TRÍPTICO
DQC: O LADO SOMBRIO DAS MEMÓRIAS - Ao
som de Pure Comedy, do álbum homônimo
(2017), do cantor, compositor, musicista e produtor musical estadunidense John Misty, pseudônimo de Joshua Michael Tillman. - Em primeiro lugar, a
pergunta de Gauguin
diante da resposta do Trimegistus Hermes e era um segundo em ponto apenas
da zero hora, madrugada escura diante da porta onde deixei toda esperança e os
fantasmas ressuscitaram faz tempo na terra antes mágica, agora ameaçada e minha
angústia diante do milagre na lembrança de que quando nasci quase minha
cabeça não passava engasgada na porteira do mundo e era uma coisa tomada por
centro no show dos horrores, no meio da confusão de certezas idolatradas num
horizonte para lá de viciado - como se de nada valesse a luta pela
sobrevivência que mais valia acima de tudo e era nada mais que ossos e medulas, dores de lesões, negaceios de
reputações caídas, tantos traidores com os mostruários de déjà-vu e quem ufano depois da goleada alemã na paixão do ouvinte
com a desmoralização de grande que nunca passou de peladeiro, porque a farsa já
estava lá instalada e ninguém via no jogo de cintura o que não se diz e o que
não se escreve fora do dicionário de bolso com tantas pachouchadas para
desvirtuar o que se passa por solene e não era e nem será mais que imundícies
que se acham aproveitáveis e não são. Ah, como tudo é tão disforme. E Paul Klee insistia: A forma é o fim,
a morte; o dar forma é movimento, ação. O dar forma é vida. E só porque havia
lido demais além da conta, nove vezes soube que a comédia era ali muitas cabeças
deitadas sobre mesas e travesseiros como se fossem cadafalsos para todos os déspotas
e todas as suas as vítimas porque não escapa ninguém, nem eu. Foi aí que o
filósofo espanhol Francisco Jarauta dispôs esclarecer o que em mim
jamais buscou a certeza de nada: A
essência do viajante é sua história. Corresponde a pensar em abrir as portas do
território do possível, mesmo quando está sempre protegido pela cortina opaca. É preciso pensar com os olhos fixos em duas
margens: a das transformações e mudanças que deixam um mundo e aquela em que as
características de um novo mundo já estão adivinhadas. Só o poeta estraçalhado
sabe da selva escura.
DOIS: O OLHAR NO HORIZONTE DA VIDA - Ao som de Miracle of Life (Mark Mancina/Trevor Rabin), do album Union (1991), do Yes. - E o que mais além do desespero de
deambular no exílio depois de escapulir da cloaca e a montanha redentora não
mais ali ou nunca tivera e era o caos e o Bib Bang para que eu fosse a Origem da Vida e estivesse no meio do Milagre de Emir Kusturica. E antes
que me pergunte, eu não sei e posso mudar de opinião sobre tudo e qualquer
coisa; afinal vivo e viver tem disso. De repente, ao meu lado, língua de fora, Einstein
sorria: Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la
como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse
milagre. A dúvida e a
angústia para despertar na despedida do
poeta, a ascensão. E veio o Sol na prosa infinita do dia.
TRÊS:
SEGREDOS DA PAIXÃO – Imagem: arte do escultor Cícero D’Avila, ao som de um concerto ao vivo no Teatro
Colón de A Coruña (2014), do premiado violonista Carles Trepat. – O tempo passou e não percebi. Meu coração
errabundo cansado da solidão se espalhou, abjurou dos segredos e tropeçou
diante da porta. E era ela ali, Beatrice nuamada, a me levar pelo que
não mais via nem sabia, porque era dela apenas a luz da vida. E eu qual Dante
a recitar da Vita Nuova: Tão
longamente me reteve Amor / E acostumou-se à sua tirania, / Que, se a princípio
parecia rude, / Suave agora me habita o coração. / Assim, quando me tira tanto
as forças / Que os espíritos vejo me fugirem, / Então a minha frágil alma sinto
/ Tão doce, que o meu rosto empalidece, / Pois Amor tem em mim tanto poder / Que
faz os meus suspiros me deixarem / E saírem chamando / A minha amada, para
dar-me alento. / Onde quer que eu a veja, tal sucede, / E é coisa tão húmil que
não se crê. Eros rondava o doce sabor da vida. E isso me
fez com que eu não tivesse mais palavras para falar dela porque ela é o convite
da luz e muito de mim em cada beijo exilado em Ravena e guardei nela a obra
póstuma. Até mais ver.
RECIFE DE DENTRO PRA FORA
O documentário curta-metragem Recife de dentro pra fora (1997), da premiada
cineasta e artista Katia Mesel, desvenda o olhar
do rio Capibaribe para suas margens, tendo por base o poema O Cão sem Plumas, de João Cabral de Melo
Neto, e a trilha sonora de Geraldo Azevedo. De forma poética mostra as
agressões ao meio ambiente, sofridas pelo rio, na sua trajetória, até as águas
ficarem limpas, de novo. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.