GRATIDÃO - Imagem do artista visual espanhol Conrad Roset. – Sou grato, de fato e de direito. À mesa, um prato,
abracadabra! Sirvo-me do necessário, não gasto o disponível por que não tenho,
nem excedo por que me falta, mesmo que tivesse. Nem muito ou pouco me basta,
vou sempre além do que posso. Vá entender. Da minha parte sou grato pelo dia
que amanhece e pela tarde que convida a noite para a insônia da criação ou
descanço das pugnas diárias; pelo ar que respiro apersar de envenenado, pela água
cristalina ou poluída que mata a minha sede, pelo que ouço de harmonia e ruído,
pela pele e superfícies que toco, pelo perfume dos jardins e fedentina dos
lixos; pelo chão que piso, pela imensidão dos céus que almejo, pelos caminhos
que me convocam a andada. Sou grato pela Natureza: campos, seres e paisagens; pelas
invenções incomuns e pelas que são de fato engenhos científicos; pelos miúdos esvoaçantes
até os mais pesados que o ar, a me ensinarem a voar sem asas nos braços; pelos
que vivem no exato e os que se foram assim do nada. Sim, sou grato pelas
pessoas que passam, uns assim, outros assados; pelas senhoras Zefinhas que puxam
a escadinha dos seus Anclotinatos; pelas Conças mocinhas que sonham com
Fortunatos. Sou grato pela solidão de os verem passar e sempre serei, mesmo
pelos que não puderam vir, como pros que só servem para tirar retrato; pela
indiferença das soberbas e por aqueles que não entenderam nem poderão sequer
visualizar sua vida canhestra; pelos que acham solução para tudo na sua razão
de plantão e pros caricatos que quase me matam de rir, minha gratulação. Meu reconhecimento
no sentido mais lato paratodos: pros que não estão nem aí para o que está acontecendo
e pros que fazem dos outros gato e sapato com seus fingidos apertos de mãos e
abraços; pros que tenha que tomar bicarbonato de sódio para poder digerir,
afora os chatos de galocha que já são de doer; pelos que mamam nas tetas
públicas e se mostram em pleno celibato; pelos timoratos e os que armam nos outros
o seu artesanato; pros que precisam de contrato para infringir as avenças e
rompem seus tratos na maior cara lisa; os que são que nem carrpato na cacunda
da vítima e que aprontam sem o menor recato, como os que fazem da lama o seu
prato ou fazem valer que a vida é o maior barato, a todos meu reconhecimento. Sou
mais agradecimentos aos fratres e sorores, ouroboros, saúdo, a vida é
desiderato: cada qual tenha ou não, sigo adiante. Sou eterna gratidão. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS
Faz falta ser cego,
ter como metidas nos olhos raspaduras de vidros,
cal viva,
areia a ferver,
para não ver a luz que salta em nossos atos,
que ilumina por dentro a nossa língua,
a nossa palavra quotidiana.
Faz falta querer morrer sem lápide de glória e
alegria,
sem participação nos hinos futuros,
sem lembrança nos homens que julguem o passado
sombrio da Terra.
Faz falta querer já na vida ser passado,
obstáculo sangrento,
coisa morta, esquecimento seco.
Poema Faz falta ser cego, do dramaturgo e escritor espanhol Rafael Alberti (1902-1999). Veja mais aqui & aqui.
A ARTE DE CONRAD ROSET
A arte do
artista visual espanhol Conrad Roset.
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