Art by Karen Liebowitz
DITOS & DESDITOS - A razão é
como um oficial quando o réu aparece: o oficial então perde o seu poder e
ninguém mais se lembra dele. A razão é a sombra que some diante de Deus, que é
o sol. Pensamento do poeta, jurista e
teólogo sufi persa Jalal-Uddin Rumi
(1207-1273). Veja mais aqui.
A CARTA DO CACIQUE SEATTLE
– O
grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O
grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil
de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos
pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá
com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar
no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos
podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas,
elas não empalidecem. Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra?
Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água.
Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso
tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas
as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e
todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo. Sabemos
que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de
terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da
terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de
exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos.
Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os
direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os
desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas
talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende. Não
se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa
ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos.
Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível
para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode
ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio
prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do
vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso
para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar,
animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que
respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro. Se eu me decidir a
aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se
fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra
forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem
branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não
compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um
bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria
vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens
morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode
também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da
terra. Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os
nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o
tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas
ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias.
Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum
dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em
pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo
que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso. De uma coisa
sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o
mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja
possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma
maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano
à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai
desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a
sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos.
Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando
as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem
de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias?
Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da
vida e o começo pela luta pela sobrevivência. Talvez compreendêssemos com que
sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos
nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam
ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do
homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o
nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que
nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos.
Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar
da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo
continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um
recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra,
ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como
era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e
todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a
todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por
Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum. Carta escrita pelo cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, em 1855, enviada
ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver
dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios.
FIO DA NAVALHA – [...]
Os homens
não são somente eles; são também a região onde nasceram, a fazenda ou o
apartamento da cidade omnde aprenderam a andar, os briquedos com que bricaram
em crianças, as lendas que ouviram dos mais velhos, a comida de que se
alimentaram, as escolas que frentaram, os esportes que se exercitaram, os
poetas que leram e o Deus que acreditaram. Todas estas coisas fizeram deles o
que são, e essas coisas ninguém pode conhecê-las somente por ouvir dizer, e sim
se as tiver sentido. [...]. Trecho da
obra O fio da navalha (Rio Gráfrica,
1986), do escritor britânico William
Somerset Maughan (1874-1965). Veja mais aqui e aqui.
NÓS E O UNIVERSO – [...] Alguém me pede uma explicação da teoria de
Einstein. Com muito entusiasmo lhe falo de tensores e curvas geodésicas. – Não
entendi uma só palavra – diz ele, estupefato. Reflito por alguns instantes e em
seguida, com menos entusiasmo, lhe dou uma explicação menos técxnica, conservando
algumas geodésicas, mas fazendo intervir aviadores e tiros de revolver. – Já
entendo quase tudo – diz meu amigo com bastante alegria – Mas tem uma coisa que
ainda não entendo: essas geodésicas, essas coordenadas... Deprimido, mergulho
numa longa concentração mental e termino por abandonar para sempre as
geodésicas e as coordenadas. Com verdadeira ferocidade, me dedico
exclusivamente a aviadores que fumam enquanto viaham à velocidade da luz,
chefes de estação que disparamum revolver com a mão direita e verificam tempos
comum cronômetro que têm na mão esquerda. Trens, sinos e vermes de quatro
dimensões. – Agora, sim, entendo a relatividade! – exclama meu amgo com
alegria. – Sim – respondo, amargamente -, mas agora não é mais a relatividade.
[...]. Trecho extraído da obra Nós e o
universo (Francisco Alves, 1986), do escritor e artista plástico argentino Ernesto
Sábato (1911-2011). Veja mais aqui e aqui.
VERS&PROSA PARA A MENINAZUL – É um livro inédito onde reúno poemas, narrativas, poemiúdos & canções dedicados à meninazul.
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