terça-feira, novembro 27, 2018

TRISTAN BERNARD, GUERRA-PEIXE, MERVE OZASLAN & MOSTRA SURURU DE CINEMA ALAGOANO


O AMOR DE ZINHAZINHA & CALANGUINHO ZÉ – Imagem: arte do fotógrafo e artista visual Merve Ozaslan. - Não fosse o embuchamento de Bezinha de Carrinho Calango e o de Nega Conça e João Buchudo, não haveria compadrio mais estreito, daqueles tipo fábula de La Fontaine: juntos prosperavam. A prenhez de ambas levou ao pacto de que seguiriam ali, haja o que houvesse, para sempre, encangados um no outro. E selaram com um peido quádruplo. As mulheres refugaram: Não pode haver outro jeito? Não. E foi: poin, poin... poin... e.. poin. É que Bezinha quase caga fora do caco, não esperava a bosta pronta pra sair naquela hora. O acordo mútuo só não rebentou na mesma hora, por causa do vexame de Calanguinho Zé nascer quase antes do tempo, por conta de uma escapulida de um pum fora de hora da mãe, de agilizar o parto e o menino sair quase melado de merda com um berreiro maior do que aquelas igrejas de crentes que pensam que Deus é surdo, pense no maior zoadeiro. Não demorou muito e Zefinhazinhazinha abria a porteira do mundo depois de uma ajeitada nas pregas do cu, pra lançar uma menina ao coro ao avexado, numa felicidade geral. Com o passar do tempo ninguém nem mais sabia quem era filho de quem, o casalzinho de filhos pra lá e pra cá, tudo tratado como se tivesse dupla paternidade e quase se tornavam siameses de tão unidos que eram. Brincavam, comiam, aprontavam, largavam peidação e só não adolesceram juntos, porque João Buchudo teve que mudar de cidade, levando a mulher e a filha na cacunda peidorrenta. A tragédia não foi maior porque se prometeram visitas mútuas de tempos em tempos, o que não se deu devido situação periclitante que ficaram depois da separação: fedidos juntos não precisavam de mais ninguém. Anos se passaram e Calanguinho Zé já rapaz quase homem feito, topou com aquela que buliu no seu coração, assim do nada. Quem seria? Ela também ao vê-lo sentiu que as coisas iam mais pra desmantelo que para simples saudação, e de lá ficou naquele pisca-pisca olha-não-olha. Ambos tímidos, não saíram do lugar. Foi preciso um incidente para que se aproximassem. Ele: Que coisa, né? Ela: É. Que terá sido? Quem sabe. Será que vai dar certo? Sei não, tomara. E assim ficaram bom tempo, até a hora um gás surgiu assim inadvertidamente. Hum? Nem ele nem ola ousou acusar um ao outro, mas logo se identificaram. Ambos sem jeito, resolveram ir embora, despedindo-se. Você vem amanhã por aqui? Pode ser. Na mesma hora? Sim. Tá certo. No dia seguinte, lá estavam. Não tinham o que dizer, ela tomou a dianteira: Você veio pela estrada ou pelo atalho? Pelo atalho. Viu um tolote raçudo na curva do pé de abacate? Vi, caprichado, hem? Fui eu. Mesmo? Sim. Menina, você é corajosa de botar um daquele, quase não acredito. Quer apostar quem faz maior de nós dois? Vixe! Agora? Agorinha, ora. Onde? Vamos pegar o atalho de volta. Só se for agora. E foram. Chegando no local combinado, ela disse: Comece. Ah, ele se servia da ética profissional: Primeiro, as damas. Com todo prazer. Ela acocorou-se, ajeitou a saia pra que não visse o que fazia e dali a pouco a inhaca comeu no centro. Ao levantar-se, disse: Pronto! Inacreditável! Faça melhor. Agora? Vá, mande ver. Assim? Ora. Calanguinho não teve dúvidas, arriou as calças, fechou os olhos, fez força e deu um estalo: poin. Menino, cê tá podre! O seu não foi nada cheiroso, menina. E se riram. Conferiram, o dela era mais compacto, o dele meio espalhado. Pra tirar a dúvida, apostaram no número de flatulências. Ah é? Vamos? Era só tocar no bucho e tome borborigmos: A gente vai terminar envenenando o ar, hem? Destá. Na risadagem se conheceram melhor: Sou Calanguinho Zé e você? Sou Zefinhazinha, pode me chamar de Zinhazinha. Filha de João Buchudo e Nega Conça? Sim. Sou Calanguinho de Bezinha e Carrinho! É mesmo? Quanto tempo, hem? A gente é quase irmão! E saíram com o peidorreiro rua acima, vila abaixo, até encontrarem os pais dele, darem as novas e reatarem a amizade de antes, afinal compadres da família. Eles não ligavam a mínima em queimar a reputação por conta das suas brincadeiras. Foram até os pais dela e no meio do caminho, bastou soar a campainha, ela desoprimia o peito e poin. Ele não ficava por baixo, levantava a perna esquerda e soltava o traque. Quando não, apostavam no meio do caminho no quem é quem. Aí paravam numa bodega qualquer, se fartavam duma dieta arretada e fechavam com a ingestão de pimenta malagueta para o maior baile. Se há uma coisa que apreciavam era um se amostrar pro outro. E pegaram a estrada ensaiando umas bufas. Ela recomendou: Não se deve passar fósforos nos pés de quem tem cócegas. E se riam, chegou a hora da aposta e totalmente triunfante ela soltou o gás: Eita, cagou! Nada, sua vez. E lá vinha a bombacha: toin. Lascou-se. Nada. E ficaram poin toin até se esvaírem juntos cu ardendo na bacia d’água fria. Ela olhou pra ele e disse: suas pernas são zambetas. E ele que as dela eram cambitos. Vamos nessa? Vamos. Ela levava a mão ao ventre, encarcava do estômago estremecer, fazia força na alavanca da tripa gaiteira e tome rajada. Ele levantava a perna direita e tome trovão. Ela rebolava os quadris e: Vixe, melei a calcinha. Ele empinou a bunda: oxe, tá na cueca. Findavam lívidos, olho no outro: coisas tristes não devem ser pensadas – e sorriam. Vamos aguar as plantas? A maior risadagem. Quem se habilita? Ele abriu o zíper da calça e mandou ver na mijada. Ela admirando o pênis dele disse: Bonito pau, mas ganho docê. Ajeitou a calcinha de lado, espremeu o bico da vagina e lançou um jato mais longe que o dele. Danou-se! Ele ficou abestalhado e ela com aquele esgar irônico, sapecava: Quem é capaz de beber o próprio mijo, desafiou. Como ele não era adepto da urinoterapia, abriu do pau com um peraí e ela se ria: Deixe de leseira. Tenha fé, não vamos estragar. E se abraçaram pela primeira vez, exultantes, deixando no ar aquela catinga nauseante, até perderem os sentidos numa capoeira: já não são tão bons quanto imaginavam que fossem, desfaleceram. Eram mesmo uns peidões sob qualquer ponte de vista. E assim foram felizes para sempre, pelo menos até agora, né? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Conheci em Londres, dois destes gêmeos ligados, chamados comumente de irmãos siameses e denominados cientificamente de xifópagos. Edward-Edmond possuíam fortuna considerável, o que os dispensava de exibir-se como fenômenos. [...] Na adolescência, se pareciam de maneira extraordinária, a tal ponto que as pessoas, que não diferençavam a sua esquerda de sua direita, não conseguiam distingui-los. Porém, com o advento da idade, surgiram entre eles, diferenças morais, muito profundas. Edward era dado aos estudos e tinha pontos de vista severos, ao passo de Edmond tinha instinto plebeu. [...] Edward fez-se erudito conhecido. Mas não podia ser convidado frequentemente a banquetes de sociedades cientificas, pois o inconveniente Edmond, a partir da sopa, principiava a contar histórias obscenas, que as pessoas decentes reservam, em geral, para a sobremesa. No ano passado Edward pediu a mão de uma jovem bela e rica. O matrimonio realizou-se com grandes pompas. Não houve outra solução senão convidar Edmond, que, aliás, se portou bastante bem a cerimonia. Teve a impressão de que a cunhada o intimidava ligeiramente. No cortejo nupcial, a esposa de Edward, o dito Edward, Edmond e sua dama de honra, desfilaram, os quatro em fila, em meio a admiração geral. Edmond na noite de núpcias, foi muito delicado e discreto. Adormeceu antes que os outros e, na manhã seguinte, aparentou despertar muito tarde. Durante a lua de mel de seu irmão, bebeu com menos frequência, cuidou do vocabulário e vestiu-se decentemente, pois que deveria sair em companhia de uma senhora. A jovem esposa – já lhes disse que se chamava Cecily? – exercia enorme influência sobre Edmond. Ao fim de certo tempo, aconteceu, o que acontece muito a miúdo, quando se introduz um rapaz solteiro em seu lar. Cecily e o pérfido Edmond encetaram relações culposas. Durante seis meses, Edward de nada se apercebeu. Porém, tudo se acaba por saber. Edward encontrou, em uma caixa mal fechada, umas cartas e soube de maneira insofismável que sua mulher e seu irmão o traíam diariamente. Que partido tomar? Bater-se em duelo com Edmond, seria entrar em conflito com os costumes ingleses. Temia também as soporíferas discussões dos padrinhos. O duelo, com pistolas, resultaria impossível, bem como o com espadas, dada a proibição do corpo a corpo. Além do mais que sucederia se matasse o irmão? Poderia continuar a vida em comum com sua mulher? Sempre haveria um cadáver entre eles! Chamou Cecily. – A partir de hoje – disse-lhe – não mais profanarás o domicilio conjugal. Vai-te. – Está nem – disse ela. - Está bem – disse Edmond – eu a acompanho. O marido não teve outro remédio que segui-los. Edmond instalou Cecily num apartamento deveras confortável. E, como entre xifópagos, tudo termina por acomodar-se, os três viveram muito felizes.
Trechos do conto História de dois irmãos siameses (Cultrix, 1969), do dramaturgo, novelista, jornalista e advogado francês Tristan Bernard (pseudônimo de Paul Bernard, 1866-1947).

A ARTE DE MERVE OZASLAN
A arte do fotógrafo e artista visual Merve Ozaslan.

AGENDA:
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RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música do compositor, arranjador e estudioso César Guerra-Peixe (1914-1993): Sinfonia Brasilia, A retirada da Laguna, Suíte Pernambucana & Luis Gonzaga Sinfônico & muito mais nos mais de 2 milhões & 900 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja aqui, aqui e aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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