
DITOS & DESDITOS:
[...] aquela graciosa figura que sobressaía das outras mulheres, como se ela
fosse uma fidalga menina de paço,
ali encontrada, não sabia por que espécie de acontecimento. Até o vestido era
diferente. Enquanto tôdas as outras usavam saias de algodão e corpetes soltos,
também de algodão, Margarida estava
com uma linda blusa de sêda, e uma saia de chamalote. Além disso, trazia jóias, brincos, colares e o cabelo
louro penteado irrepreensivelmente. Parecia injusto ver, na mesma
fazenda, uma tão chocante regalia de luxo. [...] enquanto falava as cunhadas a olhavam com interesse e uma espécie de
ternura, como se fosse o orgulho de todas. [...] Eu não sou filha de minha mãe no sacrifício. Vá vosmecê escarafunchar
na cozinha, no quintal e aí por fora, que há de ver nosso sangue misturado aos
desses macacos. [...] Vosmecê não se impressione mal com Rosália.
Tem língua solta, foi mal educada e mimada por todas nós. Eu lhe deveria ter,
como mana velha, aplicado a palmatória, mas nem Mãe Cândida a corrige. E o
resultado é este: uma menina sem modos, dizendo toda espécie de
inconveniências. Eu lhe peço Cristina. Não dê trela para suas conversas e, como
pessoa mais velha, a censure e a corrija quando for oportuno. [...] Leonel olhou atentamente Isabel, naquela sua
mistura de mulher e de homem. Os pés sujos de pó, calçavam grosseiras
sandálias. As mãos estavam cheias de terra, na ponta das unhas. E, no entanto,
o rosto de Isabel, com fiapos de cabelo arrebentado caindo pela testa, era o de
uma criança pálida e talvez doente [...] Doença de mulher é coisa que não conta. Quantas vezes eu já me senti
indisposta? Só que não bambeei como desta. Tive força e acompanhei vosmecê. Mas isso não vai se repetir.
[...] Triste amor – se é que aquilo
pudesse ter um nome assim bendito. Sempre Cristina ouvira falar em almas que se
compreendiam, quando se desentendiam os corpos. Ali mesmo, naquela terra tão
nova, não conhecera já tantos casos em que as mulheres abnegadamente criavam os
filhos de seus maridos – os filhos da depravação ou da lonjura dos matos? Esses
eram o casamento das almas. E o seu? Haveria então outra história igual a sua?
[...] Pela manhã, moradores do arraial
chegavam, medrosos, às proximidades do capão de mato. À noite ainda ouviram
gemidos, uns débeis gemidos, mas agora se via – estavam todos mortos. Mulheres
se abraçavam aos maridos e tinham crises violentas de choro. Um habitante teve
tanta emoção, que saiu a correr, endoidecido, ao ver aquêle amontoado da
monstruosa matança. [...].
Trechos
extraídos da obra A muralha (José
Olympio, 1956), da escritora Dinah
Silveira de Queiroz (1911-1982). Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE EUGENIA LOLI
A arte da artista grega Eugenia Loli.
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O qaue é isso o
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