domingo, julho 06, 2014

INGER-MARI AIKIO, ERMA BOMBECK, JOANNA RUSS, POE & FRIDA KAHLO

 

SOMOS TODOS LOUCOS, MABEL... - Estamos deslocados no meio dessa desprezível normose, atolados na lama da sobrevivência, carregados desconfortavelmente pela desgraça das horas. Que seja doidona a pular num pé só diante pelas adversidades, que seja lunática porque o que resta é sair pela noite e encher as ruas de pernas e à primeira porta aberta, o consolo do copo às tragadas, os drinques e o barato ao canto em busca de emoção bêbada. Ninguém nos dá as horas, relógios egoístas fogem assustados de quem só tem os filhos e nada mais. O que é o trabalho senão o castigo de sobreviver, o que é dentro de casa quando ser feliz é uma coisa muito estranha, apesar das tentativas insistentes, não conseguimos ser felizes e isso torna a nossa vida uma bagunça. Na noite perdida a tropa chega sem aviso pendurados pela irônica ópera. A casa com suas repartições angulares exultam fantasmaas líricos nas vozes trágicas e todos se envolvem La Boheme, como se estivéssemos na mansarda em pleno natal parisiense, a posteridade não valendo a pena salvar obras ao frio. Quem não penhorou os livros e o aluguel atrasado na cobrança, com uma jovem pálida e bela, a chave e a vela apagada às mãos, desmaiando na poltrona. É a poesia e o verdadeiro amor que morre nos braços do poeta e todos se engraçam na cena, aos aplausos. Aída e o desconforto do reprimível desagradável, os desencontros à mesa, os convidados, situações desagradáveis. A gente quer contar a nossa história na rua, ninguém se interessa, não há interlocução. Todo médico é um vampiro e a morte do cisne no quintal. Ao redor da mesa todos olham pra nós. A gente não se encaixa na conversa normal. A piada ofende, ninguém sabe mais brincar. Resta falar sozinha com seus tiques nervosos assustando e o colapso a deteriora ao pânico. É a calmaria e a tempestade, ninguém sabe como, imprevisível e desregrada, e se guarda descompensada com toda frustração, sandices, encurralada até o limite. A mãe não durará para sempre, quem não sabe. Melhor brincar de dançar o Lago dos Cisnes e as fantasias se esvaindo com a família até que a morte os separe no meio da conspiração entre o que seria amor, amizade, conforto... cinco e nada, apenas os dedos e o reencontro é difícil, nunca se sabe o que fazer com as saudades, ninguém apoiará, ninguém saberá o que queremos. Não saberíamos jamais, ao certo, do que seríamos capazes na nossa solidão claustrofóbica. O sorriso disfarça o ódio e a fala é a raiz do desentendimento, o que há de normal na nossa estranheza. O amor não tem explicação: ninguém nem nós mesmos nos entendemos, somos exíguos na nossa distância e nos perdemos com aproximação. E que seja você mesma, somos todos loucos. Veja mais abaixo, aqui e aqui.

 

DITOS & DESDITOS - Morrer em uma Terra agonizante – eu viveria, nem que fosse para chorar. A arte minoritária, a arte vernácula, é arte marginal. Somente nas margens ocorre o crescimento. Pensamento da escritora e ativista estadunidense Joanna Russ (1937-2011). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Tornei-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade. Pensamento do escritor estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1840). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

IMAGINAÇÃO POÉTICA & INSANIDADE – [...] Há uma estrutura da vida psíquica que é tão claramente reconhecível como aquela do corpo físico. A vida sempre consiste na interação de um corpo vivo com um mundo exterior que constitui o seu meio. Sensações, percepções e pensamentos têm origem no jogo constante de estímulos externos. Procedem também mudanças no estado afetivo à base de um sentimento geral. Os sentimentos evocam volições e conflitos de desejo e vontade. Volições resultam em ações externas da vontade, entre elas as mais poderosas são aquelas que são contidas em estados corporais- tais como o impulso da autoconservação, a necessidade de alimento, o impulso da reprodução e o amor à prole. Quase tão poderosos são a necessidade de estima e os instintos sociais, que estão contidos na vontade. Outras volições produzem mudanças internas na consciência. A hierarquia do reino animal está baseada nessa estrutura.  [...]. Trechos da aula Imaginação poética e insanidade (1886), do filósofo alemão Wilhelm Dilthey (1833-1911), autor de obras como A poética (1887), A construção do mundo histórico nas ciências do espírito (1910) e Os tipos de concepções do mundo a sua formação nos sistemas metafísicos (1911). Veja mais aqui.

 

FAMILIA – [...] Dos pouco menos de um milhão de elegíveis que circulam por aí, 5% não conhecem o seu sinal e nem sequer se importam. Outros 5% estão ligados às suas mães por uma fixação alimentar. Isso deixa apenas 20% que estão à procura de uma garota que pegue suas roupas, prepare seus banhos, queime os dedos descascando seus ovos de três minutos, faça suas tarefas, dê à luz um filho todos os anos, pareça uma modelo, cuide as suas necessidades quando estão doentes e mantêm um emprego a tempo inteiro fora de casa para pagar o seu barco. [...]. Trecho extraído da obra Family - The Ties That Bind...And Gag! (Fawcett, 1988), da escritora e humorista estadunidense Erma Bombeck (1927-1996), que também expressa: Quando eu estiver diante de Deus no final da minha vida, espero não ter mais nenhum talento sobrando e poder dizer: Usei tudo o que você me deu. Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS - QUEIMANDO - pela manhã eu te desejo \ mas os convidados ainda não chegaram \ você tem que aspirar lavar o chão \ eu me ajoelho o esfregão na mão \ você viria atrás \ Eu preparo a massa para o pão na mesa da cozinha \ você veio aqui também antes de dispersar a farinha \ você e o seu sempre em mente. CENTENAS - e se todos os meus homens estavam se reunindo \ ao meu redor ao mesmo tempo, \ os mortos também, jovem pela manhã, à noite, \ assim como eles são ou seria se eles vivessem \ o que eles diriam ou fariam? \ o que eu faria? \ quem iria me querer? \ quem eu faria? \ e os que eu dormi na minha solidão ou meu tesão? \ aqueles que eu realmente amei? \ as sementes dos sentimentos, \ dos homens nublado cem vezes misturado cem vezes, \ cem que deixaram cair seus chifres. Poema da escritora finlandesa Inger-Mari Aikio.

 


UMA MULHER SOB INFLUÊNCIA – O filme A Woman Under the Influence (Uma Mulher sob Influência, 1974), escrito e dirigido pelo cineasta e ator estadunidense John Cassavetes (1929-1989), estrelado por Gena Rowlands e Peter Falk, conta a história de um casal composto por uma dona-de-casa de classe média baixa estadunidense, mãe de três filhos e casada com um trabalhador braçal. Ela apresenta-se fragilizada mental e emocionalmente, demonstrando sinais de descontrole, o que a levará a ser internada num hospício pelo marido. Este casal se configura com o comportamento de um lunático pacífico que se torna histérico e violento, e uma mulher depressiva, ansiosa, bipolar e com diversos tiques nervosos. Veja mais aqui e aqui.

 

OUTRAS DIC’ARTES MAIS

 

Imagem: foto de Frida Kahlo (1932), por Guillermo Kahlo (1871-1941).

FRIDA KAHLO – A pintora mexicana Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón (1907-1954), foi vitimada pela poliomielite aos seis anos de idade e sofreu de uma série de doenças, acidentes, lesões e operações ao longo de toda sua vida, sendo, por isso apelidada de Frida perna de pau, o que a fez se vestir de calças compridas e saias longas (a imagem acima A coluna partida, é uma das suas pinturas sobre seus acidentes). Começou a pintar logo cedo e depois de um grave acidente, passou a compor suas obras. Em 1928 filiou-se ao Partido Comunista mexicano, ocasião em que conheceu o grande amor da sua vida: o muralista Diego Rivera. A partir de então, passou a procurar na sua arte a afirmação da identidade nacional mexicana, utilizando-se de temas folclóricos e da arte popular. Sua vida atribulada e cheia de incidentes que envolviam tumultos conjugais, bissexualidade, casos amorosos, tentativas de suicídio. Ao ser encontrada morta, um bilhete continha as seguintes palavras: “Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida". Sua tumultuada existência foi transportada para o cinema em 1986, pelas mãos do diretor Paul Leduc com o filme Frida Kahlo, naturaleza viva. Em 2002, o diretor Julie Taymor encenou Frida. Veja mais aqui e aqui.


Curtindo a Sinfonia em sol menor (1893), do compositor e regente brasileiro Alberto Nepomuceno (1864-1920), pela Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, regida por Benito Juarez.

ALBERTO NEPOMUCENO – O compositor, pianista, organista e regente brasileiro Alberto Nepomuceno (1864-1920), é considerado o pai do nacionalismo da música erudita brasileira, autor de óperas, obras pianísticas e orquestrais, música de câmara, orquestral e vocal, bem como música sacra, tornando-se parceiro de Machado de Assis, Coelho Neto e Olavo Bilac, entre outros.  Experimentou a politonalidade interessado pela literatura brasileira e valorização da língua nacional. Dele escreveu o poeta Olavo Bilac: “Tens uma fibra de artista e admirável / E tens do nosso povo o voto eterno / Que o título de artista e de notável / Não nasce dos favores do governo”. Veja mais aqui.


LUCIAH LOPEZ - A campanha Todo dia é dia da mulher homenageia no dia de hoje a escritora Luciah López pela passagem do seu aniversário. Por isso, desejamos nossos parabéns para a poetamiga Luciah López. Confira a nossa homenagem aqui.


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