CONVERSA MOLE DE
FABOS – Imagem: arte da fotógrafa, artista visual e pesquisadora Ana Lira. - E aí, como é que vai? Morno, insosso. O que é que há? Ué,
o cabra dá um golpe e há mais de ano ele veio, todo jeitoso, vai mas num vai,
piscando o olho, botou uma e a gente ciscou, deu brabo e cedeu; botou duas, a
gente esperneou, reclamou e rendeu; botou três, a gente deu com a peste, maior
gritaria e no amansado ele botou a gente de quatro, porque daí em diante,
vicia, vai achando gostoso o fungado no cangote e o pau no furico vira consolo,
chega fica no bem-bom. Vôte, comigo não, Salomão! Oxe, menino, tudinho, tá todo
brasileiro enrabado e nem-nem, tudo fazendo cara feia, mas no pega-pra-capá,
quebra a munheca na posição do vencido pra levar mondrongo raçudo no procto e
seja lá o que Deus quiser! Tô fora, doido! Tá nada, você tá fudido e mal pago
feito ei e todo mundo, quer ver? Diga. Por acaso você tem onde buscar quando
falta? Você tem caixa dois pra se socorrer na hora do aperto? Tem sobra de campanha,
tem emendas parlamentares pra se aviar de conluios perdulários ou recebe
propina por debaixo dos panos? Por acaso você tem quem lhe defenda quando você
é pego com a boca na botija, todo esparramado na bosta fedida e com a mão na
massa sem ter como se livrar? Hômi, seu menino, num sou nem vereador e nem
botei nem quero botar a mãe na zona do baixo meretrício pra querer ser, Deus me
livre, não tenho coragem pra assumir uma de fdp, mas uma coisa eu lhe digo que
comigo é assim: tô no meu serviço, no batente todo santo dia, se num molhar
minha mão com algum extraordinário que seja, a coisa não anda não, emperra de
ficar parado que nem bosta n’água. Tá vendo, eu num disse? Disse o quê, homem
de Deus? Tal como os caboetas lá de Brasília é a gente aqui embaixo, a gente
não tem mesmo vergonha na cara. Como assim? Veja só: se a gente vende o voto,
os caras eleitos por aí vendem o dele e o da gente, se ajeitam, se arrumam e,
no final das contas, quem paga o pato mesmo? A gente! Isso mesmo, a gente paga
duas vezes e não tem razão se for reclamar porque já fez a merda antes, a
segunda já é meladeiro que, se quiser limpar, vai ter que botar a coragem em
dia e botar a coisa pra moer ao contrário, tem coragem? Rapaz, coragem tenho
sim, mas na horagá dá umas fraquezas, uns apertos que é melhor deixar pra amanhã,
a gente não tem uma coisa melhorzinha pra fazer não? Ah, tem sim: assistir
televisão, reclamar de tudo com o dedo enfiado no cu e ficar por isso mesmo,
que é que você acha? Hômi, isso é a coisa mais maior de bom, por acaso tem
jeito? Ter jeito tem, a coisa não nasceu assim pra morrer troncha e enfiada;
além do mais, quem quer faz, quem não quer manda ou passa procuração; então,
quem quer ver o barco virar pra salvar todo mundo tem que se arriscar a ter
sarna pra se coçar, encara? Ih, já tenho bronca demais, conta no fim do mês,
encheção de saco pra todo lado, oxe, mais uma eu emborco e o barco afunda de eu
quebrar na tora, além do mais não tenho vocação nenhuma pra virar Jesus e ficar
apregado por mais de dois mil anos na cruz, melhor eu me aquietar, né não? É,
já que tu não vai, também não vou mexer em vespeiro que não sou doido pra sair
por aí levando ferroada de maribondo azoado, vamos tomar uma? Vira, vira! Desce
uma meota aí que tô injuriado, cuspindo a do santo pra findar tudo na santa paz
de Deus. E vamos que vamos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
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aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a banda britânica de
rock progressivo Yes, formada por Jon
Anderson (vocal), Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarra), Alan White
(bateria), Rick Wakeman (teclados), Tony Kaye (teclados), Peter Banks
(guitarra) e Bill Bryford (bateria), com apresentações de concertos e shows ao
vivo. Para conferir é só ligar o som e
curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.
PERNSAMENTO DO DIA – Devemos pensar
continuamente no problema do outro e nas figuras de alteridade por excelência
que são, na minha opinião, o imigrante, a mulher, a criança e o animal. Pensamento
da filósofa argentina, Mónica Beatriz Cragnolini,
autora da obra Moradas nietzscheanas: del sí mismo, del otro y del
entre (La Cebra, 2006), tratando sobre a possibilidade
de aproveitar o pensamento
nietzscheano para pensar a alteridade sob uma radical
diferença, aproximando a problemas xenofobia e intolerância, à problemática da constituição da subjetividade e da
alteridade.
GAMELEIRA
– O município de Gameleira é formado pelo distrito
sede e pelos povoados de Cuiambuca, José da Costa e Cachoeira Lisa. O distrito
foi criado pela Lei provincial n° 763, de 11 de julho de 1867, integrando o
território do município de Sirinhaém. A vila foi criada pela Lei provincial n°
1.057, de 7 de junho de 1872 e sua instalação ocorreu em 13 de dezembro de
1873. A denominação da localidade deve-se a um engenho homônimo, e pelo fato do
grande número de árvores com o nome de Gameleira, que existiam na época. Em
1867 a Lei provincial n° 763 deu-lhe a categoria de freguesia. Os rios
Sirinhaém e Amaraji se encontram no distrito de Cachoeira Lisa. Veja mais aqui.
OS ÍNDIOS
- [...] A problemática indígena é muito
complexa e, atualmente, não encotramos uma política devidamente estrutura que
permita lidar com essa situação. Não há ruimo na política indigenista. He
grupos com propostas variadas que não chegam a um consenso, enquanto o índio é
deixado à mercê da própria sorte. Há aqueles que querem extinguir a Finau. Há
aqueles que querem substituí-la por ONGS. Já mesmo alguns que,
surpreendentemente, como o Hélio Jaguaribe, propõe extinguir o índio! (Até
parece que estamos nos tempos de Bandeira de Mello e do Rangel Reis!). No
Brasil, temos hoje tantos índios isolados, que nunca tiveram contato com o
“civilizado”, quanto índios destribalizados (não diríamos integradois, porque
na realidade eles não estão participando de nossa sociedade), que são
completamente marginalizados. A Funai precisa estar atenta a isso. É preciso
assistir os indícios de Parelheiros e do Jaraguá, ao mesmo tempo em que não se
pode deixar que fazendeiros e madeireiros acabem com os índios isolados que
estão no meio da mata. [...]. Por
isso, a implementação de uma política indigenista séria deve estar na agenda
política do nosso país. Os grupos indígenas não podem continuar sendo vistos
como simples apêndice da nação; como uma parcela de nossa sociedade que não
dvee esparar um reconhecimento pleno. Contaria a tudo isso, a política que meus
irmãos e eu defendemos sempre visou que os índios brasileiros fossem
reconhecimentos e respeitados em sua cultura, pois deles tivemos lições
surpreendentes. Convivemos com uma sociedade estável e harmônica, na qual
ninguém manda em ninghuém. Continuo absolutamente convencido de que nada há que
justifique sua integração apressada à nossa sociedade, pois somos nós, os ditos
“civilizados”, que ainda não estamos preparados. O Xingu nos mostrou que toda a
nossa luta valeu a pena. [...]. Trechos do livro Orlando Villas Bôas: história e causos (FTD, 2006), autobiografia
do sertanista Orlando Villas-Bôas (1914 – 2002). Veja mais aqui.
A DESCONTRUÇÃO: AVENTURA E DIFERENÇA - [...] O que me interessava naquele momento [da escrita de La dissemination, La double
séance e La mythologie blanche], o que tento continuar agora
sob outras vias, é, a par de uma “economia geral”, uma espécie de estratégia geral da
desconstrução. [...] É,
pois necessário antecipar um duplo gesto, segundo uma unidade simultaneamente
sistemática e como que afastada de si mesma, uma escrita desdobrada, isto é
multiplicada por si própria, aquilo a que chamei em “La double séance, uma dupla ciência: por um lado, atravessar uma
fase de derrubamento. [...] aceitar essa necessidade é
reconhecer que, numa oposição filosófica clássica, não tratamos com uma
coexistência pacífica de um vis-a-vis, mas com uma hierarquia
violenta. Um dos dois termos domina o outro (axiologicamente, logicamente,
etc.), ocupa o cimo. Desconstruir a oposição é primeiro, num determinado momento,
derrubar a hierarquia. [...] A partir daí, para marcar este desvio [isto é, a prática da
desconstrução seguindo o momento de inversão das hierarquias] [...] foi preciso analisar, fazer trabalhar
algumas marcas, tanto no texto da história da filosofia
como no texto “literário” [...], marcas essas [...] a que chamei por analogia (sublinho-o) indefiníveis,
isto é, unidades de simulacro, “falsas” propriedades verbais, nominais ou
semânticas, que já não se deixam compreender na oposição filosófica (binária) e
que, todavia a habitam, lhe resistem, a desorganizam, mas sem nunca constituírem um terceiro
termo, sem nunca darem uma solução na forma dialéctica especulativa [...]. De facto, é contra a
reapropriação incessante desse trabalho de simulacro numa dialéctica de tipo
hegeliano (que chega a idealizar e a “semantizar” este valor de trabalho) que me esforço por levar a
operação crítica, já que o idealismo hegeliano consiste justamente em superar
as oposições binárias do idealismo clássico, em resolver sua contradição num
terceiro termo que vem “aufheben”, negar superando,
idealizando, sublimando numa interioridade anamnésica (Errrinerung), internando a diferença numa presença-a-si
[...]. Trechos da obra A escritura e a diferença (Perspectiva,
1971), do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004).
Veja mais
A DESUMANIZAÇÃO – [...] Por
viver a infância, decide com muito erro, agressiva e exuberantemente. Não te
aproximes demasiado das águas, podem ter braços que te puxem para que morras
afogada. Não subas demasiado alto, podem vir pés no vento que te queiram fazer
cair. Não cobices demasiado o sol de verão, pode haver fogo na luz que te
queime os olhos. Não te enganes com toda a neve, podem ser ursos deitados à
espera de comer. [...] O meu pai
escrevia os seus poemas e fervia de se pôr no papel. Inventava poemas como se
não fosse o seu autor. Pasmava diante deles, incrédulo, com dificuldade em
entender de onde surgiam as palavras, como era possível que o explicassem. E eu
achava que não explicavam nada. Eu queria olhar para as folhas e ver a Sigridur
a correr, a molhar-se nos tanques de água quente. Não queria ver a caligrafia
aprumada do meu pai e as suas rimas fracas, esforçadas. Queria que as folhas
fossem um barco que nos tirasse a todos dali, ou que abrissem uma estrada
segura até ao outro lado do mundo e tivessem rodas velozes e janelas a mostrar
as vistas. Trechos da obra Desumanização
(Cosac Naify, 2014), do escritor português Valter
Hugo Mãe.
UMA MULHER QUE SE AFOGA - coloco
a mão sobre o seu joelho / e você me olha de frente / mas depois vira de lado
ajeitando o / retrovisor por causa da chuva e eu quero dizer que aquela / frase
era de uma canção, a mesma que você tinha usado / em outro lugar, então de novo
você me olha / de frente / e sorri interrogando / minha expressão sempre
confusa / e eu queria dizer que na viagem fraquejei / que tenho medo de
enlouquecer / que tenho medo do que está / por vir mas acabo contando a
história / do homem que perguntava / você me ama? / depois de anos casado com a
mesma mulher / e ela dizia / não / e ele com aquela música repetindo na cabeça
/ aquela música sem parar tocando / ao fundo ecoando / e ela / não / e ele
perguntava / será que eu sou louco? / perguntava depois que o barco na enseada /
ela indo embora, fugindo / eu sou louco? / perguntava depois do acidente, do
barco apagando / bajo la lluvia, 24 vezes a mesma carta enviada com o nome dela
/ e o telefone chamando / na bolsa / hoje ela me viu na rua e veio contar / o
que tinha acontecido: vontade de gritar / vai embora daqui / não quero mais ouvir essa voz / e ela
falando sem parar e eu / coloco a mão sobre seu joelho e você / me olha na hora
e ela dizendo na rua que / não tinha me reconhecido / antes / por que então veio falar comigo? / mas
não digo só penso e aquele silêncio / e ela dizendo que foi / por acaso / tudo
bem / de agora em diante / e eu pensando não me lembro o que dizer / nessas
horas, não suporto, será que um dia?, / e você coloca a mão sobre o meu joelho
e eu / olho para você de frente, ainda ouvindo canção / pergunta gritos de / afogamento
/será que eu sou louco?/ e digo que você é uma das poucas / pessoas que quero
que fiquem aqui / e você me responde / nunca sonhei em conhecer alguém / como
você / e eu olho de volta e digo / você sabe que ninguém nunca / segurou minha
mão assim? / você vira de lado ajeitando / o retrovisor e se projeta pra
ultrapassar / o carro da frente. Poema da poeta e tradutora Marília Garcia.
A ARTE DE ANA LIRA.
A arte da fotógrafa,
artista visual e pesquisadora Ana Lira.
Veja mais:
&
A ARTE DE DAVID
ROWE
A arte do
cartunista, ilustrador e caricaturista australiano David Rowe.