÇÃO DO BEM CATENDE


QUEM O AMOR DE TANTOS AMORES – Imagem: George Sand, do pintor do Romantismo francês Eugène Delacroix (1798-1863) – Amandine nasceu como o dia e era Aurore, e podia ser Lucille com seus encantos, ou mesmo Dupin pelas ruas, ou: uma menina de muitos nomes e tantas aventuras. Ainda criança, uma queda do cavalo e o pai perde a vida às travessuras de infância com Hippolyte, sob os cuidados da avó atenta. E ao brincar, passa da conta, levada para um convento, se apaixona pelo silêncio e introspecção das paredes de pedra: diversões de espírito independente para música e teatro. Com a morte da avó, um novo sofrimento, o que seria dela sem mais ninguém. E para herdar Nohant, uma crise mística e um casamento com François: dois filhos e um divórcio por conta de tantas coisas e pela paixão repentina dela por Jules: uma frenética atividade e parceria no Le Figaro e Rose et Blanche. Para valer na vida, a menina tinha de ser menino – senão não haveria como realizar seus sonhos, havia de ser entre outros. E ganha do amor o pseudônimo, George: adota o vestuário masculino – um redingote-guérite, chapéu, calças, botas, gravata, o andar firme pelas ruas de fumante que causa escândalos, tudo para publicar Indiana e folhetins nos jornais. Vestida assim, não temia nada e dava volta ao mundo a qualquer hora da noite. No seu disfarce advogava o direito da mulher em dirigir sua própria vida e ter um amor sincero. Amiga entre eles, dela a amizade da atriz Marie e a acusação de lesbianismo e ninfomania. Que dissessem, nem dava conta nos braços de Prosper; mais falassem, envolveu-se num poema de Alfred com um convite na carta para a cela de uma reclusa: uma grande paixão arrebatada pelo vale do Rhône na companhia de Stendhal e ciúmes mútuos em Veneza, por conta da presença de certo médico Pagello. O amor, então, ruiu e ela logo se viu panfletária na companhia do advogado Michel: ideias republicanas e socialistas na defesa dos direitos da mulher e nas discussões com Flaubert, o desapontamento com a Revolução de 1848. Vieram então os prelúdios de Frédéric depois de uma festa com Liszt & Marie de Agoult. Ganhou dele a Polonesa Heróica e em retribuição, Lucrezia Floriani, a tradução do seu amor embalado por quase dez anos. Enquanto ele escutava, improvisava; quantos fantasmas rondavam, dele ir embora para nunca mais. Duma só vez a derrocada da paixão, a morte da neta e o amigo do filho aparece para ser seu secretário, ah, Alexandre, em seus braços para a Itália e, depois, Consuelo mais suas preocupações sociais e o Companheiro da viagem pela França, a inquietação viandante e deambulações de uma incansável que amava a vida e as pessoas. Outra amizade, a de Balzac, fez dela Seraphita: a androginia da ilustre hermafrodita, e vestida de homem era uma mulher que fazia carreira sozinha, sedutora feminina, desencadeando paixões avassaladoras enquanto melómana se encantava com tudo e pintava aquarelas dendritages para ganhar a vida e ser amante do teatro. E ela, a mulher se mostrava homem e tornava a ser mulher na intimidade, nunca se deixou vencer por contrariedades, a sonhar no amor fraterno unindo as classes sociais. Fez das suas memórias a história da sua vida: O romance não precisa ser necessariamente a representação da realidade. E viveu suas extremas paixões nas diversas formas de amar, como aclamada baronesa Dudevant ou afamado George, era ela, em Nohant da infância e da saudosa avó, da vida para a eternidade das páginas com todas as cenas do seu otimismo e ingenuidade. Dela, Victor Hugo: Eu choro uma morte e saúdo uma imortal. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Pois sua esposa tinha dezenove anos [...] se vocês a tivessem visto toda franzina, pálida, triste, o cotovelo apoiado sobre o joelho, ela tão jovem em meio a esse lar, ao lado de seu velho marido, parecia uma flor plantada ontem em um vaso gótico. Vocês teriam lamentado junto da esposa do coronel Delmare, e talvez o coronel mais ainda que sua esposa [...] Se ele a tivesse amado verdadeiramente, ele teria podido, sacrificando seu futuro, sua família e sua reputação, encontrar ainda a felicidade com ela, e, por consequência, fazê-la feliz; pois o amor é um contrato como o casamento. Mas desanimado como ele se encontrava então, qual futuro poderia dar a essa mulher? A desposaria para mostrar cada dia um rosto triste, um coração magoado, um interior desolado? A desposaria para torná-la odiosa para sua família, desprezível diante dos seus pares, ridícula diante dos criados, para correr o risco em uma sociedade onde ela se sentiria deslocada, onde a humilhação a mataria [...] Era uma dessa mulheres que atravessaram épocas muito diferentes, que seu espírito tomou toda a surpresa de seu destino, que foi enriquecido pela experiência da infelicidade, escapou das forcas de 93, dos vícios do Diretório, da vaidade do Império, dos rancores da restauração; mulheres raras, cuja espécie está perdida [...] Esposando Delmare, ela apenas trocou de dono, vindo morar em Lagny, apenas trocou de prisão e de solidão. Ela não amava seu marido, pela única razão talvez que fazia amá-lo um dever e resistir mentalmente a toda espécie de limitação social havia se tornado para ela uma segunda natureza, um princípio de conduta, uma lei do consciente. Não haviam procurado prescrever a ela outra coisa a não ser a obediência cega [...] Educada no deserto, negligenciada por seu pai, vivendo em meio aos escravos, ela não tinha outro socorro, outra consolação que sua compaixão e lágrimas, ela estava habituada a dizer: “Um dia virá em que tudo será mudado em minha vida, quando eu farei bem aos outros, um dia em que me amarão, e eu darei todo meu coração àquele que me der o seu; esperando, sofremos; calemo-nos, e guardemos nosso amor por recompensa a quem me libertará.” Esse libertador, esse messias não veio [...] Ignorante como uma verdadeira criola, Madame Delmare não havia até lá pesado os graves interesses que agora eram discutidos diante dela. Ela havia sido ensinada por sir Ralph, que tinha uma opinião medíocre da inteligência e do raciocínio das mulheres, e se limitava a lhe dar alguns conhecimentos positivos e de uso imediato [...] Eu não o quero mais, respondeu ela. Eu o queria ontem, era minha vontade; não é mais essa manhã. Você usou de violência me trancando em meu quarto; eu saí pela janela para lhe provar que você não pode reinar sobre a vontade de uma mulher, é exercer um império irrisório. Eu passei algumas horas fora da sua dominação; eu fui respirar o ar da liberdade para lhe mostrar que você não é moralmente meu senhor e que eu dependo apenas de mim sobre a terra. Passeando, refleti que eu, por dever e por consciência, tinha que voltar a me colocar sob seu patrocínio; eu o fiz de minha plena vontade [...] Assim, senhor, não perca seu tempo a discutir com minha convicção; você nunca me influenciará, perdeu o direito desde que o quis fazer pela força. Ocupe-se da nossa partida; estou pronta a ajudar e segui-lo, não porque essa é a sua vontade, mas porque essa é a minha intenção. Você pode me condenar, mas nunca obedecerei ninguém além de mim mesma [...] Para ela, a vida era um cálculo estóico, e a felicidade uma ilusão pueril da qual é necessário se defender como de uma febre e do ridículo [...] Madame Delmare não tentava lutar contra um destino traçado, contra uma vida quebrada e se deixou corroer pela fome, pela febre e pela dor, sem proferir uma queixa, sem derramar uma lágrima, sem tentar um esforço para morrer uma hora mais tarde, por sofrer uma hora a menos. Ela foi encontrada no chão, no dia seguinte ao segundo dia, endurecida pelo frio, os dentes serrados, os lábios pálidos, os olhos apagados; no entanto, ela não estava morta [...]
Trechos da obra Indiana (Omnibus, 1991), da escritora francesa George Sand (1804-1876).

A ARTE DE EUGÈNE DELACROIX
A arte do artista plástico do Romantismo francês Eugène Delacroix (1798-1863). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

AGENDA:
Estação do Bem – Vem danado pra Catende & muito mais na Agenda aqui.
&
Uma coisa dentro da outra, Carl Gustav Jung, Mário Quintana, Zygmunt Bauman, João Cabral de Melo Neto, Dorothy Iannone, Escada, Gonzagão & Gonzaguinha aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música do músico, arranjador, regente, pianista e compositor Wagnert Tiso: Trem Mineiro, Preto e Branco, Trio ao vivo & Música Viva com Paulo Moura & muito mais nos mais de 2 milhões & 980 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.


quarta-feira, dezembro 12, 2018

ROSA LUXEMBURG, NÁ OZZETTI, ANNA GOGOLEVA & ESTAÇÃO DO BEM CATENDE.


AS PAIXÕES DE ROSA – Imagem: Rosa de Luxemburg, da artista visual italiana Anna Gogoleva. - Três décimos e tudo poderia ser diferente para Rozalia, a menina que crescia jogada sem concessões na embriaguez da vida. Três segundos e nada nela bastaria para não reprimir a alegria nem o desejo de ser feliz. Três horas e a migrante Róza de Zamosé com dores nos ossos do quadril, vivia a coxear como se dançasse rebelde para que lhe fosse negada pela inveja e discriminação a medalha de ouro do ginasial, escapando da prisão pela greve geral e tomasse rumo à Suíça sob a coação de novo encarceramento e ali conhecer Leo em Zurique e se ocupar do desenvolvimento industrial da Polônia. Três dias e o que falta e enerva da desordem, o sonho da casa aprazível independente da circulação da Bandeira Vermelha. Três semanas e o combate à rotina, o grande erro do levante espartaquista de janeiro, pacifista e escarnecida sob as ameaças truculentas e intoleráveis da obscuridade. Três anos e um grande amor nas cartas entre ela e Leo, as intrigas, os ciúmes, os tremores, não haverá de levar em conta o que circunda, mesmo que irrite, enlouqueça ou desnorteie, somente que se mantivesse o amor numa frequente correspondência, embora tivesse que se casar com Gustav em Berlim, por conveniência da cidadania alemã. Ao divorciar-se, às grades por rebeldia recorrente até a iminência de pena de morte. Apátrida, proscrita, condenada, sentia no peito o choro do búfalo ensanguentado pela violência do soldado, a dor terrível na cara preta de uma criança que sofria calada a fraqueza e a saudade. Três décadas e nada terá importância para indicar os novos caminhos sem direito à vida privada, com o condinome de sangrenta por sua agitação republicana apaixonada, incitando à desobediência civil no punho antimilitarista, para ser julgada e condenada em outra masmorra. Libertada, não havia mais para onde fugir, sentia apenas o coração de Paul e enfrentar a vida com coragem até ser capturada insurreta e espancada pelas milícias veteranas da Guerra, e ser fuzilada e jogada agonizante num curso de água gelada de janeiro no Landwehrkanal. Mesmo que seu corpo boiasse com o epitáfio de Brecht, nela a dedicação de forjar um futuro melhor para a humanidade: o ser humano foi criado para ser feliz como um pássaro para voar. E ela desde então ressuscita todos os dias para sempre. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Habitualmente nossa sociedade, como um todo, parece bastante próspera; ela preza a honestidade, a ordem e os bons costumes. Certamente existem lacunas e imperfeições no edifício e na vida do Estado. Mas o sol não tem também as suas manchas? E será que existe alguma coisa perfeita neste mundo? Os próprios trabalhadores, sobretudo os mais bem colocados, os organizados, acreditam de bom grado que no final das contas a existência e a luta do proletariado decorrem nos limites da honestidade e da prosperidade. A “pauperização” não é uma triste teoria há muito refutada? Todos sabem que existem albergues, mendigos, prostitutas, polícia secreta, criminosos e “elementos desonestos”. Mas habitualmente tudo isso é sentido como algo distante e estranho, situado em algum lugar fora da sociedade propriamente dita. Entre os trabalhadores honrados e esses excluídos existe um muro, e raramente se pensa na miséria que se arrasta na lama do outro lado do muro. [...] De tempos em tempos, vem uma crise, semanas e meses de desemprego, de luta desesperada contra a fome. E novamente o trabalhador consegue subir um degrau da engrenagem, feliz por poder novamente empregar seus músculos e nervos a serviço do capital.  Mas, progressivamente, as forças começam a faltar. Um período mais longo de desemprego, um acidente, a velhice que se aproxima – este, depois aquele, precisam agarrar o primeiro emprego que aparece, abandonam a profissão e deslizam irresistivelmente para baixo. Os períodos de desemprego tornam-se cada vez maiores; os empregos, cada vez mais irregulares. Em pouco tempo, o acaso domina a existência do proletário, a infelicidade o persegue, a carestia toca-o mais duramente que os outros. A energia perpetuamente tensa na luta por um pedaço de pão relaxa-se, por fim; a autoestima diminui – e lá está ele à porta do albergue dos sem-teto, ou à porta da prisão. Assim, a cada ano, milhares de existências proletárias afastam-se das condições de classe normais da classe trabalhadora para cair na escuridão da miséria. Eles caem silenciosamente como um sedimento que se deposita no fundo da sociedade, elementos usados, inúteis, dos quais o capital não pode retirar mais nenhuma seiva, lixo humano que é varrido com vassoura de ferro: contra eles ergue-se o braço da lei, da fome e do frio. E por fim a sociedade burguesa estende aos seus proscritos o copo de veneno. [...].
Trechos de No albergue, da filósofa e economista polaco-germana, Rosa Luxemburg (1871-1919), extraído da obra Rosa Luxemburgo ou o preço da liberdade  (Fundação Rosa Luxemburgo, 2015), de Jörn Schütrumpf. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE ANNA GOGOLEVA
A arte da artista visual italiana Anna Gogoleva.

AGENDA:
Epifânio Bezerra na Estação do Bem – Vem danado pra Catende & muito mais na Agenda aqui.
&
A barata & o monstro, Mario Vargas Llosa, Jacques Rancière, Alain Badiou, Antonio Quinet, Bruno T0lentino, Roger de la Fresnaye & Francine Vaysse, Joaquim Nabuco, Wagnert Tiso & Ná Ozzetti aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da cantora e compositora Ná Ozzetti : Ná & Zé, Show, Álbum & Love Lee Rita & muito mais nos mais de 2 milhões & 970 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
 

segunda-feira, novembro 26, 2018

VAN GOGH, RYONEN & ZEN, SILKE AVENHAUS & ESTAÇÃO DO BEM CATENDE


A TRISTEZA DURA PARA SEMPRE – Imagem: Autorretrato de Vincent Van Gogh (1853-1890) - Ser Vincent entre outros Cent e de Zundert, a sina: substituir o irmão natimorto em homenagem ao avô, o começo da infelicidade ao abandono. Ele era o outro, a sua vida. Graças à mãe e Huysmans, captura as coisas entre a frieza e austeridade, era tudo tão estéril. O lugar não é o ponto certo, nunca foi, seja ali, acolá, antes Goupil em Haia até Londres e a rejeitada paixão por Eugénie Loyer, para lecionar num internato de Ramsgate, se mandar para Isleworth e findar no seio da mãe em Etten, devotado na livraria de Dordrecht a reconhecer o fracasso recorrente. Era a vida dele. Missionário, troca aposento confortável para dormir entre as palhas de uma cabana, ruía a sua fé pela incomprenssão e a ameaça do internato no manicômio na frustração de todos. Eis Cornelia Vos-Stricker, a amada Kee, sete anos mais velha, a declaração de amor e o pedido de casamento. Doeu dela o não, nunca, jamais, a paixão doída. Valeu-se de Mauve com carvão e pastéis: os outros e suas dores. A persistência era repugnante para todos, teve de colocar a mão sobre o fogo da lamparina, queria ver Kee e ela não. Restaram modelos colhidos nas ruas e quase mendigar no cenário outonal, vontade e testamento de um desencaixado: a feiura, a sombra da escuridão, a desolação. Servia do tosco e as impressões, o espinhoso sombrio e todos de costas pro Sol radiante. Ao se arranjar com Clasina Hoornik, a sua amada Sien, uma irreconciliável vida familiar até ela se matar no rio Escalda. A paixão por Margot Begemann e, pela recusa das famílias, a perturbação de uma overdose de estricninia, e consegue salvá-la e não dá certo nada. A vida prossegue entre os comedores de batata e vê-se enrolado com a gravidez de uma modelo camponesa, a proibição pelo padre dos paroquianos posarem para ele: os portais do inferno e o desespero da loucura, o corpo ao fogo da paixão e os pinceis de sangue. Era o temperamento ingovernável levando aos seus golpes preciosos que ninguém enxergava, a criação que a mente inquieta exigia além do que se via para onde seus pés iam ao alcance da mão nos tesouros do sentimento. E o vento soprava quantas pancadas de rejeitado pela mediocridade, as batidas entre moribundos, todos os fracassos tantos e os girassóis. A pobreza na Rua das Imagens de Antuerpia, dentes soltos e doloridos nas xilogravuras japonesas, as cores: o verde-esmeralda, o carmim, o azul-cobalto, a sífilis, a bebida, o fumo, brigas e incompreensões, era a vida. A Paris e o irmão que sofria dele tudo quase insuportável, Bernard, Anquetin, Lautrec, Gauguin. Cansado, a Casa Amarela e da solidão do seu quarto Arles e suas criaturas de outro mundo, a luz e a paisagem, as colheitas, os campos de trigos, a tensão excessiva. A crise com Gauguin e a orelha cortada de presente para a criada de um bordel, Gabrielle Berlatier. Era o louco ruivo e um abaixo assinado para internação no hospício de Saint-Rémy-de-Provence e a obra que consertou o galinheiro de Rey, isso valia. A noite estrelada no hospício de Saint-Paul-de-Mausole e as oliveiras, os ciprestes, a estrada, o trigal, a depressão e as reminiscências do Norte, as camponesas de sempre. Era o gênio de Albert Aurier, os melhores de Monet, a Madame Ginoux da Arlesiana, os insultos de Groux, os ramos de uma flor de amêndoa branca contra um céu azul pro sobrinho. Ali agora era Auvers-sur-Oise e o homeopata Gachet que se parecia mais doente quanto seus pacientes, o Jardim de Daubigny e absorto com o delicado amarelo da imensa planície contra as colinas de maio e os vastos campos de trigo sob céus turbulentos, a tristeza e a extrema solidão. A vida era em cores dramáticas e impulsivas pinceladas, a conquista de Anna Bock, quando os sonhos desaparecem para impermanência e o tiro no próprio peito, o coração, a arte e a vida pelas recaídas, a humanidade adoecida no seu corpo, o gesto simples e o carteiro amigo único, tudo distante na dor dos solitários da alma nas mãos, os fulgores arriscando a própria vida pela amada e a tristeza de tudo quando sorriam os equivocados. Sabia da dor que sequer sentiam, sabia da tristeza dissimulada, sabia tão denso o que levavam na superficialidade, percebia o imperceptível, o agudo olhar e vivia a vida em todas as vidas, reclamando para si esta que não era dele, mas nela era; o espaço que não era seu, mas nele estava, isso era ser Vincent num tempo que não era o seu: tormentos, melancolia, raiva e absinto - uma vida de dois mil trabalhos reduzidos a uma venda. Era o louco fracassado salvo apenas pela generosidade de Johanna e as cartas para Theo na infecção do adeus: a tristeza vai durar para sempre. A vida não era outra, era a sua. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
A monja budista conhecida como Ryonen [...] Ela era neta do famoso guerreiro japonês Shingen. Seu gênio poético e beleza encantadora eram tais que aos dezessete anos ela estava servindo a imperatriz como uma das damas da corte. Mesmo numa idade tão jovem a fama a aguardava. A amada imperatriz morreu repentinamente, e os sonhos esperançosos de Ryonen desapareceram. Ela se tornou dolorosamente consciente da impermanência da vida neste mundo. Foi então que ela desejou estudar Zen. Seus parentes, entretanto, não concordaram e praticamente a forçaram a casar. Com a promessa de que ela poderia tornar-se uma monja depois de ter três filhos, Ryonen concordou. Antes de completar vinte e cinco anos, tinha cumprido esta condição. Então o seu marido e seus familiares não puderam mais dissuadi-la do seu desejo. Ela raspou a cabeça, adotou o nome de Ryonen, que significa compreender claramente, e começou sua peregrinação. Ela chegou à cidade de edo e pediu a Tetsugyo que a aceitasse como sua discípula. Num só olhar o mestre a rejeitou porque era muito bonita. Ryonem foi então a outro mestre. Hakuo a recusou pela mesma razão, dizendo que sua beleza criaria problemas. Ryonem conseguiu um ferro quente e o colocou contra a sua face. Em poucos momentos sua beleza tinha desaparecido para sempre. Hakuo a aceitou como discípula. Comemorando esta ocasião, Ryonen escreveu um poema atrás de um pequeno espelho:
No serviço de minha Imperatriz eu queimei incenso
Para perfurmar minhas belas roupas
Agora como uma mendicante sem lar
Eu queimo meu rosto
Para entrar num templo Zen.
Quando Ryonen estava para deixar este mundo, ela escreveu um outro poema:
Sessenta e seis vezes estes olhos contemplaram
A cena mutável do outono.
Eu disse o suficiente sobre o luar,
Não peça mais nada.
Apenas escute a voz dos pinheiros e cedros
Quando nenhum vento sopra.
A clara compreensão de Ryonen, recolhido de Histórias zen: uma coleção de escritos zen e pré-zen (Teosófica, 1999), compilada por Paul Reps e traduzida por Pedro Oliveira.

A ARTE DE VAN GOGH
A arte do pintor pós-impressionista neerlandês Vincent van Gogh (1853-1890). Veja mais aqui e aqui.

AGENDA:
Estação do Bem – Vem danado pra Catende & muito mais na Agenda aqui.
&
Fazer e bem feito, José Paulo Paes, O engole cobra de Ascenso Ferreira, Sema Lao, Norman Lindsay, Ignacy Sachs, Sema Lao, A popular e a sustentabilidade de Genebaldo Freire Dias, Jurema, Egberto Gismonti, Flora Purim, Yes & Rick Wakeman; Toquinho, Rosa Passos, Paula Morelenbaum & João Bosco; Keith Jarret, Sueli Costa, Eumir Deodato & Rita Lee aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da pianista alemã Silke Avenhaus: Lieders de Schubert & Liszt, Pendulum de Glass & Sonata de Corigliano, A Ray of light de Liehtstrahl & Sonata de Silvestron & muito mais nos mais de 2 milhões & 900 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja aqui e aqui.


NOÉMIA DE SOUSA, PAMELA DES BARRES, URSULA KARVEN, SETÍGONO & MARCONDES BATISTA

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Sempre Libera (Deutsche Grammophon , 2004), Violetta - Arias and Duets from Verdi's La Tra...