QUANDO ALGUÉM
SE PÕE À SOMBRA, NÃO PODE INVOCAR O SOL - Imagem: Insula Dulcamara (1938), do pintor e poeta suíço
naturalizado alemão Paul Klee (1879 - 1940). - Sabe, até um dia desse eu pensava e agia segundo meus
próprios desejos, sentimentos e necessidades. Queria estar na chuva sem me
molhar, andar por cima das águas sem me afogar, estar à sombra com o brilho
Sol. Tudo ao meu umbigo e confortável. Enganava a mim mesmo e não sabia. E se
sabia, fazia que não. Não queria saber do insidioso obstáculo sempre na culatra
da trama se eram ou não as minhas próprias armadilhas. E mesmo que só me visse pelas
desditas dos esquemas desconexos e imperfeitos que funcionavam como propósitos
conflitantes, levava na conta como se fosse apenas fruto das desvantagens do
destino de um deus injusto e eu aprisionado na teia cármica. Vivia eu às trevas
em pleno Sol que não via, desorientado como quem procura dissipar nuvens
escuras. Não havia jeito, sabia, sempre a adversidade opondo-se à felicidade, tudo
ironicamente apropriado, como se pagasse na mesma moeda tudo que tivesse feito
ou não, como se estivesse sempre do lado oposto à Regra de Ouro. Assim, muitas
vezes sucumbi aos escarnecimentos e ao troco equivalente exposto ao escárnio ou
na pose do ridículo, expiando infortúnios na história natural da minha calamidade.
A vida uma incógnita: estava de olhos vendados e pensava que via e sabia de
tudo. Só me dei conta aos tropeços do que fiz a mim mesmo e aos outros,
desonesto comigo mesmo, acreditando em minhas próprias mentiras, me
encarcerando com minha própria escravidão, como se todo obstáculo fosse
intransponível, todo desespero fosse a última gota, todo fardo fosse
irremovível, toda opressão fosse sem saída, todas as tribulações fossem
eternas, toda dor não pudesse suportar, toda ansiedade fosse uma agonia, todo
castigo não tivesse salvação, todo desejo fosse irrealizável, todo contratempo
fosse uma punição, todo nó não fosse desatável, se tudo que visse fosse escuro
breu, todo comestível fel ao paladar, todas as metas fossem inalcançáveis, toda
ferida não sarasse, todas tentações fossem dominantes, todo prazer fosse
insignificante e eu incapaz de visualizar meus ideais, tudo impedindo seguir
adiante com meu coração esvaziado. Foi então que um dia, à sombra de uma
amendoeira, percebi que nem tudo estava perdido: um pássaro atendeu ao meu
assobio e veio pousar à minha mão com a total ausência de medo. E me fez ouvir
a música da passarada que gorjeava ao redor, os ventos, as ondas, as
cachoeiras, as folhas nos galhos, os abismos das grandes montanhas, as
correntes dos rios, a brisa nas colinas e vales floridos. E ao ouvir tudo isso
me veio uma alentadora compreensão espiritual, como se ali estivesse em frente
a uma fogueira com sua brasa incandescente a me clamar pra viver de forma
construtiva, sem ter que destruir qualquer ser vivo e na fé primitiva de que
ninguém ousará mal contra nada. Ouvi indizível entre os chiados das labaredas
na lenha e o piado do passarinho, e aprendi a colher o bem do bem e do mal,
recebendo as bênçãos disfarçadas de infortúnios: as perdas ensinaram mais que
tudo que possuísse, tornou-se meu mais verdadeiro ganho. Entendi que se o
problema era estar à sombra, a solução era só buscar a luz do Sol. © Luiz
Alberto Machado. Veja mais abaixo e aqui.
Curtindo o talento musical da violinista e
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DESTAQUE: PENSAMENTO DE EMERSON
[...] Se induzimos forte magnetismo num extremo de
uma agulha, o magnetismo oposto se manifesta no outro extremo. Se o sul atrai,
o norte repele. Para esvaziar aqui, temos de condensar ali. [...] Mesmo que não se manifestem repressões a um
novo mal, essas repressões existem e se manifestarão. Se um governo é cruel, a
vida do governante não é segura. Se os impostos forem pesados demais, não
haverá receita pública. Se a legislação criminal for sanguinária, os jurados
não condenarão. Se a lei é por demais branda, a vingança particular é praticada
[...] A retribuição é inseparável
daquilo que retribuído, mas às vezes está distribuída num longo período e,
assim, não se torna evidente senão após muitos anos. [...]. certa compensação equilibra cada dom e cada
efeito. Para cada coisa que perdemos, ganhamos uma outra coisa; e para cada
coisa que ganhamos, perdemos alguma coisa. Assim como nenhum homem teve um
motivo de orgulho que não lhe fosse prejudicial, nenhum homem teve um defeito
que em algum momento não se lhe tornasse útil. Todo homem, no curso de sua
vida, deve agradecer suas imperfeições. [...].
Trechos extraídos
da obra Ensaios (Imago,
1994), do escritor e filósofo estadunidense Ralf Waldo Emerson
(1803-1882). Veja mais aqui, aqui e aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor e poeta suíço naturalizado alemão Paul Klee (1879 - 1940)
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Inner peace, art by Felicia Yng.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.