E ISSO É TUDO A
VIDA TODA NO CAOS – Já vai longe o
tempo em que eu me empolgava avexado na buraqueira, enfrentando os meus moinhos
e dando azo à perseguição dos desejos. Ah, quanta coisa esdrúxula me era
importante, já passou, não mais. Rio. Não era demais toda irrisão diante da
minha conspícua investida na surpresa das inclementes quedas patéticas. Nada mais
risível, avalie. Eu atraio estranhos afetos e coisas do outro mundo. Além do
mais, vejo o imperceptível que é usualmente insignificante para todos: um
desplante pra quem sempre foi tratado por disparatado. As surpresas ao final
eram nada mais que previsíveis desastres. Batia, persistia, insistia e até
perseverava na minha credulidade tola: jamais admitido em nada, estornado pelas
costas ou por insultos tácitos. Precisei de muito até ser abatido pela ruína,
às vezes me tornando cáustico, impertinente, metido em desregramentos, até
obscenidades, esborrando revoltas que evanesciam ao primeiro sinal de chance
proutras pelejas. Resignava insatisfeito, pudera. Cabeça a mil, aprendia,
recomeçava do zero. Quando aprumava pro êxito, lamúrias alheias me faziam abdicar
na horagá. Tanto renunciei que nem júbilos interessam mais, reduzi-me à existência
enclausurada, apartada do mundo. Deixei para trás os arroubos, ambições, tudo esfacelado
na dispersão do tempo: desapontamentos são lições valiosas. Deixei para trás
coisas até hoje sem solução, acho. Pronde vou, sempre o rebanho humano em
sentido contrário, uns atrás dos outros, aceno e me são indiferentes, seguem importunos
pro cenário da libação das virtudes corrompidas, enquanto lívido e perplexo encaro
os desafios dos conflitos de meu tempo. O que importa é que se deram bem, eu
recomeço das cinzas, juntando pedaços que sobraram de mim mesmo, quase nada. Refaço
silente e insistente, transgrido para padecer de dores por todo corpo, quando
não sucumbo de vez entre a sístole e a diástole: não sou a primeira nem a
última criatura entre o deleite e o desespero, desejos por satisfazer,
sofrimentos por evitar. A despeito de mim mesmo, apesar de ignorado, parece que
alguém me lê às escondidas, quase ninguém se atreve a me escrever, ninguém ousa
interlocução. Os meus inimigos sempre estiveram dentro da minha casa, entre
meus familiares, quando não ao redor e à espreita de qualquer bocejo meu. Nunca
me importei com isso. Hoje desapressado – talvez sinal da minha precoce
senectude -, ainda assim transgrido de mim mesmo reiterada e recorrente a
duvidar do que penso ou de me ver equivocado com frases que possam ser
particularmente felizes, ou não. Talvez acerte, quem sabe, aprendi o erro e persigo
circunspecto pelos princípios imutáveis que governam as mudanças. E se vou
longe, não sei, sirvo-me do horizonte para saber da infinitude que reluz oculta
no meu coração. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais do pianista, maestro e compositor Marlos
Nobre: Yanomami for choir &
guitar com o Coro Cervantes, Passaglia for Orchestra & Três Cantos de
Yemanjá for cello & piano; da compositora russa Galina
Ustvolskaya (1919-2006): Symphony nº
2 & Poem nº 1; do compositor, regente, professor e jornalista Gilberto
Mendes (1922-2016): Alegres
trópicos, um baile na Mata Atlântica, Piano solo & Saudades do Parque
Balneário Hotel com a OSESP; e da pianista Miriam Ramos
interpretando o compositor, regente e flautista Octavio Maul & o maestro e
compositor Ricardo Tacuchian. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] O
que me parece mais belo, o que eu mais gostaria de fazer, seria um livro acerca
de nada, um livro sem nenhum vínculo exterior, mas sustentado pela força
interna do estilo [...] um livro que
quase não tivesse assunto, ou pelo menos, em que o assunto fosse quase
invisível, se tal é possível. As obras mais belas são as de menos matéria [...]
Acredito que o futuro da arte esteja em
tais canais. [...]. do escritor francês Gustave Flaubert
(1821-1880). Veja mais aqui, aqui & aqui.
CAMBÃO TORTO, AMARAJI - O
povoamento de Amaraji teve inicio em 1868. Tomou vulto, pouco a pouco, devida a
uma geira que ali se realizava, o que deu lugar à construção de casas
comerciais e muitas outras, para residência de moradores vindos de partes mais
distantes para dedicar-se ao pequeno comercio e aos misteres agrícolas. O
povoamento teve rapico desenvolvimento, e os viandantes e moradores chamavam a
nascente povoação pelo de Cambão Torto. Depois de algum tempo, essa denominação
foi mudada para São José da Boa Esperança, que teve o predicamento de vila pela
Lei munciipal 2137, de 09 de novembro de 1889. Foi desmembrada do município de
Escada. A sua instalação ocorreu em 11 de outubro de 1890. Tomou, então, o nome
de Amaraji. Foi elevada à categoria de cidade pela Lei estadual 991, de 1 de
julho de 1909. Administrativamente, o município é formado pelo distrito-sede e
pelo povoado de Demarcação. Atualmente, no dia 01 de julho, Amaraji comemora
sua emancipação política. [...]. Extraído da Enciclopedia dos municípios do
interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986), Veja mais aqui.
A ARTE E O ARTISTA - [...] Toda
a gente tem predicados de artista em criança, ainda mais verdade é que toda a
gente tem índole de artista na adolescência [...]. De vez que a Arte, com tornar-se um fim em si mesma, se tornava um
problema do indivíduo – ou, com tornar-se um problema do individuo, se tornava
um fim em si mesma [...] A
inteligência talvez seja um funcionamento inadequado dos instintos, ou os
primórdios de instintos que ainda não se cristalizaram [...] em relação às estrelas, um homem não tem
maior importância que um gafanhoto. [...] Um autor que vive a maior parte de sua vida mentalmente tem de cometer
suas transgressões no papel. [...] A
blasfêmia é um experimento sério, uma transgressão por via dos pecados alheios.
Blasfemar é restabelecer os deuses perdidos renunciando a eles; a blasfêmia é a
luta de uma natureza emotiva, um protesto contra o intelecto que tende a
torná-lo estéril de êxtases religiosos. A blasfêmia é ímpia, mas não
irreligiosa. [...] A verdade, em
Arte, não é a descoberta dos fatos, não é um acréscimo ao conhecimento humano,
no sentido científico do termo. É, antes, o exercício da propriedade humana, a
formulação de símbolos que enrijecem nosso senso de equilíbrio e ritmo. A
verdade artística é a exteriorização do gosto. [...]. Trechos extraídos da
obra Teoria da forma literária
(Cultrix, 1979), do filósofo e teórico da literatura estadunidense Kenneth Burke (1897-1993). Veja mais
aqui.
FÉRIAS DE NATAL –[...] Dançar
com uma moça inteiramente nua acima da cintura era para Charley uma sensação
nova e emocionante. Ao pousar a mão naquele corpo e ao sentir aqueles seios nus
colados a seu peito, perdeu o fôlego. A mão que segurava era pequena e macia.
Charley, sendo um rapaz bem-educado, de boas maneiras, sentiu necessidade de
entabular uma conversa polida. [...]. Trecho extraído da obra Férias de Natal (Globo, 2003), do
escritor britânico William Somerset
Maughan (1874-1965). Veja mais aqui e aqui.
UM DIA – Um dia, gastos,
voltaremos / A viver livres como os animais / E mesmo tão cansados floriremos /
Irmãos vivos do mar e dos pinhais. / O vento levará os mil cansaços / Dos
gestos agitados irreais / E há-de voltar aos nosso membros lassos / A leve
rapidez dos animais. / Só então poderemos caminhar / Através do mistério que se
embala / No verde dos pinhais na voz do mar / E em nós germinará a sua fala. Poema extraído da Antologia (Portugália, 1968), da poeta portuguesa Sophia de
Mello Breyner Andresen (1919-2004).
Veja mais aqui.
NEGRINHA,
DE SÔNIA FÁTIMA DA CONCEIÇÃO
O olhar perde-se
infinidades de dúvidas
ondas em cirandas
cercando a infância
de sanhas insanas
decepastes as bonecas
em mares de indiferenças
mergulhei fundo, contive
em tuas entranhas, brincos
brincadeiras indescritíveis
arrastada às cozinhas abastadas
percorri impassível entre:
brilhos, bombril, resmungos,
choros da criança que sou
e que não era eu
O sol do meu sorriso
derrama-se em felicidades ingênuas
Irascível - a ira - derrama-se
incandescente em teu coração
Negrinha! Tiziu!Tição!
ressoam ventos adormecidos
em desertos de sal
Tu me atinges
O coração rios em chama
a margem - revolta
Torrentes tempestuosas
arremessam ao infinito
tua tentativa ingênua
de romper castelos, fadas
cirandas, infância.
Poema extraído dos Cadernos Negros (Autores, 1981),
da escritora Sonia Fátima da Conceição. Veja mais aqui.
ITINERÁRIO MUSICAL DO NORDESTE
A coletânia
Itinerário Musical do Nordeste (Massangana,
2011), lançado pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) reúne 10 cds e um livro
com sonoridades de cultos afros-brasileiros, tais como cerimônia de Obori,
jurema, orixás, tambor de mina e Casa Nagô, além de bandas de pífanos, ciranda,
tambor de crioula, maneiro-pau, coco de embolada, aboio, incelência, reisado,
guerreiro, histórias e cantigas. Os CDs reúnem Orixás, Jurema/Obori, Tambor de
Mina/Casa de Nagô, Ciranda/Tambor de Crioula, Banda de Pífanos, Repentistas, Reisado/Guerreiro,
Maneiro-Pau/Coco de Embolada, Aboio/Incelência e Histórias/Cantigas. A pesquisa
foi realizada pelo então sociólogo da Fundaj, Enemerson Muniz, juntamente com
os pesquisadores José Jorge de Carvalho, Rita Segato e Cristina Machado,
registrando sonoridades apuradas em expedição realizada de Alagoas ao Maranhão,
em uma parceria com o Instituto de Etnomusicologia e Folclore de Caracas (Um
presente da conterrâneamiga Graça Lins, obrigado).
Veja mais:
&
A ARTE DE ELZA
BARROSO
A arte da
fotógrafa e artista plástica Elza Barroso.