A arte
da soprano lírico spinto italiana Renata
Tebaldi (1922-2004), considerada uma das grandes figuras operísticas e uma
das melhores sopranos de todos os tempos.
NEMÊSIS NUA – O que havia de ser estava ali e era o meu tugúrio, no qual emergiu Nêmesis, a inevitável – alada
e bela, indignada, implacável. O seu olhar em riste trazia até mim todos os
presságios. Aproximou-se desmesurada com a ameaça dos sortilégios. Acercou-se
do meu desarme e se aprontou para o bote. Ouvi de seus
lábios o hálito letal: bellum omnia omnes.
Era a vingança inimiga e não entendia a razão. Era ali Têmis para impor todos
os castigos e repetiu funesta por cinco vezes o rol de todas as minhas
desgraças. Achegou-se mais e num gesto exato agarrou meu sexo destemida aristotélica
e pronta para destituir qualquer que fosse o resto do meu orgulho: Ou me vence,
ou lhe mato. Rivalizou altiva, inconquistável na minha ínfima felicidade, qual
Ártemis indômita, pronta para desfechar golpes homéricos. Tão nefasta quanto
tudo que sobrara da curiosidade de Pandora, fez-se Afrodite para vingar o que
fui de Narciso, tão inalcançável quanto infligia em mim retaliações
compensatórias por tudo que fora favorecido: a medida exata de se pagar bem ou
mal e vice-versa. E do seu corpo a sensualidade da guerreira pronta para o
ataque. Deu-se a nossa escaramuça de braços que se confundiam às garras dos que
se pegam e retomam riscos indesvencilháveis, coxas que se entrançavam para
arquear até a prostração, corpos que se serviam à pugna das moções vitoriosas,
bocas que se digladiavam em devorar um ao outro, ventres que se enfrentavam na
pugna do prazer. A contenda demorada serviu de gozo entre avanços e recuos, até
que ela se fez Deméter para prover o que era justo no meu quinhão:
concedeu-me a felicidade como testemunha do meu
tempo e lugar. E se rendeu escrava para a celebração da nossa entrega. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – Só
fale quando tiver algo que vale a pena dizer. Ouvir beneficia o ouvinte. Se
aquele que ouve escuta plenamente, então aquele que ouve se torna aquele que
entende. Quem escuta se torna o mestre do que é proveitoso. Ouvir é melhor do
que qualquer coisa, assim nasce o amor perfeito. Quanto ao homem ignorante que
não escuta, não realiza nada. Ele equipara o conhecimento com a ignorância, o
inútil com o prejudicial. Faz tudo o que é detestável, então as pessoas ficam
com raiva dele a cada dia. Injustiça existe em abundância, mas o mal nunca terá
sucesso a longo prazo. Siga seu coração toda a sua vida, não cometa excesso em
relação ao que foi ordenado. Que seu coração nunca seja vão por causa do que
sabe. Tome o conselho dos ignorantes, assim como o dos sábios... Pensamento
do vizir egípcio Ptá-Hotepe (cerca de 2414-2375 aC), recolhido da obra The
Living Wisdom of Ancient Egypt, de Christian Jacq, extraído da antiga obra
literária egípcia As Máximas de
Ptaotepe.
ALGUÉM FALOU: A
dúvida nos leva à pesquisa e através dessa conhecemos a verdade... Escrever é
um mal perigoso e contagioso. Pensamento do filósofo francês Pedro Abelardo (1079-1142), professava
o conceptualismo na luta entabulada em torno da questão filosófica fundamental
– as relações de pensamento e do ser – que adotou na escolástica a forma da
Querela dos Universais. Em seu livro Sic et Non, reclama que a fé seja limitada
por princípios racionais e pões em evidencia as contradições irredutíveis nas
concepções das autoridades da igreja. Para sua época, este livro tinha um valor
progressista e foram condenadas pela igreja. CONCEPTUALISMO: Corrente
progressiva da escolástica medieval, não admitindo a existência de ideias
gerais independentemente dos objetos. Distintos dos nominalistas, os
conceitualistas admitiam a existência de conceitos, de noções gerais no
pensamento, como formas particulares do conhecimento. QUERELA DOS UNIVERSAIS: Problema dos universais ou querela dos
universais) é a designação dada ao debate, sustentado pelos historiadores da
filosofia, sobre questão de saber se os universais são coisas ou meramente
palavras. Esta questão divide os filósofos em realistas, como Platão, em que as
espécies, como a espécie humana, são em certo sentido coisas, e em
nominalistas, em que “espécie” não passa de uma palavra. O universal é um
conceito filosófico que diz que existe algo que é partilhado por objetos
particulares diferentes. Por exemplo, a circularidade é um universal que todas
as coisas que são circulares partilham. Diz-se que os objetos circulares
instanciam esse universal. Porfírio, em sua renomada obra Isagoge, irá se
perguntar da seguinte maneira, que acabou por desenvolver a problemática anos
depois: Além do mais, no que tange aos
gêneros e às espécies, acerca da questão de saber: se são realidades
subsistentes em si mesmas ou se consistem apenas em simples conceitos mentais; ou,
admitindo que sejam realidades subsistentes em si mesmas, se são corpóreas ou
incorpóreas e, neste último caso, se são separadas ou se existem nas coisas
sensíveis e delas dependem. Platão argumentou que, não só os universais
eram reais, como só estes existiam verdadeiramente. Foi no século XII que as
perspectivas nominalistas passaram a ser apresentadas. Abelardo não duvidou que
a hierarquia das espécies e dos géneros de Aristóteles e de Porfírio
descrevesse corretamente a estrutura do mundo. Deixou claro que quando afirma
que as palavras são universais, não se refere às palavras no sentido físico (os
sons que emitimos quando falamos), mas às palavras como portadoras de significado.
Foi na sequência dos trabalhos de Abelardo que os seus contemporâneos
introduziram o termo nomen (nome), e a partir daqui o conceito de nominalismo.
No século XIII, à medida que os escritos de Aristóteles sobre a alma e a
metafísica se tornaram conhecidos, o nominalismo praticamente desapareceu. Tomás
de Aquino e Duns Scot elaboraram várias formas sofisticadas de realismo,
reconhecendo os universais como realmente existentes. Mas no século XIV o
nominalismo voltou a ser recuperado, tendo sido Ockham o mais destacado dos
nominalistas medievais. Ockham rejeitou a ideia aristotélica de que o
conhecimento intelectual resultava de as nossas mentes serem informadas por
universais derivados de objetos percepcionados. Argumentou que o nosso
conhecimento do mundo exterior começa com uma apreensão dos indivíduos. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
MIMESIS – [...] O conceito
de Deus mantido pelos judeus é menos uma causa do que um sintoma de sua maneira
de compreender e representar as coisas [...] Nas histórias do Antigo Testamento, […] a sublime influência de Deus aqui atinge tão profundamente o cotidiano
que os dois reinos do sublime e do cotidiano não são apenas realmente
inseparáveis, mas basicamente inseparáveis [...] O que ocorre aqui, no romance do farol foi tentado em toda parte nas
obras deste gênero, claro que nem sempre com a mesma introspecção e maestria:
enfatizar o acontecimento qualquer, não aproveitá-lo a serviço de um contexto
planejado da ação, mas em si mesmo; e, com isto, tornou-se visível algo de
totalmente novo e elementar: precisamente a pletora de realidade e a
profundidade vital de qualquer instante ao qual nos entregarmos sem
preconceito. Aquilo que nele ocorre trate-se de acontecimentos internos ou
externos, embora se refira muito pessoalmente aos homens que nele vivem,
concernem também, e justamente por isso, ao elementar e comum a todos os homens
em geral. Precisamente o instante qualquer é relativamente independente das
ordens discutidas e vacilantes pelas quais os homens lutam e se desesperam.
Transcorre por baixo das mesmas como via quotidiana. Quanto mais for
valorizado, tanto mais aparece claramente o caráter elementarmente comum da
nossa vida; quanto mais diversos e mais simples apareçam os seres humanos como
objetos de tais instantes quaisquer, tanto mais efetivamente deverá transluzir
a sua comunidade. Deve ser deduzível da representação indeliberada e
aprofundante da espécie mencionada, até que ponto, por baixo das lutas, já
agora as diferenças entre as formas de viver e de pensar dos homens diminuíram.
Os estratos populacionais e as suas diferentes formas de vida tornaram-se
inextricavelmente mesclados; já não há nem mesmo povos exóticos. [...] Por baixo das lutas e também através delas,
realiza-se um processo de igualização econômica e cultural; ainda há um longo
caminho a ser percorrido para se chegar a uma vida comum do homem sobre a
terra, mas esta meta já começa a se tornar visível. E ela se torna mais visível
e concreta já agora na representação desproposital, exata, interna e externa do
instante vital qualquer dos diferentes homens. [...] o complicado processo de dissolução, que levou ao esfacelamento da ação
exterior, à reflexão da consciência e à estratificação do tempo, parece tender
para uma solução muito simples. Talvez ela seja demasiado simples para aqueles
que, não obstante todos os perigos e catástrofes, e tanto por causa da sua
riqueza vital como por causa da incomparável posição histórica que oferece,
admiram e amam a nossa época. Mas estes são em número reduzido, e provavelmente
não viverão para ver senão os primeiros indícios da uniformização da
simplificação que se prenuncia. [...] O
método da interpretação de textos deixa à discrição do intérprete dum certo
campo de ação: pode escolher e dar ênfase como preferir. Contudo, aquilo que
afirma deve ser encontrável no texto. As minhas interpretações são dirigidas,
sem dúvida, por uma intenção determina; mas esta intenção só ganhou forma
paulatinamente, sempre durante o jogo com o texto, e durante logos trechos,
deixei-me levar pelo texto. [...] Cada
capítulo trata de uma época; por vezes uma época relativamente curta, meio
século, por vezes, também, uma época mais longa. Em meio a isso há
frequentemente lacunas, isto é, épocas que não receberam nenhum tratamento,
como é o caso da Antiguidade, que só me serviu de introdução, e dos primórdios
da Idade Média, da qual demasiado pouco se conserva. Mais tarde também poderiam
ter sido introduzidos capítulos sobre textos ingleses, alemães, espanhóis;
teria tratado com prazer mais longamente do siglo de oro, e com muito prazer teria acrescentado um capítulo
sobre Realismo alemão do século XX. [...]. Trechos extraídos da obra Mimesis — A representação da realidade na
literatura ocidental (Perspectiva, 1971), do filólogo e crítico alemão Erich Auerbach (1892-1957).
A MAÇÃ ENVENENADA – [...] o
que estou fazendo neste lugar, por que preciso estar aqui aos dezoito anos,
tendo passado num dos vestibulares mais difíceis do Rio Grande do Sul, tendo
uma banda e um estágio e eu de gorro e arma na mão protegendo um quartel pobre
contra um inimigo que nunca existiu [...] o suicídio a uma espécie de alma artística e sensível, indefesa diante
de um mundo não artístico e não sensível que o fez se dilacerar até encontrar
lá dentro um vocabulário que pudesse dizer o que realmente queria [...] eu não tinha como adivinhar no que daria uma
história nem tão incomum, um erro que pode acontecer, o azar que uma vez ou
outra todo mundo acaba tendo, se ver diante da neurose, da loucura, do egoísmo
de alguém que deixa para os outros uma conta que nunca terminará de ser paga
[...]. Trechos extraídos da obra A maçã
envenenada (Companhia das Letras, 2012), do escritor e jornalista, Michel Laub, compreendendo o segundo
volume de uma trilogia que narra acontecimentos históricos de 1990, sucessor de
“Diário da queda”, relatando a visão de um jovem sobre a própria vida na única
apresentação da banda Nirvana no estádio do Morumbi(1993), a convivência com a
primeira namorada (Valéria), o genocídio de Ruanda, contado pela visão de uma
sobrevivente (Immaculée Llibagiza), e o suicídio do vocalista em 1994.
DOIS POEMAS - AGORA EU TENHO QUE APRENDER: Chegou a hora de
aprender outra coisa, / Aprendi a chupar e dar os primeiros passos, / Aprendi a
ser jovem e maduro, / Aprendi a envelhecer, a colocar e tirar os dentes. / Agora
tenho que aprender a segurar bem a bengala / E apoie-se nele para sair de
manhã, / Então uma lição de algo mais difícil me espera: / Aprenda a morrer
também... O JOGO DO VERBO: Não
cale a boca quando você não sente vontade de calar a boca, / Não insulte quando
você não sentir vontade de insultar, / Não ria quando você não sente vontade de
rir / Não chore quando não sentir vontade de chorar. / pare de chorar como uma
freira / Quando você não precisa chorar! / pare de xingar como um lobo / Quando
você não sente vontade de insultar! Poemas do
escritor albanês Dritëro Agolli (1931-2017).
MEIO AMBIENTE –Em
conformidade com Olavo Baptista Filho, Samuel Murgel
Bracno, Roberto Carramenha, e Odete Medauer, desde o aparecimento do homem na crosta terrestre que ele explora
a natureza, o seu ambiente. O Homo sapiens, que é um primata como os macacos e
outros lêmures, apresenta-se diferente destes por aptidões e comportamentos. O
seu cérebro desenvolvido permitiu, ao contrário das outras espécies animais,
emancipar-se cada vez mais do meio ambiente, dominando e aproveitando-se de
seus recursos, quando a ciência e a técnica habilitaram-no a modificar a
natureza, orientando-se pela evolução. A partir de uma consideração efetuada
nas idéias expostas por Cristiane Derani, Edis Milaré, Toshio Mukay e José
Afonso Silva, observa-ser que o homem, ao longo dos tempos, passou por três
fases de desenvolvimento: a fase da caça e da pesca, em que dependia para sua
subsistência da captura de animais e da coleta de raízes, folhas, frutos e
sementes, limitando-se a viver em pequenos grupos sociais; a da agricultura,
domesticando animais e cultivando plantas; a da criação e do trabalho em metal,
quando o desenvolvimento da mineração e da fundição ampliou ainda mais seu
poderio tecnológico e cultural, aumentando a precisão e a velocidade na
execução de tarefas; e a da sociedade moderna urbana e industrial, conhecendo
uma transformação radical no âmbito da cultura e da tecnologia, que, ao tempo
que ajudou pelos avanços médicos e pela Revolução Industrial, fez com que a
população humana explodisse. Diante isso, Samuel Murgel Branco chama atenção
para o fato de que atualmente, a população mundial está estimada em aproximadamente
7 bilhões de pessoas sobre 150 milhões de km² da superfície dos continentes,
administrando uma complexa rede de problemas, seja para a própria
sobrevivência, seja para explorar avidamente os recursos naturais
indiscriminadamente, em nome do progresso da humanidade. A exploração
desenfreada da natureza causou distúrbios não só no ambiente como na saúde do
próprio homem, levando-o a normatizar comportamentos e efetuar estudos e
pesquisas no sentido de evitar os efeitos maléficos de tais transgressões. Tais
estudos receberam o nome de ecologia, conceituada usualmente como sendo a
ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e com o ambiente. E
conforme, Samuel Murgel Branco, se o meio ambiente é o conjunto de elementos e
fatores físicos, químicos e biológicos necessários à sobrevivência de cada
espécie, a ecologia é justamente o estudo das relações entre seres vivos e
ambiente. Neste sentido, Luiz Roberto Tommasi entende que a ecologia é a
ciência que estuda as interações entre os seres vivos e seu meio. É a ciência
que auxilia o homem a coexistir com o ambiente, ainda que essa coexistência
esteja se tornando cada vez mais complicada. Já Olavo Baptista Filho assinala
que a raiz do vocábulo ecologia é a mesma de economia, derivando, como se sabe,
da expressão grega oikos que significa casa. Com a evolução semântica
processada ao longo dos séculos, essa raiz passou a conotar por extensão a
idéia de série, de conjunto de relações entre suas unidades, bem como, de
arrumação, disposição em sistema fechado dentro do qual há um encadeamento de
processos, com fluxo de materiais ou de energia que circulam de um para outro
elemento, afetando a todos eles. Vê-se, pois, que tudo isso objetiva trazer a
idéia de meio ambiente que, de acordo com art. 3o, I, da Lei Federal
nº. 6.938/81, "é o conjunto de condições, leis, influências, interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas
as suas formas". E para Andréas J. Krell: O meio ambiente, segundo uma
definição hoje dominante na doutrina brasileira, é composto pelas áreas do meio
ambiente natural, do meio ambiente cultural e/ou artificial (criado pelo
homem); nesse último conceito, é possível incluir o meio ambiente do trabalho. O
autor, neste sentido, considera que esse alargamento conceitual se deve à
teoria do desenvolvimento sustentável, cada vez mais aceita depois da
Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente – RIO-92, segundo a
qual é necessário adotar uma visão interdisciplinar e integral do meio
ambiente. Para José Afonso Silva entende-se meio ambiente como a integração do
conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que possam propiciar o
desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. E isto quer dizer,
conforme o autor mencionado, que "O ambiente é a expressão das alterações
e das relações dos seres vivos, incluindo o homem, entre eles e o seu meio, sem
surpreender que o direito do ambiente seja, assim, um direito de interações que
tende a penetrar em todos os setores do direito para aí introduzir a idéia de
ambiente". Mediante isso e em conformidade com o entendimento de Roger
Dajoz, o meio ambiente, ou apenas ambiente, ou ainda meio, é a totalidade das
condições físicas e bióticas que agem sobre os organismos, isto porque os seres
vivos encontram-se tanto na atmosfera quanto nas águas e terras da crosta, ou
seja, litosfera. Com isso, considera-se como formando uma única camada -
biosfera - as partes da atmosfera e da crosta terrestre onde a vida penetra ou
se mantém, pois, conforme Roger Davoz é
o grande sistema constituído pelos domínios da vida, palco milenar e
gigantesco, feito de complicados cenários, alguns dos quais, tão grandes, que é
preciso muita distância para contemplá-los por inteiro, e outros, tão pequenos,
que só se podem ver com microscópio, todos eles cambiantes, alguns, porém, de
maneira tão lenta, que parecem eternos, e outros surpreendentemente rápidos. Mediante
isso, observa-se que, conforme Washington Novais, a classificação de meio
ambiente está dividia em: natural, cultural, artificial e do trabalho. O meio
ambiente natural é constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora e a
fauna, ou seja, todos os elementos responsáveis pelo equilíbrio dinâmico entre
os seres vivos e o meio em que vivem e está tutelado pelo art. 225, caput da CF
e § 1o. Já o meio ambiente cultural é integrado pelo patrimônio
histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico, que, embora
artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior pelo sentido de
valor especial. Está previsto no art. 216 da CF, onde há uma delimitação legal
do que seja patrimônio cultural. Diante disso, percebe-se que ele traduz a
história de um povo, a sua formação e cultura, portanto, os próprios elementos
que identificam sua cidadania. Quanto ao meio ambiente artificial, este é
aquele constituído pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto
de edificações (espaço urbano fechado) e dos equipamentos públicos (espaço
urbano aberto) e se refere a todos os espaços habitáveis, não se opondo ao
rural, sendo sua natureza ligada ao conceito de território. Recebeu tratamento
destacado não só no art. 182 e seguintes da CF, não se desvinculando do art.
225 deste mesmo diploma, más também no art. 21, XX, no art. 5o,
XXIII, entre outros, da CF. Por fim, o meio ambiente do trabalho, foco do
presente estudo, tem seu conceito não unívoco, mas sendo considerado como um
termo aplicado a realidades distintas nos variados ramos que compõem a ciência.
Há que se considerar que o trabalho assinala, conforme Cristiane Derani,
adquire no texto constitucional inúmeras ficções, que embora diferentes, são
ligadas entre si e complementares aos objetivos e fundamentos da República, no
sentido de assegurar a todos uma existência digna num sistema onde haja justiça
social. Pode surgir tanto como instrumento da tutela pessoal, no caso do
direito social ao trabalho, ou como política, a ser implementado pelo Estado,
numa dimensão difusa e essencial aos objetivos apregoados pelo Estado
democrático de Direito. Também concentra-se no caput do art. 225 da CF, entre
outros, como, por exemplo, o art. 7o , XXXIII, da CF. Assim, há que
se observar de tudo exposto até agora que em todos esses cenários ressaltam
logo alguns princípios fundamentais, conforme anotado por Odete Medauer e José
Afonso Silva, registrando-se que o mais significativo é que organismo algum -
vegetal, animal ou homem - vive só, ainda que, à primeira vista, isso às vezes
pareça acontecer. E, de outro lado, é o gigantesco e delicado equilíbrio que
resulta de todas as manifestações vitais que dele, meio ambiente, participam
inúmeras ações e reações e que, aqui e ali, no espaço e no tempo, podem
acarretar desequilíbrios parciais, que se compensam. Para Luiz Roberto Tomassi,
os elementos fundamentais da biosfera são água, ar e solo. Água, fonte da vida;
ar, reserva de oxigênio, carbono e azoto; o solo, de onde o homem extrai o
essencial para a sua subsistência, biosfera a parte da terra na qual a vida
existe e suas principais características são a presença de grande quantidade de
água na fase líquida, um amplo suprimento de energia vinda do sol e a existência
de interfases entre sólidos, líquidos e gases. Ainda mais, há que considerar
que cada ser vivo depende de uma interação harmoniosa com o meio ambiente para
sobreviver. E, além do mais: todos os seres vivos têm a necessidade de se
apropriarem de recursos da natureza, mesmo como condição necessária para o
suprimento da própria vida. Daí, como todo e qualquer organismo, está sujeito à
ação do meio ambiente, considerando-se a presença de agentes climáticos,
edáficos e químicos. O homem, até certo ponto, está sujeito à atuação dos
fatores ecológicos, embora tenha condições de alterar a sua incidência, através
dos recursos científico-tecnológicos a seu serviço. Entretanto, o meio ambiente
é o grande anfiteatro no qual o homem desenvolve suas atividades econômicas e
culturais num processo de interação, às vezes inconsciente, com a biocenose.
Essas atividades econômicas e sociais têm resultado numa série de
desequilíbrios capazes de degradar o meio ambiente e provocar danos à saúde
humana E desde que o homem neolítico começou a derrubar ou queimar a floresta
para aproveitar o espaço com sua agricultura ou seus animais domésticos, o seu
meio ambiente começou a se modificar. As alterações, a princípio lentas,
aceleraram-se e agravaram-se quando aumentou a densidade das populações humanas
e cresceu a eficiência dos meios de destruir e plantar. Sob esta ótica, Sérgio
de Almeida Rodrigues, analisando as relações do homem com o ambiente, desde
seus primeiros dias até a época atual, descreveu quatro fases: a primeira, do
caçador-coletor, quando o homem utilizava ferramentas de pedra lascada e vivia
em bandos nômades, manipulando o fogo com impacto nulo; a segunda, da
agricultura de subsistência e pastoreio, causando impacto à natureza quase
cinco vezes maior que na primeira fase; a terceira, que é caracterizada pela
urbanização, produzindo um impacto quinhentas vezes maior que o causado pelas
fases anteriores; e a quarta, que é a da tecnologia moderna em que, segundo a
UNESCO, durante a Conferência Internacional das Uniões Científicas (ICSU), no
programa “O Homem e a Biosfera”, também conhecido como “Projeto MAB”, de 1981,
o impacto é 10 mil vezes maior que o inicial. Donde se conclui que todo ser
vivo absorve, utiliza e perde energia. Todos os seus processos vitais requerem
energia. E essa energia é despendida com o trabalho. Veja mais aqui, aqui,
aqui, aqui e aqui.
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TEIXEIRA, João Carlos. Temas polêmicos de direito do
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TOMMASI, Luiz Roberto. A degradação do
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UNESCO. Conferência intergovernamental
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VARGAS, N. et al. A prática da fraqueza e da
"discordância": a participação dos trabalhadores na gestão de uma
construtora. Rio de Janeiro: UFRJ/COOPE, 1984
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