PRAIA DA COROA
GRANDE – Imagem: art by Heather Jane Wallace. - Em plena tarde foi nesse mar que aprendi a
namorar menina dengosa que eu vi passar no Porto do Gravatá, coisa mais
maravilhosa da tribo caingang, coisa de endoidar coração Puiraçu do meu chão
caeté, quadris em ondas como quem vem do engenho Morim da Baronesa – como rebola
macio chega dá vontade da gente pegar bigu de nunca mais soltar! - , seios de
mar com suas piscinas naturais nas coroas das marés e eu só queria mergulhar,
timbungue, timbungar suas águas cristalinas, ah, seios de mar, eu quero
navegar, eu quero mergulhar! E eu atarantado de amor por seus pés à beira-mar
buscava os corais entre pernas e coxas eu a me espremer entre elas torres do paraíso
sumindo as marés como quem vai do rio Una pra morrer afogado nos seus beijos de
sereia enfeitiçadora e eu à-toa como quem vem do riacho Meireles sem saber de
nada de seu riso estival iluminando além dos vales e morros da minha prisão, de
seus olhos manhãs no negrume dos meus dias por seus braços estendidos dali de
Barreiros a me levar pelas correntezas do rio Persinunga, perdido em suas margens
e sem saber das abusões da mata que me trouxe Cumade Fulôsinha até a praia do Gravatá
em Abreu do Una, e eu não sabia nada do Museu do Una na Várzea, sabia só do
jangadeiro que eu era, rapaz solto na buraqueira da Coroa Grande que se
enamorou com quem ouviu falar do Gato Branco ao Bola de Ouro que passou, não
existe mais, só o gingado da menina sestrosa, tão linda formosa assim tão
jeitosa embala meu coração. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o compositor, maestro, pianista, arranjador e
violonista Tom Jobim (1927-1994): Passarim & Live Concert Festival
International Jazz Montreal; da pianista Guiomar
Novaes (1894-1979): Grande
Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, Les Préludes Debussy Live
& Philharmonic Hall NYC; do violonista e compositor Sebastião Tapajós:
Villa-Lobos & El arte de La guitarra; e da cantora e compositora Teca
Calazans em arte solo & em parceria com Heraldo do Monte. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA - Os
Espíritos são ainda imagens da própria Divindade, ou do próprio Autor da
Natureza, capazes de conhecer o Sistema do universo e de em certa medida
imitá-lo por amostras arquitetônicas, sendo cada Espírito como uma pequena
divindade no seu domínio. Trecho extraído da obra Os princípios da filosofia
ditos a monadologia (1714 – Abril, 1983), do filósofo, cientista, matemático, diplomata e
bibliotecário alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716). Veja mais
aqui e aqui.
SÃO JOSÉ DA COROA GRANDE - O distrito de São José da Coroa Grande foi criado pela
Lei município 05, de 30 de dezembro de 1901, integrava o território de
Barreiros. Pelo Decreto-Lei estadual 235, de 09 de dezembro de 1938, passou a
denominar-se Puiraçi, voltando, depois, à antiga denominação. Pela Lei estadual
3340, de 31 de dezembro de 1958, foi constituído município autonomia, cuja
instalação ocorreu em 11 de abril de 1962. Administrativamente o município é
formado pelo distrito-sede e pelos povoados de Abreu do Una, Várzia do Una e
Gravatá. Anualmente no dia 11 de abril é comemorada a sua emancipação política,
conforme recolhido da Enciclopédia dos Municípios do Interior de Pernambuco
(FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui.
DIALÉTICA HEGELIANA - [...] O botão desaparece no
florescimento, podendo-se dizer que aquele é rejeitado por este; de modo
semelhante, com o aparecimento do fruto, a flor é declarada falsa existência da
planta, com o fruto entrando no lugar da flor como a sua verdade. Tais formas
não somente se distinguem, mas cada uma delas se dispersa também sob o impulso
da outra, porque são reciprocamente incompatíveis. Mas ao mesmo tempo, a sua
natureza fluida faz delas momentos da unidade orgânica, na qual não apenas elas
não se rejeitam, mas, ao contrário, são necessárias uma para a outra, e essa
necessidade igual constitui agora a vida do inteiro. [...] A semente é em si a planta, mas ela deve
morrer como semente e, portanto, sair fora de si, a fim de poder se tornar,
desdobrando-se, a planta para si (ou em si e para si) [...]. Trechos
extraídos da obra A fenomenologia do
espírito (1807 - Vozes, 1992), do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), Veja mais aqui e aqui.
DESIGUALDADE ETNICORRACIONAL - [...] Na nossa
sociedade, as desigualdades começaram antes mesmo de sermos um país [...] as desigualdades se anunciaram em 1500, ano
em que os primeiros portugueses chegaram ao Brasil, e se referem às relações
entre os povos indigenas e europeus, com sacrificio para índios e índias.
Depois, com a chegada das pessoas seqüestradas no continente africano, por
volta de 1536, apareceram, também, as práticas das desigualdades entre brancos
e negros, com sacrifício para os negros. A essas desigualdades denominamos de
desigualdades etnicorraciais. [...] as
desigualdades etnicorraciais não existiam sozinhas. Os povos indígenas,
africanos e europeus – que são os pais e mães do Brasil -, já estavam
envolvidos, há muitos e muitos anos, com as desigualdades entre homens e
mulheres, com prejuízos para as mulheres [...] Anos mais tarde, em 1889, o país deixou de ser uma monarquia para se
tornar uma República, baseada nos princípios da democracia. Ainda hoje, porém,
os índios continuam lutando pela posse e manutenção das poucas terras que lhes
restam, e pelo direito de existirem como povos independentes e portadores de
expressões culturais próprias [...]. Trechos extraídos da obra Mulheres constuindo igualdade: caderno
etnicorracial (Secretaria da Mulher Pernambuco, 2011), organizado por Celma
Tavres, Cristina Maria Buarque, Fernanda Meira, Lady Selma Albernaz, Raiza
Cavalcanti, Rosangela Souza e Rosário Silva. Veja mais aqui e aqui.
OS GESTOS
- [...] Os rumores da chuva refluíram,
levando a paisagem; quando tornaram, vieram sós, desencantados [...] Mariana estava de costas para a janela, os
cotovelos no peitoril e as mãos cruzadas sobre o ventre. Por trás dela, na
linha exterior das fasquias, cintilavam gotas de água; cresciam trêmulas,
deslizavam, uniam-se, caíam. Uma claridade opalina subia do pescoço, tocava o
queixo da moça, banhava sua face direita e extinguia-se na penugem da fonte. O
resto das feições, mal se percebia, mas era evidente que algo se anunciava, um
evento único, secreto [...] A parte
do colo sobre que incidia a luz pálida fremiu, palpitou, os lábios se
entreabriram, estremeceram as narinas, soprou um vento forte, que agitou seus
cabelos e precipitou o tombar das gotas de água. Ela moveu a cabeça em direção
à luz, lenta, com um suspiro ansioso. [...] Isto é inexprimível – pensou. E o que não é? Meus gestos de hoje talvez
não sejam menos expressivos que minhas palavras antes. Fechou os olhos, para
conservar durante o maior tempo possível aquela visão. Quando tornou a
abri-los, Mariana se fora, a chuva passara e ele viu que estivera dormindo, sem
haver sonhado. Trechos extraídos da obra Melhores contos de Osman Lins (Global, 2003), reunindo contos do
escritor e dramaturgo Osman Lins (1924-1978), organizado por Sandra Nitrini. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A OBRA DE ARTE HUMANA – [...] Que obra de arte é
o homem: tão nobre no raciocínio, tão vário na capacidade; em forma o
movimento, tão preciso e admirável; na ação é como um anjo; no entendimento é
como um Deus; a beleza do mundo, o exemplo dos animais. [...] Trecho extraído da peça
teatral tragédia em cinco atos, A tragédia de Hamlet, o príncipe da Dinamarca (LP&M, 1997), do
poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616). Veja mais aqui e aqui.
REPÚBLICA DE LADRÕES - [...] o
falcatruismo explica a história do Brasil como a conseqüência das relaões de
falcatruas que temos mantido ao longo destes séculos e que agora prosperam
extraordinariamente. E vai mais além ou aceitamos o falcatruismo como a nossa
maneira de ser, vendo-o numa perspectiva otimista e construtiva, tirando dele o
Maximo proveito, ou passaremos o resto dos tempos condenados a mazelas que
tanto nos afligem olhem em torno. Onde não há denúncias de roubo ou
maracutaias, onde é possível manter um relacionamento honesto, de acordo com
padrões importados e em diametral desacordo com a nossa inata maneira de ser?
Segundo ouvimos dizer, e há sempre alguém por dentro que nos garante que é
assim mesmo, não existe área de atividade no Brasil que não seja marcada pelo
falcatruísmo. Pensemos no governo. [...] Resta assumir de vez e ver se perdemos a timidez e acrescentamos o
rótulo de “nacionalista” do falcatruísmo. Vamos roubar aqui, mas não vamos nos
limitar a isso, como agora. [...] Nós
ainda temos futuro, apesar dos catastrofistas. Crônica extraída da obra Você me mata, Mãe Gentil (Nova
Fronteira, 2004), do escritor, jornalista e professor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). Veja mais aqui.
PALMARES, DE JAYME GRIZ
Canaviais,
Cajueiros,
Ingazeiras,
Coqueiros,
Palmeiras...
Palmares!
Palmares!
....................................
Una,
Una,
Velho Una!
De longe,
Vivo a ouvir tuas
líquidas canções.
Os rumores
longinquuos das tuas ruidosas cachoeiras.
O ritmo rápido ligeiro
Das tuas velozes
corredeiras!
A noite,
Vejo a Lua,
Tua velha
namorada,
Bolando no liquido
lençol das tuas águas mansas,
Num lindo e velho
idílio que não cansa.
A todo instante,
Minha linda cidade
dos Palmares,
Ouço os sinos sonoros
da tua velha Matriz,
E não me esqueço
de nada que tudo isso me diz.
E me lembro de
coisas,
De casos e de
gente
Que eu trago no
coração e na mente.
Gente viva.
Gente morta.
Nabuco.
Chico Barbeiro.
Mirandinha.
Barreiros.
Antônio Doido
(Aquele que virou
trem...)
E de outra gente
também:
Dona Maróca
Ascenso.
Fenelon Ferreira.
Fabio Silva.
O professor
Siqueira.
E outros...
E outros...
Coisas vivas.
Coisas mortas.
Os velhos muros.
As velhas casas.
Os velhos sítios.
Os velhos
engenhos.
Paúl.
Japaranduba.
Trombetas.
O Clube Literário.
O Mercado.
A Estação.
Tiddo isso não me
sai do coração!
Gente passada.
Gente presente.
Coisas passadas.
Coisas presentes.
Tudo isso eu trago
no meu coração.
Tudo isso vive na
minha emoção!
Todas essas
coisas,
De que falo e
gosto tanto,
E que são o teu
encanto,
Minha linda cidade
dos Palmares,
Eu nunca mais hei
de esquecer,
Enquanto (querendo
Deus),
No meu peito o
coração bater!
.........................................
Canaviais.
Cajueiros.
Cajazeiras.
Ingazeiras.
Coqueiros.
Palmeiras...
Palmares!
Palmares!
Poema extraído da obra Rio Una: poemas (Diário da Manhã, 1951), do poeta,
jornalista, economista e folclorista Jayme Griz (1900-1981), Veja mais aqui e aqui.
Veja mais:
A arte de Mary Louise Brooks aqui.
&
A ARTE DE JANET
MAYLED
A arte da
artista plástica britânica Janet Mayled.