Ao som dos álbuns Tous des Oiseaux (ECM,
2019), Concerto em Atenas (ao vivo – ECM, 2013) e Trojan Women (ECM,
2001), da compositora grega Eleni Karaindrou. Veja mais
aqui.
KOAN ENTRE NOIT&DIAS
– Tem vexame não! Nestes tempos de
frangofilia exacerbada, simulacros emulantes e teorias da conspiração, gestos e
atitudes vão muito além de crimes e castigos, se quiserem! Quão verídica seja a
emoção, coisas que não se dizem nem palavras algumas comportam entre o impreciso
e o inadequado, transcendem intenções e linguagens. Ouvi Colette no meio
da noite: Não chore, não junte os dedos em súplica, não se revolte: é
preciso envelhecer... Era, na verdade, a ressurreta Catxerê que
novamente invadia meus sentidos para me dá conta de que definira a minha face
antes mesmo de eu nascer. Mostrava-me o quintal do brejo da Água Preta como prova cabal, lá onde eu menino a vi pela primeira
vez como irmã entre as Marias de Órion e amigas das da Queiroz Rachel, quase
as mesmas das cenas de Abranches, e recém-chegada das nuvens estelares. Dessa
vez ela me falou que adorava a moda das crinolinas e as mortes um tanto
glamurosas por afogamento ou incêndio – como a que ocorrera com a Frances do
Longfellow e as irmãs de Oscar Wilde. Que coisa mais estranha, era. E
jurou que um dia ainda usaria aquelas tournures para se sentir pavoneada,
ao me explicar que cobra não se enrosca em pavão, o que para ela premiaria os
olhos de Argos, a comer venenos para sobreviver imune, enquanto mudava de pele a
cada estação. Aí coibiria o tráfico das penas pro carnaval do Sambódromo, afora
perseguir os responsáveis impunes dos estupros e a coerção fanática religiosa
aos abortos: coisas mais sem cabimento. Um tanto pensativa ruminou quem guardaria
a sua dor, se já foi Zenóbia vencida pela fome e decapitada pela rebelião
de Palmira. E como nada concluído nem anonimamente
publicado, expressou-se Cornel West: Nunca esqueça que a justiça é como o amor se parece em
público... Você não pode liderar o povo se não o ama. Você não pode salvar o povo se não
servir ao povo... Se nada entendia, logo me alertou que já foi também a Creuza raptada pelo amor no Mysterioso Alado de Melchiades e que fora eu mesmo
quem isso fizera a ela. Como? Disso nada sabia, nem pudera. Se as estranhices
de sua deposição eram insinuantes, sua nudez era para lá de aprazíveis na minha
vitalidade. Outras vidas dela tivera e a mim ternamente debulhou para se
achegar ao meu peito tão vulnerável quanto cúmplice. Insinuou meus fracassos e
me permitiu sonhar em seu corpo cósmico. Entroutras cenas me fez sentir Angelopoulos diante do Hino à Liberdade: O que pode o poeta fazer diante da morte?... Um dia apenas e a
eternidade, era nela apenas o que me restara. Até mais ver.
Imagem: Acervo ArtLAM.
[...] a vida é árdua, os fatos inflexíveis, e que a passagem para essa terra fabulosa onde nossas esperanças mais brilhantes se extinguem e nossas frágeis críticas malogram na escuridão exige, acima de tudo... coragem, lealdade e perseverança [...].
Trecho extraído da obra Rumo ao farol (Globo, 2003), da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Veja mais aqui, aqui e aqui.
THE LOW ROAD
[...] a vida é árdua, os fatos inflexíveis, e que a passagem para essa terra fabulosa onde nossas esperanças mais brilhantes se extinguem e nossas frágeis críticas malogram na escuridão exige, acima de tudo... coragem, lealdade e perseverança [...].
Trecho extraído da obra Rumo ao farol (Globo, 2003), da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Veja mais aqui, aqui e aqui.
AMADA – [...] Libertar-se era uma coisa,
reivindicar a posse desse eu liberto era outra. [...] O amor é ou não é. Amor fino não é amor de jeito nenhum. [...] Ela é uma amiga da minha
mente. Ela me pega, cara. Os pedaços que eu sou, ela os junta
e os devolve para mim na ordem certa [...] Conversas doces e malucas cheias de meias
frases, devaneios e mal-entendidos mais emocionantes do que o entendimento
jamais poderia ser. [...] As definições pertencem aos definidores, não
aos definidos. [...]. Trechos extraídos da obra Beloved (Vintage, 2004), da escritora estadunidense e
ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 1993, Toni Morrison, autora
da pérola: Se há um livro que você
quer ler, mas ainda não foi escrito, então você deve escrevê-lo. Esta obra foi transformada em
filme Bem-amada (1998), dirigido por Jonathan Demme, protagonizado,
proposto e produzido pela jornalista, atriz, psicóloga e editora estadunidense Oprah
Winfrey, que a respeito do projeto expressou: “E toda manhã,
depois de meditar, eu chamava os nomes desses escravos, um por um. E dizia: estou
fazendo isto por você, para que vocês tenham voz. Vocês nunca tiveram voz, por
isso eu lhe estou emprestando a minha. E eu sentia que eles estavam comigo o
tempo todo”. A história se passa depois da Guerra Civil Americana
(1861-1865) e é inspirada na história de Margaret Garner, que escapou da
escravidão em 1856. Conta a história de Sethe e sua filha Denver depois de sua
fuga. Sua casa em Cincinnati é assombrada por um fantasma, que eles acreditam
ser de uma das filhas de Sethe, morta quando era um bebê. Paul D, um ex-escravo
da mesma plantação que Sethe era escrava, chega na casa e passa a viver com as
duas mulheres e acabando com as assombrações. Mas uma mulher misteriosa chamada
Beloved aparece na porta da casa, iniciando uma série de mudanças na vida dos
três e fazendo-os confrontar seus passados. Veja mais aqui, aqui e aqui.
GAUGUIN: [...] Queres
saber quem sou; minhas obras não são suficientes para ti. Inclusive no momento
em que escrevo, só estou revelando o que quero revelar. E que acontece se às
vezes me vês assim, nu? Não há problema; é o homem interior o que queres ver.
Além disso, eu mesmo não me vejo sempre muito claramente. [...]. Texto
escrito pelo pintor do pós-impressionismo francês Paul Gauguin (1848-1903), extraído da obra Gauguin:
gênios da arte (Girassol, 2007), de Silvia Muñoz de Imbert e coordenado por
Jan-Ramón Triadó Tur. Veja mais aqui.
Imagem: Acervo ArtLAM.
O que eles podem fazer com você?
O que eles quiserem...
Eles podem armar para você, prendê-lo,
podem quebrar seus dedos,
queimar seu cérebro com eletricidade,
borrá-lo com drogas até que você
não consiga andar, não consiga se lembrar.
eles podem tirar seus filhos,
cercar seu amante;
eles podem fazer qualquer coisa que você não pode impedi-los de fazer.
Como você pode detê-los?
Sozinho você pode lutar, você pode recusar.
Você pode se vingar de qualquer maneira,
mas eles passam por cima de você.
Mas duas pessoas lutando costas contra costas
podem cortar uma multidão
uma fogueira dançante de cobra
pode romper um cordão de isolamento,
cupins podem derrubar uma mansão
Duas pessoas podem manter a sanidade uma da outra
pode dar apoio, convicção,
amor, massagem, esperança, sexo.
Três pessoas são uma delegação
uma célula, uma cunha.
Com quatro você pode jogar
e começar um coletivo.
Com seis você pode alugar uma casa inteira,
comer torta no jantar sem segundos
e fazer sua própria música.
Treze formam um círculo,
cem preenchem um corredor.
Mil têm solidariedade
e boletim próprio;
dez mil comunidades
e seus próprios papéis;
cem mil, uma rede de comunidades;
um milhão de nosso próprio mundo.
Vai um de cada vez.
Começa quando você se preocupa em agir.
Começa quando você faz de novo
depois que eles dizem não.
Começa quando você diz nós
e sabe quem você quer dizer;
e cada dia você significa mais um.
Poema da escritora e ativista social estadunidense Marge Piercy. Veja mais aqui.
UNA-SE, O RIO É SEU... ASCENSO FERREIRA.
O que eles podem fazer com você?
O que eles quiserem...
Eles podem armar para você, prendê-lo,
podem quebrar seus dedos,
queimar seu cérebro com eletricidade,
borrá-lo com drogas até que você
não consiga andar, não consiga se lembrar.
eles podem tirar seus filhos,
cercar seu amante;
eles podem fazer qualquer coisa que você não pode impedi-los de fazer.
Como você pode detê-los?
Sozinho você pode lutar, você pode recusar.
Você pode se vingar de qualquer maneira,
mas eles passam por cima de você.
Mas duas pessoas lutando costas contra costas
podem cortar uma multidão
uma fogueira dançante de cobra
pode romper um cordão de isolamento,
cupins podem derrubar uma mansão
Duas pessoas podem manter a sanidade uma da outra
pode dar apoio, convicção,
amor, massagem, esperança, sexo.
Três pessoas são uma delegação
uma célula, uma cunha.
Com quatro você pode jogar
e começar um coletivo.
Com seis você pode alugar uma casa inteira,
comer torta no jantar sem segundos
e fazer sua própria música.
Treze formam um círculo,
cem preenchem um corredor.
Mil têm solidariedade
e boletim próprio;
dez mil comunidades
e seus próprios papéis;
cem mil, uma rede de comunidades;
um milhão de nosso próprio mundo.
Vai um de cada vez.
Começa quando você se preocupa em agir.
Começa quando você faz de novo
depois que eles dizem não.
Começa quando você diz nós
e sabe quem você quer dizer;
e cada dia você significa mais um.
Poema da escritora e ativista social estadunidense Marge Piercy. Veja mais aqui.
ESTADOS DE LESÃO - [...] Esse esforço para estabelecer o
racismo, o sexismo e a homofobia como moralmente hediondos na lei, também lança
a lei em particular e o estado em geral como árbitros neutros de danos, em vez
de investidos do poder de ferir. Assim, o esforço para "proibir" a injúria social legitima
poderosamente a lei e o Estado como protetores apropriados contra injúrias e
lança os indivíduos lesados como necessitando de tal proteção por tais
protetores. [...]. Trecho extraído da obra States of Injury:
Power and Freedom in Late Modernity (Princeton University Press, 1995), da professora e
pesquisadora estadunidense Wendy L. Brown, autora
da pérola: Esteja alguém lidando
com o estado, a máfia, pais, cafetões, policiais ou maridos, o alto preço da
proteção institucionalizada é sempre uma medida de dependência e concordância
em cumprir as regras do protetor... Veja mais aqui.
DIARIO – [...] É tão difícil esquecer a dor, mas é ainda mais difícil
lembrar a doçura. Não temos nenhuma cicatriz para mostrar a felicidade.
Aprendemos tão pouco com a paz. [...]. Trecho
extraído do Diary (Anchor, 2004)
do escritor estadunidense Chuck Palahniuk. Veja mais aqui e aqui.
Sentes que a minha vida é um rio caudaloso, \ tomado
do delírio das enchentes, \ correndo alucinado para o mar! \ E te assombras,
com medo dos abismos, \ onde as águas nos seus loucos paroxismos \ te possam
arrastar... \ No entanto, sobre a flor dessas águas tempestuosas, \ leve com as
espumas vaporosas, \ hás de sempre boiar... \ Sentindo a sensação deliciosa \ de
que as águas arrogantes, tumultuosas, \ estão cantando para te ninar.
Nana, Nanana, poema do poeta
Ascenso Ferreira (1895-1965). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.