BATICUM & TEIBEI
- Imagem do artista italiano Rocco Forgione. - A coisa não está para
brinquedo. Soludão de mesmo, só na vez do açodamento ou no calor da iminência. Maior
teitei na lapada. Pronto, parece resolvido. Será? E quando vai ver: um
labirinto de broncas. Dabou-se! Aí é a hora de ajeitar aqui, espichar ali,
remendar acolá, e o que era pra sair bonito dá num monstrengo cada vez mais
desfigurado. E agora vai ver a merda feita. Por conta disso, tomei uma atitude:
não leio mais jornais, há tempos que as notícias são as mesmas, muda, apenas e,
às vezes no muito, só os nomes, mas a situação é a mesma desde que nasci: a
corda só arrebenta do lado desprevenido. E quem tem tempo pra se defender do imprevisível,
hem? Também não assisto mais tevê: a programação parece a mesma de décadas, há
sempre uma onda pra gente boiar, isto desde que inventaram um tal do zeitgeist, paradigmas para serem
seguidos à risca, na boa. E como nem todo mundo anda na linha - que ninguém é besta,
tá doido? -, há sempre aquela de um olho na missa e outro no padre. Esfrega pra
enxergar: a desconfiança é geral. Também, pudera. Em quê acreditar, são outros
quinhentos. Ah, sempre me disseram sob o signo da maior persuasão que quando
chegasse aos cinqüenta, eu ia ver direitinho como é que é a cor da chita. Resultado:
já passei disso e não vejo mais nada. Quando muito finjo que nem vejo, melhor. Vai
que de repente topa com uma revolta no ar: vende-se este estrupício, pague
qualquer coisa e leve essa desgraça pra você! Ora, faça-me um favor. Todo mundo
só oferece o que não quer mais, filantropia com o imprestável. Quando não é
isso, o despropósito no primeiro poste: corno é foda, tudo que vê quer ler. Sacou?
Vamos e convenhamos: quando a emoção fala mais alto – ou melhor, quando a
cabeça do cipó é quem manda no riscado, a gramática vai pro calão e se lasca
toda! Isso se você não se ferrar junto, no maior desmantelo. E haja revertério.
No meio disso é só meter o sarrafo! Maior esporro! De pensante vira asno e os
disparates só fabricam teréns rocambolescos. Melhor brincar de palíndromo: a
torre da derrota! Quem encara? É de sair arrolando a doação de órgãos pra quando
bater as botas: os olhos quando nada, mistura as coisas com tudo duplo, córnea
pra quê te quero: já era oftalmologista recorrente; cheirar que é bom dói no
pulmão; músculos, tudo entrevado; coração batendo biela; fígado em petição de miséria;
o prazer é ter de saber eficiente gestão de dores pra todo lado; afinal, no
frigir dos ovos, o que é que presta mesmo pra serventia, hem? Nossa, a certidão
de que já morreu e ninguém avisou. Resta apenas ficar brincando de bem ou
malmequer com as lembranças, memórias fugidias, momentos felizes, decepções,
vexames e quejandos. Fazer o quê? Melhor respirar fundo, olhar pros lados, se
precaver e seguir adiante refugiado num dia qualquer do passado – remembranças e
das muitas, essas ainda não apagaram. Aprendeu? Baticum & teibei. E boa
sorte. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com Pantanal, a
suíte orquestral Olga, A música dos 4 elementos, Sete Vidas
amores & guerras, Raio & Trovão, entre outras, do
violinista, tecladista e compositor Marcus Viana. Para conferir é só ligar o som e
curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.
PENSAMENTO DO DIA - [...] O soberbo, no orgulho desmedido, considera
que tudo lhe é permitido; abjeto, na humilhação desmedida, considera que nada
lhe é permitido. O primeiro se torna dominador insolente; o outro, servo
adulador, invejoso e ressentido. Ambos, submissos às suas paixões, são fonte de
novas servidões, pois o soberbo julga-se livre porque domina e despreza os
outros, enquanto o abjeto adulador imagina-se dependente dos favores do soberbo
que, por deninção, nunca hão de vir. [...]. Trecho da obra Política em Espinoza (Companhia das
Letras, 2003), da filósofa e educadora brasileira Marilena Chauí. Veja mais aqui,
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
MASSA & PODER – [...] Aqui, tudo
se baseia na total ausencia de perturbações. Qualquer movimento é indesejável,
todos os ruídos são execráveis. [...]
Apesar de tudo conservou-se nos nossos
concertos uma pequena dose de descarga física. O aplauso representa a gratidão
aos interpretes; trata-se de intercambio de um ruído breve e caótico por outro
prolongando e bem organizado. [...] Os
espectadores podem permanecer sentados; a paciência coletiva se torna visível
em toda sua clareza. Todos têm a liberdade de sapatear, mas não se movem de
seus lugares. Têm a liberdade de aplaudir com as mãos. Está prevista uma
determinada duração para o espetáculo, e normalmente não há motivos para
reduzi-la; pelo menos durante este tempo as pessoas permanecem juntas. E,
durante este tempo, uma série de acontecimentos podem ocorrer. Não é possível
saber de antemão de que lado e quando será marcado o gol, além disso, à margem
destes acontecimentos centrais, muitos outros podem acopntecer que provocam
manifestações ruidosas. A voz é ouvida com freqüência e em ocasiões distintas.
[...]. Trecho da obra Massa e poder
(EdUnB, 1983), do escritor e ensaísta búlgaro e Prêmio Nobel de
Literatura de 1981, Elias Canetti
(1905-1994). Veja mais aqui e aqui.
IBIRAJUBA
– O municio de Ibirajuba é formando administrativa pelo distrito sede
e pelo povoado do Alto de São Francisco, possuindo cachoeiras, além de cavernas
com pinturas rupestres. Trata-se de vocábulo indígena que significa
"árvore amarela", do tupi ybirá: árvore, tronco, madeira; e yuba:
amarelo, louro. Originou-se do povoado de Gameleira, árvore comum na
localidade. Pertencia ao município de Altinho, sendo criado pela Lei estadual
nº 4.943, de 20 de dezembro de 1963 e instalado em 19 de junho de 1964. Possui
muitas pedras em seu território, as mais famosas são as duas pedras de Delmiro,
um comerciante da região. Localizada em plena Serra da Mandioca, no centro da
cidade, existe um açude, que antes de sua escavação, aquela área abrigava a
grande e frondosa gameleira, que nomeou a cidade. Veja mais aqui.
DIÁRIO DE ANDRÉ - [...] Que é o
para sempre senão o existir continuo e líquido de tudo aquilo que é liberto da
contingência, que se transforma, evolui e deságua sem cessar em praias de
sensações também mutáveis? Inútil esconder: o para sempre ali se achava diante
dos meus olhos. Um minuto ainda, apenas um minuto – e também este escorregaria
longe do meu esforço para captiá-lo, enquanto eu mesmo, também para sempre,
escorreria e passaria – e comigo, como uma carga de detritos sem sentidos e sem
chama, também escoaria para sempre meu amor, meu tormento e até mesmo minha
própria fidelidade. Sim, que é o para sempre senão a última imagem deste mundo
– não esxclusivamente deste, mas de qualquer mundo que se enovele numa
arquitetura de sonho e de permanência – a figuração de nossos jogos e prazeres,
de nosos achaques e medos, de nossos amores e de nossas traições – a força
enfim que modela não esse que somos diariamente, mas o possível, o
constantemente inatingido, que perseguimos como se acompanha o rastro de um
amor que não se consegue, e que afinal é apenas a lembrança de um bem perdido –
quando? – num lugar que ignoramos, mas cuja perda nos punge, e nos arrebata,
totais, a esse nada ou a esse tudo inflamado, injusto ou justo, onde para
sempre nos confundimos ao geral, ao absoluto, ao perfeito de quie tanto
carecemos. [...]. Trecho extraído da obra Crônica da casa assassinada (Cibilização Brasileira, 2009), do
escritor, jornalista, dramaturgo e pintor Lúcio
Cardoso (1912-1968). Veja mais aqui.
LADAINHA POEMAS 29, 79 & 97 – 29 – Laura me leva para a água / Não é só assim
que somos felizes / Mas aqui somos mais / É bom passar minúsculos / Olhando
para uma coisa só / Como se nunca tivéssemos inventado / Uma imagem sequer do
futuro / E então ficamos cerca de um minúsculo / Olhando para o mar e fingindo
/ Que o movimento das ondas / Era parecido com estender lençóis / E quem as
estendia éramos nós / Você sabe, a água não para de ser água / E nós não
parávamos de tentar ] Arrumar o mar, que não nos incomoda / Ele é um peixe
amando outro peixe / Laura gosta de arrumar a cama / Todos os dias, eu desligo
o ventilador / Porque a cama é um tipo de mochila / De encosta, de bandeja, de
sola de pé / Para os morcegos; prisma ao que gosta / de dormir, balcão ao que
gosta de acordar / Não sei explicar mas é como chegar na água / E saber nadar,
muito mais ainda assim e por tudo / É sobre conseguir chegar naquilo que eu sou
/ E cada vez mais perto daquilo que sou com alegria / É uma camisa de força do
avesso / Muito boa para mergulho - 79 - Poder
é perigo / e hoje acordei / rindo / Dom é tom / e hoje acordei / rindo / Querer
é criatura / e hoje acordei / rindo / Na cara a boca / na pia o prato / sujos
de feijão. 97. - Escrever é
irmão / do andar e primo / do voltar, substitua / No inverno é bom / Escrever
com calma / e inventar um cinzeiro flutuante / chegar e sair descalço do poema
/ No verão bombom / Escrever é sempre / o tempo é uma mula elástica em fuga / e
se conselho fosse bom / Sair na rua de moletom. Poemas recolhidos da obra Ladainha (Record, 2017), da poeta e tradutora Bruna Beber.
4 HAICAIS DE BASHÔ
O sol de
inverno:
a cavalo congela
a minha sombra.
Chuva de verão
perna de garça
então se torna
curta.
Que lua, que
flor
nada, bebo umas
doses
aqui sozinho.
Quero ainda ver
nas flores no
amanhecer
a face de um deus.
Extraídos do livro Complete Basho
Haiku in Japanese (State
University of New York Press, 2004), do poeta japonês Matsuo Bashô (1644-1694).
Veja mais:
&
A ARTE DE ROCCO FORGIONE
A arte do
artista italiano Rocco Forgione.