E PRONDE É QUE
VOU MESMO, HEM? - Imagem: Between
the worlds, arte da pintora polonesa Renata Magda. - Nunca me dera por vexado de tudo, avalie, se bem que
sempre entrei no mato longe demais, bicho solto não enxerga o rabo mesmo. Havia
a impressão de atrasado, ô menino tonto sempre fora, correndo atrás e às
pressas, não sei nem pra quê, coisa daquela de inheto de não parar quieto nem a
pulso, só os mais velhos achando graça das minhas desmesuradas pelejadas. Tanto
é que me davam por caçula de tudo, nem sabia que para quem engole corda e da
muita, a queda é maior no espatifado. Apois, tá! Andejo, ah, sempre fujão pelas
frestas das portas e brechas de portões dos jardins, esgueirando solto, rua
acima, ladeira abaixo, peito aberto de beiço virado pronde davam as ventas. Logo
cedo aprendi com as coercitivas lapadas, pisas às pinotadas, esfregões de repuxar
o couro, beliscões e cascudos, dois metros de bico de quase de quase tombar: a
vida não era bem o que eu pensava que fosse. Quando fui ver, quase à beira do
abismo. Com a topada saía tirando fino, findava esfolado, samboque do couro
pendurado no arame farpado, ronchas nos inchaços. Tive muito de torcer o nariz,
fazer ouvidos de mouco, dar o braço a torcer e sair assobiando como se tudo
aquilo nunca nem fora comigo, tá doido, nunca vi mais gordo, sabe, nem pintado
a ouro, destá. Eu que me roía por dentro, cada um o Uriah Heep que merece, num é
Dickens? Quantas bangueladas pro prêmio e, na tacada final, não era nada
daquilo, fila errada, o prêmio era do outro lado. O pior era ter de encarar o
insosso, nada que um esforçozinho a mais não relasse a casca da pereba por costume
magoada e perenemente restaurada no machucão dolorido. Sempre atrasado, quando
ia ver já era tarde, já tinham levado o que era bom, só sobravam porcarias pras
trepeças, farelos de festa. Pra quem só se viu ao lado do bloco do eu sozinho,
tive que me virar em ser a principal atração e a plateia, isso ao mesmo tempo! É-hé!
Como? A-rá! Ora, cada um chuta o bombo por zabumba, mexe no triângulo, sopra no
pife, assobia e chupa cana, pronto, está feito o xote pé-de-serra. No mais é só
ficar decorando adivinhações e charadas, das que sejam mais caprichadas, sem
que no final, pra mim, não sobre uma só que preste por enrascada. U-hu! De tanto
insistir, foi aí que me tornei o cara mais sem graça do planeta. Eu que me
importa! Só queria mesmo era mostrar o meu serviço e, se prestasse de mesmo,
saísse com um trocadinho que fosse no bolso. Pois é, por isso vivi sempre liso
como a moléstia que vem e volta pra sucumbir o enfermo. E ainda tem quem chegue
implicando com lei disso, regra daquilo, código de ética, de postura, sanção
como a praga, pra quê, porra? Ou a gente aprende a fazer direito, ou se não tem
nada pra contar que fique calado! Cuidar do que fala, senão tem cada muriçoca
indigesta, mosca graúda como a peste, que em boca fechada, já dizia o ditado,
não entra mosquito nem pra indigestão! Tome tento! O que eu falei, está dito. Vamos
pra outra! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá: The Planets Suite, St. Paul’s Suit & Symphony in F Major The Cotswolds, do compositor, arranjador e professor inglês Gustav Holst; a interpretação da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein para o Concerto in D Major 1 de Haydn, Variations on a Rococo Theme op. 33 de Tchaikovsly & Hindemith Cellokonzert HR Sinfonieorchester; os álbuns Perto do coração, Mantiqueira, Só Xote e Música Popular Brasileira Contemporânea do produtor musical, arranjador, instrumentista, regente e compositor Nelson Ayres; e os álbuns Cidade Blues Rock nas Ruas & Salve a beleza da cantora, compositora e jornalista Mona Gadelha. Para conferir é só ligar o som e curtir.
Hoje na Rádio Tataritaritatá: The Planets Suite, St. Paul’s Suit & Symphony in F Major The Cotswolds, do compositor, arranjador e professor inglês Gustav Holst; a interpretação da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein para o Concerto in D Major 1 de Haydn, Variations on a Rococo Theme op. 33 de Tchaikovsly & Hindemith Cellokonzert HR Sinfonieorchester; os álbuns Perto do coração, Mantiqueira, Só Xote e Música Popular Brasileira Contemporânea do produtor musical, arranjador, instrumentista, regente e compositor Nelson Ayres; e os álbuns Cidade Blues Rock nas Ruas & Salve a beleza da cantora, compositora e jornalista Mona Gadelha. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – A
lua pediu à sua mãe que lhe fizesse um vestido. – Um vestido? – perguntou a
mãe, espantada. – Não é possível fazer um vestido para você, minha filha. – Por
que não? – Hoje você está gorda, amanhã você está magra; um dia você é lua
cheia, outro dia você é lua nova. E ainda, às vezes, não é nem cheia, nem nova.
Impossível fazer um vestido para alguém como você. E como a lua teimava, a mãe
acabou com o assunto: - Decida a quantas anda, antes de querer um vestido. Extraída
do livro Esopo: fábulas completas (Cosac
Naify, 2013), do escritor grego Esopo (620 a.C. - 564 a.C.).
Veja mais aqui e aqui.
UMA HISTÓRIA SOBRE A TERRA - A
Terra é o nosso mundo. O mundo tem sido nosso amigo, ele nos oferece tanto...
ele nos dá cada fruta gostosa, cada tarde bonitya. Aconte que o mundo vem sendo
maltratado, poluído, queimado. Pensam que ele não sofre com isso? Esta é uma
história que conta como a Terra anda triste, chegando a pensar até em sumir.
Não some porque existe gente mais sabida, que entra na história e não deixa que
isso aconteça. Nesta aventura, de muita informação, poesia e fantasia, você vai
ficar sabendo mais sobre o meio em que vivemos, sobre o ar que respiramos. E
sobre a arca de Noé e os astronautas. Mistura danada: não. É como a Terra. Ela
gira, gira, e as coisas mais diferentes vão acontecendo. Este livro mostra que
a Terra se dá bem com a Lua, os anjos e as estrelas, mas tem medo das pessoas.
A ideia, então, é fazer com que ela goste da gente, sem receio. Mas para que
isso aconteça é preciso cuidar dela com amor. Recebendo cuidado e atenção, a
Terra será melhor para todos nós. [...]. Extraído da obra Antes que a Terra fuja: uma história pela
limpeza do meio ambiente (Moderna, 2002), da escritora
Julieta de Godoy Ladeira
(1927-1997). Veja mais aqui.
MARAIAL – O município de Maraial está encravada numa região que
possuía palmeiras deste tipo, Maraial, dando origem à sua denominação, havendo,
inclusive, registros de que uma família denominada Maraiá teria sido a primeira
a se extabeler naquela locadlidade. O povoado, portanto, teve inicio com a
construção da ferrovia para abastecimento de trablhadoras, sendo inaugurada a
estação em 1884. O distrito foi criado em 17 de dezembro de 1904, subordinado à
Palmares. Em 14 de janeiro de 1913 tornou-se vila e foi elavada à categoria de
município em 11 de setembro de 1928, sendo intalado em 1 de janeiro de 1929. O
município é formado pelos distritos sede e Sertãozinho de Baixo e pelo povoado
de Sertãozinho de Cima. Veja mais aqui.
CANIBAL - Em 1950, duas
moças sobrevoaram os desolados altiplanos da Bolívia. O avião, um Piper, era
pilotado por Bárbara; bela mulher, alta e loira, casada com um rico fazendeiro
de Mato Grosso. Sua companheira, Angelina, apresentava-se como uma criatura
esguia e escura, de grandes olhos assustados. As duas eram irmãs de criação. O
sol declinava no horizonte, quando o avião teve uma pane. Manobrando
desesperadamente, Bárbara conseguiu fazer uma aterrissagem forçada num platô. O
avião, porém, ficou completamente destruído, e as duas mulheres encontravam-se,
completamente sós, a milhares de quilômetros da vila mais próxima. Felizmente
(e talvez prevendo esta eventualidade), Bárbara trazia consigo um grande baú,
contendo os mais diversos víveres: rum Bacardi, anchovas, castanhas-do-pará,
caviar do Mar Negro, morangos, rins grelhados, compota de abacaxi,
queijo-de-minas, vidros de vitaminas. Esta mala estava intacta. Na manhã
seguinte, Angelina teve fome. Pediu a Bárbara que lhe fornecesse um pouco de
comida. Bárbara fez-lhe ver que não podia concordar; os víveres pertenciam a
ela, Bárbara, e não a Angelina. Resignada, Angelina afastou-se, à procura de
frutos ou raízes. Nada encontrou; a região era completamente árida. Assim,
naquele dia ela nada comeu. Nem nos três dias subseqüentes. Bárbara, ao contrário,
engordada a olhos vistos, talvez pela inatividade, uma vez que contentava-se em
ficar deitada, comendo e esperando que o socorro aparecesse. Angelina, pelo
contrário, caminhava de um lado para outro, chorando e lamentando-se, o que só
contribuía para aumentar suas necessidades calóricas. No quarto dia, enquanto
Bárbara almoçava, Angelina aproximou-se dela, com uma faca na mão. Curiosa,
Bárbara parou de mastigar a coxinha de galinha, e ficou observando a outra, que
estava parada, completamente imóvel. De repente Angelina colocou a mão esquerda
sobre uma pedra e de um golpe decepou o seu terceiro dedo. O sangue jorrou.
Angelina levou a mão à boca e sugou o próprio sangue. Como a hemorragia não
cessasse, Bárbara fez um torniquete e aplicou-o à raiz do dedo. Em poucos
minutos, o sangue parou de correr. Angelina apanhou o dedo do chão, limpou-o e
devorou-o até os ossinhos. A unha, jogou-a fora, porque em criança tinham-lhe
proibido roer unhas – feio vício. Bárbara observou-a em silêncio. Quando
Angelina terminou de comer, pediu-lhe uma falange; quebrou-a, e com a lasca,
palitou os dentes. Depois ficaram conversando, lembrando cenas da infância etc.
Nos dias seguintes, Angelina comeu os dedos das mãos, depois os dos pés.
Seguiram-se as pernas e as coxas. Bárbara ajudava-a a preparar as refeições,
aplicando torniquetes, ensinando como aproveitar o tutano dos ossos etc. No
décimo quinto dia, Angelina viu-se obrigada a abrir o ventre. O primeiro órgão
que extraiu foi o fígado. Como estava com muita fome, devorou-o cru, apesar dos
avisos de Bárbara, para que fritasse primeiro. Como resultado, ao fim da
refeição, continuava com fome. Pediu à Bárbara um pedaço de pão para passar no
molhinho. Bárbara negou-se a atender o pedido, relembrando as ponderações já
feitas. Depois do baço e dos ovários, Angelina passou ao intestino grosso, onde
teve uma desagradável surpresa; além das fezes (achado habitual neste órgão),
encontrou, na porção terminal, um grande tumor. Bárbara observou que era por
isto que a outra não vinha se sentindo bem há meses. Angelina concordou,
acrescentando: “É pena que eu tenha descoberto isto só agora.” Depois,
perguntou à Bárbara se faria mal comer o câncer. Bárbara aconselhou-a a jogar
fora esta porção, que já estava até meio apodrecida; lembrou os preceitos
higiênicos que devem ser mantidos sempre, em qualquer situação. No vigésimo
dia, Angelina expirou; e foi no dia seguinte que a equipe de salvamento chegou
ao altiplano. Ao verem o cadáver semidestruído, perguntaram a Bárbara o que
tinha acontecido; e a moça, visando preservar intacta a reputação da irmã,
mentiu pela primeira vez em sua vida:- Foram os índios. Os jornais noticiaram a
existência de índios antropófagos na Bolívia, o que não corresponde à realidade.
Conto extraído da obra Melhores contos
(Global, 2003), do escritor e médico gaúcho Moacyr Scliar
(1927-2011) , organizado por Regina Zilbermann. Veja mais aqui e aqui.
bastante frágil
Um fio fino
que à toa escapa.
Um fio fino
que à toa escapa.
O tempo é um fio.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro
com gentileza.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro
com gentileza.
Com mais empenho
franças espessas.
Malhas e redes
com mais astúcia.
franças espessas.
Malhas e redes
com mais astúcia.
O tempo é um fio
que vale muito.
que vale muito.
Franças espessas
carregam frutos.
Malhas e redes
apanham peixes.
carregam frutos.
Malhas e redes
apanham peixes.
O tempo é um fio
por entre os dedos.
Escapa o fio,
perdeu-se o tempo.
por entre os dedos.
Escapa o fio,
perdeu-se o tempo.
Lá vai o tempo
como um farrapo
jogado à toa.
como um farrapo
jogado à toa.
Mas ainda é tempo!
Soltai os potros
aos quatro ventos,
mandai os servos
de um pólo a outro,
vencei escarpas,
voltai com o tempo
que já se foi!…
aos quatro ventos,
mandai os servos
de um pólo a outro,
vencei escarpas,
voltai com o tempo
que já se foi!…
Poema do livro Poesia Geral (Duas
Cidades, 1985); da poeta mineira Henriqueta
Lisboa (1901-1985). Veja mais aqui.
A
literatura de Rachel de Queiroz aqui.
O
pensamento de Jakob Böehme aqui.
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