DITOS & DESDITOS - Para
descobrir a verdade sobre como os sonhos morrem, nunca se deve aceitar a
palavra do sonhador. Andar feito um rótulo ambulante não me faz criar boa
literatura. Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então
você deve escrevê-lo. Pensamento da escritora estadunidense e ganhadora do
Prêmio Nobel de Literatura de 1993, Toni Morrison. Veja mais aqui e
aqui.
ALGUÉM FALOU: Das
várias maneiras para se atingir o desastre, o jogo é a mais rápida, as
mulheres, a mais agradável; e consultar economistas, a mais segura.
Pensamento do político francês Georges
de Pompidou (1911-1974).
VIOLÊNCIA - Há
violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de
maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias
pessoas em graus variáveis, seja na sua integridade física, seja em sua
integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e
culturais. [...] estudos recentes reconhecem, em laboratório, uma correlação
entre observação da violência e agressão. Os estudos em meio real são menos
significativos. Mas não há dúvida de que as imagens da violência contribuem de
modo não desprezível para mostrá-la como mais normal, menos terrível do que ela
é, em suma: banal, criando, assim, um hiato entre a experiência anestesiada e
as provas da realidade, raras, mas muito mais fortes [...] a violência,
na mídia, seja ela estilizada ou não, seja ficção ou parte dos telejornais da
atualidade serve, de uma certa maneira, a um descarregar-se, distender-se, dar
livre curso aos sentimentos através do espetáculo. As cenas de violência são um
sintoma da ‘nervosidade’ da sociedade. [...]. Trechos extraídos da obra A violência (Atica.
1989), do filósofo francês Yves
Michaud. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
UMA PEDRA MEMORIAL – [...] Chegamos
a Pantalica, a antiga Hybla, subimos os caminhos das cabras, entramos nos
túmulos da necrópole, nas cavernas, nos santuários escavados nas paredes
íngremes da rocha sobre as águas do Anapo. O velho sempre falava, me contava
sobre sua vida, sua infância e juventude passada naquele lugar. Falou-me de
ervas e animais, das cobras do Anapo, e de uma cobra enorme, a biddina, um
dragão fantástico, que poucos viram, que amarra e engole homens, burros,
ovelhas, cabras. De pé na soleira, sob o arco de uma caverna, entre a luz e a
sombra, olhei para esse velho sobrevivente, o rosto preto e enrugado, as
grandes mãos de terra, e me pareceu que, depois de milênios, ele estava indo
naquele momento do fundo escuro da caverna, estrangeiro, remoto, metafísico.
[...] Trecho extraído da obra Le pietre di Pantalica (Mondadori; 1988 ), do escritor siciliano Vincenzo
Consolo (1933-2012).
NO CAMINHO, COM MAIAKOVSKI – Assim
como a criança / humildemente afaga / a imagem do herói, / assim me aproximo de
ti, Maiakovski. / Não importa o que me possa acontecer / por andar ombro a
ombro / com um poeta soviético. / Lendo teus versos, / aprendi a ter coragem. /
Tu sabes, / conheces melhor do que eu / a velha história. / Na primeira noite
eles se aproximam / e roubam uma flor / do nosso jardim. / E não dizemos nada.
/ Na segunda noite, já não se escondem: / pisam as flores, / matam nosso cão, /
e não dizemos nada. / Até que um dia, / o mais frágil deles / entra sozinho em
nossa casa, / rouba-nos a luz, e, / conhecendo nosso medo, / arranca-nos a voz
da garganta. / E já não podemos dizer nada. / Nos dias que correm / a ninguém é
dado / repousar a cabeça / alheia ao terror. / Os humildes baixam a cerviz; / e
nós, que não temos pacto algum / com os senhores do mundo, / por temor nos
calamos. / No silêncio de meu quarto / a ousadia me afogueia as faces / e eu
fantasio um levante; / mas amanhã, / diante do juiz, / talvez meus lábios /
calem a verdade / como um foco de germes / capaz de me destruir. / Olho ao
redor / e o que vejo / e acabo por repetir / são mentiras. / Mal sabe a criança
dizer mãe / e a propaganda lhe destrói a consciência. / A mim, quase me
arrastam / pela gola do paletó / à porta do templo / e me pedem que aguarde /
até que a Democracia / se digne a aparecer no balcão. / Mas eu sei, / porque
não estou amedrontado / a ponto de cegar, que ela tem uma espada / a lhe
espetar as costelas / e o riso que nos mostra / é uma tênue cortina / lançada
sobre os arsenais. / Vamos ao campo / e não os vemos ao nosso lado, / no
plantio. / Mas ao tempo da colheita / lá estão / e acabam por nos roubar / até
o último grão de trigo. / Dizem-nos que de nós emana o poder / mas sempre o
temos contra nós. / Dizem-nos que é preciso / defender nossos lares / mas se
nos rebelamos contra a opressão / é sobre nós que marcham os soldados. / E por
temor eu me calo, / por temor aceito a condição / de falso democrata / e rotulo
meus gestos / com a palavra liberdade, / procurando, num sorriso, / esconder
minha dor / diante de meus superiores. / Mas dentro de mim, / com a potência de
um milhão de vozes, / o coração grita – MENTIRA! Poema extraído da obra No caminho com Maiakovski – Poesia reunida
(Geração, 2003), do poeta Eduardo Alves
da Costa.