O VEXAME NO XAMBREGO – Zé Corninho não dá uma dentro,
tudo sai errado. Mesmo não tendo como, ele desanda no desserviço. Até no dia
que a patroa dele faz tudo pruma noite pra lá de festiva, a coisa finda no
maior rebuliço. Foi assim: era uma sexta feira de comemoração, um assustado
promovido pela vizinha pros casais fazer as pazes. A mulherada se reuniu na
maior deliberada sobre uma noite apimentada com seus respectivos maridos e
deram asas à imaginação. Tudo que queriam era dar uma amarrada cativa no funcionamento
deles na hora do rala-e-rola,. Como eles andavam devendo no comparecimento,
elas resolveram usar de recursos criativos pra coisa na horagá pegar fogo.
Festinha, bebidas, afrodisíacos e, sobretudo, provocações eróticas regadas a
utensílios escolhidos a dedo numa dessas lojas de prazer. Lá foram em comitiva,
reviraram tudo pelo avesso e saíram às risadinhas sacanas, cada qual com sua
estratégia romântica e maledicência no juízo: - Hoje ele me paga! Quando a
noite desceu, deu-se o combinado: elas se banharam, sapecaram as roupas mais
provocantes – decotes ousados, lascão na saia do tornozelo ao bico do pinguelo entre
as coxas, cinturinhas a pulso de pilão espremidas por cintas arrochadas, unhas
pintadas, maquiagem excessiva, cabelos alisados na marra, saltos altos,
perfumes fortes e muito espalhafato. Quando os distintos chegaram – alguns já
levados de bebum aos tombos -, foram todos lavados, ajeitados e embecados
conforme o gosto da distinta. Tudo pronto, juntaram a reca toda na casa da
vizinha e deu-se o maior rastapé até altas horas. Zé Corninho que sempre foi o
maior pé de valsa, fez a dança não só com a dele, mas com a de todos, findando,
pelo remexido de coxas e passos no maior xambrego, numa situação paudurescente,
dele ser tratado aos beliscões, tapas, empurrões e juras vingativas. Parecia o
fim da festa, mas não. As madames não queriam perder a viagem e cada qual se
aboletou no maior chamego com o que era de seu, mandando ver no desfile. O que
era pra ser uma noite romântica inesquecível, encaminhava pra mangação. Aí elas
perderam a paciência e partiram pros finalmentes: cada qual rebocou seu traste
pro seu ninho de amor. Aí que começou a dar errado mesmo. É que, por exemplo, a
distinta esponsal do Zé Corninho achou de colocar umas bolinhas na perseguida
dela e um anel peniano nele, coisa que nunca usaram, nem sabia como era mesmo e,
no começo, parecia até que ia vingar pra lá de bom. Destá. Quando o vuque-vuque
começou a rolar, a coisa não saiu lá como o previsto: as bolinhas colaram na
parte interna dos beiços vaginais dela e o anel nada funcionar direito. Aí começou
o como é que faz isso, como é que tira isso,e nada de dar certo. Só vexame e
vira e mexe e, cada vez mais, piorando. A hora se passando, os dois agoniados,
ele a ponto de ter um troço, resolveram correr pro hospital. Lá chegando deram
de cara com a desgraça: além de todos os conhecidos estarem testemunhando a
desandada, também os casais vizinhos já estavam sendo atendido na emergência. Vixe,
deu tudo errado. Era um casal nu engatado de não se soltar enrolado no
cobertor, era outro com vibrador entalado no rabo, mais outro com um
preservativo engasgado na garganta, a enfermaria em polvorosa, os médicos com
ar de doidos, a mundiça toda às gargalhadas, Zé Corninho e a mulher reclamando
de dor, até que chega a sua vez, levam um pra cada lado, vão cuidar da mulher
dele na maior zoadeira, enquanto ele se contorcia deitado na maca e a
enfermeira quando viu que ele ainda está em estado interessante, aboticou os
olhos no pintão do rapaz de sair gritando por socorro rua afora, o que muito
ampliou sua aflição, vez que o hospital virou maior pandemônio, acarretando a
intervenção de polícia, bombeiro e muuuuuitos curiosos. Se ele já estava
morrendo de dor, ia agora bater as botas de vergonha, agoniado, morre mas num
morre, agarrado pelo pescoço pelo atentado ao pudor, até que um médico bebaço
aparece para resolver a situação. Pronto, depois do maior vexame, tudo
esclarecido, todo mundo estropiado e a noite que era pra ser daquelas para lá
de tórrida de gozo, findou mesmo num coro de ais e uis madrugada adentro por
toda vizinhança. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
[...] Se nascemos numa sociedade que nos ensina
certos valores morais – justiça, igualdade, veracidade, generosidade, coragem,
amizade, direito à felicidade – e, no entanto impede a concretização deles
porque está organizada e estrutura de modo a impedi-los, o reconhecimento da
contradição entre o ideal e a realidade é o primeiro momento da liberdade e da
vida ética como recusa da violência. O segundo momento é a busca das brechas
pelas quais possa passar o possível, isto é, uma outra sociedade que concretize
no real aquilo que a nossa propõe no ideal. [...] o terceiro momento é o da nossa decisão de agir e da escolha dos meios
de ação. O último mento da liberdade é a realização da ação para transformar um
possível num real, uma possibilidade numa realidade. [...]
Trecho
recolhido da obra Convite à Filosofia (Ática, 2004), da filósofa e educadora
brasileira Marilena Chauí. Veja mais
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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& Doro discutem o reino do Fecamepa, a literatura de Tariq Ali, a música de Karin Fernandes, a pintura de Sigmar Polke & Orly Cogan aqui.
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