A arte da artista estadunidense Lisa Yuskavage. Veja mais aqui.
LITERÓTICA - ESSA MENINA – Essa
menina é feita de lua. Ela voa na rua prontinha querubin. E me apronta tlin
tlin no alto da campina onde tudo é cantina feita só de si. Ah, essa menina que
dança com jeito, somente a gingar. Qual estrela lá mansa na unha matutina,
desde sonsa ilumina onde antes supunha nunca existir. Ela está sempre aqui como
chama na retina, como a grama que mina todo o quintal. E se faz de vestal de
todos os presságios. Ela alucina ao contágio. E ela só vale ágio na sina do
apelo a brilhar nos cabelos toda magia. O que eu mais queria: roubar o seu
cheiro, seu secreto terreiro de tangerina. Ah, fulmina iminente – ela não é
gente – é deusa a mendigar. Essa menina é feita de mar, intensa, quiçá, real
mais divina. Quando vem cabotina só me desmantela. Ela vira a janela pronta
pr´eu abrir. Essa menina chega com o olhar ardendo de vida. Quase desvalida com
a boca nas asas que vaza e é guia perdidas esquinas, toda emoção repentina com
o sopro de aguerrida na pele. O paladar que repele na maior febre, que tudo se
quebre ao sol posto - a saliva com gosto de boa cajuína. Ela é tão traquina: o
seio da boca sedenta. E venta maior ventania. E, todavia, se põe a chover: o
corpo queimando o prazer. Essa menina é feita do rio que escorre ao quadril pra
me afogar. Patati, patatá, é ela que me abriga como se eu fosse a viga que ela
quer sustentar. Essa menina, bailarina da noite, em carne viva, vitalina, essa
flor menina a me servir sucessivas entregas, peças que prega nos meus cinco
sentidos. Essa menina é feita de peso: a coxa tatua o desejo que as pernas
eqüinas rolam sobejo do sexo azul. Eu todo taful com seus pés nos meus braços
que o abraço fulmina e lateja, água que poreja tão pequenina e vira ribeirão na
luz feminina. Vingo-lhe a nuca que me ilumina e ela me sorri encantada,
franzina com a gula que vai da glória à ruína. Essa menina e a mão culpada de
amor. Ela brota, ereta, me socorre, me empesta. Salta da grota, na greta,
virada na breca, capeta, na alvura exalta, cristalina. E tudo se arrasta,
arrebata, contamina. E me larga no sopro. Meu corpo oficina. Maior serpentina
de carnaval. E me faz imortal. Vem e ilumina a vida toda esquecida no meio da
paixão. É quando, então, ela cisma do mundo e reduz quase tudo na palma da mão
onde ela mais que altaneira me deita na esteira e me nina um milênio de paixão.
© Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
DITOS &
DESDITOS – Os
livros nunca vão morrer. É impossível. É a única hora em que de fato entramos
na mente de um estranho e descobrimos nossa humanidade em comum. Assim sendo, o
livro não pertence apenas ao escritor, mas também ao leitor, e juntosd vocês
fazem do livro o que ele é. Pensamento do escritor estadunidense Paul Auster. Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Na realidade,
basta um drinque para me deixar mal. Mas nunca sei se o 13º ouo 14º. Frase
do comediante e escritor estadunidense George
Burns (1896-1996).
COLAPSO DA
MODERNIZAÇÃO - [...] Os recursos humanos e materiais (força de
trabalho, instrumentos, máquinas, matérias-primas e materiais) deixam de ser
simples componentes do "metabolismo entre os homens e a natureza ",
que serve para a satisfação das necessidades. Passaram a servir apenas para a
auto-reflexão tautológica do dinheiro como "mais dinheiro".
Necessidades sensíveis somente podem ser satisfeitas, portanto, pela produção
não sensível de mais-valia, que se impõe cegamente como produção abstracta, em empreendimentos industriais, de lucro. A troca no mercado deixa de
servir para a mediação social de bens de uso, servindo, ao contrário, para a
realização de lucro, isto é, para a transformação de trabalho morto em
dinheiro, e a mediação dos bens de uso passou a constituir somente um fenómeno
secundário desse processo essencial que se realiza na esfera monetária. Todo o
processo vital social e individual é assim submetido à banalidade terrível do
dinheiro e de seu automovimento tautológico, cuja superfície apresenta-se, em
diversas variações históricas, como a famosa economia de mercado moderna. Atrás
da ligeira subjectividade da troca no mercado esconde-se o pesado homem
trabalhador, que apenas em sua forma mais grosseira aparece como um Stachanov;
mesmo atrás da fachada mais brilhante da embalagem colorida dos valores de uso
oculta-se a qualidade de capital fetichista dos produtos que faz deles
"coágulos de trabalho" fantasmagóricos (Marx). Sua forma de
existência sensível torna-se algo secundário, e um mal necessário para o
processo do trabalho abstracto e do dinheiro. A submissão do conteúdo sensível
do trabalho e das necessidades à auto-reflexão cega do dinheiro é de carácter
monstruoso. Essa monstruosidade manifesta-se, durante a evolução da
modernidade, em escala historicamente crescente, nas crises em que enormes
quantidades de recursos humanos e materiais ficaram paralisadas por não poderem
mais cumprir, por motivos incompreensíveis, aquela finalidade absoluta de
transformar trabalho vivo em dinheiro. Por outro lado, foi precisamente esse
desenvolvimento que, num processo contraditório em si mesmo, fez nascer as
forças produtivas modernas e criou uma ampliação enorme das necessidades e
possibilidades dos indivíduos. Os efeitos colaterais não intencionais do
moderno sistema produtor de mercadorias ocultaram, durante muito tempo, em sua
fase de ascensão histórica, o conteúdo negativo com elementos positivos.
Enquanto cumpria essa "missão civilizatória" (Marx), esse sistema
funcionava perfeitamente, vencendo todas as relações de reprodução estamentais,
estáticas, pré-modernas. As crises eram apenas interrupções em seu processo de
ascensão e pareciam, a princípio, superáveis.
[...]. Trecho extraído de Lógica e ethos da sociedade de trabalho, extraído da obra O Colapso da modernização - da
derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial (Paz e Terra, Brasil, 1993), do
filósofo alemão Robert Kurz (1943-2012),
propondo uma leitura inesperada dos fatos que levaram à derrocada
dos países socialistas, fornecendo um novo arsenal de idéias para a compreensão
de tão importante fenômeno. Segundo o autor, esse movimento representaria o
início da crise do próprio sistema capitalista e não a decadência do
socialismo. É o impasse em que o sistema capitalista encontra-se que o autor de forma arguta analisa.
PANAMÉRICA – [...] Os atores entraram no cenário e começaram a representar
uma família americana classe-média. Eu sorria com a cena que transcorria no palco
e me sentia feliz. Os atores representavam uma família feliz, e eu via na porta
da casa um vaso de flores, e eu me sentia feliz de ver aquela família
classe-média americana, o pai conversando com a filha, o filho conversando com
a mãe e os irmãos. A harmonia e felicidade da cena se transmitiam para mim, e
eu sorria imaginando que eu futuramente poderia formar uma família exatamente
igual àquela. [...] Eu e ela estávamos
ali encostados na parede. Ela estava em silêncio e eu estava em silêncio. Eu
sentia o corpo dela junto ao meu, os dois seios, o ventre, as pernas, e os seus
braços em envolviam. Eu pensei que ela deveria sentir o calor que eu estava
sentindo. Nós dois estávamos imóveis encostados à parede, eu não me recordo
quanto tempo, mas nós estávamos abraçados e encostados ali há muito tempo. Eu
não me recordava se eram horas, dias, meses.
[...].Eu tocava o corpo dela de leve com
meu corpo e ela tocava de leve o meu corpo com o corpo dela. Nós permanecemos
nessa oscilação e toques leves durante longo tempo. Marilyn Monroe tocava as
pontas dos seios no meu peito e eu segurava de leve a sua barriga e acariciava
os pelos dela com os dedos. [...] Nós
permanecemos nesse toque mútuo longo tempo enquanto eu ouvia a sua respiração
leve e ritmada. [...] Eu e ela
deitamos no chão vestidos e nos agarramos um ao outro excitados. Eu via o rosto
dela avermelhado nas faces, e na fronte pequenas gotículas de suor. De instante
a instante eu ela fechávamos os olhos e nos beijávamos. [...] Eu subi sobre o corpo dela e eu ela
estávamos vestidos. Eu introduzi as mãos sob o vestido e retirei a calcinha
[...]. Eu voltei a subir sobre o corpo
dela e nós nos mantivemos esfregando um corpo ao outro. [...] Eu via o sexo dela úmido e semi-aberto para
mim. Eu aproximei a boca do pequeno lábio vermelho e úmido e beijei
introduzindo a língua. Marilyn tremeu, soltou um gemido e girou o corpo
bruscamente. [...]. Trechos extraídos da obra PanAmérica (Papagaio, 2001), do escritor, dramaturgo e cineasta José Agrippino de Paula (1937-2007).
CIDADE – Cidade, / cada
um inventa a sua. / Há quem a descreva rubra, / negra, lilás, gris, solar, /
repleta ou despovoada, / punhal ou regaço / - quase sempre encoberta / pela
densa pátina que enevoa a memória / ou pelas cores febris da fantasia. / Cidade
é tão só um jeito / de se ber e de ber-se / um jeito de esquecer / e de lembrar.
Poema extraído da obra Em dias de sim
(Imprensa Oficial, 2012), do professor e poeta Sidney Wanderley.
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TODO DIA É DIA DA MULHER
Leitora Tataritaritatá
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Art by Dragica
Micki Fortuna