DITOS & DESDITOS - Na
vida há certas chagas que, como uma úlcera, roem a alma na solidão e a
diminuem. Que relação poderia existir entre a vida dos tolos e da plebe
saudável que estava bem, que dormia bem, que realizava bem o ato sexual, que
nunca sentiu as asas da morte em seu rosto a cada momento – que relação poderia
existir entre eles e alguém como eu que chegou ao fim de sua corda e quem sabe
que ele morrerá gradualmente e tragicamente? Eu escrevo apenas para minha
sombra que é projetada na parede em frente à luz. Devo me apresentar a ele.
Pensamento do escritor iraniano Sadeq Hedayat (1903-1951).
ALGUÉM FALOU: Onde há vida, a morte é inevitável. Morrer é fácil; viver é que é
difícil. Quando mais difícil fica, mais forte é a nossa vontade de viver. Pensamento do escritor chinês Mo
Yan, Prêmio Nobel de Literatura de 2012.
OUTRA VEZ – Pessoalmente,
as pessoas se conhecem muito mal. Não conheço nada mais terrível do que as
pobres criaturas que aprenderam demais. Em vez do julgamento poderoso e sadio
que provavelmente teria crescido se nada tivessem aprendido, seus pensamentos
arrastam-se timidamente e hipnoticamente atrás de palavras, princípios e
fórmulas, constantemente pelos mesmos caminhos. O que eles adquiriram é uma
teia de pensamentos de aranha muito fraca para fornecer suportes seguros, mas
complicada o suficiente para causar confusão. Pensamento do físico e
filósofo alemão Ernst Mach (1838-1916)
A MULHER E A FAMÍLIA – [...] O
Brasil nasce de família, eixo da formação social e de todas as ramificações que
fizeram florescer a civilização nacional. Com base no patriarcalismo monocultor
açucareiro, o ethos doméstico se solidificou, gerando um modelo que vem
sofrendo variações a partir da figuração feminina. Ao se alterar o papel da
mulher, alterar-se-ão os outros papéis. [...]. Trecho extraído da obra A
mulher e a família no final do século XX (Fundaj, 2005), da escritora e
antropóloga Fátima Quintas, autora
de frases outras recolhidas da obra, tais como: O silêncio tem suas vantagens,
mas se encarrega de falar muito mais que as palavras. A procura da alteridade é
a procura de mim mesma. Uma autognose compreensível que não me surpreende. Conheço
as minhas bússolas e talvez aspire ultrapassá-las numa atitude de ousadia ao
conferir-me algumas responsabilidades, que desejo partilhar para sentir-me mais
fortalecida. Veja mais aqui, aqui e aqui.
LITERATURA INVISÍVEL – [...] Num
país afogado por uma economia incipiente com grandes massas marginalizadas do
processo social e cultural, foi motivo de sarcasmo quando alguns “especialistas!
(o Brasil está cheio deles) começaram a falar em “economia invisível” ou em “economia
silenciosa”, ao se referirem ao comércio clandestino e marginal dos camelôs que
se espalham por toda nação. O fato é que o Brasil, com o seu alienígena sistema
de capitalismo selvagem, é um imenso “pátio de milagres”, fruto de uma economia
concentradora e elitista. [...] Pois
a situação do escritor brasileiro não é muito diferente, nesse cadinho de
desacerto e desilusões. Como um país é o retrato, a síntese de suas partes, o
mesmo processo de marginalização sofre a nossa literatura, que não tem vez nos
jornais, nas televisões, nos ditos meios de comunicação, que só se interessam
pelas contas milionárias dos anúncios do fumo, do refrigerante, do automóvel de
luxo (a contradição é que as multinacionais e os capitalistas esclerosados são
sustentados pela miséria dos povos). [...] A literatura brasileira, no entanto, bem ou mal, se reflete, insossa e
precariamente, a partir de um hipotético centro cultural [...] Porque, apesar da tecnologia gráfica
avançada, tudo se faz precariamente, em meio a províncias (o Brasil inteiro)
que se conservam isoladas, com feudos culturais, e os seus escritores, quase
envergonhadamente, produzem uma “literatura invisível”, com o mesmo sentimento
de sobrevivência (e de perseguição) e de tábua de salvação dos camelôs
brasileiros. Trechos extraídos da obra Poemágico (Sioge/Imago, 1984), do
escritor Assis Brasil. Veja mais
aqui.
DOIS POEMAS - PESQUISA:
Há um tempo para o peixe / e um tempo para o pássaro / e dentro e fora do homem
/ um tempo eterno de solidão /... O tempo é audível; também se pode ouvir a
eternidade. TRÊS COISAS: Não
consigo entender / O tempo / A morte / Teu olhar / O tempo é muito comprido / A
morte não tem sentido / Teu olhar me põe perdido / Não consigo medir / O tempo
/ A morte / Teu olhar / O tempo, quando é que cessa? / A morte, quando começa?
/ Teu olhar, quando se expressa? / Muito medo tenho / Do tempo / Da morte / De
teu olhar / O tempo levanta o muro. / A morte será o escuro? / Em teu olhar me
procuro. Poemas do escritor e jornalista Paulo Mendes Campos
(1922-1991). Veja mais aqui e aqui.