A ESCRITURA DO
VISINVISÍVEL – A arte do pintor
ucraniano Arthur Braginsky. – O
que vejo a lágrima embaça porque tudo é muito adverso e aversivo, quantas
turbulências de ânimo para sucumbir às chateações dos que querem por que
querem, dos que se acham donos do mundo, as arengas pelos
esconderijos familiares, entre conhecidos como rejeitado, a quem recorrer
diante de tantas ciladas: extraio a flor dos meus infernos, sorvo meu próprio
veneno, a culpa é minha, somente minha! Transito o centro da gravidade: todos
os destroços em minha direção, atraio toda sorte bregueços antipáticos, sou
soterrado por meus próprios desvarios, fracassos, idiosincrasias: punhais que
golpeiam da aurora ao crepúsculo. Resto-me em remendos os quais me desfaço em
trapos: a mendicância é o meu auto-retrato, meu flagelo, sou desordenado porque
revelei apenas umbigo, sobram-me ruínas e de que fui burlado desde sempre. As pálpebras
pesam as sombras que me assombram, poemas se dissolvem nas pulsações e eu traço
tudo que me surge e não pretendo sequer negar o indesejável, vela ao vento, sem
remo, âncoras, tudo está no código das coisas, e se de outra coisa tampouco
seja qualquer uma ou nenhuma, pra mim opinião alguma ou juízo de valor jamais,
melhor brincar de cabra cega para descobrir amanhã e me divertir com meu
esforço de nada e o meu esboço de mundo que não é nada se esvai aos garranchos e
guardo nas mãos o significado de tudo. Sigo distribuindo acenos e afetos,
beijabraços. Valho-me do oxigênio dos vegentais, sou mais canhestra que
presumo, apenas dois dedos de altura e dissidente de minha própria inutilidade,
de qualquer maneira ao deus-dará. E o que se passa comigo pouco importa, o que
penso estraga a surpresa, jogo-me e tudo tem seu limite, menos eu, que morro e
renasço a cada instante, e se não vi ou vivo nada igual, permito-me dizer o que
nunca fora ou o que já não seja tarde demais pra desvaloirizar o preço de nada,
abandonado sem despedida, como se jogado na lata de lixo, pra viver na sarjeta
e saber o oco mútuo, via de regra pronto pra devorar os tabus e andando e
desandando e deixando passar o infinito até que tudo seja um dia revelado e
descoberto dos tremores da Terra e cada um, de dois em dois, de três em três,
ou muitos tremores mais temores e se tenho cada aprendizado na ponta da língua
ou dos dedos, erro de mim bem mais que caminho ido, corrido e batido que saiu
do lugar e hoje nem sei por onde vai. Lembranças quase muitas esborram mais que
esquecimento, é triste perder a memória ou não existir mais na memória dos
outros, pros que jogado na vala abandonado, insepulto, como dejeto, coisa de
quem cai do afeto pra nunca mais. Ontem era tudo vivo, hoje não mais, a morte
ronda, já nem o menino escapa, filho que se foi e teimo em viver, persevero e
sou-me embaixo do travesseiro olhos acesos para prosseguir firme ao amanhecer. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a cantora Flora Purim & músicas dos seus principais álbuns como Stories to Tell (1974), Butterfly Dreams (1973), MPM (1964), Encounter (1976), Open your eyes can fly (1976), & show ao vivo com Airto Moreira no Ohne Filter, entre outros. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a cantora Flora Purim & músicas dos seus principais álbuns como Stories to Tell (1974), Butterfly Dreams (1973), MPM (1964), Encounter (1976), Open your eyes can fly (1976), & show ao vivo com Airto Moreira no Ohne Filter, entre outros. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Temos
guardado um silêncio bastante parecido com a estupidez [...], trecho da Proclamação
Insurrecional da Junta Tuitiva na cidade de La Paz, em 16 de julho de 1809,
extraído da obra As veias abertas da
América Latina (Paz e Terra, 1979), do
jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015). Veja mais aqui.
RESILIÊNCIA
– [...] Como uma planta vivaz, a
resiliênci apode se desenvolver. Ela depende de vários fatores que estão
frequentemente reunidos numa conjunção de acontecimentos e encontros, que
parecem depender daquilo que chamamos de acaso. Em função desses encontros, de
uma disposição interna e de acontecimentos particulares, a trajetória de vida
de um ser humano pode ser profundamente modificada. [...] Na trajetória da resiliência, há
frequentemente uma oportunidade fugidia e imprevisível, uma chance que pode ser
aproveitada, mas não provicada, e que a capacidade de ter esperança de querer
seguir em frente permite perceber em meio às provações da vida [...].
Trechos extraídos da obra A resiliência: a arte de dar
a volta por cima (Vozes, 2007), de Rosette Poletti e Barbara Dobbs,
considerando que a resiliência é a capacidade de manter-se, de 'proteger a
integridade sob fortes pressões', assim como fazem os heróis de tragédias
gregas, galãs da sétima arte, os líderes de empresas e chefes de exércitos: usam
as dificuldades como trampolim para se fortalecer e vencer na vida. Veja mais aqui e aqui.
QUIPAPÁ – A origem do nome Quipapá possui diversas versões,
entre elas, a de origem indígena dá conta de que se trata de uma planta
tupi-guarani, da família das cactáceas, o quipá. Que no plural seria
quipaquipá, resultando, por fim, em Quipapá que é a nomeação de umas das serras
e de um dos rios que circundam a localidade; a de origem africana oriunda da
palavra quipacá, significando asilo de fugitivos. Trata-se de um município que
teve origem com a povoação ao redor de uma capela na freguesia de Quipapá,
sendo desbravada por volta dos anos de 1630 a 1697, pelos negros foragidos que
faziam parte do Quilombo dos Palmares. Ergueu-se oficialmente entre 1795/96, com
a instalação da Fazenda das Panelas, sendo criado o distrito de Quipapá por
força da Lei Provincial 432, de 23 de junho de 1857, ficando submisso ao
município de Panelas. Alcançou a categoria de vila com a Lei Provincial 1402,
de 12 de maio de 1879, e instalada em 18 de julho de 1879. A ascensão ao
município ocorreu em 19 de maio de 1900, com a edição da Lei Estadual 432,
separando-se de Panelas, e ganhando o distrito de Pau Ferro pela Lei 54, de 23
de nobembro de 1905. Assim sendo, é constituído dos distritos sede, Barra de
Jangada, Jurema, Pau Ferro, Queimadas e São Benedito, onbde mais tarde o
distrito de Jurema é também elevado à categoria de município. Em 1938, atravé
do Decreto-lei nº 235, de 9 de dezembro de 1938, o
distrito de São Sebastião da Barra foi extinto, sendo seu território anexado ao
distrito de Quipapá e São Benedito, passando a ser constituído, a partir de
1939 até 1943, de quatro distritos: sede, Igarapeba, Pau Ferro e São Benedito. Em
1963, desmembra-se do município de Quipapá os distritos de Iraci e Igarapeba,
para formar o novo município de São Benedito do Sul, ex-Iraci. Neste sentido, a
divisão territorial de 31 de dezembro de 1963, consta o município constituído
apenas de 2 distritos: sede e Pau Ferro, até os dias atuais. O município está
situado na microregião da Zona da Mata Sul ou Mata Meridional pernambucana,
fazendo divisa com os municípios de Panelas, São Benedito do Sul, Jurema e
Canhotinho, municípios pernambucanos, e ainda Ibateguara e São José da Laje,
municípios alagoanos. Veja mais aqui.
SEGUIR POR SUAS PRÓPRIAS PERNAS – [...] somos
todos heróis ao nascer, quando enfrentamos uma tremenda transformação, tanto
psicológica quanto física, deixando a condição de criaturas aquáticas, vivendo
no fluido amniótico, para assumirmos, daí por diante, a condição de mamíferos
que respiram o oxigênio do ar e que, mais tarde, precisarão erguer-se sobre os
próprios pés [...]. Trechos extraídos da obra O poder do mito
(Palas Athena, 1990), do estudioso estadunidense de mitologia e religião
comparada Joseph Campbell (1904-1987). Veja mais aqui.
A MULHER QUE MORREU DUAS VEZES - [...] o enterro
pela rua abaixo rumo ao cemitério que ficava há uns bons par de caminho. Quando
de repente o Nhô Joaquim, que era quem estava na alça direita, trupica numa
pedra no meio do caminho, se desequilibra todo, fazendo com que os outros
carregadores do caixão perdessem o rebolado. E lá vai o caixão pro chão,
abrindo-se em seguida. E, para grande surpresa geral, a defunta tava viva. A
cumadi tinha sofrido nada mais nada menos do que a tal de catalepsia. Aquele
ataque onde a gente pensa que morreu mas não morreu. Surpresa e alegria, todos
correm com lençóis para cobrir a dita defunda e poupá-la desse choque de morta.
Levam-na pra casa e, à noite, foi uma grande festa de retorno, com direito à
banda de música, chope e outros bichos. Afunal, a cumadi tinha voltado a viver
noarraial do Pau Torto, junto com o cumpadi e para a alegria de todos. Passam-se
anos e mais anos até que um dia a nossa personagem morre de novo. Agora de
verdade. E lá vai o cortejo, rumo ao cemitério. Na alça esquerad, como da outra
vez, o pesaroso marido. Na alça direita, o mesmo cumpadi de fé, Nhô Joaquim. Ao
se aproximarem do mesmo lugar, onde o cumpadi Nhô Joaquim havia trupicado da
outra vez da catalepsia, que era onde tinha uma pedra com a ponta pra cima, o
marido olha de esguêio para o tal Nhô Joaquim e sentencia: Oh, cumpadi Joaquim!
Vê se dessa vez ocê óia onde pisa. Se ocê trupicá de novo, eu te arrebento! Extraído
da obra Contando causos (Nova
Alexandria, 2001), do músico, ator e apresentador de tevê, Rolando Boldrin. Veja mais aqui.
TEMA PARA UMA CANÇÃO LÍRICA - No verão dos
teus olhos não escondas / a água da praia, clara: / se ondulas e ondeias, tu és
onda / e, apenas onda, vagas. / Não magoas se feres como a lâmina / de uma
navalha aberta: / a onda que és é o dia que me chama / entre as brancas
cobertas. / Onda asstando a onda que nos cerca, / nos deixas fundas marcas: / a
pedra que o olhar afoga e onde começas, / a onda que a nós desgasta. / Tua onda
de andorinhas desmanchada / entre os alvos lençóis, / que constrói e desmancha,
onda, a abrasada / onda que abrasa a nós. Poema do livro A onda construída, extraído de Linha d’água (CEPE, 2007), do poeta Jaci Bezerra. Veja mais aqui e aqui.
"frexada" do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o que?
"táuba" de tiro ao "álvaro"
Não tem mais onde furar
Meu peito até
Parece sabe o que?
"táuba" de tiro ao "álvaro"
Não tem mais onde furar
Teu olhar mata mais
Do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que pexeira de baiano
Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóver
Mata mais
Que bala de revorver.
Música de Adoniran Barbosa & Oswaldo Molles (Fromatado Brasil/Seresta Edições Musicais), gravada pela imortal musestrela, Elis Regina (Elis, 1972).
Do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
Que pexeira de baiano
Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóver
Mata mais
Que bala de revorver.
Música de Adoniran Barbosa & Oswaldo Molles (Fromatado Brasil/Seresta Edições Musicais), gravada pela imortal musestrela, Elis Regina (Elis, 1972).
Veja mais:
A poesia de Paul Celan aqui.
O pensamento de Caio Prado Júnior aqui.
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