QUEM ABRE OS BRAÇOS SOU EU
– O
primeiro contato que eu tive com a obra musical de Belchior foi o álbum Alucinação (Polygram, 1976), repleto de
canções que viraram sucesso e serviram de temas indispensáveis pras rodinhas de
violão da minha turma: Como nossos pais
– que foi gravada pela inesquecível Elis
Regina
-, Velha roupa colorida, Alucinação, A palo seco, Fotografia 3x4,
Apenas um rapaz latino-americano,
entre outras inesquecíveis. Qualquer repertório que a gente montasse pras
nossas travessuras musicais, era impossível não ter quase todas essas canções
na ponta língua afiada e viola ao peito. No ano seguinte ele emplacou o álbum Coração selvagem (WEA, 1977), tanto eu
como uma penca de gente fazíamos coro pelas estradas do canavial: “Quando eu não tinha o olhar lacrimoso que
hoje eu trago e tenho, quando adoçava o meu pranto e o meu sono no bagaço de
cana de engenho”, ou “No corcovado
quem abre os braços sou eu, Copacabana esta semana o mar sou eu”, Todo sujo de batom e as demais. Aí fui
ver o show com o lançamento do álbum Todos
os sentidos (Warner, 1978), eu saí cantando “Até amanhã, se o
homem quiser – mesmo se chover volto pra viver mulher. Até à manhã, se houver
amanhã. – se eu vir a manhã mando alguém
dizer como é. Acorda amor, o sono acabou Maria Bonita vem fazer o café. O homem
comum inda nem levantou, mas a polícia já está de pé”, afora
maravilhado com “Como se fosse pecado”,
a regravação de “Na hora do almoço”,
“Ter ou não ter”, as Frenéticas em “Humano hum” e todas as demais que eu fazia questão de ouvir e
cantar. Aí vem o álbum Era uma vez um
homem e seu tempo (Warner, 1979), e eu fazia de minha “Era uma vez um homem e o seu tempo, botas de sangue nas roupas de
Lorca, olho de frente a cara do presente e sei que vou ouvir a mesma história
porca! Não há motivo para festa: Ora esta! Eu não sei rir à toa!...”, fora
o Medo de avião, a Retórica sentimental, Brasileiramente linda, as parcerias com
Toquinho, Pequeno perfil de um cidadão
comum & Meu cordial brasileiro,
Outra vez e todas mais que viravam
hinos no meu coração. Depois Objeto direto
(Warner, 1980), Paraíso (Warner,
1982), Cenas do próximo capítulo
(Paraíso/Odeon, 1984) e Um show: 10 anos
de sucesso (Continental, 1986), este último me fez realizar uma entrevista
com ele, pro Destaque do meu programa dominical na Quilombo FM, Panorama, ao lado do parceiramigo Santanna, o Cantador. O papo foi regado às baforadas de charuto cubano e doses de gin, falando que
foi seminarista por muitos anos, daí sua leitura constante de Filosofia,
Poesia, Literatura de Cordel, sua inclinação pro rock primitivo, música
nordestina dos cantadores e repentistas, as colagens e epígrafes de suas letras
poéticas, a geração Beatnick, o “precisamos todos rejuvenescer”, o “passado é
uma roupa colorida que não nos serve mais”, política e, sobretudo, seus grandes
sucessos. Saí de lá extasiado e pronto para editar o programa que foi ao ar no
domingo estourando horário e tudo, porque para selecionar em 1 hora e meia o
melhor de sua obra, não deu, findou tomando o programa todo, 3 horas no total,
com audiência pesada e pedido de bis, até encerrar na marra e atendendo aos
pedidos, com a gravação de Roberto Carlos, Mucuripe, parceria dele com Raimundo Fagner. Por conta disso tive que reprisar o programa diversas vezes, até
receber posteriormente, o agradecimento do próprio pela feitura e sucesso do
programa, em fita gravada de viva voz e acompanhada de bilhete manuscrito de
próprio punho. Fiquei superfeliz e comemorei bastante. Daí dizer que a obra
musical dele me influenciou de forma substancial, já seria redundância, afinal
passei a repetir as frases de efeito de suas canções no meu dia a dia com peito
inflado e carregado de emoção. Sempre que me trazem um violão, invariavelmente
trastejo e mando ver na desafinação e dedilhado algumas de suas músicas,
impossível não usar suas canções nesses momentos. Sim, para manter a chama
acesa e dizer: Enquanto houver espaço,
corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto. E vamos aprumar a
conversa, Belchior (1946-2017), eternamente vivo em nossos corações. ©
Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
A PALO SECO
Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo eu me desesperava
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português
Tenho 25 anos de sonho, de sangue
E de América do Sul
Por força deste destino
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
E eu quero é que esse canto torto feito faca
Corte a carne de vocês.
De olhos abertos lhe direi
Amigo eu me desesperava
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português
Tenho 25 anos de sonho, de sangue
E de América do Sul
Por força deste destino
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
E eu quero é que esse canto torto feito faca
Corte a carne de vocês.
A palo seco, música do álbum Alucinação (Polygram, 1976), do cantor e
compositor Belchior (1946-2017).
Veja mais aqui, aqui e aqui.
Veja
mais sobre:
Ética e moral aqui.
E mais:
Ética a Nicômaco de Aristóteles, a
poesia de John Donne, Casa das bonecas
de Henrik Ibsen, Justine de Marquês de Sade, O anjo exterminador de Luis Buñuel,
a arte de Darel Valença Lins, a música de Antonio Carlos Nóbrega, a pintura de Hieronymus Bosch & A maneira de ser de Marilene Alagia Azevedo
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As
drogas & as campanhas antidrogas, Ética, A droga é só um
pretexto de Francis
Curtet, o pensamento de Milton Friedman, Pé na estrada de Jack Kerouac, a música do Yes, a pintura de Félicien Rops & Carlos
Schwabe aqui.
A
educação na sociologia de Émile Durkheim aqui.
Diário
da guerra do porco de Adolfo Bioy
Casares, A canção de Guillaume de Poictiers, a música de Charles Mingus, Cabra marcado para morrer, a
pintura de Pierre Bonard, Estética
Teatral, a fotografia de John Watson & a arte de Louise Cardoso aqui.
A literatura
de Monteiro Lobato, o teatro de Jerzy
Grotowski, a poesia de Antero de Quental, a arte de Patrícia Galvã – Pagu, a
pintura de Jean-Baptiste Debret, a
música de Uakti & Sacudindo Choro
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A festa
das olimpíadas do Big Shit Bôbras, Nietzsche & a modernidade de Oswaldo Giacoia
Junior, a poesia de Gregory
Corso, Intelectuais à brasileira de Sergio Miceli, a música de Wanda Sá, a pintura de Augusta
Stylianou, o grafite de Banksy, a arte de Nancy L Jolicoeur & Nádia Gal
Stabile aqui.
O sonho
do amor, a literatura
de Pierre-Augustin Caron de
Beaumarchais, a Gestalt de Afonso Lisboa da
Fonseca, a arte de Ana Maia Nobre, As ventanias
de Ana Viera Pereira, a pintura de Sandra Hiromoto, Luciah Lopez & Ana
Cascardo aqui.
Andejo
da noite e do dia, A era dos extremos de Eric Hobsbawm, A
felicidade paradoxal de Gilles
Lipovetsky, O amor de Martha
Medeiros, a música de Gal Costa, a escultura de Nguyen Tuan, a pintura de Jeremy Lipking, a arte de Shanna Bruschi
& Conto&Cena de Gisele Sant'Ana Lemos aqui.
Perfume
da inocência, O amor e o matrimônio de Carmichael Stopes, a
poesia de Automédon de Cízico, A psicologia do amor romântico de Robert A.
Johnson, a fotografia de Beth Sanders, a
pintura de Peter Blake, a arte de Chris Buzelli, a
música de Maria Leite & Rebeca
Matta aqui.
Do que
fui pro que sou, Borges e os orangotangos de Luís Fernando
Veríssimo, Moby Dick de Herman Melville, Novíssima arte brasileira de Katia Canton, o Big Jato de Xico Sá & Matheus Nachtergaele, a música de Robertinho
de Recife, a coreografia de Simone Gutierrez
& a pintura de Andre Kohn aqui.
Da
inocência e da injustiça milenar, As aventuras
da dialética de Maurice Merleau-Ponty,
Histórias do tempo de Lya Luft, a poesia de Ilya
Kabakov, a música de Yo-Yo Ma, a arte de Deise Furlani, a pintura de Oswaldo Guayasamin & Patrick
Palmer, o cinema de Milos Forman & Natalie Portman aqui.
&
A ESCULTURA DE EDWARD
ONSLOW FORD
A arte de escultor inglês Edward
Onslow Ford (1852-1901).
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: A descida é fácil, as portas do
inferno estão abertas dia e noite. Trecho extraído da obra Eneida, do poeta
romano clássico Público Virgilio Maro
(70aC-10aC).
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.