LINGUA FALOU, CU PAGOU! - Denilzinho
era um arretado: servidor, jeitoso, estibado. Precisasse, pau pra toda obra; solidário
até com morte de formiga. Diziam: esse vive de cara pra lua! Isso porque ninguém
nunca via nele cara feia ou dizer não: sempre pronto para ajudar e resolver o
que fosse para o bem de quem chegasse. E o melhor: com o maior dos sorrisos. Dinheiro?
Sacava dos bolsos: tome! Carro emprestado, chaves dispostas na hora! Adoeceu? Estava
pronto para palavras amigas e providenciar remédios, indiferente de quanto
custassem. Eu num disse? Um sujeito pra lá de gente boa mesmo. Mas... Ninguém é
perfeito: quando virava um copo, vixe! O cabra se transformava no pior cricri
dos chatos de galochas. Era só às gaitadas: fulano? Aquilo é um corno safado da
gaia mole! Sicrano? Aquilo é uma pestilência da mais gangrenosa! Beltrano? Um viado
safado do cu afolosado! E mulher? Ah, a mulher de casa é feito galinha de
granja: cheirosinha, limpinha, toda jeitosinha, mas insossa, aguada; já a
mulher da rua, a puta nojenta, oxe, é feito carne de galinha de capoeira:
fedorenta de inhaca da peste, melada, cagada, mijada, fodida, cuspida e mal
paga, mas, ainda assim, é a maior sustância, suculenta, vixe! Chega dá vontade
de comer de se empanzinar todo! Ô coisa boa! E repetia isso até diante da sua
distinta senhora que, pudica das mais religiosas, abria um sorriso amarelo por
educação e fazia que nem ouvia, resignada, serviçal pra tudo a bem do marido,
vivia só pra ele providenciando iguarias e bebidas, o rei da casa que ela obedecia
e devotava toda sua vida, arrumando da varanda à cozinha, ajeitando do jardim
ao quintal, roupa engomada, tudo pronto antes mesmo dele pedir, e nos trinques
todo dia e o dia todo. Isso até o dia que Denilzinho, depois de muitas e
tantas, tomou uma de emborcar trocando as pernas na beira da cama, resmungando
o flagra da infidelidade marital: ué, mulher, o que é que é isso? E ela, sem
fazer a menor cerimônia, cuspiu na lata dele com a cara mais lisa: Oxe, homem, de
tanto você dizer, eu fui fazer um teste pra vê se era mesmo galinha de granja,
ora, pra seu governo o macho aqui me certificou que sou mesmo é galinha de
capoeira. E das boas! Gostei e quero mais! Tai, língua falou, cu pagou! Teibei!
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje
na Rádio Tataritaritatá especiais com o compositor, músico e cantor Ivan
Lins
ao vivo + Quem saberia perder + Java Jazz; aa
premiada violinista alemã Viviane Hagner
interpretando Grétry Violon Concert Henri Vieuxtemps & Israel Philharmonic
with Zubin Mehta; o violonista e compositor Nando Lauria interpretando músicas dos álbuns Novo Brasil & Points of view; e a
belíssima cantora Julya Cristal
interpretando música do seu álbum A journey to Shamnalla & Forever more. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...]
Glamour não é um dote natural, mas um artifício
burilado pela pericia de técnicos em plástica, elegância, iluminação e
marketing. Glamour, portanto, se adquire – mas nem todos podem comprá-lo. Sua aquisição
exige sacrifícios, sobretudo de ordem física [...] Não é menos árdua a sua conservação. [...] As recompensas são tais e tantas que poucos atores se confessaram
arrependidos das concessões a que se sujeitaram, trocando de cara, nome e, não
raro, até de biografia. [...]. E
entendemos o desespero daquela personagem da peça Angel City, de Sam Shepard,
que a certa altura desabafa: “Eu odeio minha vida. Queria que ela fosse um
filme. Eu odeio o que sou. Eu queria estar vivendo um filme, mas não estou e
nunca estarei”. Trechos do ensaio Minha
tela tem estrelas (Bravo, abril/2004), do escritor e jornalista Sérgio Augusto. Veja mais aqui.
AS MULHERES DE IGARASSU – Duarte Coelho [...] donatário da capitania de Pernambuco, fundara à margem de um rio do
mesmo nome a vila de Igarassu [...] Ali
vinham ter as embarcações que chegavam de Portugal, trazendo colonizadores,
mercadorias, víveres, e, pouco a pouco, a localidade crescia. [...] Os gentios, porém, que de começo se haviam
mostrado cordatos, auxiliadores, deram em se insurgir contra os portugueses,
declarando “guerra aos brancos”. [...] Durava
já dois anos o assedio e, por isso, andavam os homens fatigados das vigílias sempre
receosos de um ataque súbito dos indígenas. As mulheres, então, ofereceram-se
para substituí-los nas sentinelas, durante as longas noites, e foram aceitas
nesse arriscado mister, sem que dessa medida o inimigo viesse a ter mínima
ciência. E afinal, uma vez, quase pela madrugada, sorrateiramente os índios ensaiaram
tomar a vila de assalto, atacando o forte que defendia do lado do rio. As mulheres
avistando aqueles vultos que escalavam as muralhas, rojaram-se sobre eles de
espadas em punho, acutilando, ferindo, matando, com todo animo. Todavia, mais
fracas e em menor numero, iam sendo subjugadas. E foi quando uma delas, por dar
aviso aos homens que dormiam, teve uma fuzilante ideia. Apoderou-se de um
tição, chegou-o ao ouvido de uma peça e disparou-a. o tiro reboou no silêncio
da noite. Os soldados despertaram, correram aos seus postos, salvando a vila de
uma capitulação. Trechos extraídos da obra Terra pernambucana (FCCR, 1981), do professor, jornalista e
escritor Mario Sette (1886-1950).
Veja mais aqui, aqui e aqui.
A GUERRILHEIRA & O MAGRICELA BARBUDO - [...]
Entre um gole e outro, costumava dizer,
já agora aos berros: - Mulher casada que faz amor somente com o marido, para
mim não passa de uma virgem... E dava cafunés dengosos na cabeça da esposa, que
os olhos abaixava em sinal do mais bíblico respeito. Numa almofada distante, um
magricela barbudo acompanhava o baixar de olhos, como na missa. Noite alta, até
o gogó ele encheu o copo do uísque. Sem gelo, engoliu à maneira dos caubóis. Claro,
entrou em coma profundo. Quando voltou a si, todos estavam ao redor das
coloridas almofadas. Menos o magricela barbudo. Dirigiu-se ao quarto. Foi quando
descobriu que, toda sexta-feira, o barbudinho se entregava ao dialético prazer
de desvirginar a guerrilheira amada. Trecho extraído da obra A guerrilheira perfumada: crônicas do amor
diário (Raiz, 1990), do jornalista e escritor Ronildo Maia Leite (1930-2009).
UM TRIPLO TIBUNGO HERÁCLITO – Três meninos mergulharam no rio / o rio
mergulha na tarde / a tarde mergulha no tempo / que envelhece os meninos / que
engole os sonhos e os que sonham / que altera o curso do rio / para que três
outros meninos / em outra tarde, outro rio / renasçam em outros mergulhos. Poema
extraído de Artesanias da palavra
(Grafmarques, 2001), do professor e poeta Sidney
Wanderley. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Talvez tenha
sido em vão.
Mas ele
fez o que pôde.
Fez sobretudo
o que sempre
Lhe mandava
o coração.
Poema recolhido da obra Faz escuro mas eu canto
(Civilização Brasileira, 1985), do premiadíssimo poeta amazonense Thiago de
Mello. Veja mais aqui, aqui e aqui.
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A pintura de Caravaggio aqui.
A arte musical de Viviane Hagner aqui.
O cinema de Michelangelo Antonioni
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A arte musical de Nando Lauria aqui.
O teatro de Mário Bortolotto aqui.
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