quarta-feira, janeiro 11, 2017

BAUMAN, MARIA AZOVA, JÚLIO POMAR, ANNA EWA MIARCZYNSKA & ZÉ CORNINHO


PRA QUEM SÓ VÊ SUPERFÍCIE, TODO RIO É SEMPRE RASO –  Imagem: Le luxe (1979), do artista plástico modernista português Júlio Pomar. -  Quando Zé Corninho defendia algum ponto de vista, Robimagaiver caía de sola aos desaforos: - Isso é um bicho ré-pra-trás da gota! E tome conversa mole. Não havia entendimento entre ambos, viam as mesmas coisas de formas diferentes. E piorava mais quando no alinhavado dos argumentos, um deles, sem querer, admitia o que era a proposta do outro, quando o adversário já estava quase propenso a seguir o ponto de vista do primeiro. Quer dizer, discordavam mesmo trocando de posição, parecendo mais que o que valia era a discussão jogando conversa fora, só miolo de pote. O converseiro aumentava a ponto de ter de cobrar de um terceiro pra ver quem estava certo ou errado. Isso dava puxando Doro pelo cotovelo para a prova dos nove. Ao invés de optar por um ou por outro, ambos eram depreciados porque este julgava ser o mais sabido do trio. Aí, já viu, a celeuma pegava fogo. Cada qual dono da sua razão. Mas como a discussão vira corda de guaiamum, trocentos outros eram envolvidos e cada qual tomava partido por um ou outro, aumentando o rol das acalorado dos debates irrisórios. O que valia era encompridar a remoeta. Ocorria que quem engrossasse o caldo defendia parcialmente o seu escolhido, concordando em parte com o opositor. Cuma? Era. Porém, como todos discordavam no geral de todos, cada qual que acrescentasse um detalhe para destruir o argumento alheio. Trocando em miúdos: ninguém se entendia, quando concordava nisso, discordava naquilo e nada de consenso. Pano pras mangas do tirinete. Dissenso instalado, a última palavra cabia sempre ao doutor Zé Gulu que, por sua vez, fazia uma careta das mais repelentes em razão da pouca monta do discutido, beirando o inútil quando não o ridículo. Abusavam da sua paciência e num esforço para lá de gigantesco, ele procurava explicar aos debatedores que tudo estava certo segundo o ponto de vista de cada um, ao mesmo tempo, todos estavam errados sob o prisma aprofundado no detalhadamente. Aí que o troço saía do padrão da tolerância para o blábláblá inócuo. Se as insatisfações eram parciais, viravam generalizadas e o douto tinha que se esforçar para não cair na pilhéria: - Pros donos da razão, sempre acham que estão certos quando estão redondamente enganados. Todos os olhares de interrogações na sua direção. – Cada qual se acha dono da verdade e o que pensam que é certo não vale um tostão furado. Todos só de soslaio na desconfiança: onde esse cara quer chegar, hem? Aí ele derramou erudição provando por a + b que isso não é aquilo e que não se pode colocar no mesmo saco para formar um conjunto desgraçado coisas completamente adversas e nenhuma correspondência entre os objetos. O que estava em discussão era uma misturada de alhos com bugalhos, mais parecendo que Jesus e Zé Pilintra era uma pessoa só, dado o puxa e encolhe da conversa, apesar dos confrontos de pontos de vista. Discordavam quando concordavam, e quando beiravam o entendimento, retomavam o que já havia sido superado para trazer à tona como se fosse coisa nova, botando novas lenhas no que já estava pra lá de tostado. – Vocês desdizem o dito como se desfizessem todo acertado. Trocando em miúdos: vocês só querem arengar. E arrematou: - Por isso digo: quem só vê superfície todo rio é raso. Vá lá e morra afogado com suas convicções. E viva o Dia Internacional da Paz! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

Curtindo o talento musical da premiada violinista uzbeque Maria Azova.

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Convite no Crônica de amor por ela, Zygmunt Bauman, Sérgio Porto, Friedrich Hölderlin, Oswald de Andrade, George Gershwin, Anaïs Nin, Kiri Te Kanawa, Lucélia Santos, Pedro Almodóvar, Parmigiano, Penélope Cruz Sanchez, Sumi Jo & Luciah Lopez aqui.

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DESTAQUE: A GLOBALIZAÇÃO DE BAUMAN
[...] As tentativas de mitigar a agressão tribal pelas novas "ações policiais globais" foram até aqui inconclusivas, e mais provavelmente contra- producentes. Os efeitos totais da incessante globalização têm sido marcadamente desequilibrados: a ferida do reinício da guerra civil chegou antes do remédio necessário para curá-la, que está, na melhor das hipóteses, na fase de testes (mais provavelmente na de tentativa e erro). A globalização parece ter mais sucesso em aumentar o vigor da inimizade e da luta intercomunal do que em promover a coexistência pacífica das comunidades. [...] Um efeito das cloakroorn communities/comunidades de carnaval é que elas eficazmente impedem a condensação de comunidades "genuínas" (isto é, compreensivas e duradouras), que imitam e prometem replicar ou fazer surgir do nada. Espalham em vez de condensar a energia dos impulsos de sociabilidade, e assim contribuem para a perpetuação da solidão que busca desesperadamente redenção nas raras e intermitentes realizações coletivas orquestradas e harmoniosas. Longe de ser uma cura para o sofrimento nascido do abismo não-transposto e aparentemente intransponível entre o destino do indivíduo de jure e o do indivíduo de facto, são os sintomas e às vezes fatores causais da desordem social específica da condição de modernidade líquida. [...]
Trechos extraídos do livro Modernidade líquida (Zahar, 2001), do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925- 2017). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do artista plástico modernista português Júlio Pomar
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: A Paz de Anna Ewa Miarczynska.
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