
DITOS & DESDITOS:
[...] As coisas
foram indo de pior em pior à medida que os anos matrimoniais passavam; um
temperamento azedo não se edulcora com a idade, e lingua afiada é o único
instrumento de corte que não fica embotado com o uso. Por longo tempo Rip consolou-se,
quando posto fora de casa, com uma espécie de clube de sábios, filósofos e
outros vadios da cidade [...] O pobre
Rip já estava quase deduzido ao desespero; seu único recurso para escapar ao
trabalho da horta e às celeumas da esposa reduziu-se a passar a mão na
espingarda e afundar na floresta. [...] Num
desses passeios pela floresta, por um belo dia outono, Rip distraidamente
alcançou um dos pontos mais altos da Kaatskill. [...] Começou a descer, súbito, uma voz, longe: “Rip van Winkle! Rip van Winkle!”.
Ele olhou em torno e nada viu além dum corvo solitário a riscar o céu.
[...] surpreendeu-se de dar com um ser
humano ali naquele deserto; mas imaginando que alguém morador das vizinhanças
necessitado de assistência, foi-lhe depressa ao encontro. [...] Trazia ao ombro um pesado barrilete [...]
Rip assentiu, com a sua habitual bonomia; e revezando-se, os dois se foram de
barrilete às costas. [...] Ao verem
chegar o companheiro com aquele desconhecido, largaram do jogo e puseram-se a
olhar para Rip com tanta fixidez de estátua e tais caras que o coração deste
conturbou-se e seus joelhos flectiram. O homem do barrilete despejou o conteudo
em várias pichorras e fez-lhe sinal para que servisse aos homens. Rip, a temer,
obedeceu em silêncio; e no maior silêncio os jogadores emborcaram as pichorras,
voltando em seguida ao jogo. Aos poucos for amortecendo em Rip o medo. Chegou
até a provar da bebida [...] E tantos
goles repetiu que a tonteira veio, os olhos turvaram-se-lhe, a cabeça foi
descaindo – e afinal desabou por terra, tomado de profundo sono. Quando
acordou, viu-se no ponto de onde pela primeira vez vira o homem do barrilete
[...] a pichorra... “Oh, aquela pichorra,
aquela maldita pichorra!”, pensou Rip. “Que desculpa irei dar a Dame van
Winkle?” [...] O nome da criança e
mais o tom da voz e o ar da mãe buliram com as memórias de van Winkle. – Como é
o seu nome, moça bonita? Perguntou ele. – Judith Gardenter. – E quem era seu
pai? – Ah, coitado! Chamava-se Rip van Winkle, mas há vinte anos que saiu de casa
com a caçadeira e nunca mais voltou; o cachorro reapareceu sozinho; mas se ele
suicidou-se no mato ou foi levado pelos indios, ninguém sabe. Eu era tão
pequenitota. [...] Um orvalho de
alivio caiu afinal na alma de van Winkle, e o pobre homem não pôde conter-se
mais tempo. Abriu os braços para a filha e o netinho choramingão, exclamando: -
Sou teu pai, minha filha! [...] Trechos do conto Rip van Winkle (Ridel, 2007), do escritor, biografo, ensaista,
historiador e diplomata estadunidense Washington Irving (1783-1859). Veja mais aqui.
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