E O JEGUE DE PAUL VIROU PREFEITO! – Como? Ora. Uma tarde lá de
não sei quando, o jegue andava cabisbaixo: nenhuma lavadeira na beira dos rios,
nenhuma passante pela rodagem, chovia muito e ele estava entediado. Saiu ao léu
por aí e deu de cara com um mata-burro, o que o fez irritar-se e sair
contornando a cerca, praguejando ao seu modo, relinchado mudo, tropeçando umas
das patas num bule tampado imprestável e todo enferrujado. Pronto, só faltava
essa! Logo percebeu que ao dar topada no utensílio avariado, algo se mexeu
dentro dele. Ficou brincando alisando a pata de ficar entretido com o chiado que
emitia aquele objeto. Pensou do seu jeito: Que droga é nove, hem? Foi aí que
resolveu dar uma patada para espragatá-lo. Bufe. Ouviu-se um grito, ele deu uns
passos para traz e ficou assuntando o fumaceiro que cobriu tudo. Fez menção de
correr, mas acovardou-se, imóvel. De dentro daquilo saiu um preto velho todo esbaforido:
Eita, porra! E se limpava todo, se recompondo, ao conseguir se livrar da fumaça
e sujeira, logo dele se aproximou com afetuosa falação. Alisando-o e falando
coisa que ele sequer entendia. Teve uma hora que entendeu o velho perguntar se
queria ser que nem o Bode Frederiko.
Não lhe restava nada mais que balançar a cabeça. Foi aí que o preto velho
estalou os dedos e ele ouvia, entendia e até falava, ouvindo a pergunta: Qual o
seu primeiro desejo? Oxe! Logo assim? Bem, era falar, mas já que ganhei, quero
ser que nem gente. Zás. Lá estava ele nu e assustado. Vamos, diga o segundo
pedido! Quero ser que nem aqueles embecados cheios da grana e muitas posses. Trec!
Diga o terceiro e último pedido! Ah, quero ser o mais importante da redondeza. Zilapt!
Seja lá o que quiseres! Só tem uma coisa: se alguém lhe chamar de jegue, o encanto
se desfaz, viu? E o preto velho depois dessas palavras, soltou um traque e se
envultou. Eita! E agora? Como é o meu nome? Quem sou eu? Ah, serei que nem
aquele Paladino, esse o meu nome e vou ganhar o mundo. Assim desceu ele do
morro, todo abestalhado, deparou com um motorista todo nos trinques num
automóvel luxuoso, que lhe abriu a porta e o levou em direção à cidade que tão
bem conhecera. Agora era gente, ora, todo importante, impando, pabo. O chofer
foi logo explicando tintim por tintim. Como? Que ele ia para um comício onde
seria anunciado como prefeito da cidade! É? É. Gente como a praga. Logo o
recepcionaram com festa e o empurraram para o palanque, onde uma comitiva o
aplaudia e o mandavam falar no microfone. Ele não se esquivou, ajeitou-se todo,
confiante da grande obra do mágico idoso e danou-se a dizer coisa com nada e
peibufe etc e coisa e tal, aplaudido, ovacionado. O povo aos gritos: Já ganhou!
Já ganhou! E saiu dali carregado por todos e direto para o Palácio das Urtigas,
assumindo, imediatamente, a chefia do Executivo local. Só se ouvia o maior
foguetório! E já foi despachando e decidindo coisas e mandos, assinando aqui, despachando
ali, dinheiro praqui, ajeitado dali, isso sim, isso não, traga já, leve lá, tome
e me dê, vá e volte, e virou a noite e dias seguidos, semanas inteiras sem
pregar o olho no mês corrido e ouviu um zoadeiro do lado de fora. Era a
população: Burro! Jumento! Muar! Fora! Ufa! E ele mandou arriar a lenha no povo
e comprou briga com todo mundo, que
porra é essa? Ora, mas se! Vou arrombar com tudo! E lascou, mesmo. O tempo
fechou, um ano atrás do outro, meteu as mãos pelas patas, quebrou galho e o
enterro voltou, virou a casaca e se desenturmou, entupiu mal-entendidos,
aumentou escaramuças, deu o creu e o negócio pocou, até que o motorista entrou de
repente e às carreiras gritando: Ô jegue desgraçado, toma tento! Já era tarde! Voltou
a ser, pura e simplesmente, o Jegue dePaul, nada mais, acabou-se o que era doce. Ele de si para consigo: Taí! Isso
é uma porqueira, só poderia acontecer comigo mesmo, só podia... Era uma vez... ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] O
homem exige, em sua arrogância, ser amado como é, e se recusa mesmo a impedir o
desenvolvimento das mais tristes distorções do corpo humano que podem ofender a
sensibilidade estética de sua mulher. A mulher, por outro lado, não pode se
contentar com saúde e agilidade: precisa fazer exorbitantes esforços para
parecer algo que nunca poderia existir sem uma diligente perversão da natureza.
É demais pedir que seja poupada às mulheres a luta diária por uma beleza
super-humana a fim de oferecê-la às carícias de um companheiro sub-humanamente
feio? Considera-se que as mulheres nunca ficam enojadas. O triste fato é que
ficam muitas vezes, mas não com os homens; seguindo a orientação dos homens,
ficam na maioria das vezes enojadas consigo mesmas. [...]. Trecho extraído
da obra A mulher eunuco (Artenova, 1987),
da escritora australiana Germaine Greer,
que em outra de sua obra, A mulher
inteira (Record, 2001), expressou que: [...] As mulheres sempre fizeram o trabalho de merda; agora que o único
trabalho que há é esse, os homens estão desempregados. O trabalho que não é de
merda vai se tornar de merda se as mulheres passarem a fazê-lo. O prestígio e o
poder esvaíram-se das profissões quando as mulheres ingressaram nelas. Ensinar
já é quase extremamente inferior; a medicina está escorregando rápido para o
fundo. [...]. Veja mais aqui.
A POESIA DE ADA
NEGRI
AQUELE QUE PASSA: O desconhecido que passa e te acha ainda
digna de uma fugidia palavra de desejo, / Talvez porque na sombra da noite tão
doce de Maio / Ainda resplendem teus olhos, ainda tem vinte anos a ligeira
figura deslizante, / Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada, em
plena e soberba delícia de amor, / E em ti não há membro nem ponta de carne ou
átomo de alma que não tenha uma marca de amor. / Que tu viveste apenas para
amar aquele que te amava, / E nem que quisesses podias arrancar de ti essa
veste que o amor teceu. / Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem,
saúda a graça do deus: / Respira, passando, em ti já não bela, em ti já não
jovem, o aroma precioso do deus: / Só porque o levas contigo, doce relíquia à
sombra de um sacrário.
ADA NEGRI - A poesia da poeta italiana Ada Negri (1870—1945)
, que é lembrada por ser a primeira e única mulher a ser admitida na Accademia
d’Itália.
&
DOIS POEMAS DE HANG FERRERO
ROCK BAR: sobre a
superfície fria / as lágrimas brilhantes / dos motivos servidos à mesa / em ”
prantos quentes ” / e pratos e ransos e odores / e menus superficiais /
flambados ao álcool / maciçamente ” depreciados ” / pelas sensações do instante
/ do segundo instante / as fotos a estante / e o ar ao ” raro efeito ” / e a
voz que diz : ” bem feito ” / ao plexo em stand by.
A LENDA DO AEDO: se nem
classificado / como vivo, o era / e em post mortem / espelhou a ira, / que
subiu a sua cara. / contando histórias / de segunda / e suando bicas / nos
poemas, / relinchando e / crispando / a própria a crina. / canhestro! / ocre
nas pupilas, / tato refutado, / sobrancelhas traiçoeiras, / cuspiu de canto o
bardo. / até que à plateia; / a Morte / encontrou a Vida. / e foi assim, que / completou
a frase / que há tanto procurara. / e ainda que gostasse / e
castigasse como / um “vuduísta”, / a Morte encontrou / a Vida e; se perfumou. /
bem vigarista!
HANG FERRERO – O poeta e produtor
cultural Hang Ferrero é autor dos
livros Aos Pés do Monte Mor(poesia, 2013) e
Código 1 - Crônicas de Plantão (2016). É co-fundador e coordenador do
Grupo de Escritores Verbo e Maresia (2014), apresentador do Festival 6
Continentes (o maior Festival de Artes Integradas de Língua Lusófona do Mundo -
2015, 2016, 2017, 2018 e 2019), fundador da Academia Mirim de Letras da ALBSC
Seccional Itajaí/SC – 2017, membro Correspondente Internacional da Academia de
Letras do Brasil/Suíça – 2018, membro Imortal da Academia de Letras de
Balneário Camboriú – 2018, criador do projeto Casa de Ferrero, Espetos de Pau, que consiste em declamar poemas
autorais com recursos do Spoken Word (poesia falada) e visuais, além da música
conceitual (acompanhado por DJ). Veja mais aqui & aqui.
A ARTE DE AL RIO
A arte do desenhista e quadrinista Al Rio (Alvaro
Araújo Lourenço do Rio - 1962-2012), que realizou trabalhos com personagens icônicos e
tornou-se mais conhecido por desenhar personagens
femininas sensuais, desde o seu primeiro trabalho Gen 13, até trabalhar
com grandes nomes dos quadrinhos, como o aclamado Alan Moore na revista Voodoo.
Veja mais aqui e aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
A música
de Armando Lobo aqui.
Tempo de Pernambuco – ensaios críticos, do advogado, crítico literário, tradutor e escritor Oscar
Mendes (1902-1983) aqui.
A arte visual de Fernando Duarte aqui.
A imagem e seus labirintos: o cinema
clandestino do Recife 1930-1964.
de Paulo Carneiro da Cunha Filho aqui.
A Estação do bem do imaginauta
Ghustavo Távora aqui.
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