sexta-feira, novembro 24, 2017

ESPINOZA, AHMADOU KOUROUMA, TOULOUSE-LAUTREC, PSICANÁLISE & DIREITO, GERUSA LEAL, CLARA REDIG, OVÍDIO POLI JÚNIOR & LAJEDO

COMO QUEM ESPERA E JÁ FOI – Imagem: The Hangover, do pintor francês Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901). - Como quem espera tal pedra que bóia por quem saiu até já e um beijinho entre os dedos jogados de adeus, eu espero de volta o aceno de chegada e a um palmo de lonjura, dois palmos, três palmos, nada não, distância de êxito vencida no afeto por mimos e dengos em loas e juras no embalo das batidas do meu coração a sentir outro coração pulsando rente pelas diástoles e sístoles de siameses, sem se dar conta do tempo porque não tem hora marcada, nem nunca findar entre beijos e abraços e eu me sentir entregue e aceito, envolvido pelo que há de melhor em viver e se amar. Como quem espera vitrine nos trinques e engalanada com a última moda por confetes e serpentinas de festas promocionais, por toda avidez de quem quer e precisa agora mesmo e sem mais tardar para sentir-se melhor porque era o que mais queria e sou sua realização de felicidade e de todos os desejos sonhados e premidos, sou por ter de esperar sem ter que já já ter de ir embora, coisa de nunca saber, nunca se sabe, nem ter que bater as botas e sumir, já foi, já era, não, não mais, por favor, fica que a vida é agora e vamos viver. Como quem espera tudo longe bem perto de não ter mais tamanho ao alcance das mãos frenéticas apegadas e trêmulas de emoção, apertando com força, tateando confornos, é isso mesmo, será, deixa ver, tem de ser, que bom que é, e agarrar pra que não vá nunca mais e fique comigo a sorrir ou chorar, está valendo e só valerá desde que esteja e seja mútua na satisfação de dois em um só. Como quem espera a prestar atenção em algaravias e coisas perdidas ao léu, sem dever de ofício pra tudo correr ladeira abaixo e subir ao cansaço de ter de retornar ao ponto de partida e recomeçar porque é um prazer ter de ir eterno retorno e a noite passa e o dia também, na madrugada que teima solidão esconida entre quatro paredes e derrubá-las como quem vence o mar e o fim do mundo e ninguém mas ninguém mesmo se dê conta do que venha a ocorrer, seja lá o que Deus quiser, eu espero sabe-se lá do quê nem pra quê, só que espero sem ter de dizer até basta porque nunca será o bastante e com certeza será coisa boa ou não, pode ser, ou não, não é, que seja, fazer o quê, bater o pé ou deixar de mão, e defenestrar pra depois puxar, trazer junto, chegar bem perto e sentir que vive e ama. Como quem espera quer queira ou não, não mais espero, vou atrás, não dá pra esperar, é agora, urgente, iminente, adeus espera, preciso viver e amar e voo de mim e quero aonde chegar porto seguro e viver e amar. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o compositor, arranjador, produtor musical e guitarrista Toninho Horta: Terra dos Pássaros & Diamond Land; a cantora, violonistak, compositora e percussionista Badi Assad no Milenium Stagium, Live California World Festa, Feminina & Ai que saudade docê; o compositor alemão Max Richter Concert Reimagining Vivaldi & The leftovers Season; e a cantora e atriz franco-inglesa Charlotte Gainsbourg: IRM & 5.55. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA - [...] Facilmente veremos em que se diferencia o homem que se conduz apenas pelo afeto, ou pela opinião, do homem que se conduz pela razão. Com efeito, o primeiro, queira ou não, faz coisas que ignora inteiramente, enquanto o segundo não obedece a ninguém mais que a si próprio e só faz aquelas coisas que sabe serem importantes na vida e que, por isso, deseja ao máximo. Chamo, pois, ao primeiro, servo, e ao segundo, homem livre. [...] Só os homens livres são muito gratos uns para com os outros [...] O homem livre jamais age com dolo, mas sempre de boa fé [...] O homem que se conduz pela razão é mais livre na sociedade civil, onde vive de acordo com as leis comuns, do que na solidão, onde obedece apenas a si mesmo [...] A felicidade não é o prémio da virtude, mas a própria virtude; e não gozamos dela por refrear as paixões, mas, ao contrário, gozamos dela por podermos refrear as paixões [...] Trechos extraídos de Ética (Relógio d’Água, 1992), do filósofo racionalista holandês Baruch Espinoza (1632-1677). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

PSICANÁLISE & DIREITO – [...] Desde o início dos tempos, quando o homem tomou conhecimento da morte e experimentou a angustia diante de sua finitude, foi-lhe necessário representar sua existência, por meios de ritos e crenças que o submetessem a um lugar de alteridade. Dessa experiência de desamparo, nasceu a humanidade, e, com ela, a lei que a inaugura. Uma lei que nos torna tributários de uma dívida com a linguagem, de forma que só nos resta pagar por nossa existência por meio da palavra. Trecho extraído da obra Psicanálise e direito: uma abordagem interdisciplinar sobre ética, direito e responsabilidade (Companhia Freud, 2014), da psicanalista Renata Vescovi, que ainda se expressa: [...] O homem de nosso tempo vive o conflito de ter que cumprir normas como se fossem cartilhas de conduta, colocando-se a serviço do politicamente correto. Ao mesmo tempo, pretende-se livre e caprichoso para viver às últimas consequências suas vontades. Por isto, ele sonha em despojar-se de suas incertezas, de sua dor de existir, valendo-se do extraordinário avanço das técnicas científicas, que costumam saber tudo, responder a tudo, e recua da responsabilidade em decidir solitariamente sobre seus atos. Ética não pressupõe valores morais, nem prescrições de condutas dadas a priori. Ela é o questionamento incessante de um sujeito, no ponto em que ele se vê angustiado e dividido entre a sua palavra e seu ato. Se perdermos, tanto na esfera privada quanto pública, a capacidade de nos espantarmos e nos questionarmos a respeito de nossos atos, corremos o risco de assumir uma posição passiva e infantilizada. Abdicamos de nossa cidadania ao mesmo tempo que apelamos para um Estado paternalista, que se arroga a condição de ser gerador de favores a uma população que, no mesmo gesto, se despolitiza, impedindo-se de lutar por consquistas políticas e sociais. Veja mais aqui.

LAJEDO – O município de Lajedo está localizado na Microrregião de Garanhuns e na Mesorregião do Agreste, tendo o núcleo urbano originado a partir da interiorização da atividade pecuária, responsável pelo surgimento de fazendas, tendo como fundador o desbravador da propriedade Cágado, Sr. Vicente Ferreira. A partir dele, ocorreu a construção da primeira casa e deu origem ao povoado de Santo Inácio dos Lajeiros. Por volta de 1900, o povoado transformou-se em distrito do município de Canhotinho, criando-se o município pela lei Estadual nº 377, de 24 de dezembro de 1948, pelo então governador Barbosa Lima Sobrinho. O nome da cidade tem origem a partir da existência de “lajeiros” no seu entorno, área chamada de “Caldeirões”, que armazena água de chuva e que durante muito tempo abasteceu a cidade. Está inserido na unidade geoambiental do Planalto da Borborema e nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Una, tendo como principais tributários os rios Quatis, da Chata e do Retiro, e os riachos Bonito, Doce e do Serrote, todos de regime intermitente. Conta ainda com distribuição de água oriunda do Açude São Jaques, situado no município de Jurema, cidade próxima a Lajedo. Veja mais aqui.

ALÁ E AS CRIANÇAS-SOLDADOS - [...] segundo o meu Larousse, oração fúnebre é o discurso em honra de um personagem célebre falecido. A criança-soldado é o personagem mais célebre deste final de século. Quando um soldado-criança morre, deve-se dizer em sua honra a oração fúnebre, isto é, como é que ele pôde tornar-se uma criança-soldado neste mundo vasto e desgraçado. Eu faço isso quando quero, não sou obrigado. Eu faço isso para Sara porque tenho vontade e acho bom, tenho tempo e é divertido. [...] Como impedir as eleições livres? Como impedir o segundo turno? Ele pensa no assunto e, quando Foday [Foday Sankoh] pensa seriamente, ele não usa álcool nem mulheres. [...] Era evidente: quem não tinha braço não podia votar. (evidente significa de uma certeza facilmente apreensível; claro e manifesto). Ele manda cortar as mãos do maior número de pessoas, do máximo possível de cidadãos leonenses. É preciso cortar as mãos de todo leonense preso antes de enviá-lo para a zona ocupada pelas forças governamentais. Foday deu as ordens e os métodos foram aplicados. Procederam às mangas curtas e às mangas compridas. [...] as amputações foram gerais, sem exceção e sem piedade. [...]. Trechos da obra Alá e as crianças-soldados (Estação Liberdade, 2003), do escritor marfinense Ahmadou Kourouma (1927-2003). Veja mais aqui.

O SENHOR PADILHA - [...] Luiz chegava todo dia às sete da manhã, fazia as entregas, buscava as correspondências, enfrentava as filas nos bancos e passava o resto da tarde lutando com os carimbos. Era sempre o culpado pela desordem dos arquivos e ficou primeiro encaramujado, depois revoltado com o eufemismo: “Exonerado! Exonerado!”, repetia ele, ao ver que tinha acabado de levar um pé-na-bunda. [...]. Trecho do conto O Sr. Padilha, do escritor, editor e promotor cultural Ovídio Poli Júnior, extraído da antologia Anais da Fliporto 2005, organizado por Eduardo Côrtes. Veja aqui e aqui.

PÔR-DO-SAL, DE GERUSA LEAL
sentado sobre a pedra
o homem escuta o mar
não o olha mais de frente
já não lhe teme a força
pois mesmo forte o rugido
pelas mãos de Deus contido
não ousa seus pés molhar
o homem escuta o mar
que já fez olhar tão longe
até onde o céu baixando
esconde o que vem de lá
não o olha mais de frente
agora tão diferente
de quando a alma nos olhos
imaginando tesouros
gostava de mergulhar
já não lhe teme a força
pois sabe que em seu peito
a inundar-lhe de anseios
tão feroz quanto o primeiro
transborda um outro mar
e mesmo forte o rugido
a urgência com que clama
aprendeu com as marés
a ir e depois voltar
não ousa seus pés molhar
pois receia que o desejo
de entregar-se ao infinito
suba ao seu corpo inteiro
e o leve de volta ao lar
pela mão de Deus contido
senta o homem sobre a pedra
e apurando os ouvidos
escuta as vozes do mar.
Poema da premiada escritora Gerusa Leal. Veja mais aqui, aqui & aqui.

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A ARTE DE TOLOUSE-LAUTREC
A arte do pintor francês Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901).
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PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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