CADA QUAL SEU QUINHÃO – (Imagem: Live Through That?! (2014),
da artista francesa Lili Reynaud-Dewar,
no New Museum, Nova Iorque). - O que seria a vida não fossem os
naufrágios tantos, superações a mais, acaso outros eventos valessem renascer a
cada decisão tomada, por aquiescência, ou emergência, ou mesmo conveniência, o
alívio de haver feito o que deveria na horagá. Longe tudo é demasia, quase
perto só escassez. Sou o que me sobra no afeto das paredes, sorrio com o gosto
das despedidas, sempre, aos laços que se desatam e me levam ao desapego. Talvez
esteja à revelia do querer além da conta, tanta coisa e quase nada, como aranha
desconstruindo teias, abelha sustando mel, menino com a mão no pesadelo,
travesseiro ao calafrio. Não tivesse que aprender da escuridão, não valeria
nada o sorriso iluminando o amanhã. Vai longe a memória do prazer, antes
houvesse paz pra comungar abraços. Se a cada instante o dia D no ápice da
iminência, enredando tentáculos muitos por rastros que se expressarão nos
passos vindouros. Se há conflito é porque houve colisão no encontro e isso dói demais.
E se maldissesse os desencontros, jamais valeria amar depois de tudo. Não tivesse
que provar do fel, não saberia gosto algum ao paladar. O que falar de flores,
não fosse o apaziguamento da correria doida das horas na lâmina do tempo. Não saberia
brisa sem as labaredas da agonia intempestiva e ruidosa dos desamores, como se
o vento fosse mais que a placidez depois das tormentas. Quando não se tem mais
saída, ah, é chegada a hora de rejuvenescer. Ao cuspir no prato que se come,
nega-se a oportunidade da troca de afetos. Não haveria valor pro sono, não
fosse a vigília atabalhoada de todos os afazeres aguerridos, e se perdeu o tom
da música é porque o coração enrijeceu no reino da indiferença. Cada qual os
seus mistérios, segredos irreveláveis, guardados a sete chaves no álbum de
recordações. Quantos planos futuros e a corrente de rio, coisas que vão e
passam e quase nem se dá conta. Cada qual seu espólio, se façanhas ou louros, impossível
apagar o que foi feito, já era, resta esquecer ou se amedrontar de ser
surpreendido a todo instante por lembranças nada agradáveis. Quanta carapaça,
garapas pra calmaria no meio das emoções exaltadas, histerias de não saber, intrigas
e querelas assomam por entre simulacros e talismãs. Cada qual sua crença e
devoção, entre álibis e vilezas, caras múltiplas para truques e trapaças. Cada qual
seu Brasil, enredos e tramas, suntuosidades de lixo, misérias de luxo. Cada qual
seu carpir, seus rituais e manias, suas obsessões entre dádivas e merecimentos,
limites e extensões, haurindo o ouro de si, exaurindo o que há de melhor em si
mesmo, no meio das dúvidas e opiniões, suas trevas e maldições. Cada qual os
seus encantos e magias, temores e arrepios nas horas extras ou quase, trunfos e
mesquinharias que vazaram e nem curtiu direito e o brio vacilante com o que
será do porvir, a cada dia exposto ao frio e à desolação. Cada qual seu
quinhão. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
A ESCOLA DE CORTELLA
Todas e todos que atuamos em Educação, porque
lidamos com formação e informação, trabalhamos com o conhecimento. O conhecimento,
objeto da nossa atividade, não pode, no entanto, ser reduzido à sua modalidade
científica, pois, apesar de ela estar mais direta e extensamente presente em
nossas ações profissionais cotidianas, outras modalidades (como o conhecimento
estético, o religioso, o afetivo etc.) também o estão. Não é fácil escapar
dessa redução, pois hoje, mais do que nunca, o produto científico tem um peso
tremendo no dia a dia das pessoas. [...] a
alegria [...] é resultante de um
processo de encantamento recíproco, no qual a transação de conhecimentos e
preocupações não é unilateral. A sala de aula é, simbolicamente, um lugar de
amorosidade. Mas a amorosidade não é um símbolo, é um sentir. Não pode ser
anulada (como o símbolo pode). Só ausentar-se. [...]
Trechos da
obra A escola e o conhecimento:
fundamentos epistemológicos e políticos (Cortez, 1998), do filósofo e
professor Mario Sérgio Cortella. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
Veja
mais sobre:
Vamos aprumar a conversa: Psicologia escolar, Ensaios das obras escolhidas de Walter Benjamin, Felicidade
clandestina de Clarice Lispector, Folhas da relva de Walt Whitman, A cantora
careca de Eugène Ionesco, a pintura de Siron Franco, a música de Enya,
o cinema de Nathaniel Hawthorne & Demi Moore aqui.
E mais:
Pocotós
& outras bufas, A comissão da verdade do Fecamepa & Vera indignada: será a Carolina
Dickman? aqui.
Big shit
bôbras: a profissão golpista do marido da Marcela, História
Universal da Infâmia de Jorge Luis
Borges, Mundo das imagens eletrônicas de Guido e
Teresa Aristarco, a música de Fredrika Brillembourg, a
arte de Siron Franco & Miguelanxo Prado aqui.
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres de Clarice Lispector
& Todo dia é dia da mulher aqui.
Janeiro:
o êxtase da vida & Todo dia é dia da mulher aqui.
Cleópatra
& Todo dia é dia da mulher aqui.
Gersoca:
dos dias, a mulher, O mundo de Albert Einstein, Sentido de amor
de Viktor Frankl, A virgem esquimó de Mark
Twain, a música de Gilberto Gil, a poesia de Alfredo Rossetti, a pintura de Henri
Matisse, o cinema de Milos Forman, o
mangá de Naoki Urasawa, Kátia Velo, a arte de Rita Guedes & Natalie Portman aqui.
Chiquinha
Gonzaga & Todo dia é dia da mulher aqui.
O
presumível coração da América de Nélida Piñon & Todo dia
é dia da mulher aqui.
Samira,
a ruivinha sardenta, A vida de Pi de Yann Martel, Relação pornográfica de Philippe Blasband, Segunda
interatividade de Diana Domingues, a música de Cristina Braga, Os provérbios de
Hernani Donato, a pintura de August Macke & He
Jiaying., o cinema de Tom Tykwer & Franka Potente, a arte
de Christiane Antuña, Susie Cysneiros/Boi Bumbarte & a poesia de Ana Bailune aqui.
Nefertiti
& Todo dia é dia da mulher aqui.
O amor
& Crônica de amor por ela, Cultura pós-moderna & global de Lucia Santaella, A bem-amada de Thomas
Hardy, a música de Brahms & Marin Alsop, a poesia de Virgilio & Rabindranath
Tagore, A commedia dell’arte, o cinema de
Wong Kar-Wai & Maggie Cheung, a pintura de Antonio Rocco, a
arte de Corina Chirila & Lenilda Luna aqui.
Fecamepa:
quando o Brasil dá uma demonstração de que deve mesmo ser levado a sério aqui.
Cordel Tataritaritatá & livros infantis aqui.
Palestras:
Psicologia, Direito & Educação aqui.
A
croniqueta de antemão aqui.
Livros
Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda
de Eventos aqui.
SOUL-TE & A ARTE DE LARISSA MARQUES
nunca deixei ilusões sob o travesseiro
nem sequer meu cheiro quis deixar
de algum jeito pra jamais lembrar
sei que o melhor habitava
os lençóis revirados
você entre minhas pernas
e sua barba por fazer
sempre andei segura
quando via você partir
deixava um sorriso cair
e nem pedia pra você ficar
mesmo agora posso ver
aquele olhar saindo
e vi lágrimas rolando
e eu iria até o fim
um dia vai perceber que me vê
em tudo que quer esquecer
vai desejar com força
eu nunca ter existido
e nunca ter me conhecido
Soul-te, poema extraído do blog PactoPagu, da escritora, editora, artista plástica e blogueira Larissa Marques. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Imagem: Live Through That?! (2014),
da artista francesa Lili Reynaud-Dewar,
no New Museum, Nova Iorque. Foto de Josephine
Baker.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.