sexta-feira, novembro 09, 2007

FANNIE HURST, SIMONE SABACK, ERMA BOMBECK, FRANKL & MINGAU DE CACHORRO


Imagem: Jeca Tatuzinho, de Monteiro Lobato, adaptado por Maria R. do Amaral.

MINGAU DE CACHORRO


Gentamiga, tenho rascunhado sempre que possível, as mungangas de um amigo meu, o Doro. Eita! São tantas que imagino já um volume com mais de duas mil páginas, tamanho a doidice que ele é capaz de pregar. Sujeito esse prolífico em criar situações jocosas. Verdade. Para você ter uma idéia, Doro é o amigo que comumente menciono com cada tirada sem tino chega fico de queixo caído com o disparate. Peço, portanto, licença vênia, vez não querer ocupar a leitora com o inventário das estripulias dele aqui. Não, não daria. Vou relatar apenas, de vez em quando, uma ou outra, até se chegar ao rol das arteirices.
Esta que vou narrar de primeira mão foi a última que ele teve o desplante de cometer. À medida que eu for discorrendo nas próximas narrativas, com certeza, a distinta leitora irá construir a personagem com todos os pingos nos is, cagado e cuspido, talqualmente ele é, com certeza.
Bem, certa feita, Doro não tendo nada para comer o juízo dos outros, envolveu-se com a culinária feito perito nos maiores regabofes por onde foi penetra da cara lisa. Como possui a mania de explicar o inexplicável, ele foi formando um cardápio à base das imitações baratas de guloseimas que chegaram a se tornar um segredo irrevelável.
Pois é, das gororobas que inventara, uma já se tornou patrimônio nacional batizada, por ele mesmo, de mingau de cachorro. Patrimônio nacional porque todo bebum ou sujeito caiante no trato sexual faz uso e abuso de sua fórmula de norte a sul, leste a oeste do país. Como ele não registrou a patente, outros mais sabidos se apropriaram da receita e hoje comercializam a céu aberto para a indignação dele que, puto da vida, os taxa de aproveitadores inescrupulosos e de outros adjetivos infamentes e difamantes. E para não serem flagrados na apropriação indébita, o produto é vendido sob titulatura vária: pirão-do-que-foi-mas-voltou, purgante-de-enfermo, xoxotão, elixir-pra-defunto, lavagem-vitaminada, xarope-do-diabo, remédio-de-inválido, levanta-potência, solução-de-bateria, estricnina-vaselinada, bomba-da-peste, megatom-de-fuleiro, TNT-da-desgraça, tesão-garatida, bicada-da-foda, assanha-peia, vitamina-do-caralho, sopro-de-deus, reza-forte, suco-do-fogo, eita-porra, juízo-da-pomba, e por aí vai.
Em Afogados, bairro recifense, é vendido, por exemplo, como xoxotão mesmo. O cara toma, soa que nem tampa de panela fervente, fica lavado dos pés à cabeça, encharca, tem estrimilique e, depois, fica bonzinho na hora. Eu mesmo quando estou lavado de cachaça, corro atrás da panacéia para ficar sóbrio. Mas vamos lá. Esse milagroso mingau possui alguns ingredientes exóticos, aparentemente não comestíveis nem apreciáveis ao paladar muito menos digeríveis pelo metabolismo orgânico de qualquer indivíduo de sã consciência. Isto porque existem aqueles que comem merda e arrotam dinheiro. Esses, notadamente, ficam fora da ressalva. Já os que respeitam dietas, esses sim, carecem de não estranharem, visto que, garante Doro, todos os ingredientes estão hermeticamente harmonizados graças a engenharia gastronômica do gourmet descarado que se autodenomina envaidecido por nutricionista, e aos estudos ocultos de herbalismo que ele fizera pelo reembolso postal após contatos de quarto e quinto graus com sobreviventes de uma galáxia inominável nos quintos dos infernos.
Assevera mais ele que ninguém, ninguém mesmo possui a receita original. Coisa que agora, depois de repetidas vezes explicadas aos mínimos detalhes, resolvi exclusivamente colocar aqui para a felicidade geral da nação. Inclusive, vale salientar, ele prescreve tal baboseira para os maridos que não andam funcionando bem em casa, livrando-os de uma gaia florindo o quengo do sujeito. Claro, remédio desse tem que ser mesmo difundido.
Pois bem, vamos à receita: coloque um palmo de água potável no copo do liquidificador. Detalhe: ele também assevera que o copo deva ser enorme para caber o tanto de tranqueira necessária. Depois vá colocando bem devagarinho na água: pimenta do reino, malagueta e de cheiro. Em seguida, derrame uma colher de sopa de azeite. Misture tudo. Ponha bastante farinha de mandioca até tudo virar uma papa. Jogue dentro uns dois pedaços pequenos de macaxeira, inhame, batata doce e inglesa. Mexa tudo. Adicione duas ou três fatiazinhas de queijo de coalho. Acrescente uma xícara de chá de leite de coco. Mexa bem. Logo após do mexido, vá colocando molho inglês, mostarda e extrato de tomate. Derrame dentro duas mãos de sal. Esprema uma banda de limão. Use o olhômetro para derramar uma porção satisfatória de tempero e, depois, colorau para dar uma corzinha. Coloque uma prastada de manteiga. Para dar gosto jogue 1/4 do gerimum, mais dois quiabos, uma cebola, dois pimentões, um molho de coentro, salsa, caroba e cabacinha; maxixe, vagem, uma banda de chuchu, duas folhas de louro, dois dentes de alho. Bote força e mexa tudo. Para ficar delicioso, adicione uma lasca de gengibre, brócolis, uma folha de hortelã, cinco pétalas de cravo branco; encha a mão de ervilha e milho verde, jogue dentro; pegue umas três folhas de arruda; duas lasquinhas de entrecasco de caju; pegue manjericão; derrame meio copo de mel de uruçú; três colheres de chá de alfazema de caboclo; uma xícara de chá de farelo de arroz; meio-copo de amendoim; duas folhas de boldo; uma folha de alface; uma cumbuquinha de aveia, mexa tudo e deixe lá apurando. Para ficar mais saboroso acrescente a metade de uma berinjela, um nó-de-cana-de-açúcar, sacuda canela em cima, um taco de carqueja, uma folha de couve, uma de erva-cidreira, jogue umas sementes de girassol, forre tudo com pó de guaraná, bote umas jurubebas; um taco de romã; duas folhas de quebra-pedra; uma de urtiga; uma de camomila; um pedaço de beterraba, uma folha de sabugueiro e uma baga de jaca. Para ficar ainda mais palatável, some-se a tudo isso dois ovos com casca e tudo; dois bagos de laranja lima; uma banana-maçã; uma lasca ou de manga e outra de goiaba; meia xícara de leite de cabra; uma rodela de salame; e uma porção de feijão guandú. Coloque mais uma colher de chá de maizena, uma bicada de cachaça-de-cabeça; um punhado de fumo de corda; uma lapada de catuaba; dois ovos de codorna com casca e tudo; dois caquinhos de vidro, uma catota, duas tanajuras, dois pingos de suor, um cabelinho de sapo, um pouquinhozinho de espoleta, uma ruela plástica, uma prega virgem, uma capsulana, duas drágeas de vitamina de qualquer qualidade, dois comprimidos de cibalena, uma ampola de glicose, um olho de boi, uma porção de papoula ralada, um pingo só de creolina, um pentelho de virilha fêmea, faça o sinal da cruz em cima, tampe o caneco e reze para deus que tudo dê certo. Ligue o bicho e agarre o rosário em qualquer oração que souber de cor. Se o liquidificador não fumaçar, é sinal de que, ao cabo de cinco minutos o mingau está pronto. Distribua num copo grande e guarde o restante da pólvora na geladeira mode não haver estrago na sua casa. Uma coisa eu posso asseverar: pode dar ao seu marido, minha dileta leitora, e, com certeza, ele vai sair riscando fogo na parede e a madame sorrirá como há muito tempo não soubera. Hehehehehehehehehehehehe!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor. Veja mais aqui e aqui


DITOS & DESDITOS - O homem já não se compreende senão como um ser da natureza, segundo a atitude naturalista, e entende o mundo como nada mais que um meio para um fim, de acordo com a posição técnico-utilitarista. Assim submete o mundo pela técnica. Ao mesmo tempo, enquanto o mundo se converte para ele em objeto de submissão, transforma-se ele mesmo, o homem, em seu próprio “oposto”: em objeto. Pensamento do neurologista e psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: Uma mulher tem que ser duas vezes melhor que um homem para ir tão longe quanto ele. Sexo é uma descoberta. Algumas pessoas pensam que valem muito dinheiro só porque elas o têm. Pensamento da escritora estadunidense Fannie Hurst (1889-1968).

VOLÚVEL CORAÇÃO DE MÃECerta vez perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido, aquele que ela mais amava. E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu: “Nada é mais volúvel que um coração de mãe. E, como mãe, lhe respondo: o filho dileto, aquele a quem me dedico de corpo e alma… É o meu filho doente, até que sare. O que partiu, até que volte. O que está cansado, até que descanse. O que está com fome, até que se alimente. O que está com sede, até que beba. O que estuda, até que aprenda. O que está com frio, até que se agasalhe. O que não trabalha, até que se empregue. O que namora, até que se case. O que casa, até que conviva. O que é pai, até que crie os filhos. O que prometeu, até que se cumpra. O que deve, até que pague. O que chora, até que cale. E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou: O que já me deixou… até que o reencontre… Texto da escritora e humorista estadunidense Erma Bombeck (1927-1996).

PLANTA-ME - Aperta-me nas mãos / Busca as soluções. / Planta-me num jardim / Fora do alcance de qualquer ser. / Ali crescerá uma canção / Que dirá o que eu não posso. / Planta-me. / Mas antes retira minhas mágoas. / Seca o suor de minha pouca idade. / Antes purifica-me. / Antes, / Ama-me. Poema da escritora, jornalista e compositora Simone Saback.



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