sábado, novembro 11, 2017

ROLAND BARTHES, MIRCEA ELIADE, OSHO, CYRIL MANN, HELYLDA LANDIM, PELÓPIDAS SOARES, BHASÍLIO SANTTOS, RIO FORMOSO & PROFESSORA HILDA.

PROFESSORA HILDA – Imagem: arte da artista plástica Helylda Landim. - Era manhã ensolarada e eu avisto ela passar na calçada oposta da biblioteca, aquela de sempre agora carregando nos ombros os seus quase oitenta janeiros ou quase isso, não sei, para me levar às lembanças da infância, a escola primária, o bêabá, as palavras, as noções de matemática, as estórias contadas, e ela ali era pra mim, mais que todas as heroínas prediletas dos gibis e tevê, mais que as beldades das capas de revista, mais que as glamourosas atrizes do cinema, a me encantar com os ensinamentos que eu só me daria conta tempos depos. Não desgrudava o olhar nem perdia atenção com nada, a não ser as suas explicações no giz do quadro negro, pronto para responder a qualquer pergunta que ela fizesse pra turma, queria ser o primeiro, sempre o primeiro, mas me perdia em fugir dos malassombros embaixo da cama e me livrava dos carões pelos arremedos e olhadelas nas fechaduras alheias, e ao surgir a pergunta eu mergulhava num branco de não me lembrar de nada, pego de surpresa, passando batido, desatento, ah, eu me embaraçava e me encantava com a sua voz ao ditado acendendo a imaginação para as trelas de menino que vivia de pular o esgoto do pó de serra, e se esgueirava pela menor fresta na porta para ganhar o mundo, e passava a perna pelo portão para driblar cangalhas e zambetas rumo a casa de Pai Lula & Carma, e me escondia da privação de tudo que maínha exigia aos cuidados das minhas enfermidades recorrentes, para ganhar à farta tudo quanto quisesse ao bel prazer da gula, empazinado com biscoitos, doces, bolos, ponches, quitutes e delícias de lanches feitos na hora. Ah, como eu adorava o recreio para saborear tudo quanto fosse servido ao paladar e da mesma forma eu ficava entretido com a professora contando pra gente coisas que amainavam meu sofrimento de sexta pra segunda por não haver aulas nesses dias, mesmo que eu me virasse correndo atrás de bola e brincadeiras de todo tipo, sempre me aprontando para ouvir minha mãe gritar que hoje não tem aula, menino, hoje é sábado, deixe de ser avexado! E repetia no dia seguinte, se aquiete, menino, hoje é domingo, e eu corria pra cima e pra baixo, aprontando de tudo a brincar com meus cadernos e os livros do meu pai que eram confiscados no meio da brincadeira, até sonhar o dia todo na sala de aula até ao amanhecer bem cedinho, todo pronto e embecado na farda da Maçonaria, para mais um dia de aprender com ela, meses a fio com os olhos apregados nos mínimos detalhes de cada assunto só para encantá-la, porque eu já encantado queria mais que os coleguinhas que distribuíam presentes na chegada com frutas, lembranças e brebotes, e eu bolsos e mãos vazias, só tinha nada mais que uma quadrinha em versos para lhe presentear no final da aula, depois que todos já haviam presenteado. Era ela, a professora Hilda, que me me fazia retornar à vida depois de novembro a fevereiro, ao sucumbir nas férias às reinações e pisas, se endireite menino, ela passando a mão à minha cabeça de dengoso, é uma criança e precisa de carinho, relevando minhas presepadas, por isso e muito mais a tinha em alta conta na estima e no meu coração de menino levado. Era ela, professora Hilda Galindo Correia, que enchia meus dias de entusiasmos para decorar a lição, ser o primeiro que nunca fui da classe, atarantado com a sua beleza e prestando atenção a tudo, nas perguntas e respostas, a minha vez, sempre dava um branco, de novo! E eu me esforçava por agradá-la por ser ela a dona do meu coração infantil e só sabia me expressar por meio dos versos da quadrinha que mal sabia escrever. Era ela a rainha dos encantos do meu coração menino, hoje homem feito, que a vê apenas passando na calçada oposta da biblioteca, para manifestar toda minha gratidão de criança sonhadora que sou até hoje. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais do saudoso maestro, compositor, arranjador, saxofonista e clarinetista Paulo Moura (1932-2010) interpretando Radamés Gnatalli & Confusão urbana, suburbana e rural; a cantora e compositora portuguesa Eugénia Melo e Castro cantando Vinicius de Moraes e outros dos seus sucessos; o guitarrista de jazz estadunidense Pat Metheny desfilando Speaking of Now Live & The Way Up; e a pianista, compositora, artista e diretora japonesa Tomoko Mukaiyama executando At the illeseum (parts 1, 2 e 3) e músicas de obras de John Zorn, William Bolcon & Frank Zappa. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Toda a nossa educação – na família, na sociedade, na escola, na faculdade, na universidade – cria tensão em nós. E a tensão fundamental é a de que você não está fazendo aquilo que deveria fazer. E essa tensão persiste durante toda a sua vida; ela o acompanha como se fosse um pesadelo, está sempre o assombrando. Nunca o deixa descansar, nunca lhe permite relaxar. [...] Se você fizer algo de bom, ela vai lhe dizer: “Você é um tolo. Fazer o bem não compensa; as pessoas vão lhe enganar”. Se você fizer algo de ruim, ela vai lhe dizer: “O que está fazendo? Você está preparando o caminho para ir pro inferno; você tem de sofrer por isso”. A mente nunca vai deixá-lo descansar; faça você o que fizer, ela estará sempre condenando-o. Esse censor foi implantado em você. Essa é a maior calamidade que aconteceu a humanidade. E, a menos que nos livremos deste censor que existe dentro de nós, não poderemos ser verdadeiramente humanos, não poderemos ser verdadeiramente alegres e não poderemos participar da celebração que é a existência. E agora ninguém pode removê-lo, exceto você. [...].Trecho extraído da obra Destino, liberdade e alma: qual é o sentido da vida? (Planeta, 2011), de Osho – o filósofo místico Bhagwan Shree Rajneesh (1931-1990). Veja mais aqui, aqui e aqui.

RIO FORMOSO - O distrito de Rio Formoso foi criado pela Lei municipal 85, de 04 de maio de 1840, passando a vila por atodo Conselho do Governom em 20 de maio de 1833. Foi desmembrado do município do Recife ascendendo à categoria de cidade por Lei Provincial 258, de 11 de junho de 1850. A cidade foi edificada em terras do engenho de mesmo nome, a partir de uma capela que existia de 1637, tornando-se palco de muitos combates durante a ocupação holandesa e os seus feitos estão registrada na história. A divisão administrativa do município compõe-se do distrito-sede, Cucaú, Saué e Tamandaré. Anualmente, no dia 11 de junho, a cidade comemora a sua emancipação política, conforme a Enciclopedia dos Municipios do Interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui.

CONTO DE FADAS X MITO: OTIMISTMO X PESSIMISMO - [...] É impossível negar que as provações e aventuras dos heróis e heroínas do conto de fadas são sempre traduzidos em termos iniciatórios. Ora, isto me parece de importância primordial desde o tempo – que é tão difícil determinar – em que os contos de fadas tomaram forma enquanto tais, os homens, tanto primitivos como civilizados, escutaram-nos com um prazer suscetível de repetição indefinida. Isto equivale dizer que os cenários iniciatórios – mesmo camuflados como o são nos contos de fadas – exprimem um psicodrama que responde a uma necessidade profunda do ser humano. Todo homem deseja experimentar certas situações perigosas, confrontar-se  com provas excepcionais, entrar à sua maneira no Outro Mundo – e ele experimenta tudo isso, no nível de sua vida imaginativa, ouvindo ou lendo contos de fadas [...] são modelos para o comportamento humano que, devido a este mesmo fato, dão significação e valor à vida. [...]. Trecho extraído da obra Ritos e Símbolos de Iniciação (Birth and Rebirth - Harvill Press, 1958), do filósofo, professor, cientista das religiões, mitólogo e romancista romeno Mircea Eliade (1997-1986), autor de Mito e realidade (Perspectiva, 2000), no qual aborda o mecanismo, a função e a evolução do mito que constituem hoje estudo indispensável nas modernas ciências do homem, não só porque a ele se ligam basicamente as indagações sobre o significado do mundo e da existência humana, mas também porque dele dependem essencialmente a compreensão de nossas formas de linguagem, expressão e comunicação, reunindo uma exposição histórica e uma síntese filosófica a respeito da bibliografia no assunto. É também autor de obras como História das crenças e ideias religiosas (Zahar, 2010), O sagrado e o profano (Martins Fontes, 1992), Tratado de história das religiões (Martins Fontes, 2002), e Mito do eterno retorno (Mercuryo, 1992), entre outros.

O PRAZER DO TEXTO – [...] O que eu aprecio, num relato, não é pois diretamente o seu conteúdo, nem mesmo sua estrutura, mas antes as esfoladuras que imponho ao belo envoltório: corro, salto, ergo a cabeça, torno a mergulhar. Nada a ver com a profunda rasgadura que o texto da fruição imprime à própria linguagem, e não à simples temporalidade de sua leitura. [...] Se aceito julgar um texto segundo o prazer, não posso ser levado a dizer: este é bom, aquele é mau. Não há quadro de honra, não há crítica, pois esta implica sempre um objetivo tático, um uso social e muitas vezes uma cobertura imaginária. Não posso dosar, imaginar que o texto seja perfectível, que está pronto a entrar num jogo de predicados normativos: é demasiado isto, não é bastante aquilo; o texto (o mesmo sucede com a voz que canta) só pode me arrancar este juízo, de modo algum adjetivo: é isso! E mais ainda: é isso para mim! Este “para mim” não é nem subjetivo, nem existencial, mas nietzschiano (“no fundo, é sempre a mesma questão: O que é que é para mim?...”). [...]. O brio do texto (sem o qual, em suma, não há texto) seria a sua vontade de fruição: lá onde precisamente ele excede a procura, ultrapassa a tagarelice e através do qual tenta transbordar, forçar o embargo dos adjetivos – que são essas portas da linguagem por onde o ideológico e o imaginário penetram em grandes ondas. [...]. Trechos extraídos da obra O Prazer do Texto (Perspectiva, 1987), do escritor, sociólogo, filósofo, semiólogo e crítico literário francês, Roland Barthes (1915-1980).

XOTE DAS MÁQUINASOs rios Una e Ipojuca brotavam no Agreste, fios d’água que tomavam corpo nas terras generosas da Zona da Mata, cortando-as em toda a extensão. Desciam entre canaviais, usinas, cidades até o encontro com os coqueiros e os mangues das praias do sul. Movendo e removendo as alvas dunas de Gravatá e de Suape, desaguavam no mar. O Una contornava Dois Rios num envolvente e sinuoso abraço, deslizando murmurejante por trás da usina. O Ipojuca aproximava-se, olhando a cidade de longe e, medo ou inveja do Una, rio maior e mais famoso, contorcia-se numa curva, distanciando-se. E nunca mais os dois rios canavieiros sequer se olhariam. [...]. Trecho extraído da obra Outro sol se levanta (Autor, 2007), do escrito Pelópidas Soares (1922 – 2007). Veja mais aqui.

LEMBRANÇAS: ALTO DO INGLÊS, DE BHASÍLIO SANTTOS
Poema do livro Palmarinalidades poéticas, do escritor Bhasílio Santtos. Veja mais aqui.

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A ARTE DE CYRIL MANN
A arte do pintor e escultor britânico Cyril Mann (1911-1980).


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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