O VOO DA CIDADE –
Imagem: arte do artista mexicano Ricardo Fernandez Ortega. - A cidade
virou um caos. Há muito Alagoinhanduba não mergulhava numa situação tão
desordenada. Nem por mais de mil anos se viu tantos Tântalos carregando nos
bolsos os manjares divinos para exclusividade sua, quantas Quelones que zanzam
sem ter pra onde, Sísifos que vão e voltam de seus afazeres rotineiros, Erisictãos
insaciáveis a se arrastarem abocanhando o passeio público, Prometeus escravizados
cumprindo sua sina, Íxions impunes que nem sabem da roda da justiça tardia, Danaides
na passarela de todas as ruas, procissões de Atlas pigmeus e Aloidas com todas
as loucuras do mundo nos ombros, Medusas saídas dos cabeleireiros para seduzir
os desavisados, Heracles com seus labores sucumbentes na vingança dos seus
algozes, e se quer ver o primeiro da fila, na certa, será o último visível,
porque já vem o segundo com a alma dos poetas em vulcões e cemitérios eclodindo
dos seus delírios, e já vem os terceiros com suas verdades cruéis na balada e a
balança de Têmis e os tombos de todas as leis exigíveis de serem cumpridas ao
pé da letra e morrem ao serem mencionadas, dando vez a tantas outras nos
calhamaços das jurisprudências. A cidade submerge a tudo isso e lembro bem o
que Deus disse à minha alma numa noite de Sol da eternidade. Não esqueci
precavido e todos passam, até aquela doida que passava cantarolando, levantando
a saia, mostrando os seios da blusa qual laço para cativar quem quiser e vida
aos ventos, braços soltos, mãos que falam dos olhos de uma tal Maria que
endoideceu de mal de amor e segue amorante quase despercebida no meio da enxurrada
de gente perdida na chuva dos desejos díspares, para aguçar as ideias turvas da
libido, como se todos fossem aeroplanos sem campo de pouso nas mil e uma noites
de Alagoinhanduba. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
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DITOS & DESDITOS:
A
Crueldade tem um coração humano,
E o
Ciúme um rosto humano;
O Terror
é a divina forma humana,
e o
Mistério a humana roupagem.
O
vestido humano é ferro forjado,
A forma
humana é uma forja ardente,
O rosto
humano uma forja selada,
O
coração humano seu abismo voraz.
Ao Perdão, Piedade, Paz e Amor,
Todos clamam na aflição:
E para essas virtudes prazerosas
Afirmam sua gratidão.
Pois Perdão, Piedade, Paz e Amor,
É Deus nosso Pai querido:
E Perdão, Piedade, Paz e Amor,
É o homem, seu filho, a quem cuida.
Que o Perdão tem um coração humano,
A Piedade, uma face humana,
E o Amor uma forma divina,
E a Paz, os trajes humanos.
Então todo homem em todo lugar,
Que ora em sua tristeza,
Está orando à forma humana divina.
Perdão, Piedade, Paz e Amor.
E todos devem amar a forma humana,
Seja em pagãos, turcos ou judeus.
Pois onde Perdão, Piedade, Paz e Amor habitam,
Deus reside ali, também.
Poema Uma
Imagem Divina, extraído da obra Canções da inocência e da experiência (Disal,
2005), do poeta, tipógrafo e pintor inglês William Blake (1757-1827).
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A ARTE
DE RICARDO FERNANDEZ ORTEGA
A arte do artista mexicano Ricardo Fernandez Ortega.
AGENDA:
Semana de Arte
Contemporânea – de 7 a 13 de setembro de 2019, no Recife & muito mais na Agenda aqui.
&
Conversa mole de Fabos, Jacques Derrida, Yes, Os índios de Orlando Villas-Bôas, A desumanização
de Valter Hugo Mãe, Marília Garcia, Ana Lira, Mónica Beatriz Cragnolini, David
Rowe & Gameleira aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
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