COMO QUEM ESPERA
E JÁ FOI – Imagem: The Hangover, do pintor francês Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901).
- Como quem espera tal pedra que bóia por
quem saiu até já e um beijinho entre os dedos jogados de adeus, eu espero de
volta o aceno de chegada e a um palmo de lonjura, dois palmos, três palmos,
nada não, distância de êxito vencida no afeto por mimos e dengos em loas e
juras no embalo das batidas do meu coração a sentir outro coração pulsando
rente pelas diástoles e sístoles de siameses, sem se dar conta do tempo porque
não tem hora marcada, nem nunca findar entre beijos e abraços e eu me sentir
entregue e aceito, envolvido pelo que há de melhor em viver e se amar. Como
quem espera vitrine nos trinques e engalanada com a última moda por confetes e
serpentinas de festas promocionais, por toda avidez de quem quer e precisa
agora mesmo e sem mais tardar para sentir-se melhor porque era o que mais
queria e sou sua realização de felicidade e de todos os desejos sonhados e
premidos, sou por ter de esperar sem ter que já já ter de ir embora, coisa de
nunca saber, nunca se sabe, nem ter que bater as botas e sumir, já foi, já era,
não, não mais, por favor, fica que a vida é agora e vamos viver. Como quem
espera tudo longe bem perto de não ter mais tamanho ao alcance das mãos
frenéticas apegadas e trêmulas de emoção, apertando com força, tateando
confornos, é isso mesmo, será, deixa ver, tem de ser, que bom que é, e agarrar
pra que não vá nunca mais e fique comigo a sorrir ou chorar, está valendo e só
valerá desde que esteja e seja mútua na satisfação de dois em um só. Como quem
espera a prestar atenção em algaravias e coisas perdidas ao léu, sem dever de
ofício pra tudo correr ladeira abaixo e subir ao cansaço de ter de retornar ao
ponto de partida e recomeçar porque é um prazer ter de ir eterno retorno e a
noite passa e o dia também, na madrugada que teima solidão esconida entre
quatro paredes e derrubá-las como quem vence o mar e o fim do mundo e ninguém mas
ninguém mesmo se dê conta do que venha a ocorrer, seja lá o que Deus quiser, eu
espero sabe-se lá do quê nem pra quê, só que espero sem ter de dizer até basta
porque nunca será o bastante e com certeza será coisa boa ou não, pode ser, ou
não, não é, que seja, fazer o quê, bater o pé ou deixar de mão, e defenestrar
pra depois puxar, trazer junto, chegar bem perto e sentir que vive e ama. Como quem
espera quer queira ou não, não mais espero, vou atrás, não dá pra esperar, é
agora, urgente, iminente, adeus espera, preciso viver e amar e voo de mim e
quero aonde chegar porto seguro e viver e amar. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o compositor,
arranjador, produtor musical e guitarrista Toninho Horta: Terra dos Pássaros & Diamond Land; a cantora,
violonistak, compositora e percussionista Badi Assad no Milenium Stagium, Live California World Festa, Feminina & Ai que
saudade docê; o compositor alemão Max Richter Concert Reimagining Vivaldi & The leftovers Season; e a cantora e atriz
franco-inglesa Charlotte
Gainsbourg: IRM & 5.55. Para
conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA - [...] Facilmente veremos em que se diferencia o
homem que se conduz apenas pelo afeto, ou pela opinião, do homem que se conduz
pela razão. Com efeito, o primeiro, queira ou não, faz coisas que ignora
inteiramente, enquanto o segundo não obedece a ninguém mais que a si próprio e
só faz aquelas coisas que sabe serem importantes na vida e que, por isso,
deseja ao máximo. Chamo, pois, ao primeiro, servo, e ao segundo, homem livre. [...] Só os homens livres são muito gratos uns para com os outros [...] O homem livre jamais age com dolo, mas
sempre de boa fé [...] O homem que se
conduz pela razão é mais livre na sociedade civil, onde vive de acordo com as
leis comuns, do que na solidão, onde obedece apenas a si mesmo [...] A felicidade não é o prémio da virtude, mas a
própria virtude; e não gozamos dela por refrear as paixões, mas, ao contrário,
gozamos dela por podermos refrear as paixões [...] Trechos extraídos de Ética (Relógio d’Água, 1992), do filósofo racionalista holandês Baruch Espinoza (1632-1677). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
PSICANÁLISE & DIREITO – [...] Desde o início dos
tempos, quando o homem tomou conhecimento da morte e experimentou a angustia
diante de sua finitude, foi-lhe necessário representar sua existência, por meios
de ritos e crenças que o submetessem a um lugar de alteridade. Dessa
experiência de desamparo, nasceu a humanidade, e, com ela, a lei que a
inaugura. Uma lei que nos torna tributários de uma dívida com a linguagem, de
forma que só nos resta pagar por nossa existência por meio da palavra. Trecho
extraído da obra Psicanálise e direito:
uma abordagem interdisciplinar sobre ética, direito e responsabilidade
(Companhia Freud, 2014), da psicanalista Renata
Vescovi, que ainda se expressa: [...] O homem de nosso tempo vive
o conflito de ter que cumprir normas como se fossem cartilhas de conduta,
colocando-se a serviço do politicamente correto. Ao mesmo tempo, pretende-se
livre e caprichoso para viver às últimas consequências suas vontades. Por isto,
ele sonha em despojar-se de suas incertezas, de sua dor de existir, valendo-se
do extraordinário avanço das técnicas científicas, que costumam saber tudo,
responder a tudo, e recua da responsabilidade em decidir solitariamente sobre
seus atos. Ética não pressupõe valores morais, nem prescrições de condutas
dadas a priori. Ela é o questionamento incessante de um sujeito, no ponto em
que ele se vê angustiado e dividido entre a sua palavra e seu ato. Se
perdermos, tanto na esfera privada quanto pública, a capacidade de nos espantarmos
e nos questionarmos a respeito de nossos atos, corremos o risco de assumir uma
posição passiva e infantilizada. Abdicamos de nossa cidadania ao mesmo tempo
que apelamos para um Estado paternalista, que se arroga a condição de ser
gerador de favores a uma população que, no mesmo gesto, se despolitiza,
impedindo-se de lutar por consquistas políticas e sociais. Veja mais aqui.
LAJEDO
– O município de Lajedo está localizado na Microrregião de Garanhuns e na
Mesorregião do Agreste, tendo o núcleo urbano originado a partir da interiorização da atividade pecuária,
responsável pelo surgimento de fazendas, tendo como fundador o desbravador da
propriedade Cágado, Sr. Vicente Ferreira. A partir dele, ocorreu a construção
da primeira casa e deu origem ao povoado de Santo Inácio dos Lajeiros. Por volta de 1900, o povoado
transformou-se em distrito do município de Canhotinho, criando-se o município
pela lei Estadual nº 377, de 24 de dezembro de 1948, pelo então governador Barbosa
Lima Sobrinho. O nome da cidade tem origem a partir da existência de “lajeiros”
no seu entorno, área chamada de “Caldeirões”, que armazena água de chuva e que
durante muito tempo abasteceu a cidade. Está inserido na unidade geoambiental
do Planalto da Borborema e nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Una, tendo
como principais tributários os rios Quatis, da Chata e do Retiro, e os riachos
Bonito, Doce e do Serrote, todos de regime intermitente. Conta ainda com
distribuição de água oriunda do Açude São Jaques, situado no município de
Jurema, cidade próxima a Lajedo. Veja mais aqui.
ALÁ E AS CRIANÇAS-SOLDADOS - [...] segundo o meu Larousse, oração fúnebre é
o discurso em honra de um personagem célebre falecido. A criança-soldado é o
personagem mais célebre deste final de século. Quando um soldado-criança morre,
deve-se dizer em sua honra a oração fúnebre, isto é, como é que ele pôde
tornar-se uma criança-soldado neste mundo vasto e desgraçado. Eu faço isso
quando quero, não sou obrigado. Eu faço isso para Sara porque tenho vontade e
acho bom, tenho tempo e é divertido.
[...] Como impedir as eleições livres?
Como impedir o segundo turno? Ele pensa no assunto e, quando Foday [Foday Sankoh]
pensa seriamente, ele não usa álcool nem mulheres. [...] Era evidente: quem
não tinha braço não podia votar. (evidente significa de uma certeza facilmente
apreensível; claro e manifesto). Ele
manda cortar as mãos do maior número de pessoas, do máximo possível de cidadãos
leonenses. É preciso cortar as mãos de todo leonense preso antes de enviá-lo
para a zona ocupada pelas forças governamentais. Foday deu as ordens e os
métodos foram aplicados. Procederam às mangas curtas e às mangas compridas.
[...] as amputações foram gerais, sem
exceção e sem piedade. [...]. Trechos da obra Alá e as crianças-soldados (Estação Liberdade, 2003), do escritor
marfinense Ahmadou Kourouma
(1927-2003). Veja mais aqui.
O SENHOR PADILHA - [...] Luiz
chegava todo dia às sete da manhã, fazia as entregas, buscava as
correspondências, enfrentava as filas nos bancos e passava o resto da tarde
lutando com os carimbos. Era sempre o culpado pela desordem dos arquivos e
ficou primeiro encaramujado, depois revoltado com o eufemismo: “Exonerado!
Exonerado!”, repetia ele, ao ver que tinha acabado de levar um pé-na-bunda.
[...]. Trecho do conto O Sr. Padilha,
do escritor, editor e promotor cultural Ovídio
Poli Júnior, extraído da antologia Anais da Fliporto 2005, organizado por
Eduardo Côrtes. Veja aqui e aqui.
PÔR-DO-SAL, DE GERUSA LEAL
sentado sobre a
pedra
o homem escuta
o mar
não o olha mais
de frente
já não lhe teme
a força
pois mesmo
forte o rugido
pelas mãos de
Deus contido
não ousa seus
pés molhar
o homem escuta
o mar
que já fez
olhar tão longe
até onde o céu
baixando
esconde o que
vem de lá
não o olha mais
de frente
agora tão
diferente
de quando a alma
nos olhos
imaginando
tesouros
gostava de
mergulhar
já não lhe teme
a força
pois sabe que
em seu peito
a inundar-lhe
de anseios
tão feroz
quanto o primeiro
transborda um
outro mar
e mesmo forte o
rugido
a urgência com
que clama
aprendeu com as
marés
a ir e depois
voltar
não ousa seus
pés molhar
pois receia que
o desejo
de entregar-se
ao infinito
suba ao seu
corpo inteiro
e o leve de
volta ao lar
pela mão de
Deus contido
senta o homem
sobre a pedra
e apurando os
ouvidos
escuta as vozes
do mar.
Veja mais:
DOCE
PRESENÇA DE CLARA REDIG
&
A ARTE DE
TOLOUSE-LAUTREC