sexta-feira, setembro 29, 2017

THIAGO DE MELLO, HANS BELLMER, MARIO SETTE, SÉRGIO AUGUSTO, RONILDO MAIA LEITE & SIDNEY WANDERLEY

LINGUA FALOU, CU PAGOU! - Denilzinho era um arretado: servidor, jeitoso, estibado. Precisasse, pau pra toda obra; solidário até com morte de formiga. Diziam: esse vive de cara pra lua! Isso porque ninguém nunca via nele cara feia ou dizer não: sempre pronto para ajudar e resolver o que fosse para o bem de quem chegasse. E o melhor: com o maior dos sorrisos. Dinheiro? Sacava dos bolsos: tome! Carro emprestado, chaves dispostas na hora! Adoeceu? Estava pronto para palavras amigas e providenciar remédios, indiferente de quanto custassem. Eu num disse? Um sujeito pra lá de gente boa mesmo. Mas... Ninguém é perfeito: quando virava um copo, vixe! O cabra se transformava no pior cricri dos chatos de galochas. Era só às gaitadas: fulano? Aquilo é um corno safado da gaia mole! Sicrano? Aquilo é uma pestilência da mais gangrenosa! Beltrano? Um viado safado do cu afolosado! E mulher? Ah, a mulher de casa é feito galinha de granja: cheirosinha, limpinha, toda jeitosinha, mas insossa, aguada; já a mulher da rua, a puta nojenta, oxe, é feito carne de galinha de capoeira: fedorenta de inhaca da peste, melada, cagada, mijada, fodida, cuspida e mal paga, mas, ainda assim, é a maior sustância, suculenta, vixe! Chega dá vontade de comer de se empanzinar todo! Ô coisa boa! E repetia isso até diante da sua distinta senhora que, pudica das mais religiosas, abria um sorriso amarelo por educação e fazia que nem ouvia, resignada, serviçal pra tudo a bem do marido, vivia só pra ele providenciando iguarias e bebidas, o rei da casa que ela obedecia e devotava toda sua vida, arrumando da varanda à cozinha, ajeitando do jardim ao quintal, roupa engomada, tudo pronto antes mesmo dele pedir, e nos trinques todo dia e o dia todo. Isso até o dia que Denilzinho, depois de muitas e tantas, tomou uma de emborcar trocando as pernas na beira da cama, resmungando o flagra da infidelidade marital: ué, mulher, o que é que é isso? E ela, sem fazer a menor cerimônia, cuspiu na lata dele com a cara mais lisa: Oxe, homem, de tanto você dizer, eu fui fazer um teste pra vê se era mesmo galinha de granja, ora, pra seu governo o macho aqui me certificou que sou mesmo é galinha de capoeira. E das boas! Gostei e quero mais! Tai, língua falou, cu pagou! Teibei! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o compositor, músico e cantor Ivan Lins ao vivo + Quem saberia perder + Java Jazz; aa premiada violinista alemã Viviane Hagner interpretando Grétry Violon Concert Henri Vieuxtemps & Israel Philharmonic with Zubin Mehta; o violonista e compositor Nando Lauria interpretando músicas dos  álbuns Novo Brasil & Points of view; e a belíssima cantora Julya Cristal interpretando música do seu álbum A journey to Shamnalla &  Forever more. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Glamour não é um dote natural, mas um artifício burilado pela pericia de técnicos em plástica, elegância, iluminação e marketing. Glamour, portanto, se adquire – mas nem todos podem comprá-lo. Sua aquisição exige sacrifícios, sobretudo de ordem física [...] Não é menos árdua a sua conservação. [...] As recompensas são tais e tantas que poucos atores se confessaram arrependidos das concessões a que se sujeitaram, trocando de cara, nome e, não raro, até de biografia. [...]. E entendemos o desespero daquela personagem da peça Angel City, de Sam Shepard, que a certa altura desabafa: “Eu odeio minha vida. Queria que ela fosse um filme. Eu odeio o que sou. Eu queria estar vivendo um filme, mas não estou e nunca estarei”. Trechos do ensaio Minha tela tem estrelas (Bravo, abril/2004), do escritor e jornalista Sérgio Augusto. Veja mais aqui.

AS MULHERES DE IGARASSUDuarte Coelho [...] donatário da capitania de Pernambuco, fundara à margem de um rio do mesmo nome a vila de Igarassu [...] Ali vinham ter as embarcações que chegavam de Portugal, trazendo colonizadores, mercadorias, víveres, e, pouco a pouco, a localidade crescia. [...] Os gentios, porém, que de começo se haviam mostrado cordatos, auxiliadores, deram em se insurgir contra os portugueses, declarando “guerra aos brancos”. [...] Durava já dois anos o assedio e, por isso, andavam os homens fatigados das vigílias sempre receosos de um ataque súbito dos indígenas. As mulheres, então, ofereceram-se para substituí-los nas sentinelas, durante as longas noites, e foram aceitas nesse arriscado mister, sem que dessa medida o inimigo viesse a ter mínima ciência. E afinal, uma vez, quase pela madrugada, sorrateiramente os índios ensaiaram tomar a vila de assalto, atacando o forte que defendia do lado do rio. As mulheres avistando aqueles vultos que escalavam as muralhas, rojaram-se sobre eles de espadas em punho, acutilando, ferindo, matando, com todo animo. Todavia, mais fracas e em menor numero, iam sendo subjugadas. E foi quando uma delas, por dar aviso aos homens que dormiam, teve uma fuzilante ideia. Apoderou-se de um tição, chegou-o ao ouvido de uma peça e disparou-a. o tiro reboou no silêncio da noite. Os soldados despertaram, correram aos seus postos, salvando a vila de uma capitulação. Trechos extraídos da obra Terra pernambucana (FCCR, 1981), do professor, jornalista e escritor Mario Sette (1886-1950). Veja mais aqui, aqui e aqui.

A GUERRILHEIRA & O MAGRICELA BARBUDO - [...] Entre um gole e outro, costumava dizer, já agora aos berros: - Mulher casada que faz amor somente com o marido, para mim não passa de uma virgem... E dava cafunés dengosos na cabeça da esposa, que os olhos abaixava em sinal do mais bíblico respeito. Numa almofada distante, um magricela barbudo acompanhava o baixar de olhos, como na missa. Noite alta, até o gogó ele encheu o copo do uísque. Sem gelo, engoliu à maneira dos caubóis. Claro, entrou em coma profundo. Quando voltou a si, todos estavam ao redor das coloridas almofadas. Menos o magricela barbudo. Dirigiu-se ao quarto. Foi quando descobriu que, toda sexta-feira, o barbudinho se entregava ao dialético prazer de desvirginar a guerrilheira amada. Trecho extraído da obra A guerrilheira perfumada: crônicas do amor diário (Raiz, 1990), do jornalista e escritor Ronildo Maia Leite (1930-2009).

UM TRIPLO TIBUNGO HERÁCLITOTrês meninos mergulharam no rio / o rio mergulha na tarde / a tarde mergulha no tempo / que envelhece os meninos / que engole os sonhos e os que sonham / que altera o curso do rio / para que três outros meninos / em outra tarde, outro rio / renasçam em outros mergulhos. Poema extraído de Artesanias da palavra (Grafmarques, 2001), do professor e poeta Sidney Wanderley. Veja mais aqui, aqui e aqui.

EPITÁFIO DE THIAGO DE MELLO
O canto desse menino
Talvez tenha sido em vão.
Mas ele fez o que pôde.
Fez sobretudo o que sempre
Lhe mandava o coração.
Poema recolhido da obra Faz escuro mas eu canto (Civilização Brasileira, 1985), do premiadíssimo poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui, aqui e aqui.

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A ARTE DE HANS BELLMER
A arte do escultor e gravurista alemão Hans Bellmer (1902-1975).

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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