AOS VIVOS QUE RESTAM
DOS MORTOS - Imagem: Nós (1926), do
pintor brasileiro Ismael Nery
(1900-1934). - As partidas nas asas dos ventos, as
chegadas apressadas de nada verem, atrasados nas suas fugas imotivas e
defecções, afetos perdidos, asas partidas no espaço vazio, entre sentimentos
estreitos, andares solitários doloridos na garoa dos muros interditados pelas
tardes sem sol dos olhos nublados, mãos espalmadas para ausência, abraço
estendido pro ermo da indiferença dos que vivem sem saber que já morreram nas
suas frustrações e mágoas enfurecidas, dos que acham que vivem na embriaguês de
seus mandos e posses a rivalizar com as necessidades alheias de sorrir a
banguela das gengivas invernais, dos que tentam viver a todo custo a pisar os
outros com a cegueira dos luxos das vitrines e pedidos de perdão na oração
cristã da missa dominical. Em mim o vaivém do caleidoscópio, sombras de
novembro no peito de maio pelo filho que partiu a muito na poeira do tempo
quase inesquecível, pela mãe que se foi sem aceno na dor de parir sonhos
irrealizáveis, pelos amigos tragados pelas tragédias, pelos que sumiram nas
cinzas do álbum de fotografias, povoando lembranças erradias. Saúdo meus mortos
que vivem em mim, estão vivos em mim no que me resta de ser feliz apesar dos
pesares. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com os álbuns Carioca, Stone Alliance, Patamar
& Makenna Beach do músico instrumentista Márcio
Montarroyos (1948-2007); Libertango,
Storm & Sitarki da violoncelista croata Ana Rucner; Rudepoêma
de Villa-Lobos, Rapsódia Brasileira de Radamés Gnatali & Fantasia op. 28 de
Scriabin, com o pianista brasileiro Roberto Szidon (1941-2011); e a
Suíte 1 & 5 de Bach & a Sonata nº 2 de Myaskovsky, com a violoncelista
russa Natalia Gutman. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA - A
escravatura humana atingiu o seu ponto culminante na nossa época sob a forma do
trabalho livremente assalariado. Pensamento do dramaturgo, escritor e
jornalista irlandês George Bernard Shaw (1856-1950). Veja
mais aqui e aqui.
SOCORRO DO TREM DO BONITO – O município do Bonito foi
assentado em meio a diversos pés de serras, verdadeiras couraças naturais que
embalam a cidade [...] irrigados
pelos rios Sirinhaém e Una. A fertilidade do solo, a amenidade do clime, a
salubridade e as boas fontes de águas, atraíram, desde finais de sec. XVIII,
toda sorte de aventureiros, muitos até endinheirados, que ali fundaram fazendas
e engenhocas obtidas às terras por sesmarias. Outros sem grandes chances na vida,
buscavam abrigo naquela terra como moradores e agregados havendo aqueles, como
os retirantes das secas que por ali se abrigavam buscando conforto para suas
miseráveis vidas. [...] Foi essa
gente sofrida que, aproveitando as sobras de terras, as brechas, digamos assim,
entre uma sesmaria e outra se arrancharam com suas famílias, fundando no
outeiro a capela da Conceição (1812), mais tarde matriz da cidade. [...] Paulatinamente, o Bonito foi crescendo e
adaptando-se às novas realidades [...] Afora
o sesmarialismo, muitas terras foram conquistadas no tapa. [...] Nesses mundos onde se desenvolveram sítios,
engenhos e engenhocas, a casa senhorial era o centro nevralgico das decisões. [...]
Por volta do segundo quartel do sec. XIX,
teve inicio no Bonito o cultivo da cana. [...] Diante dessas expectativas, a cana passou a invadir quase todo
altiplano bonitense dilatando-se por várzeas, brejos e montanhas,
registrando-se decréscimo no final do século mediante a consciência da
cafeicultura. [...]. A região onde desemboca
o rio Sirinhaem, o rio dos siris para os nativos, foi conquistadas aos índios
em 1565. Após esse empreendimento, os índios foram expulsos de suas terras e
estas repartidas em datas de sesmarias vicejando posteriormente engenhos de
açúcar. Mais tarde o colonizador adentrou pelo mato reconhecendo todo o curso
do dito rio até chegar suas nascentes no agreste em Camocim de São Félix. [...]
De seus aflientes Bonito Grande, Riacho
Seco, Tanque de Piabas, Várzea Alegre e Tese. [...]. Trechos extraídos da
obra Velhos engenhos e antigas famílias
do Bonito (CEHM, 2010), de Flávio José Gomes Cabral. Já no texto Estrada de ferro Ribeirão-Cortês-Bonito,
de Severino Rodrigues de Moura, extraídop da Revista de História Municipal
(CEHM, dez. 2008), encontramos o seguinte relato: A população do Bonito tinha o sonho de construir uma estrada de ferro
ligando sua cidade a Ribeiro desde meados do século passado. [...] Em 1904 a linha férrea Ribeirão-Nonito foi
anexada à Great Western e em seguida à Rede Ferroviária do Nordeste (RFN) até
sua extinção. [...] Um certo dia, a
locomotiva descarrilou no ramal do Engenho Limão, com todas as carroças de
cana. O acidente apresentou proporções bem maiores do que aqueles ocorridos
antes, tendo o maquinista que pedir socorro ao gerente da usina. [...] Teve que pedir ajuda em Ribeirão. No
entanto, o trem de socorro também descarrilou, sendo preciso vir um terceiro
trem. Foi um Deus nos acuda. Parecia um formigueiro em vérpera de trovoada. [...]
mais uma vez pediu socorro à estação de Ribeirão,
passando o seguinte telegrama: Trem de carga caiu. Pedi socorro. Socorro veio.
Também caiu. Agora peço socorro para socorrer socorro e trem de cana. Ass.:
Norberto. Veja mais aqui.
ÍNTIMO DAS AUTORIDADES – O sujeito tinha o apelido de
“Sombra”. Era funcionário do cerimonial no palácio do governo estadual [...]
Jornalistas e repórteres fotográficos
credenciados, ficavam enfurecidos da vida devido as reais dificuldades em
fotografarem as autoridades sem a presença do “individuo indesejavel”. [...]
Verdadeiro batalhão de fotógrafos e
jornalistas se posicionava a fim de clicarem o Presidente da República. [...]
Quem estava logo na frente? Ele, o
inconveniente e intrometido Sombra. Ajeitou o cabelo e a gola do surrado paletó,
dirigiu-se aos fotógrafos e perguntou: Como vocês querem que eu saia? Disse um
dos repórteres: Que saia da frente, para fotografarmos o presidente! Trechos
extraídos da obra Sátiras políticas:
porque rir faz bem à saúde (Livro Rápido, 2000), do escritor e advogado Paulo Dantas Saldanha.
A SUCATA & ARTES VISUAIS – [...] As possibilidades de
construções com sucatas são infinitas, baratas e podem sem muito criativas.
Além disso, as sucatas podem ser utilizadas em muitas outras atividades, como
complemento de outra técnica. [...] Se
a sucata não for valorizada, fica muito próxima de mero lixo e com isso não
desperta nenhum interesse para a criação. [...]. Trecho extraído da obra 300 propostas de artes visuais (Loyola,
2009), das artistas plásticas Ana Tatit
& Maria Silvia Monteiro Machado,
tratando sobre pintura, desenho, recortes, colagens, bonecos, máscaras,
modelagens, fantoches, mosaico, escultura e construções com materiais variados,
jogos e brinquedos com sucata, sucatário, outras técnicas e atividades.
O ATOR NO SÉCULO XX – [...] perfila-se
uma volta a comunhão por pequenos grupos, a celebração de um rito em que
celebrantes e fieis respiram juntos, mobilizem suas forças fisiológicas e
pesquisas, querem sair de si mesmo, comunicar-se numa troca fraterna. O ator
continua sendo aquele que propõe essa troca, que dá ao outro, que recebe e se
oferece de novo, qualquer que seja sua mensagem. [...] Ator-poeta, trovador falando ou cantando [...] o prazer de atuar se confunde com o prazer de viver para quem o mal de
viver se traduz pela dor que se canta e repartindo o que se encanta. [...].
Trecho da obra O ator no século XX
(Perspectiva, 2008), de Odette Aslan
que trata sobre as formas de interpretação, os problemas do gestual, modo de
formação, busca da personagem, reações contra o naturalismo, pesquisas antes e
depois da revolução russa, revisão do espaço, radio, cinema, televisão,
teatros-laboratórios, comunidades teatrais, tendencias atuais, ética pessoal e
de grupo e o ator do amanhã. Veja mais aqui e aqui.
SER POETA - Fiz-me
poeta / por exigência da vida, das emoções, dos ideais, da raça. / Fiz-me poeta
/ sabendo que nem só se finge a dor que deveras sente / e crendo que através da
poesia posso exprimir / a arte do cotidiano, vivida em cada poema marginal.
Poema extraído da obra Quilombo Hoje –
Cadernos Negros 15 (Edição dos Autores, 1992), da poeta, pesquisadora,
artista plástica e educadora Lia Vieira. Veja mais aqui.
CRÔNICA DO ARVOREDO & ANDARILHOS DE
MAURÍCIO MELO JÚNIOR
[...] Já não me
lembro bem dos detalhes, sei apenas que li num livro emprestado por um amigo. A
memória também não alcança os nomes do amigo, do livro, do autor. Sei somente
que era alto e escondia o rosto por trás de uma barba espessa, o amigo; e o
volume tinha capa amarela e marrom. Vivíamos a tensão do vestibular;
implacável, inadiável. Vivíamos uma cidade cercada pelos mistério da história,
pelo fascínio de um cotidiano de transformações concretizadas ao desejos dos
minutos. Tínhamos a sensação de que o mundo hirava em função de nós. E o mundo
não nos bastava, embora tivesse sido feito para abrigar somente a nossa
juventude. O amanhã era apenas a conseqüência do Sol que à tarde dormia. Por
isso vivíamos com intensidade o Recife. [...].
Trecho da obra Crônica
do arvoredo (Bagaço, 2006).
[...] Seu moço saia
do caminho, a conversa é comigo e Deus. No meio, somente os macacos do exercito
e a esperança de uma briga boa. Desarrede, desarrede que não tenho prosa pro
senhor. Doido, eu? Pois o senhor ainda não topou com doido na vida e já disse
pra não querer me enfrentar. Num avance, peste, num avnce que seu tempo pode tá
findo. Pois, lá vai brincadeira que já num tenho tempo pra prosa. Pá, pá e que
fique nas agonias do fim. [...]
Trecho da obra Andarilhos:
caminhos só ida, volta à seca (Bagaço, 2007), ambos os livros do jornalista
e escritor Maurício Melo Júnior.
Veja mais aqui, aqui e aqui.
Veja mais:
A poesia de Jorge de Sena aqui.
&
A ARTE DE ISMAEL
NERY
POESIA REVISTA
2018
Acaba de ser lançado o edital da Poesia Revista para reunião anual
de textos poéticos e colunistas de São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, com
tema Amor e distribuída em bibliotecas nacionais, em saraus e pelos poetas
participantes do projeto. A publicação é destnada a jovens e adultos, visando o
fomento da cultura e literatura na formação de público leitor e com objetivos
voltados para valorização do escritor e suas habilidades textuais, incentivo da
leitura, oportunizar aos autores a veiculação de seus trabalhos com divulgação
nacional e internacional. Os interessados confiram aqui.