PROFESSORA HILDA
– Imagem: arte da artista plástica Helylda Landim. - Era manhã
ensolarada e eu avisto ela passar na calçada oposta da biblioteca, aquela de
sempre agora carregando nos ombros os seus quase oitenta janeiros ou quase isso,
não sei, para me levar às lembanças da infância, a escola primária, o bêabá, as
palavras, as noções de matemática, as estórias contadas, e ela ali era pra mim,
mais que todas as heroínas prediletas dos gibis e tevê, mais que as beldades
das capas de revista, mais que as glamourosas atrizes do cinema, a me encantar
com os ensinamentos que eu só me daria conta tempos depos. Não desgrudava o
olhar nem perdia atenção com nada, a não ser as suas explicações no giz do
quadro negro, pronto para responder a qualquer pergunta que ela fizesse pra
turma, queria ser o primeiro, sempre o primeiro, mas me perdia em fugir dos
malassombros embaixo da cama e me livrava dos carões pelos arremedos e
olhadelas nas fechaduras alheias, e ao surgir a pergunta eu mergulhava num
branco de não me lembrar de nada, pego de surpresa, passando batido, desatento,
ah, eu me embaraçava e me encantava com a sua voz ao ditado acendendo a
imaginação para as trelas de menino que vivia de pular o esgoto do pó de serra,
e se esgueirava pela menor fresta na porta para ganhar o mundo, e passava a
perna pelo portão para driblar cangalhas e zambetas rumo a casa de Pai Lula
& Carma, e me escondia da privação de tudo que maínha exigia aos cuidados
das minhas enfermidades recorrentes, para ganhar à farta tudo quanto quisesse
ao bel prazer da gula, empazinado com biscoitos, doces, bolos, ponches,
quitutes e delícias de lanches feitos na hora. Ah, como eu adorava o recreio
para saborear tudo quanto fosse servido ao paladar e da mesma forma eu ficava
entretido com a professora contando pra gente coisas que amainavam meu
sofrimento de sexta pra segunda por não haver aulas nesses dias, mesmo que eu
me virasse correndo atrás de bola e brincadeiras de todo tipo, sempre me
aprontando para ouvir minha mãe gritar que hoje não tem aula, menino, hoje é
sábado, deixe de ser avexado! E repetia no dia seguinte, se aquiete, menino,
hoje é domingo, e eu corria pra cima e pra baixo, aprontando de tudo a brincar
com meus cadernos e os livros do meu pai que eram confiscados no meio da
brincadeira, até sonhar o dia todo na sala de aula até ao amanhecer bem
cedinho, todo pronto e embecado na farda da Maçonaria, para mais um dia de aprender
com ela, meses a fio com os olhos apregados nos mínimos detalhes de cada
assunto só para encantá-la, porque eu já encantado queria mais que os coleguinhas
que distribuíam presentes na chegada com frutas, lembranças e brebotes, e eu bolsos
e mãos vazias, só tinha nada mais que uma quadrinha em versos para lhe
presentear no final da aula, depois que todos já haviam presenteado. Era ela, a
professora Hilda, que me me fazia retornar à vida depois de novembro a
fevereiro, ao sucumbir nas férias às reinações e pisas, se endireite menino,
ela passando a mão à minha cabeça de dengoso, é uma criança e precisa de
carinho, relevando minhas presepadas, por isso e muito mais a tinha em alta
conta na estima e no meu coração de menino levado. Era ela, professora Hilda
Galindo Correia, que enchia meus dias de entusiasmos para decorar a lição, ser
o primeiro que nunca fui da classe, atarantado com a sua beleza e prestando
atenção a tudo, nas perguntas e respostas, a minha vez, sempre dava um branco,
de novo! E eu me esforçava por agradá-la por ser ela a dona do meu coração
infantil e só sabia me expressar por meio dos versos da quadrinha que mal sabia
escrever. Era ela a rainha dos encantos do meu coração menino, hoje homem
feito, que a vê apenas passando na calçada oposta da biblioteca, para
manifestar toda minha gratidão de criança sonhadora que sou até hoje. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais do saudoso maestro, compositor, arranjador, saxofonista e
clarinetista Paulo Moura (1932-2010) interpretando Radamés Gnatalli & Confusão
urbana, suburbana e rural; a cantora e compositora portuguesa Eugénia
Melo e Castro cantando Vinicius de
Moraes e outros dos seus sucessos; o guitarrista de jazz estadunidense Pat
Metheny desfilando Speaking
of Now Live & The Way Up; e a pianista, compositora,
artista e diretora japonesa Tomoko Mukaiyama executando At the illeseum
(parts 1, 2 e 3) e músicas de obras de John Zorn, William Bolcon & Frank
Zappa. Para conferir é só ligar o som e
curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Toda a
nossa educação – na família, na sociedade, na escola, na faculdade, na
universidade – cria tensão em nós. E a tensão fundamental é a de que você não
está fazendo aquilo que deveria fazer. E essa tensão persiste durante toda a
sua vida; ela o acompanha como se fosse um pesadelo, está sempre o assombrando.
Nunca o deixa descansar, nunca lhe permite relaxar. [...] Se você fizer algo de bom, ela vai lhe
dizer: “Você é um tolo. Fazer o bem não compensa; as pessoas vão lhe enganar”.
Se você fizer algo de ruim, ela vai lhe dizer: “O que está fazendo? Você está
preparando o caminho para ir pro inferno; você tem de sofrer por isso”. A mente
nunca vai deixá-lo descansar; faça você o que fizer, ela estará sempre
condenando-o. Esse censor foi implantado em você. Essa é a maior calamidade que
aconteceu a humanidade. E, a menos que nos livremos deste censor que existe
dentro de nós, não poderemos ser verdadeiramente humanos, não poderemos ser
verdadeiramente alegres e não poderemos participar da celebração que é a
existência. E agora ninguém pode removê-lo, exceto você. [...].Trecho
extraído da obra Destino, liberdade e
alma: qual é o sentido da vida? (Planeta, 2011), de Osho – o filósofo místico Bhagwan Shree Rajneesh (1931-1990).
Veja mais aqui, aqui e aqui.
RIO FORMOSO
- O distrito de Rio Formoso foi criado pela Lei municipal 85, de 04 de maio de
1840, passando a vila por atodo Conselho do Governom em 20 de maio de 1833. Foi
desmembrado do município do Recife ascendendo à categoria de cidade por Lei
Provincial 258, de 11 de junho de 1850. A cidade foi edificada em terras do
engenho de mesmo nome, a partir de uma capela que existia de 1637, tornando-se
palco de muitos combates durante a ocupação holandesa e os seus feitos estão
registrada na história. A divisão administrativa do município compõe-se do
distrito-sede, Cucaú, Saué e Tamandaré. Anualmente, no dia 11 de junho, a
cidade comemora a sua emancipação política, conforme a Enciclopedia dos
Municipios do Interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui.
CONTO DE FADAS X MITO: OTIMISTMO X PESSIMISMO - [...] É
impossível negar que as provações e aventuras dos heróis e heroínas do conto de
fadas são sempre traduzidos em termos iniciatórios. Ora, isto me parece de
importância primordial desde o tempo – que é tão difícil determinar – em que os
contos de fadas tomaram forma enquanto tais, os homens, tanto primitivos como
civilizados, escutaram-nos com um prazer suscetível de repetição indefinida.
Isto equivale dizer que os cenários iniciatórios – mesmo camuflados como o são
nos contos de fadas – exprimem um psicodrama que responde a uma necessidade
profunda do ser humano. Todo homem deseja experimentar certas situações
perigosas, confrontar-se com provas
excepcionais, entrar à sua maneira no Outro Mundo – e ele experimenta tudo
isso, no nível de sua vida imaginativa, ouvindo ou lendo contos de fadas
[...] são modelos para o comportamento
humano que, devido a este mesmo fato, dão significação e valor à vida.
[...]. Trecho extraído da obra Ritos e Símbolos de Iniciação (Birth
and Rebirth - Harvill Press, 1958), do filósofo, professor, cientista das
religiões, mitólogo e romancista romeno Mircea Eliade (1997-1986), autor
de Mito e realidade (Perspectiva, 2000), no qual aborda o mecanismo,
a função e a evolução do mito que constituem hoje estudo indispensável nas
modernas ciências do homem, não só porque a ele se ligam basicamente as
indagações sobre o significado do mundo e da existência humana, mas também
porque dele dependem essencialmente a compreensão de nossas formas de
linguagem, expressão e comunicação, reunindo uma exposição histórica e uma
síntese filosófica a respeito da bibliografia no assunto. É também autor de
obras como História
das crenças e ideias religiosas (Zahar, 2010), O sagrado e o profano (Martins Fontes,
1992), Tratado de história das religiões
(Martins Fontes, 2002), e Mito do eterno
retorno (Mercuryo, 1992), entre outros.
O PRAZER DO TEXTO – [...] O que eu
aprecio, num relato, não é pois diretamente o seu conteúdo, nem mesmo sua
estrutura, mas antes as esfoladuras que imponho ao belo envoltório: corro,
salto, ergo a cabeça, torno a mergulhar. Nada a ver com a profunda rasgadura
que o texto da fruição imprime à própria linguagem, e não à simples
temporalidade de sua leitura. [...] Se aceito julgar um texto segundo o prazer,
não posso ser levado a dizer: este é bom, aquele é mau. Não há quadro de honra,
não há crítica, pois esta implica sempre um objetivo tático, um uso social e
muitas vezes uma cobertura imaginária. Não posso dosar, imaginar que o texto
seja perfectível, que está pronto a entrar num jogo de predicados normativos: é
demasiado isto, não é bastante aquilo; o texto (o mesmo sucede com a voz que
canta) só pode me arrancar este juízo, de modo algum adjetivo: é isso! E mais
ainda: é isso para mim! Este “para mim” não é nem subjetivo, nem existencial,
mas nietzschiano (“no fundo, é sempre a mesma questão: O que é que é para
mim?...”). [...]. O brio do
texto (sem o qual, em suma, não há texto) seria a sua vontade de fruição: lá
onde precisamente ele excede a procura, ultrapassa a tagarelice e através do
qual tenta transbordar, forçar o embargo dos adjetivos – que são essas portas
da linguagem por onde o ideológico e o imaginário penetram em grandes ondas.
[...]. Trechos extraídos da obra O Prazer
do Texto (Perspectiva, 1987), do escritor, sociólogo, filósofo, semiólogo e
crítico literário francês, Roland Barthes (1915-1980).
XOTE DAS MÁQUINAS – Os rios Una e
Ipojuca brotavam no Agreste, fios d’água que tomavam corpo nas terras generosas
da Zona da Mata, cortando-as em toda a extensão. Desciam entre canaviais,
usinas, cidades até o encontro com os coqueiros e os mangues das praias do sul.
Movendo e removendo as alvas dunas de Gravatá e de Suape, desaguavam no mar. O
Una contornava Dois Rios num envolvente e sinuoso abraço, deslizando
murmurejante por trás da usina. O Ipojuca aproximava-se, olhando a cidade de
longe e, medo ou inveja do Una, rio maior e mais famoso, contorcia-se numa
curva, distanciando-se. E nunca mais os dois rios canavieiros sequer se
olhariam. [...]. Trecho extraído da obra Outro sol se levanta (Autor,
2007), do escrito Pelópidas Soares (1922 –
2007). Veja mais aqui.
LEMBRANÇAS: ALTO DO INGLÊS, DE BHASÍLIO SANTTOS
Poema do livro Palmarinalidades poéticas, do escritor Bhasílio Santtos. Veja mais aqui.
Veja mais:
A origem da vida aqui.
Neuroeducação aqui.
A literatura de Carlos Fuentes aqui.
A literatura de Fiódor Dostoiévski aqui.
A poesia
de Augusto dos Anjos aqui.
&