sábado, maio 27, 2017

FANTASMAS DE PAUL AUSTER, LUCIANA ACHUGAR, DEBBIE LEE, MARISA RICCO & DAS COISAS & COISAS

DAS COISAS & COISAS – Imagem: Keep the fear away, da artista plástica inglesa Debbie Lee. - Quem dera fosse mais que o dia pra ter o que fazer na escravidão da grana, mês a mês, todo dia pra pagar as contas e sustento, como quem anda pelos infindos caminhos com a impressão de que jamais saiu do imobilismo e zanzasse no centro oco do mesmo lugar de sempre. Quem dera fosse mais que o invencível das tardes ruidosas, levando tudo nos peitos, pedras, troncos, morros e concretos na beira das pontes entre a lucidez e a insanidade, no meio da madrugada erguida no meio das cidades ilusórias que brotam de dentro de mim e não sou bem-vindo. Quem dera fosse mais que a vida enclausurada nas torres de templos da incredulidade, com festas entre roubos e assassinatos cruéis em nome de quem não sei e quase nem quero mesmo saber das mentiras das manchetes diárias. Quem dera fosse a rua aos braços quinze pras três a quem chegar, na emoção sem máscaras nem pé atrás e fizesse a canção da alvorada confundir o crepúsculo na hora anoitecida para anunciar um outro dia porque tudo passa e sou outra vez. Quem dera fosse a telenovela final feliz e no dia seguinte a face tão risonha como se não houvesse passado e o futuro preso no presente de riso largo por todos os dias, semanas, meses e anos pra sempre, amém. Quem dera fosse a felicidade gratuita na dança sensual das noites que nunca acabam de satisfação e que amanhecem com se fossem as festas de ontem que se perduram feito um filme romântico que arranca lágrimas de alegria por tórridas paixões inexistentes e jamais sentidas ou sonhadas. Quem dera fosse mais que essa janela aberta e engradada como o que tenho do mundo num pedaço de céu pela brecha do basculante aos prédios e telhados, antenas e caixas d’água, postes e nada mais na tarde chuvosa e escura. Quem dera não fosse mais que esse quarto desarrumado, tralhas, roupa suja, ferramentas e um amontoado de coisas inúteis e inutilizáveis que nem sei se estão ali por conta própria ou por negligência fabricando lixo e escondendo sujeira que se guarda à espera de serventia. Quem dera fosse mais que o corredor da solidão que dá de ombros com os quartos vazios que não ocupo nem ocasionalmente no meio dessa casa enorme em que os vizinhos se tornaram longe desconhecidos de uma pátria estrangeira. Quem dera, oh, quem dera, eu fosse mais que um simples andejo apátrida da vida, desiderato perdido a buscar a redenção num espontâneo e pulsante coração que sirva de mínimo amparo no mundo dos simulacros e das coisas e coisas. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

FANTASMAS DE PAUL AUSTER
[...] reflete sobre como é estranho que tudo tenha sua cor própria. Tudo o que vemos, tudo o que tocamos – tudo no mundo tem sua cor própria. [...] Vejamos o azul, por exemplo, diz ele: existe o azulão, o gaio azul, a garça azul. E existe a centáurea e a pervinca. Existe o meio-dia sobre Nova York. Existem as bagas do vacínio e do mirtilo, além, do oceano Pacífico. Existe o azul-piscina, o sangue azul e a fita azul da Ordem da Jerreteira. Há uma voz que canta o blues. Existe o uniforme da polícia do meu pai. Existe o loto-azul e o azul anil. Existem meus olhos e o meu nome. [...] Existem as gaivotas, diz ele, as andorinhas-do-mar, as cegonhas e as cacatuas. Existem as paredes deste quarto e o lençol da minha cama. Existem os lírios do campo, os cravos e as pétalas das margaridas. Existe a bandeira da paz e o luto na China. Existe o leite materno e o sêmen. Existem os meus dentes. Existe o branco dos meus olhos. Existe a savelha, o pinheiro branco e os cupins. Existe a casa do presidente e a roupa do medico. Existem mentiras brancas e cheques em branco. [...] sem titubear, ele passa para o preto, começando com a lista negra, o mercado negro e a ovelha negra. Existe a noite sobre Nova York, diz ele. Existe o futuro negro. Existem os corvos e as uvas pretas, os blecautes e a mancha negra, a Terça-Feira Negra e a Peste Negra. Existe a magia negra. Existe o meu cabelo. Existe a tinta que sai de uma caneta. Existe o mundo que o cego vê. [...] Mas a história ainda não terminou. [...] O mundo é assim: nem um instante a mais, nem um instante a menos. [...] para onde vai depois, não importa. Pois devemos ter em mente que tudo isso ocorreu mais de trinta anos atrás, no tempo da nossa infância. Portanto, tudo é possível. Pessoalmente, prefiro imaginar que Blue foi para longe, embarcando em um trem naquela mesma manhã e seguindo para o oeste a fim de começar uma vida nova. É até possível que na América não seja o ponto final de sua viagem. Em seus sonhos secretos, gosto de imaginar Blue comprando uma passagem em um navio e viajando para a China. Pois então,q eu seja a China, e vamos deixar as coisas nesse pé. Pois agora é o momento em que Blue se levanta da cadeira, põe o chapéu na cabeça e cruza a porta. E, deste momento em diante, nada mais sabemos.
Trechos do livro Fantasmas (Planeta De Agostini, 2003), o segundo do premiado A trilogia de Nova York, do escritor e cineasta estadunidense Paul Auster,
Contando a história de um detetive que investiga um certo homem, escrevendo e enviando relatório ao contratante, findando frustrado pelas exigências de vigilância contínua do trabalho, esquecendo-se de sua própria vida. Veja mais aqui.

Veja mais sobre:
Sou mato, sou mata, sou Mata Atlântica, A hora dos ruminantes de José J. Veiga, a música de Peter Scartabello, o teatro popular de Augusto Boal, a pintura de Georges Rouault & Tom Fedro, a arte de Pristine Cartera & Patricia Galvão – Pagu aqui.

E mais:
Todo homem que maltrata a mulher não merece jamais qualquer perdão, Aracelli de José Louzeiro. Violência doméstica e sexual de Lucidalva do Nascimento, a música de Geraldo Azevedo & Neila Tavares, Violência contra a Mulher, Gershwin & Geneviève Salamone, a arte de Yukari Terakado & Nina Kuriloff, Marcha das Vadias & O desenlace da paquera entre Melzinha & Brothão aqui.
Brincarte do Nitolino, As regras humanas de Peter Sloterdijk, Viagem da noite de Louis-Ferdinand Céline, Aprendizagem do ator de Antonio Januzelli – Janô, a arte de Barbara Parkins & Sharon Tate, a dança de Isadora Duncan, a pintura de Georges Rouault & a música de Ivete Sangalo aqui.
Espera & Primeira Reunião, Glosas críticas de Karl Marx, Sóror Saudade de Florbela Espanca, a música de Maki Ishii, o teatro pedagógico de Arthur Kaufman, Musicoterapia de Rolando Benezon, o cinema de Silvio Soldini & Licia Maglietta, a pintura de Carl Larsson & o atletismo de João do Pulo aqui.
Traquinagens do amor, a pintura de Rodolfo Barral & Programa Tataritaritatá aqui.
A afetividade & a pedagogia do afeto & Sabedoria popular de Valério Arcary aqui.
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A poesia de Mariza Lourenço aqui.
A imprensa e o Dia Mundial da Comunicação aqui, aqui, aqui. aqui & aqui.
A saúde no Brasil & o Dia do Serviço de Saúde aqui, aqui, aqui, aqui. aqui, aqui, aqui. aqui & aqui.
Diálogo entre ninguém e coisa alguma, a música de Cláudio Santoro & Lilian Barreto, Natália de Jussara Salazar, a pintura de Viktor Lyapkalo $ Aprumando a conversa aqui.
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A avareza perde valia quando a vida vai pro saco, Saúde no Brasil, a arte de Vik Muniz, a música de Júnior Almeida & Nada satisfaz e a querer sempre mais e mais aqui.
Entre o científico-racional e o estético-emocional, Física do estado sólido de Gert Eilenberger, a música de Chico Mário, a arte de Wesley Duke Lee, a pintura de Delphin Enjolras & a fotografia de Otto Stupakoff aqui.
Quem vai pra chuva é pra se molhar, Da competição à cooperação de Pierre Weil, a música de José Miguel Wisnik, a arte de Jasper Johns & George Segal, Na lei da competição só se colabora pra vencer, o resto é conversa pra boi dormir aqui.
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PURO DESEO & OUTRO TEATRO DE LUCIANA ACHUGAR
A arte da premiada coreógrafa uruguaia Luciana Achugar, nos espetáculos Puro Deseo (2010) e Outro Teatro (2014).

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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Curtindo o álbum Contando Histórias da cantora Marisa Ricco.
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