quarta-feira, outubro 03, 2007

LISA CARDUCCI, BRECHT, JULIO VERNE, LEJEUNE, MARIO PRATA, CULLER & CORDEL TATARITARITATÁ

TATARITARITATÁ


Quando abri a porteira deste mundo
que eu nasci da vontade dos meus pais
eu trelei de menino até rapaz
um bruguelo reinava vagabundo.
Pelejei nos pinotes mais profundos
pulei cerca e cruzeta até demais
muita bronha na inheta e coisa e tais
se espremendo na volta da compressa
vamos logo aprumar essa conversa
vamo lá, pô, tataritaritatá.

Eu nasci no torrão pernambucano
pelo oitão onde é só canavial
no leirão onde o mato é tudo igual
onde reina o ganido mais humano
onde a cana é começo e fim de ano
e o fulano todo liso de empenar
todo troncho na vida a se envergar
só no mato pra salvação expressa
vamo logo aprumar essa conversa
 
vamo lá, pô, tataritaritatá.

Já vi coisa de tudo nessa vida
vi das moitas espichando pras roletas
coisa errada se passando como certa
pela brecha escapole descabida
e a gente se lascando de fadiga
na desvalida sem ter onde agarrar
tudo é zorra e pipoca de lascar
de ficar só no mais que coisa é essa?
Vamos logo aprumar essa conversa 

 vamo lá, pô, tataritaritatá.

Pra valer tenho visto muito agouro
de sobrar só mei palmo lingua afora
cada aperto de se ver como se tora
sal pisando na moleira e todo couro
de ficar ralo que só caldo de pilôro
desenganado como quem perdeu andor
como quem caiu da boléia do trator
quando a coisa na peitica encabeça
vamo logo aprumar essa conversa
 
vamo lá, pô, tataritaritatá. 

 Eu que vi tanta coisa da medonha
esconujuro que só no pau da venta
de pintar oito e se lascar virando oitenta
quase morrer mais passado de vergonha
quando dei fé, nem lençol nem mesmo fronha
nem muxiba no moquem pra se danar
sem distinguir toda sorte do azar
com a valia arriada na travessa
vamo logo aprumar essa conversa 

 vamo lá, pô, tataritaritatá. 
 
E para empiorar o estrupício
o Brasil é somente desmantelo
coisa de arrepiar qualquer cabelo
pra topar na beira do precipício
brasileiro vive mesmo sacrificio
enquant´os sabidos botam pra arrombar
e na nação fazem só tripudiar
roubam tudo de deixar a pátria lesa
vamo logo aprumar essa conversa
 
vamo lá, pô, tataritaritatá. 

 Haja empeno no Brasil de norte a sul
a corrupção come solta o revestrés
da gente não valer sequer um réis
todo crime se abarrota no angu
e a gente só carniça de urubu
com a ingresia da afanagem mais nefasta
imola o pobre que paga na vergasta
e fica entre a vida e a morte e vice-e-versa
vamo logo aprumar essa conversa
 
vamo lá, pô, tataritaritatá. 

 A coisa é feia como é podre todo Estado
de apertar vira tudo réu confesso
pois vai achar muito bandido no congresso
e no governo vai flagrar vilão safado
e esses dois ainda vão acoloiado
pela proteção do orgão judicial
a soltar graudão e prender curau
por pecado na lupa a vida pregressa
vamo logo aprumar essa conversa
 
vamo lá, pô, tataritaritatá. 

O pior é que a raça desgracenta dos políticos
cada vez mais descarada é que fica
fazem tudo pra sair só bem na fita
enquanto o resto sofre em estado crítico
eu que sou moleque bem satítico
mando todos lavagem arrumar
pois comigo eles vão só se lascar
até o dia em que a vergonha se confessa
vamo logo aprumar essa conversa 

 vamo lá, pô, tataritaritatá. 

E pra finalizar esse canto malcriado
precisamos nos livrar dos malassombros
não deixar que o Brasil só vire escombros
e a gente num destino malsinado
é preciso botar num eixo aprumado
onde possa de verdade a mãe gentil
ter justiça, liberdade e coisas mil
que dê um viver no igual e vamos nessa
vamo logo aprumar essa conversa 

 vamo lá, pô, tataritaritatá.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.


VEJA MAIS:
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DITOS & DESDITOS - A imbecilidade humana não tem limite. Neste mundo as coisas que nos dão prazer andam a par das que nos afligem e desgostam. Quando os sabres estão enferrujados, e as enxadas polidas; quando as prisões estão vazias e os celeiros cheios; quando os degraus dos templos estão gastos pelo caminhar dos fiéis e as entradas dos tribunais cobertas de ervas; quando os médicos andam a pé e os pedreiros a cavalo, o Império é bem governado. Não há nada impossível; há só vontades mais ou menos enérgicas. Tudo que um homem pode imaginar outros homens poderão realizar. Deus ter-nos-ia posto água nas veias, em vez de sangue, se nos quisesse sempre imperturbáveis. Os obstáculos existem para serem vencidos. Pensamento do escritor francês Julio Verne (1828-1905). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU - Quando um homem erra, a vida se encarrega de colocá-lo de volta em seu lugar. O futuro não é real. Um sonho que pode ou não se tornar realidade. Só o passado realmente existe. A liberdade é como uma maçã vermelha grande e suculenta: é muito melhor quando você a morde. Não fazer bem a si mesmo é uma maneira de fazer mal a si mesmo. Pensamento da escritora canadense Lisa Carducci. Veja mais aqui

DESCONSTRUIR O DISCURSO – [...] Desconstruir um discurso é mostrar como ele mina a filosofia que afirma, ou as oposições hierárquicas em que se baseia, identificando no texto as operações retóricas que produzem o fundamento de discussão suposto, o conceito chave ou premissa. [...] Trecho extraído da obra Sobre a Desconstrução (Rosa dos Tempos, 1997), do professor estadunidense Jonathan Culler.

PACTO AUTOBIOGRÁFICO – [...] Na autobiografia, é indispensável que o pacto referencial seja firmado e que ele seja cumprido: mas não é necessário que o resultado seja da ordem da estrita semelhança. O pacto referencial pode ser, segundo os critérios do leitor, mal cumprido, sem que o valor referencial do texto desapareça (ao contrário) o que não é o caso nas narrativas históricas ou jornalísticas [...]. Escrever e publicar a narrativa da própria vida foi por muito tempo, e ainda continua sendo, em grande medida, um privilégio reservado aos membros das classes dominantes. O “silencio” das outras classes parece totalmente natural: a autobiografia não faz parte da cultura dos pobres. [...]. Trechos extraídos da obra O pacto autobiográfico: de Rousseau à Internet (UFMG, 2008), do professor e ensaísta francês Philippe Lejeune. Veja mais aqui.

PRA CUMEMUIÉ - Pra cumemuié, uai. Não fosse pelo microfone do repórter, poderia se dizer tratar-se de um filme bíblico. O sujeito estava todo coberto de lama, junto com mais trinta mil iguais a ele, escavando a terra lá em Serra Pelada. O documentário era antigo, é claro, mas passou na televisão outro dia. E o mineirinho ali, ao ser perguntado por que queria achar ouro e ficar rico, não pestanejou: pra cumemuié, uai. Claro. Que outro motivo ele teria? Só fiquei na dúvida se era para conquistar a sua mulher ou para transar com qualquer mulher. Provavelmente a segunda hipótese. O Cacá Rosset já tinha esta teoria há muitos anos: tudo que o homem faz, tudo, é com um único objetivo: cumemuié. O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico pra quê? O sujeito quer ficar famoso pra quê? O indivíduo malha, faz exercícios pra quê? Mulher! Pode ser até a própria. Mas a verdade é que é a mulher o objetivo do homem. O pavão também é assim. Os animais são assim. Os bichos só pensam nisto. Já as bichas, pra cumeomi. Fico imaginando aqueles ministros todos lá na posse e um dizendo para o outro, enquanto posam para fotografias: vai rolar muita mulher aqui no pedaço. O jogador quando faz o gol pensa a mesma coisa. O artista em close na novela, tem certeza. Aquele candidato a prefeito naquela cidadezinha. Para o que ele quer aquele pequeno poder? As mulheres, antigamente, ficavam trancadas dentro de casa e se tratavam e ficavam bonitas apenas para os seus homens. Aí começaram a dar liberdade pras danadas e deu no que deu. O mundo ganhou vida, além da beleza, é claro. Pode continuar a ler, minha querida, que as barbaridades vão parar por aqui. Pode parar de me achar machista, machão ou coisa parecida. Tudo que eu quis dizer é que o homem vive em função de você. Vivem e pensam em você o dia inteiro, a vida inteira. Se você, mulher, não existisse, o mundo não teria ido pra frente. Homem algum iria fazer alguma coisa na vida para impressionar a outro homem, para conquistar um sujeito igual a ele, de bigode e tudo. Um mundo só de homens seria o grande erro da criação. Já dizia a velha frase que atrás de todo homem bem sucedido existe uma grande mulher. O dito está envelhecido. Hoje eu diria que na frente de todo homem bem sucedido existe uma grande mulher. É você, mulher, quem impulsiona o mundo. É você quem tem o poder e não o homem. É você quem decide a compra do apartamento, a cor do carro, o filme a ser visto, o local das férias. É mesmo para você que vai o ouro extraído lá na lama. Bendita a hora em que você saiu da cozinha e, bem sucedida, ficou na frente de todos os homens. E, se você que está lendo isto aqui, for um homem, tente imaginar a sua vida sem nenhuma mulher. Aí na sua casa, onde você trabalha, na rua, nas telenovelas. Só homens. Já pensou? Filmes só com homens? Romance sem uma Capitu ou uma Madame Bovary? Um casamento sem noiva? Um mundo sem cinturas e saboneteiras? Um mundo sem sogras? Enfim, um mundo sem metas. Tá certo o mineirinho de Serra Pelada. Todo o ouro do mundo para as mulheres. E, aos homens, um abraço. Crônica do escritor, dramaturgo e jornalista Mário Prata. Veja mais aqui.

AULA DE AMOR - Mas, menina, vai com calma / Mais sedução nesse grasne: / Carnalmente eu amo a alma / E com alma eu amo a carne. / Faminto, me queria eu cheio / Não morra o cio com pudor / Amo virtude com traseiro / E no traseiro virtude pôr. / Muita menina sentiu perigo / Desde que o deus no cisne entrou / Foi com gosto ela ao castigo: / O canto do cisne ele não perdoou. do dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Veja mais aqui.



E mais:

Guilherme Vaz, José de Alencar, Sergio Bernades, Moira Kelly, Stela Freitas, Mariza Lacerda & Simone Moura e Mendes aqui

Nise da Silveira, Bertolt Brecht, Egberto Gismonti, Galileu Galilei, Irena Sendler, Michelangelo Antonioni & Charles André van Loo aqui.

João Guimarães Rosa, Marilda Villela Imamoto, Filippo Marinetti, Kenneth Rexroth, Jean Racine, William Etty, Carl Friedrich Abel, Marc Allégret, Brigitte Bardot & As previsões do Doro aqui.  

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora Tataritaritatá!!!!!
Veja aqui e aqui.



MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...