Pensamento do escritor russo Isaac Asimov (1920-1992). Veja mais aqui.
QUANTO VALE UMA VIDA – Judilinho
vivia desde menino na mesma ladainha: vencer a qualquer custo para ser gente na
vida, não um fracassado. O pai carrancudo exprobrava: - Seja homem e vença na
vida! O que é seu, é seu; o que é dos outros, é dos outros. Aprendeu? Achado
não é roubado, cabeça de otário é marreta! De tanto ouvir a ranzinzice, aprendeu
de cor e salteado todos os ditos e chistes do opróbrio popular. Na escola teve
ampliado o seu repertório de descaramento: o sabido é que leva a melhor! Assim
cresceu usurário e mão de figa, dando as costas pro que não lhe desse proveito:
- O que ganho com isso? Ah, é? Então, 20%. A vida lhe ensinara a ser, a escola era
só conversa mole, na prática não servia pra nada: - Se não tiver tirocínio,
vive só de levar toque de arrodeio. Assim prosperou na base da agiotagem: - Caridade
é na igreja, comigo é só ganhando nas costelas dos molengas! Fez um pé de meia,
juntou uma meia água e passou a dormir com um olho fechado e outro aberto, pra
não ser roubado e ter de voltar a ser pobre: - De novo, não! Vigilante
inarredável, todo dia passava na porta do banco pra ver se estavam cuidando
direito do seu suado dinheirinho: - Cuidem direitinho, seus cabras! Não bebia,
não fumava, nem tinha lá tanta fé assim. Todavia, jogava, isso sim, do primeiro
ao quinto, seca, do milhar ao terno, risco no chão e apostava por tudo: tinha o
ganhador aberto. Diziam: - Esse nasceu de cu pra lua. Tinha lá suas
superstições, cultivando pé de coelho, trevo de cinco pontas, mealheiro do
lado, até cortava caminho dos azarados e dos pedintes: vai que a sorte se
manda, avalie. Estava atento a tudo: telejornal, noticiário da rádio,
telenovelas, manchetes de jornais, procurava entender de qualquer jeito a
economia do país, a bolsa de valores, os investimentos, no frigir dos ovos,
patavina por resultado. Que coisa! Contudo, uma coisa remoia no quengo: por que
tanta violência? Pronde se virasse era assalto, furto, malversação,
assassinato. Ficava aflito quando botava o pé na rua e ouvia do primeiro que
encontrasse que agora mesmo uma senhora tivera sua bolsa roubada e um outro que
reagiu levou um tiro entre os olhos e estava estendido no chão. Ele se
arrepiava ao ver viaturas policiais pra cima e pra baixo aceleradas, só teatro,
não diminuindo em nada os arrombamentos das casas, os furtos dos veículos, as
mãos pro alto nas esquinas, andava temeroso. Tentava compreender a situação e
não conseguia, foi aí que resolveu ter com o Doutor Zé Gulu, aboletado na mesa
do canto de bar: - Doutor, por que tanta violência e roubalheira, hem? Gostava
de ouvir as explicações do erudito, muito embora, muitas vezes saíra sem
entender nada do que ele tinha dito. E insistiu na pergunta, sentando-se ao
lado dele. De forma costumeira, o intelectual ajeitou os óculos no pau da
venta, encostou-se mais na cadeira e começou o palavrório explicando que há
milhares de anos haviam os aedos, os poetas da antiguidade, que cometiam seus
ditirambos contando das façanhas dos vencedores! Que proezas eram essas? Tomadas
de poder na marra, guerras usurpadoras, brigas familiares de reinados,
violência de pai pra filho e vice-versa, ofensas e maledicências de todo tipo.
Louros aos vencedores. Isso influenciou a vida de todo mundo e os escritores
daquele tempo, criaram a Mitologia Grega para mostrar como se comportavam os
ricos tidos como deuses e os pobres como humanos condenados aos caprichos deles.
Tanto é que influenciou o Velho Testamento e outros livros religiosos. Pelo
visto, desde a metáfora de Caim matar Abel e começar a acumulação, que a
violência reina no mundo. Tudo sempre foi um conflito: Apolo versus Dioniso,
razão versus emoção; Platão versus Aristóteles, fisicalistas versus animistas, Oriente
versus Ocidente, bem versus mal, bom versus mau, ou lá ou cá, e a merda fedendo
do mesmo jeito. Surgiu a lei pra reger a conduta humana, deu algum resultado? Sob
a maior repressão, até o sexo era só para reprodução – e pelo que sei, salvo
engano, foram os taoístas que alcançavam orgasmos sem ejaculação, valorizando
ainda mais a reprodução. Adiantou alguma coisa? Passou-se o tempo e guerra
pralí, invasão pracolá, violência crescente, intolerância, dissensão, golpes,
invasões, desrespeito, servidão, privilégios para uns poucos, carestia para
todos os demais, tanto matavam e, ao contrário, deu-se a superpopulação que os
malthusianos tornaram escatalógica, surgindo a ideia do controle de natalidade.
Alguém parou de pular a cerca? Quanto mais riqueza, maior miséria; do mesmo
jeito, quanto mais lei e repressão, maior violência. O que tem haver o cu com
as calças? Seguinte: alguma coisa mudou desde então? Hoje em dia, a mesma
coisa. E o que estou tentando dizer é que de positivo por esses milhares de
anos que existe gente na face da terra, só mesmo as extensões e próteses. Cuma?
Sim, só isso. Esse homem está endoidando ou me fazendo de besta? Não, arrepare
bem: aprendemos a escrita e a linguagem para nos comunicar, essa uma forma
positiva pras nossas extensões, conversar, trocar ideias com o outro, dialogar,
existir. Afora isso, só aprendemos mesmo a lascar a pedra por meio da técnica
para as artes e tecnologias. Por isso, o que a gente fez de mesmo foi criar próteses,
como automóveis, aviões, navios, computadores, celulares, óculos, armas,
explorações, etc e o escambau, mais nada. De humano mesmo, tirante uma coisinha
ou outra lá no meio do inventário de saúde pra doente, não avançamos nada:
somos os mesmos e fazemos as mesmas coisas que nossos ancestrais há porrilhões
de séculos e milênios faziam. Ainda hoje precisamos aprender a aprender no
reino das dicotomias e paradoxos. Aos olhos vistos todo mundo parece hoje ser civilizado;
porém, às escondidas, é o animal que prevalece. E quando a cabeça da piroca é
quem pensa, vá ver: é merda certa! De fato, só nos tornamos mais hipócritas.
Negamos ser preconceituosos, mas basta um espaço pra gente dizer uma frase e já
se distingue o quanto somos dissimulados, arcaicos, conservadores, falsos e
egoístas! Além do mais, a humanidade continua a mesma desde o tempo do ronca,
tudo a mesma coisa com os podres de rico que usam de tudo e todas as formas
escusas para manter e aumentar seus recursos, não precisam de leis porque são
as próprias e tudo sob seu mando transnacional, pois o que ganham são só pra si
e, quando muito, pros amigos e amigos dos amigos, ninguém mais: o resto que se
foda; da mesma forma os mais ou menos de sempre que são espremidos, meio lá e
meio cá, fazem de tudo pra ficar só lá temendo escorregar pra cá, medíocres burgueses
que não se acham e não sabem como vivem ou como estão no meio de tantas
ideologias; e a mundiça que somos nós pobres coitados, entre os sacrificados,
os babaovos afilhados que são trampolineiros oportunistas, sectários cabeças de
fósforos, os miseráveis e os Marias-vão-com-as-outras. Assim caminha a
humanidade! Quando Judilinho ia abrindo a boca pra perguntar, entra esfuziante no
recinto o folgado Gerdinaldo, riso largo, abraços pra todos, brinca com um,
tira dedada em outro, acena pros demais, pede a bênção ao doutor Zé Gulu, faz
uma mangação com Judilinho, toma uma pinga, chupa um caju e se despede. Com
tudo voltando ao normal no ambiente, Judilinho tenta continuar o assunto,
quando o doutor se levanta para ir ao mictório e, de repente, ouve-se um pipoco,
gritos e correria. – Que é que houve? Todos saem pra ver e dão de cara com a
cena: Gerdinaldo estirado entre a calçada e o meio fio, sangrando com um tiro
na nuca. O rádio de pilha no bar anunciava cantarolando: Tá lá um corpo estendido no chão... © Luiz Alberto Machado. Veja
mais aqui,
aqui & aqui.
A EDUCAÇÃO & TRIMEMBRAÇÃO SOCIAL DE
STEINER
Educação e ensino devem tornar-se uma arte
baseada no real conhecimento do homem.
Pensamento do filósofo e educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), autor das
obras A arte da educação: I – O estudo
geral do homem, uma base para a Pedagogia, II – Metodologia e didática do
ensino Waldorf e III – Discussões pedagógicas (3 vols – Antroposófica,
1999), defendendo a Trimembração Social: Liberdade
para o Espírito, a Igualdade perante o Direito e a Fraternidade na Economia.
A pedagogia Waldorf tem por princípios a Antropologia Evolutiva, pela qual a
educação deve ser totalmente dedicada às necessidades do desenvolvimento da
criança; ênfase na importância das artes e o amor pela natureza; inteligência
manual com ensinamentos práticos facilitando o diálogo da
criança consigo mesma e o aprendizado por meio de imagens que
estimulam a capacidade de representação; o papel
dos contos de fadas na formação do patrimônio cultural e como
instrumento essencial para o crescimento das crianças e compreensão das suas
emoções; pedagogia curativa voltada para a educação terapêutica e terapia social, considerando as
imperfeições físicas, psíquicas e espirituais dos indivíduos; emulação e
experimentação, pelas quais as crianças aprendem por imitação; professores
como educadores, entre outros princípios. Veja mais aqui.
Veja
mais sobre:
Quando
renasci pra vida depois de morrer pela primeira vez, Moll
Flanders de Daniel Defoe, Presenças de Otto
Maria Carpeaux, o teatro de Hugo von Hofmannsthal, a música de El Hadj
N'Diaye & Érica
García, Hope 2050, a pintura de Antonio Dias & Xul Solar aqui.
E mais:
O pavor
dos acrófobos à beira do abismo, o pensamento de Comenius, A jornada do poema de Margaret
Edson, a música de Leoš Janáček & Kamila Stösslová, Toponimia pernambucana
de José de Almeida Maciel, a poesia alemã de Olívio
Caeiro, a pintura de Pierre Alechinsky & Philip
Hallawell aqui.
O
pensamento de Isaac Asimov aqui.
Vamos aprumar a conversa: pedagogia &
Brincarte do Nitolino, A mulher de
trinta anos de Honoré de Balzac, o teatro de Nelson Rodrigues, Desenvolvimento
psicossocial de Erik Erikson, Os doze
gozos de Maria Teresa Horta, a música de Joe Cocker, a arte de Lucelia Santos, a pintura de Eugène Delacroix & Paul Nash aqui.
Vamos aprumar a conversa & George Kelly, A natureza do preconceito de Gordon Allport, a
poesia de Alexander Pope, Capital Federal de Artur Azevedo, Repertório selvagem
de Olga Savary, a música de Naná
Vasconcelos & Uakti, a pintura de Henri Rousseau, a arte de Ana Botafogo, o cinema de Mike Nicholson & Natalie Portman aqui.
A oniomania & o shopaholic,
o pensamento de Mestre Eckhart, Guia dos perplexos de Moisés
Maimônides, a poesia de Píndaro, o Catatau de Paulo Leminski, a arte de Gilton
Della Cella & Programa Tataritaritatá aqui.
Tataritaritatá
no Palco Aberto aqui.
Literatura
de cordel: A mulher, de Oliveira de Panela aqui.
As
trelas do Doro: A capotada do guarda aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando o muxôxo dá num engasgo, o peso enverga o espinhaço de chega ficar
de venta esfolando no chão aqui.
Ada Rogato & Todo dia é dia da mulher aqui.
É pra ela & Crônica de amor por ela, Ofício de escritor de Ernesto Sábato, Guerra e paz de Liev
Tolstói, Soneto de amor de Pablo
Neruda, a música de Heitor Villa-Lobos
& Rosana Lamosa, o pensamento de Horácio,
o teatro de Délia Maunás & Magali Biff, o cinema de Aluizio Abranches, Julia Lemmertz & Alexandre Borges, a arte
de Aurélio D'Alincourt & Alipio Barrio, Michelle Ramos & Zine
Brasil aqui.
Fecamepa:
quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
Cordel
Tataritaritatá &
livros infantis aqui.
Palestras:
Psicologia, Direito & Educação aqui.
A
croniqueta de antemão aqui.
Livros
Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda
de Eventos aqui.
O NOME NO MAGMA DE OLGA
SAVARY
Diria
que amor não posso
dar-te
de nome, arredia
é
o que chamas de posse
à
obsessão que te mostra
ao
vale das minhas coxas
e
maior é o apetite
com
que te morde as entranhas
este
fruto que se abre
e
ele sim é que te come,
que
te como por inteiro
mesmo
não sendo repasto
o
fruto teu que degluto,
que
de semente me serve
à
poesia.
Poema Nome, extraído da obra Magma (Massao Ohno/Roswitha Kempf, 1981), da escritora paraense Olga
Savary. Veja mais aqui e aqui.
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
As
bailarinas do pintor e escultor francês Henri
Matisse (1869-1954).
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.