TRÍPTICO
DQC: TUDERODIDO - Cantarolando
Movimiento (Recorded Live – Paste
Stúdios, 2018), de Jorge Drexler: Eu não sou daqui / Mas nem você / Em lugar nenhum e / De
todo lugar um pouco / Mesmo com canções, pássaros, alfabetos / Se você quer que
algo morra, deixe pra lá. - Gente noitalta & diameno, a erosão e
nenhum sossego: faróis roncam & ecocos luminosos, noticiário do inferno
logo ali e, quase aqui, uma letra de música rascunhada, acordes quase perdidos,
poemas inconclusos, laudas e páginas, telefone mudo, lupas nos livros, agenda e
adereços, vidavessa e o olho do furacão. O olholhado por outroutras entaladas
no labirinto e a voz de Anthony Giddens
repete insistentemente Fundamentalistas
afirmam: só há um modo de vida válido, e os demais têm de sair da frente.
Pobres coitados aqueles das mentes aprisionadas, até não sei, nada não, vou em
frente e não importa se corro risco da incompreensão, sou reincidente dos
passos e descompassos pelo fio da navalha, porque já queimei largadas e etapas
até a encruzilhada, em ponto morto, com meus pensentimentos a dar conta da
sobrevida no zero exemplar. Outro pontapé inicial e o que resta é o que estou
fazendo aqui como se decifrasse a roseta dos portais, quando não há mais perdão
nem vice-versa: sou disfuncional entre os que cultuam pratos feitos,
contraproducente entre os de fórmulas casuísticas. Sim, se sou desassombrado
que seja na esteira do politicamente errado com as personas em baixa ou quase
nenhum motivo para festejos. Tim Ingoldi
avisa: A vida é a capacidade geradora do
campo englobante de relações dentro do qual as formas surgem e são mantidas no
lugar. Em suma, não pode haver vida num mundo onde o céu e a terra não se
misturam. As coisas estão vivas porque elas vazam. Certo ou não, tanto faz, nenhum passo atrás: o novo e
o excesso sempre me atraíram. Só tenho futuro e o que perdi da pretérita loucura
foi tão somente má gestão de divergências e contradições ou intermináveis
procrastinações do ajuste de conta nada plausível. Tudo, afinal, serviu de
pretexto para o que podia vir a ser do que ficou congelado ou se pareceu
estático. O que sei, tudo está sempre adiante e lá voo eu com o dito dos
Evenkis: Sou a soma de toda peregrinação.
Sou todos os lugares por onde andei. O mundo é dos que sangram.
DOIS: DIÁRIO DE UM BECO DO MUNDO - Imagem: Cabide, da premiada artista plástica, cenógrafa e professora, Nina Moraes e Castro Santos & ao
som dos Cantos de la Creación de la
Tierra (1972), da compositora colombiana Jacqueline Nova
Sondag
(1935–1975), realizada nos laboratórios de acústica da Universidad Nacional de Buenos Aires, dirigido por Francisco Kropfl. - Não olvidei de nada. O que aprendi ou não,
está valendo: da Terra as minhas entranhas. No mundo só, sou irreconhecível.
Apostei todas as fichas com minha rouquidão e estiquei a corda para ir além do
que me fosse permitido. Nunca calei a boca mesmo que ameaçassem arrebentar a
cara e bastava virar as costas e sair para choverem injúrias, desdém,
cusparadas, repulsas e sarcasmos, brincadeiras de mau gosto e outras falsídias.
Antes de ficar cabisbaixo com tudo isso, ouvi da jornalista e escritora
estadunidense, Kathleen Norris
(1880-1966): A vida é mais simples do que
a gente pensa; basta aceitar o impossível, dispensar o indispensável e suportar
o intolerável. Aí esfreguei a nódoa de sangue no peito e juntei os restos
da esperança estilhaçada. Não finjo e creio às escuras e sem prumo enquanto
caretas díspares e antípodas se escondem pelas coxias do inconcebível
aniquilamento. O que se esgarçou e não era, tinha lá razões, não há como
escapar do silêncio profanado, a façanha da ousadia.
TRES: ELA, A REMISSÃO - Imagens da artista plástica portuguesa Angelina Silva, ao som da Symphonic Impressions nº 1 (1943/52), da
compositora galesa Grace
Williams (1906-1977), com a BBC National Orchestra of Wales, conducted by Owain Arwel Hughes. – O
sorriso contido dela com os seus esboços de arte erótica. Faz-se tímida, o
canto dos olhos e a ousadia. Tintas, desenhos. E ela é linda no
verão, sol nos ombros, o desejo da imensidão aos meus ouvidos e todas as
sombras fogem com nossos sonhos no meio do universo: minhas mãos e seus olhos
numinosos. Sou-me seu e a sua venustidade de nascença, a silhueta adornada e o
vestígio dos passos na sinuosidade do vestido. E eu tateio suas curvas, seus
mamilos suaves nos meus músculos, língua na pele para me dar a prece dos
precipícios de sua boca, enquanto alisa minhas costas adelgaçada ao istmo, com
seu cheiro de véspera no exercício hermenêutico do encontro e da entrega, a sua
fonte inesgotável a me lavar. Ouso recitar ao seu ouvido Rubén Darío: Quando você começa a amar, se você não amou, você saberá
que neste mundo é a maior e mais profunda dor ser feliz e infeliz. Corolário: o
amor é um abismo de luz e sombra, poesia e prosa, e onde a coisa mais cara é
feita que é rir e chorar ao mesmo tempo. O pior, o mais terrível, é que viver
sem isso é impossível. Tudo é a um só
momento e não há como evitar: não esquecer quem amamos na sede de amar. Nunca. Até
mais ver.
A ARTE DE YLANA QUEIROGA
Comecei a trabalhar como cantora muito cedo, participava de gravação de coros infantis para jingles e discos de diversos artistas, ganhei meu primeiro cachê aos 4 anos, mas não fazia ideia de que ali já começava a exercer uma “profissão”. Tudo foi acontecendo naturalmente, até que na adolescência comecei a entender que cantar era o que eu mais amava e queria fazer na vida e decidi realmente que seria cantora.
A arte da cantora e compositora Ylana
Queiroga, que já lançou os álbuns Joia
moderna (2013) e Vento (2017).
Veja mais aqui e aqui.