
DITOS & DESDITOS:
Convidaram-me a falar sobre a educação em face da guerra. Eis aí um
grave problema. Antes de mais nada, os dois termos parecem repelir-se. Uma educação
ideal importaria na eliminação da guerra como meio de solução do choque de
interesses entre os homens. Uma guerra total, por sua vez, importaria no fim do
trabalho educativo do homem. Entretanto, paradoxalmente, vemos que educação e
guerra também se conciliam e que há mesmo, elaborada pelos regimes fascistas,
uma “educação para a guerra”, monstruosa e implacável, como também, por outro
lado, a guerra introduz nos sistemas normais de educação câmbios violentos e
profundos. Dessa educação
para a guerra seria pouco todo o mal que se dissesse. A criança submetida a um
treinamento moral e psicológico para o ódio é, sem dúvida, o mais triste
exemplar humano. E é com o coração encharcado de horror e piedade que pensamos
nesse menino alemão, nascido de 1933, para cá, e destinado a aprender uma
gramática, uma filosofia, uma poesia, uma arte preconceituosas, agressivas e
totalitárias. Mas já que essa educação existe e produz os seus frutos cruéis,
força é enfrentá-la, neutralizá-la, anulá-la. Não por uma contra-educação igualmente tendenciosa e dirigida. Mas sim
por uma educação natural, a pura e desinteressada educação do espírito,
destinada a formar homens de boa vontade e calma coragem, não autômatos ou
possessos. A guerra que o facismo espalhou pelo mundo impõe-nos, assim, uma
tarefa: a de restaurar a educação nos princípios básicos de que se haja
afastado; e de cultivá-la na parte em que se haja mantido fiel a esses princípios.
Ao lado dos problemas militares, econômicos e políticos que dizem respeito à
organização e à movimentação da guerra, devemos cuidar de estabelecer normas
educativas que importem na saúde moral e mental da criança e do jovem. E é
voltando às letras clássicas, às boas e esquecidas humanidades [...] restituiu ao nosso currículo secundário, e
temperando-as com gosto da pesquisa e o sentimento da vida moderna; é mantendo
a tradição do espírito com as ferocidades do mito racial e político, é, em suma
“cultivando o nosso jardim”, como queria o mestre francês, que prepararemos
gerações mais felizes e menos susceptíveis da embriaguez pela guerra, mas
realmente dispostas a fazer essa guerra quando periclitem os valores humanos. Cultivemos
o nosso jardim, e que esse jardim seja espaçoso e nele caibam todas as espécies
dignas de ser contempladas, como todos os encantos que se dirigem ao melhor da
nossa sensibilidade e de nossa inteligência. Não deixemos que o animal feroz do
nazismo invada esse horto sereno. Eis aí, em linguagem figurada, mas que pode
ser facilmente transcrita para termos reais, o dever que incumbe hoje
primacialmente ao educador. Mesmo não pegando em armas ele pode trazer uma
contribuição inestimável à luta que todos os países livres hoje desenvolvem
contra os países de rapina e destruição. Que o educador prepare homens livres,
e a liberdade reinará no mundo.
A educação em face da guerra, do poeta, contista
e cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), extraído da obra Drummond, testemunho da experiência humana
(Abravídeo, 2011), de João Camilo Penna. Veja mais aqui.
A ARTE DE TATIANA MÓES
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