terça-feira, novembro 28, 2017

BASHÔ, LÚCIO CARDOSO, CANETTI, CHAUÍ, MARCUS VIANA, BRUNA BEBER, ROCCO FORGIONE & IBIRAJUBA

BATICUM & TEIBEI - Imagem do artista italiano Rocco Forgione. - A coisa não está para brinquedo. Soludão de mesmo, só na vez do açodamento ou no calor da iminência. Maior teitei na lapada. Pronto, parece resolvido. Será? E quando vai ver: um labirinto de broncas. Dabou-se! Aí é a hora de ajeitar aqui, espichar ali, remendar acolá, e o que era pra sair bonito dá num monstrengo cada vez mais desfigurado. E agora vai ver a merda feita. Por conta disso, tomei uma atitude: não leio mais jornais, há tempos que as notícias são as mesmas, muda, apenas e, às vezes no muito, só os nomes, mas a situação é a mesma desde que nasci: a corda só arrebenta do lado desprevenido. E quem tem tempo pra se defender do imprevisível, hem? Também não assisto mais tevê: a programação parece a mesma de décadas, há sempre uma onda pra gente boiar, isto desde que inventaram um tal do zeitgeist, paradigmas para serem seguidos à risca, na boa. E como nem todo mundo anda na linha - que ninguém é besta, tá doido? -, há sempre aquela de um olho na missa e outro no padre. Esfrega pra enxergar: a desconfiança é geral. Também, pudera. Em quê acreditar, são outros quinhentos. Ah, sempre me disseram sob o signo da maior persuasão que quando chegasse aos cinqüenta, eu ia ver direitinho como é que é a cor da chita. Resultado: já passei disso e não vejo mais nada. Quando muito finjo que nem vejo, melhor. Vai que de repente topa com uma revolta no ar: vende-se este estrupício, pague qualquer coisa e leve essa desgraça pra você! Ora, faça-me um favor. Todo mundo só oferece o que não quer mais, filantropia com o imprestável. Quando não é isso, o despropósito no primeiro poste: corno é foda, tudo que vê quer ler. Sacou? Vamos e convenhamos: quando a emoção fala mais alto – ou melhor, quando a cabeça do cipó é quem manda no riscado, a gramática vai pro calão e se lasca toda! Isso se você não se ferrar junto, no maior desmantelo. E haja revertério. No meio disso é só meter o sarrafo! Maior esporro! De pensante vira asno e os disparates só fabricam teréns rocambolescos. Melhor brincar de palíndromo: a torre da derrota! Quem encara? É de sair arrolando a doação de órgãos pra quando bater as botas: os olhos quando nada, mistura as coisas com tudo duplo, córnea pra quê te quero: já era oftalmologista recorrente; cheirar que é bom dói no pulmão; músculos, tudo entrevado; coração batendo biela; fígado em petição de miséria; o prazer é ter de saber eficiente gestão de dores pra todo lado; afinal, no frigir dos ovos, o que é que presta mesmo pra serventia, hem? Nossa, a certidão de que já morreu e ninguém avisou. Resta apenas ficar brincando de bem ou malmequer com as lembranças, memórias fugidias, momentos felizes, decepções, vexames e quejandos. Fazer o quê? Melhor respirar fundo, olhar pros lados, se precaver e seguir adiante refugiado num dia qualquer do passado – remembranças e das muitas, essas ainda não apagaram. Aprendeu? Baticum & teibei. E boa sorte. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais 

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com Pantanal, a suíte orquestral Olga, A música dos 4 elementos, Sete Vidas amores & guerras, Raio & Trovão, entre outras, do violinista, tecladista e compositor Marcus Viana. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.

PENSAMENTO DO DIA -  [...] O soberbo, no orgulho desmedido, considera que tudo lhe é permitido; abjeto, na humilhação desmedida, considera que nada lhe é permitido. O primeiro se torna dominador insolente; o outro, servo adulador, invejoso e ressentido. Ambos, submissos às suas paixões, são fonte de novas servidões, pois o soberbo julga-se livre porque domina e despreza os outros, enquanto o abjeto adulador imagina-se dependente dos favores do soberbo que, por deninção, nunca hão de vir. [...]. Trecho da obra Política em Espinoza (Companhia das Letras, 2003), da filósofa e educadora brasileira Marilena Chauí. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

MASSA & PODER – [...] Aqui, tudo se baseia na total ausencia de perturbações. Qualquer movimento é indesejável, todos os ruídos são execráveis.  [...] Apesar de tudo conservou-se nos nossos concertos uma pequena dose de descarga física. O aplauso representa a gratidão aos interpretes; trata-se de intercambio de um ruído breve e caótico por outro prolongando e bem organizado. [...] Os espectadores podem permanecer sentados; a paciência coletiva se torna visível em toda sua clareza. Todos têm a liberdade de sapatear, mas não se movem de seus lugares. Têm a liberdade de aplaudir com as mãos. Está prevista uma determinada duração para o espetáculo, e normalmente não há motivos para reduzi-la; pelo menos durante este tempo as pessoas permanecem juntas. E, durante este tempo, uma série de acontecimentos podem ocorrer. Não é possível saber de antemão de que lado e quando será marcado o gol, além disso, à margem destes acontecimentos centrais, muitos outros podem acopntecer que provocam manifestações ruidosas. A voz é ouvida com freqüência e em ocasiões distintas. [...]. Trecho da obra Massa e poder (EdUnB, 1983), do escritor e ensaísta búlgaro e Prêmio Nobel de Literatura de 1981, Elias Canetti (1905-1994). Veja mais aqui e aqui.

IBIRAJUBA – O municio de Ibirajuba é formando administrativa pelo distrito sede e pelo povoado do Alto de São Francisco, possuindo cachoeiras, além de cavernas com pinturas rupestres. Trata-se de vocábulo indígena que significa "árvore amarela", do tupi ybirá: árvore, tronco, madeira; e yuba: amarelo, louro. Originou-se do povoado de Gameleira, árvore comum na localidade. Pertencia ao município de Altinho, sendo criado pela Lei estadual nº 4.943, de 20 de dezembro de 1963 e instalado em 19 de junho de 1964. Possui muitas pedras em seu território, as mais famosas são as duas pedras de Delmiro, um comerciante da região. Localizada em plena Serra da Mandioca, no centro da cidade, existe um açude, que antes de sua escavação, aquela área abrigava a grande e frondosa gameleira, que nomeou a cidade. Veja mais aqui.

DIÁRIO DE ANDRÉ - [...] Que é o para sempre senão o existir continuo e líquido de tudo aquilo que é liberto da contingência, que se transforma, evolui e deságua sem cessar em praias de sensações também mutáveis? Inútil esconder: o para sempre ali se achava diante dos meus olhos. Um minuto ainda, apenas um minuto – e também este escorregaria longe do meu esforço para captiá-lo, enquanto eu mesmo, também para sempre, escorreria e passaria – e comigo, como uma carga de detritos sem sentidos e sem chama, também escoaria para sempre meu amor, meu tormento e até mesmo minha própria fidelidade. Sim, que é o para sempre senão a última imagem deste mundo – não esxclusivamente deste, mas de qualquer mundo que se enovele numa arquitetura de sonho e de permanência – a figuração de nossos jogos e prazeres, de nosos achaques e medos, de nossos amores e de nossas traições – a força enfim que modela não esse que somos diariamente, mas o possível, o constantemente inatingido, que perseguimos como se acompanha o rastro de um amor que não se consegue, e que afinal é apenas a lembrança de um bem perdido – quando? – num lugar que ignoramos, mas cuja perda nos punge, e nos arrebata, totais, a esse nada ou a esse tudo inflamado, injusto ou justo, onde para sempre nos confundimos ao geral, ao absoluto, ao perfeito de quie tanto carecemos. [...]. Trecho extraído da obra Crônica da casa assassinada (Cibilização Brasileira, 2009), do escritor, jornalista, dramaturgo e pintor Lúcio Cardoso (1912-1968). Veja mais aqui.

LADAINHA POEMAS 29, 79 & 97 – 29 – Laura me leva para a água / Não é só assim que somos felizes / Mas aqui somos mais / É bom passar minúsculos / Olhando para uma coisa só / Como se nunca tivéssemos inventado / Uma imagem sequer do futuro / E então ficamos cerca de um minúsculo / Olhando para o mar e fingindo / Que o movimento das ondas / Era parecido com estender lençóis / E quem as estendia éramos nós / Você sabe, a água não para de ser água / E nós não parávamos de tentar ] Arrumar o mar, que não nos incomoda / Ele é um peixe amando outro peixe / Laura gosta de arrumar a cama / Todos os dias, eu desligo o ventilador / Porque a cama é um tipo de mochila / De encosta, de bandeja, de sola de pé / Para os morcegos; prisma ao que gosta / de dormir, balcão ao que gosta de acordar / Não sei explicar mas é como chegar na água / E saber nadar, muito mais ainda assim e por tudo / É sobre conseguir chegar naquilo que eu sou / E cada vez mais perto daquilo que sou com alegria / É uma camisa de força do avesso / Muito boa para mergulho - 79 - Poder é perigo / e hoje acordei / rindo / Dom é tom / e hoje acordei / rindo / Querer é criatura / e hoje acordei / rindo / Na cara a boca / na pia o prato / sujos de feijão. 97. - Escrever é irmão / do andar e primo / do voltar, substitua / No inverno é bom / Escrever com calma / e inventar um cinzeiro flutuante / chegar e sair descalço do poema / No verão bombom / Escrever é sempre / o tempo é uma mula elástica em fuga / e se conselho fosse bom / Sair na rua de moletom. Poemas recolhidos da obra Ladainha (Record, 2017), da poeta e tradutora Bruna Beber.

4 HAICAIS DE BASHÔ
 
O sol de inverno:
a cavalo congela
 a minha sombra.

Chuva de verão
perna de garça
então se torna curta.

Que lua, que flor
nada, bebo umas doses
aqui sozinho.

Quero ainda ver
nas flores no amanhecer
 a face de um deus.
Extraídos do livro Complete Basho Haiku in Japanese (State University of New York Press, 2004), do poeta japonês Matsuo Bashô (1644-1694).

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A ARTE DE ROCCO FORGIONE
A arte do artista italiano Rocco Forgione.

 

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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