
Imagem: Garden nude, da artista plástica Anna Rose Bain.
Curtindo o álbum Cata Vento (2009), do violonista Felipe Coelho – Prêmio Circuito Funarte
2010. Veja mais aqui.
EPÍGRAFE – O
sábio encontra a sabedoria em todas as coisas, até mesmo na conversa de uma
criança; mas o tolo vê a sua própria imagem em todo lugar, frase atribuída ao
célbre escritor teosófico do Sem-conceito alemão, Franz Hartmann (1838-1913). Veja mais aqui.
O
LEITOR E O NAVEGADOR – A
obra Aventura do livro – do leitor ao
navegador (Unesp/Imesp, 1999), do historiador francês Roger Chartier, trata sobre temas que envolve autoria com relação à
punição e proteção, o texto e o editor, o leitor e as limitações da liberdade,
a leitura em relação à falta e o excesso, a biblioteca entre reunir e
dispersar, o numérico como sonho de universal, entre outros assuntos. Do livro
destaco o trecho: [...] O leitor da tela
assemelha-se ao letor da antiguidade: o texto que ele lê corre diante dos seus
olhos; é claro, ele não flui tal como o texto de um livro em rolo, que era
preciso desdobrar horizontalmente, já que agora ele corre verticalmente. De um
lado, ele é como o leitor medieval ou o leitor do livro impresso, que pode
utilizar referências como a paginação, o índice, o recorte do texto. Ele é
simultaneamente esses dois leitores. Ao mesmo tempo, é mais livre. O texto
eletrônico lhe permite maior distancia com relação ao escrito. Nesse sentido, a
tela aparece como ponto de chegada do movimento que separou o texto do corpo. O
leitor do livro em forma de códex coloca-o diante de si sobre uma mesa, vira
suas páginas ou então o segura quando o forno Oriente, permanece mais familiar
uma ligação forte entre texto e imagem, gravados sobre o mesmo suporte. Esta
técnica, além do vinculo mantido com o texto manuscrito, apresentava notáveis
vantagens: ela permitia uma espécie de edução conforme a demanda, já que as
tábuas, de uma resistência duradoura, podiam ser conservadas por muito tempo,
enquanto as composições tipográficas deviam ser desfeitas a fim de utilizar os
caracteres para compor outras formas. Não se deve portanto julgar as técnicas
não ocidentais a partir de nossa suposta superioridade técnica. [...]. Veja
mais aqui.
CAIM,
CAIM E O RESTO – No livro
Belazarte (1934), do escritor Mario de Andrade (1893-1945), encontro
o conto Caim, Caim e o resto, do qual destaco o trecho: Belazarte
me contou: Talvez ninguém
reparasse, nem eles mesmo, porém foi sim, foi depois daquela noite, que os dois
começaram brigando por um nada. Dois manos brigando desse jeito, onde se viu! E
dantes tão amigos... Pois foi naquela noite. Sentados um a par do outro,
olhavam a quermesse. O leilão estava engraçado. O Sadresky dera três milréis
por um cravo da Flora, êta mulatinha esperta! Também com cada olhão de
jabuticaba rachada, branco e preto luzindo melado, ver suco de jabuticaba
mesmo... onde estará ela agora? até com seu doutor Cerquinho!... — Você foi
pagar a conta pra ele, Aldo? — Já. Contemplavam o povo entrançado no largo.
Seguiam um, seguiam outro, pensando só com os olhos. Nem trocavam palavra, não
era preciso mais: se conheciam bem por dentro. De repente viraram-se um pro
outro como pra espiar onde que o mano olhava. Aldo fixou Tino. Tino não quis
retirar primeiro os olhos. Olho que não pestaneja cansa logo, fica ardendo que
nem com areia e pega a relampear. Quatro fuzis, meu caro, quatro fuzis de
raiva. Nem raiva, era ódio já. Aldo fez assim um jeito de muxoxo pro magricela
do irmão, riu com desprezo. Tino arreganhou o focinho como gato assanhado. Se
separaram. Aldo foi falar com uns rapazes, Tino foi falar com outros. As
vinte-e-duas horas tudo se acabava mesmo... voltaram pra casa. Mas cada qual
vinha numa calçada. Braço a torcer é que nenhum não dava, não vê! Dentro do
quarto brigaram. Por um nadinha, questão de roupa na guarda da cama. Dona Maria
veio saber o que era aquilo espantada. Foi uma discussão temível. Da discussão
aos murros não levou três dias. E por quê? Ninguém sabia. A verdade é que a
vida mudou pra aqueles três. Inútil a mãe chorar, se lamentar, até insultando
os filhos. Quê! nem si o defunto marido estivesse inda vivo!... Pegou fogo e a
vida antiga não voltava mais. E dantes tão irmãos um do outro!... Aldo até
protegia Tino que era enfezado, cor escura. Herdara o brasileiro do pai, aquela
cor caínha que não dava nada de si e uns musculinhos que nem o trabalho vivo de
pedreiro consertava. Quando tirava fora a camisa pra se lavar no sábado, qual!
mesmo de camisa e paletó, as espáduas pousavam sobre o dorso curvo como duas
asas fechadas. E era mesmo um anjo o Tino, tão quietinho! humilde, talhado pra
sacristão. Cantava com voz fraca muito bonita, principalmente a Mamma mia num napolitano duvidoso de
bairro da Lapa. Quando depois da janta, fazendo algum trabalhinho, lá dentro
ele cantava, Aldo junto da janela sentia-se orgulhoso si algum passante parava
escutando. Si o tal não parava, Aldo punha este pensamento na cachola: “Esse
não gosta de música... estúpido.” Que alguém não apreciasse a voz do Tino, isso
Aldo não podia pensar porque adorava o mano. Era bem forte, puxara mais a mãe
que o pai. Só que a gordura materna se transformava em músculos no corpo
vermelho dele. Pois então, percebendo que os outros abusavam do Tino, não
deixava mais que o irmão se empregasse isolado, estavam sempre juntos na
construção da mesma casa. Ganhavam bem. Naquela casinha do bairro da Lapa, a
vida era de paraíso. Dona Maria lavava o que não dava o dia. O defunto marido,
uma pena morrer tão cedo! fora assinzinho... Homem, até fora bom, porque isso
de beber no sábado, quem que não bebe!... Paciência, lavando também se ganha.
Além disso, logo os filhos tão bonzinhos principiaram trabalhando. Si a Lina
fosse viva... que bonita!... Felizmente os filhos a consolavam. Lhe entregavam
todo o dinheiro ganho. Gente pobre e assim é raro. [...]. Veja mais aqui,
aqui, aqui, aqui e aqui.
SOU
PUTA – Entre os poemas
da renomada A renomada tradutora e professora carioca Helena Ferreira, destaco a sua poesia Sou Puta: Sou puta / Quando uso a boca vermelha / Meu salto agulha / E meu
vestido preto. Sou puta / Mordo no final do beijo / Não fico
reprimindo desejo / E nem me escondo na aparência de menina. / Sou uma puta de
primeira / Acordo às 6:30 / Pego ônibus debaixo de chuva / Não dependo de
salário de macho / E compro a pílula no final do mês. / Sou uma puta com P
maiúsculo / Dispenso o compromisso / Opto pela independência / Não morro de
amor/ Acordo sozinha / Cresço sozinha / Vivo na minha / Bebo em um bar de
esquina / Vomito no chão da cozinha. / Sou uma putinha / Passo a noite em seus
braços / Mas não me prendo no laço / Que você quer me prender. / Sou puta / Você
tem o meu corpo / Porque eu quis te dar / E quando essa noite acabar / Eu não
vou te pertencer/ E se de mim você falar / Eu não vou me importar / Porque um
homem que não me faz gozar / Nunca terá meu endereço. / E não é gozo de boceta /
É gozo de alma / É gozo de vida / É me fazer sentir amada / Valorizada / E
merecida / E se de puta você me chamar / Eu vou agradecer./ Porque a puta aqui
foi criada / Por uma puta brasileira / Que ralava pra sustentar os filhos / E
sofria de racismo na feira/ Foi espancada e desmerecida / E mesmo sofrida / Sorria
o dia inteiro / Uma puta mulher ela foi/ E puta também eu quero ser. / Porque
ser mulher independente / Resolvida / Segura/ Divertida / Colorida / E
verdadeira / Assusta os homens/ E os machos / Faz acontecer um alvoroço./ Onde
já se viu mulher com voz? / Tem que ser prendada e educada/ E se por acaso for
"amada" / Tem direito de ser morta pelo parceiro / Cachorra adestrada
pelo povo brasileiro / Sai pelada na revista / Excita / Dança / Bate uma/ Cai
de boca / Mama ele e os amigos / E depois vai ser encontrada num bueiro/ Num
beco/ Estuprada / Porque tava de batom vermelho / Tava pedindo / Foi merecido/ E
se foi crime "passional"/ Pobre do rapaz / Apaixonado estragou a
própria vida. / Por isso que eu sou puta/ Porque sou forte/ Sou guerreira/ Não
sou reprimida/ Nem calada / Sou feminista / Sou revoltada/ Indignada / E sou
rotulada assim / Como PUTA! / Então que eu seja puta / E não menos do que isso.
Veja mais aqui.
O GATO PRETO – Em 2002,
tive oportunidade assistir no Teatro da Usp (TUSP), em São Paulo, à montagem da
comédia musical O Gato Preto, com textos de Frigyes Karinthy. Konrad Tom e
Maisa Aché, direção de Circo Grafitti, inspirada em textos e canções do gênero
cabaré, narrando os últimos momentos de duas personagens famosas: Joana D’Arc e
Margherite de A dama das camélias. O destaque do espetáculo ficou por conta da
atriz Rosi Campos. Veja mais aqui.
BEM
ME QUER, MAL ME QUER – O drama psicológico Bem me quer, mal me quer (À la folie ... pas du
tout, 2002), dirigida por Laetitia
Colombani, conta a historia de uma erotomania de uma jovem estudante de
arte que trabalha num café e que se apaixona por um médico casado que é vizinho
a um trabalho que ela realiza em casas de família de férias. Toda uma história
é desenvolvida por uma questão de abandono por parte dele, que além de casado,
causa revolta nela e noutras pessoas. A partir daí o filme é rebobinado e a
mesma história é contada sob outro ângulo, o que causa grande surpresa no
expectador. O destaque do filme vai para atuação da atriz e modelo francesa Audrey Tautou. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia da atriz e modelo francesa
Audrey Tautou
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Imagem: fotografia de Albert Arthur Allen