IARAVI ENTRE
ANHANGÁ & PERÓS - Imagem: arte da
artista plástica argentina Virgínia Palomeque
- Tupã alumia meus caminhos e me protege enquanto subo o Una, alcanço as
margens do Pirangi, sigo até a Serra da Prata para alcançar toda extensão da
minha gente caeté, empunhando seus arcos e tacapes. Aceno e me despeço de
todos. Sinto-me seguro, prossigo até a densa floresta com o silvo de cobras,
piados de coruja rasgando mortalhas, cricrilar dos insetos, ameaças da Cobra
Grande, ventos e presságios. Vou com a flecha em punho para rasgar o espaço escuro
e o meu tacape pronto para golpear qualquer fera que interdite minha caminhada.
Vou firme. Sei que lá longe Anhangá reina tirânico além das matas, aterroriza
escravizando a todos que lhe cruzem as vistas. Por conta de uma sua desalmada
intervenção, a amada caingang perdeu-se no caminho, nunca mais pude vê-la, temo
não mais encontrá-la. Esse imprevisto me atormenta a alma e persigo os seus
passos, sinto a baforada de sua ira a cada surpresa, tenho de enfrentar o seu horrível
bafejo, pois desconfio que Iaravi tenha sido capturada por suas garras. Ouvi dizer
que não, apenas se perdera estrada afora. Anhangá continua inquieto, reafirmam,
se a tivesse capturado estaria quieto, entretido com sua escrava. Pode ser. Talvez
ela tenha sido levada pelos perós aos montes desembarcando das suas caravelas e
se amontoando na praia, sinal de desgraça no ar. Não confio neles, cara pálida pérfido
parece desalmado e achegado às hostilidades. As fogueiras ardem e eles buscam aprisionar
as cunhantãs formosas, isso eu sei. Temo por Iaravi. Também disseram que ela
não está entre as suas prisioneiras, está perdida. Sei que ela tem poderes que
nem sabe, aprenderá a usá-los para sobreviver às emboscadas e malsinações das
matas densas sme fim. Foi por causa disso que exilei do meu povo para
reencontrá-la, desconsolado, desgostoso de tudo, muitas luas no camino e penso nela,
sua boca requerente à espera do meu beijo, sua graça à porta da maloca ansiando
minha chegada, seu corpo o reino da minha satisfação. Por ela enfrento toda e
qualquer maledicência, que venham monstros e algozes com seus ferros
ultrajantes, estou pronto pro vento que encrespa nas ondas do Una e um raio
fuzila no espaço com estrondoso trovão, chegou a hora da contenda! O vendaval é
forte e demorado e quando a procela passa a manhã sorri no firmamento, com a
autora o Sol doura as copas das frondosas árvores. Lá longe avisto: eis ela nas
águas pro seu banho ritual, inocente vítima das circunstâncias. O meu coração
se apressa querendo sair pela boca, meus passos se misturam às carreiras para
encontrá-la quase a me descontrolar na descida da ribanceira e ela presa fácil,
preciso alcançá-la para protegê-la tanto das investidas de Anhangá como das
insolentes invasões dos perós. Finalmente alcanço-a e seu olhar é só sorriso ao
ver-me. Abraço-a e sua carne é como a água que nos lava à cintura, tudo nela é
como a vida para que eu possa viver o amor que nos une a alma. PS: Narrativa
inspirada na lenda de Ajuricaba, recolhida da obra Folclore amazônico (São
José, 1951), de José Coutinho de Oliveira. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o conjunto instrumental-vocal Quinteto Violado: O Guarani & outros sucessos; a violinista e maestro
britânica Rachel
Podger: Sonatas de Bach & La Stravaganza Vivaldi; o Duofel formado pela dupla de
violonistas Fernando Melo e Luiz Bueno: Festival Choro Jazz, Beatles, Palhaço
de Egberto Gismonti & Construção/Cotidiano/Deus lhe pague de Chico Buarque;
e a compositora, performer, vocalista, cineasta e cenógrafa estadunidense Meredith Monk: Pianos Songs & Book of Days. Para conferir é só ligar o som e
curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Certas conversações duram tanto tempo, que já não sabemos mais se faz
parte da guerraou já da paz. È verdade que a filosofia é inseparável de uma
cólera contra a época, mas também de uma serenidade que ela nos assegura
[...] Como as potências não se contentam
em ser exteriores, mas também passam por cada um de nós que, graças a
filosofia, encontra-se incessantemente e em guerrilha consigo mesmo [...]. Trechos
extraídos da obra Conversações (34,
1992), do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), que nos legou em
sua última obra Crítica e clínica
(34, 1997), o texto A literatura e a vida,
do qual destaco o trecho: [...] Escrever
é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que
extravasa qualquer materia vivível ou vivida. [...]. Veja mais aqui, aqui,
aqui e aqui.
AS TRIBOS DE ÁGUAS BELAS - A
vila de Águas Belas foi criada na antiga povoação de Ipanema, pela Lei
provincial 997, de 13 de dezembro de 1871 – data de criação -, tendo sido
desmembrada do município de Buíque. Sua instalação ocorreu em 25 de junho de
1872. Foi elevada à categoria de cidade pela Lei Estadual 665, de 24 de maio de
1904. Segundo a tradição, a região onde fica hoje siatuada a cidade de Águas
Belas, era habitado pela tribo denominada de Tupiniquins. A tribo dos Carajós,
depois de uma luta com aquela, conseguiu expulsá-la do aldeamento então
conehcido pelo nome de Lagoa, devido a uma lagoa que ali existia. [...]. A denominação de Águas Belas se opriginou do
fato de o ouvidor, Jacobina, durante a viagem, ao chegar a este lughar,
encontrou a mais potável e fina água [...] Em Águas Belas ainda existe uma aldei de índios, já mais civilizados,
restantes da tribo que povoou a região em épocas distantes. Eles já vivem em
contato com os habitantes da cidade, embora conservando ainda seus antigos
ritos tribais. Administrativamente, o município é formado apenas pelo
distrito-sede e pelos povoados de Campo Grande, Curral Novo, Garcia e
Tanquinho. Anualmente, no dia 24 de maio, Águas Belas comemora a sua
emancipação política. [...]. Extraído
da Enciclopedia dos municipios do
interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui.
A
ESTÉTICA DE DUFRENNE -
[...] A essência tem de ser descoberta,
mas por um desenvolvimento e não por um salto do conhecido ao desconhecido. A
fenomenologia se aplica em primeiro lugar ao humano, porque a consciência é
consciência de si: é aqui que está o modelo do fenômeno, o aparecer como
aparecer do sentico a ele mesmo [...] Nós
não podemos dizer aqui qual é esta norma do objeto estético, pois ele é
inventado por cada objeto, que não tem outra lei senão a que dá a si mesmo; mas
pode-se dizer ao menos que, sejam quais forem os meios de uma obra, o fim a que
ela se propõe para ser obra-prima é por sua vez a plenitude de ser senível e a
plenitude de significação imanente ao sensível [...] Não se define o que é o belo, constatamos que ele é objeto [...] Assim é possível uma estética que não refuta
de modo algum a valorização estética, mas que não lhe é subserviente, que
reconhece a beleza sem fazer uma teoria da beleza, porque no fundo não há
teoria a ser feita; ela tem a dizer o que são os objetos estéticos, e eles são
belos desde que são verdadeiros [...]. Trechos extraídos da obra Fenomenologia da
Experiência Estética (PUF, 1953), do filósofo e esteticista francês
Mikel Dufrenne, autor da obra
Estética e filosofia (Perspectiva, 1998), em que aborda sob a perspectiva
estrutural e fenomenológica por meio da experiência os valores estéticos das
obras de arte e da natureza, os referenciais constituintes no objeto da
percepção válida, o belo como artístico e natural, a linguagem da arte, a
crítica literária, o objeto estético e técnico.
VIVER NA CIDADE - [...]
A
cidade, assim de repente, vista de uma vez e surpreendida de brusco, deu-me um
choque no coração, comoveu-me tanto que as mãos me começaram a tremer e meus
olhos se encheram de água. Estava ali o mundo, o povo, a vida de fora, tudo o
que era interdito à minha vida de reclusa. Sentia medo e alegria juntos numa
emoção violenta, como quem rouba e se apossa de qualquer coisa sonhada e
proibida [...]. Trecho
extraído da obra As três Marias (Abril, 1982), da escritora, jornalista,
dramaturga e tradutora Rachel de Queiroz
(1910-2003). Veja mais aqui e aqui.
CORAÇÃO
TIÇÃO - Quero me lambuzar nos mares negros / para não me
perder, / conseguir chegar no meu destino. / Não quero ser parda, mulata / Sou
afro-brasileira-mineira. / Bisneta / de uma princesa de Benguela. / Não serei
refém de valores / que não me pertencem. / Quero sentir sempre meu coração / como
um tição. / Não vou deixar que o mito / do fogo entre as pernas iluda e desvie /
homens e mulheres / daqui por diante. Poema extraído da obra E... feito de luz (Ykenga, 1995), da poeta Ana Cruz. Veja mais aqui.
A ARTE DE VIRGINIA PALOMEQUE
A arte da artista plástica argentina Virgínia Palomeque.
Veja mais:
&
A ARTE DO
BOLSHOI BALLET AND ÓPERA THEATRE
Espetáculo The Cage do Bolshoi
Ballet and Opera Treatre, com música de Igor Stravinsky, coreografia de
Jerome Robbins.