DITOS & DESDITOS - Ninguém pode cancelar o
caos ou apagar aquele pano de fundo de silêncio que acompanha a experiência
como boato. Nomear o momento de sua aparição, de sua exposição ao tempo, parece
ser tarefa do poeta. Na linguagem, toda a matéria do visível é expressa, de seu
aparecimento e morte, de seu mergulho no abismo do tempo. A arte é organizada
como um discurso do incompleto, do não resolvido; é uma emancipação incessante
do particular da totalidade. Na ordem dos fragmentos, o negativo é entendido
como o laboratório de uma experimentação, cujo tempo não nos é dado prever. O
espaço do alegórico, entendido como escrita e alusividade infinita, é também o
espaço dos jogos linguísticos, das técnicas. Pensar no mito que habitamos,
descrever suas estratégias narrativas, a lógica de suas formas de
representação, é objeto de crítica. É na palavra ou na cor, na articulação da
forma por meio de pausas, cesuras, suspensões, que a ausência se afirma. Existe
um antes e depois do corpo. Um limite que é posteriormente corrigido e
destruído para retornar a um zero inicial. Tudo o que é estranho está longe e
uma viagem confortável nos associa alegremente a um lugar seguro. Escrever /
desenhar – A etimologia grega bem expressa, graphein– são uma e a mesma coisa. O
desenho tem uma magia adicional: preserva a memória, não das palavras, mas do
boato antes das palavras e carrega dentro de si a marca do nosso corpo. Alguém
escreve, projeta, até pensa, a partir das linguagens que nos precedem. Uma
entropia peculiar da qual emergem nossos jogos lingüísticos, nossas idéias,
nossos projetos. Pensamento do filósofo espanhol Francisco Jarauta. Veja mais aqui e aqui.
DE NOVO: Bibliotecas são
reservatórios de força, graça e inteligência, lembretes de ordem, calma e
continuidade, lagos de energia mental. Pensamento da escritora australiana Germaine Greer. Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Um
olhar ou um sorriso de um estranho pode ser um grande momento. Muitos homens só
querem paquerar ou ter uma aventura esporádica e nós é que erramos e, quando
vemos um certo interesse, já pensamos que pode haver um relacionamento sério. Nesse
sentido, o aprendiz de predador é cúmplice do homem. Nós mulheres não podemos
nos empolgar demais com o amor e idealizá-lo porque esse raciocínio gera muita
angústia. Apaixonar-se é o estado mais estúpido que existe. Na realidade, não
se apaixona pela pessoa, mas pelo que ela pensa que é ou, pior ainda, pelo
sentimento que o próprio estado produz. Pensamento da jornalista e
escritora espanhola Alicia Misrahi.
OUTRA VEZ: Para
que casar e fazer um homem infeliz quando se pode fazer feliz a muitos?
Pensamento da atriz estadunidense Mae West (1893-1980). Veja mais aqui eaqui.
COMUNICAÇÃO POÉTICA – [...] É por isso que um
poema parece falar de tudo e de nada, ao mesmo tempo. É por isso que um (bom)
poema não se esgota: ele cria modelos de sensibilidade .É por isso que um
poema, sendo um ser concreto de linguagem, parece o mais abstrato dos seres. [...] o interdito do signo novo perturbador (por
apontar para uma nova ordem possível) que é igualado aos ruidosos signos da
confusão, operação
habitual do poder que exclui, para impedir o advento do
poder que inclui – a liberdade criadora. [...] perseguir algolugar no
tempo da produção poética, indiciado e anunciado - tais algas e sargaços para
novas terras – por um canto-aroma longe, não tão distante que não pudesse ser
sentido e ouvido no país que não era um grande país. Pela linguagem, romper a
barreira da língua, embalsamadora de alguns belos cadáveres. [...].Trechos
extraídos da obra O
que é comunicação poética (Brasiliense,
1993), do poeta e professor Décio Pignatari (1927-2012).
Veja mais aqui.
O QUE É - O problema com
emergências é, disse ela, que eu sempre coloco minha melhor calcinha e nada
acontece. [...]. Trecho extraído da obra Save Me the Waltz (Vintage, 2001), da
escritora estadunidense Zelda Fitzgerald (1900-1948), esposa de
F. Scott Fitzgerald, que no livro Dear
Scott, Dearest Zelda: The Love Letters of F. Scott and Zelda Fitzgerald (St. Martin's, 2002),
expressa: Desculpe-me por ser tão
intelectual. Eu sei que você preferiria algo bonito, feminino e afetuoso. Eu te
amo de qualquer maneira, mesmo que não haja nenhum eu ou qualquer amor ou mesmo
qualquer vida - eu te amo. Veja mais aqui e aqui.
DOIS POEMAS - I - Corre
água ate mar azul / Mas da aí, não sai: / Procura Kozak o seu destino, / Mas
não acha nada. / Foi Kozak para traz do Sol posto, / Brinca mar com ondas, / Canta
coração do Kozak, / Pensamento outro: / “Aonde vais, sem perguntares? / Para
quem deixaste / Pai e mãe, que já são velhos / Namorada nova? / As pessoas não
são aquelas, / Lá, no estrangeiro. / Viver com elas – vida dura, / Vida que não
cura. / Não tens com quem chorar, / Nem trocar palavras. / Sentou -se Kozak de
outro lado, / Brinca mar com ondas. / Pensou destino encontra, / Encontrou o
luto. / No céu cegonhas / Regressam a casa. / Chora Kozak – os caminhos, / Cobertos
com arbustos. II - É-me indiferente, se vou / Eu viver na Ucrânia, ou não / Se
alguém se lembrará, ou esquecer-me-á / Na neve do exílio - / É-me mesmo
indiferente. / Sem liberdade cresci entre os desconhecidos, / E, sem ser
chorado pelos meus, / Sem liberdade, chorando, morrerei, / E tudo levarei
comigo, / Nem uma pequena mancha deixarei / Na nossa gloriosa Ucrânia, / Na
nossa - mas que não é a nossa terra. / E nem se lembrarão o pai com o filho, / Nem
dirá ao filho: “Reza, / Reza, filho: pela Ucrânia / Que outrora foi torturada”.
/ É-me indiferente, se vai / Esse filho orar, ou não… / Mas não me é indiferente,
/ Como a Ucrânia é adormentada / Por pessoas más, mentirosas, e no fogo,/ Já
roubada, a acordarão… / Oh, isso já não me é indiferente. Poemas do poeta
ucraniano Taras Shevtchenko (1814-1861).
A ARTE
DE DIVITO
A arte
do escritor, desenhista e humorista argentino Guillermo Divito (1914-1969),
fundador e diretor de Rico Tipo.