DITOS & DESDITOS - A
vida humana não é a das colmeias ou dos formigueiros! Há mais coisas nessas
cerimonias que parecem buscar resolver um enigma. Nos confins do vivido e do possível.
Como é que esses espetáculos parecem visar para além da curiosidade, do
respeito das tradições ou do prazer estético. Pensamento do sociólogo,
escritor e dramaturgo francês Jean Duvignaud (1921-2007).
ALGUÉM FALOU: Quando nós rejeitamos uma única história, quando
percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós
reconquistamos um tipo de paraíso.
Pensamento da escritora e feminista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
OUTRA VEZ - A contradição é o
caminho mais claro para a verdade. Frase da cantora, compositora, poeta e artista
visual estadunidense Patti Smith. Veja
mais aqui e aqui.
POÉTICA - [...] Tarde
demais compreendi. Tarde demais conheci a consciência tranquila no trabalho
alternado com imagens e com conceitos, duas consciências tranquilas que
seriam aquela em pleno dia e aquela que aceita o lado noturno da alma. Para
gozar da dupla consciência tranquila, a consciência
tranquila de minha dupla natureza, enfim reconhecida, seria necessário
que eu pudesse fazer ainda dois livros: um livro sobre o racionalismo
aplicado e um livro sobre a imaginação ativa [...]. Trechos extraídos da obra La poétique de la rêverie (PUF, 1993),
do filósofo, crítico literário e epistemólogo francês Gaston
Bachelard (1884-1962), que em outra obra sua, Lautréamont (José Corti, 1968), expressa que: o poeta, nas trevas, vê melhor sua própria
luz. Veja mais aqui e aqui.
O IMPULSO – [...] Decepciono-me
quando ergo o fone e, em vez do cálido silêncio, irrompe, pedestre a voz de um
amigo e, pior ainda, de algum departamento institucional. Só desejo receber o
negro e desnudo silêncio que se segue à chamada [...] Patologia do encantamento – esperar junto ao telefone um único chamado
silencioso. Ansiar por esse momento para justificar o dia, justificar minha
desordenada presença na casa. [...] Ganhei
o terreno – o terreno do homem e, de alguma e de várias maneiras, o terreno do
tigre. Fui tigre como o tigre refletido em meus olhos; e o tigre – pressinto-o
-, foi, por um instante, humano em seu furor. [...] Trechos extraídos da
obra O impulso: inflexões sobre a criação
(Lumme, 2007), do escritor uruguaio Victor
Sosa (1956-2020)
UM POEMA - Toco
os teus campos de neve / e entrego-me aos fantasmas da minha infância / Religiosamente
bebo a gota esquecida na palma / da minha mão. / Brisas subtis deixam em arcos
tensos / as pétalas que me enfeitam. / E estupidamente me trazem ruas
empedradas / veias do meu mundo / onde a bússola e o desejo se confundem / confundindo
o destino de nós. / Na ternura das vozes que me envolvem / há um convite ao
poema que não consigo. / E as tuas montanhas sacodem / lembranças de outras
cavernas / gemendo a noitinha estórias / de aves fugindo e picaretas cantando, /
murmúrios de piratinhas, / sussurros de prazeres dolorosamente cambiados em / mercado
negro. / Pouco a pouco lês no meu olhar ausente / a existência de outra ilha / E
sentes a minha fé / e o braço se afrouxa / perante o adeus que adivinhas / no
silêncio do meu corpo. Poema da jornalista e poeta cabo-verdiana Dina Salústio (Bernardina Oliveira),
uma das fundadoras da Associação dos Escritores Cabo-verdianos, assim como de
diversas publicações literárias.